This Is My Gang! escrita por Metal_Will


Capítulo 157
Capítulo 157




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Capítulo 157 - Edição, som e desculpas

Não vou dizer que a parte mais difícil da produção de nosso filme já havia passado, mas certamente uma das mais difíceis já: a atuação. Bem ou mal, representei juntamente com Demi, Karina e Jorjão o roteiro do filme de terror trash mais trash que esse mundo já conheceu. Agora restava editar (isso era com Wilson) e exibir o vídeo no festival escolar que ocorreria dentro de...cinco dias. Por incrível que pareça, conseguiríamos fazer tudo no prazo, desde que nada desce errado. Eu disse "desde que nada desse errado".

– Estamos com um problema! - foi a primeira coisa que Wilson disse quando chegou no colégio um pouco mais atrasado do que de costume.

– O preço do chocolate aumentou de novo? - perguntou Jorjão, obviamente pensando em assuntos alimentícios.

– Antes fosse - continuou Wilson - É um problema com o nosso filme.

Ah, não. Não me diga que ele perdeu as imagens e vai precisar gravar tudo de novo? Mas nem que a vaca tussa e o boi diga saúde eu passo por aquilo de novo! É melhor desistirmos da ideia ou Wilson recriar um filme usando computação gráfica.

– O que tem nosso filme? - perguntou Demi, apreensiva. Karina permanecia inabalável.

– Algo que eu esqueci completamente - disse ele - Música!

– Música? - repetiu Demi - O que tem de tão grave nisso?

– Filmes precisam de uma trilha sonora! Por pior que seja, uma boa música sempre ajuda! - falou Wilson, preocupado - Mas ontem, quando estava na metade das edições, eu me toquei que nosso filme não tem som nenhum, apenas vozes.

– Qual o problema nisso? - falei, agora mais aliviado por não ter perdido meu tempo em vão - Coloca qualquer trilha sonora de filme de terror que tem por aí e pronto.

– Não, não, não. Quero que nosso filme seja original pelo menos nesse quesito - falou Wilson - Já temos paródia com terror demais. Seria legal ter, no mínimo, uma música original.

– Bom...eu sei cantar - falou Demi - Se isso ajudar...

– Você tem voz, mas e o background? - falou Wilson - Não precisamos deu musical, mas pelo menos de alguma música de fundo.

– Esse problema é fácil de resolver - disse Karina, sem tirar os olhos do livro que estava lendo.

– Karina! Linda! - disse Wilson, abaixando-se para olhar fixamente nos olhos dela (que não desviaram do livro) e implorar por sua ajuda - Diga...o que está pensando?

– O Arthur pode compor alguma coisa - falou ela - Na verdade, eu também poderia, mas acho que ele é melhor nisso.

Para quem não se lembra, Arthur é o irmão mais novo da Karina. É um ás no piano e tão calado quanto ela.

– Pode mesmo fazer isso? - perguntou Wilson.

– Sim - disse ela - Mas a música sairá num estilo mais clássico.

– Perfeito - falou Wilson - Para quem não tinha nada, tá mais do que bom

– Vou ligar para ele - disse ela, sacando o celular e discando para o irmão (provavelmente a aula dele ainda não havia começado).

– Mas agora? Não vai ser incômodo? - perguntou Demi.

– Não se preocupe. Ele não se importa - falou Karina, sem mudar a expressão e aguardando o celular ser atendido - Arthur. Preciso de uma canção temática para um filme de terror amador. Obrigada.

– Já falou com ele? - estranhei.

– Sim - foi tudo que ela respondeu.

– E ele aceitou isso tão rápido? - insisti na pergunta.

– Acho que sim - disse ela.

– Como assim? - eu me indignei - Não ouviu ele responder?

– A respiração dele não parecia ser de negação - foi a resposta dela. Bom, não era o tipo de comunicação mais comum, mas ninguém melhor que a Karina para entender a respiração do próprio irmão. De qualquer forma, parece que nosso problema havia sido solucionado e agora não haveria mais complicações, desde que Wilson não inventasse mais nada. Eu disse "desde que Wilson não inventasse mais nada"

– Hmm...e se...conseguíssemos uma música ainda mais radical? - falou ele.

– Do que está falando? - perguntou Demi.

É. Do que está falando? Foi essa frase que passou pela minha mente, juntamente com um arrepio de leve na nuca.

– Se conseguirmos o apoio de uma banda de rock poderíamos colocar um som mais pesado no meio das cenas de ação - falou Wilson.

– E onde vamos arranjar uma banda dessas? - perguntei, mas logo me arrependi ao ver o olhar de Wilson - Epa...ah, não. Você não tá pensando em...

– Vai ser arriscado - disse ele - Mas se conseguirmos...

Arriscado é pouco. Seria pedir pra morrer. Aqueles caras nunca nos ajudariam! E o jeito que Solano me levantava pela camiseta com a mão direita (e agarrava Wilson com a mão esquerda) não era nada confortável.

– O que vieram fazer aqui? - perguntou Abelardo, o líder deles (apesar de ser o mais baixinho) - Não estamos com muito bom humor hoje.

Sim. Era o trio de gangsters mais rebeldes do nosso colégio...bem, na verdade eles só queriam matar aula em paz (apesar de não hesitarem em dar uma surra em quem incomodasse a paz deles). Wilson realmente se arriscou em se aproximar daquela turma na hora do intervalo para pedir algo considerado irracional por qualquer pessoa com o mínimo de senso (ah, é, estamos falando do Wilson. Esqueça a palavra bom senso!)

– C-Calma, gente - Demi tentou controlar os ânimos - Só viemos conversar.

– E o que temos pra conversar com vocês? - questionou Murilo, o de altura média - Sempre que a gente se envolve com vocês nos damos mal!

Sabe que eu estava pensando a mesma coisa?

– Mas dessa vez temos uma proposta irrecusável! - falou Wilson - Por favor, deixe-nos explicar com calma.

– Proposta irrecusável? - repetiu Abelardo - Tá legal...vamos ver o que é..

Solanos nos soltou bruscamente. Wilson limpou rapidamente a poeira da roupa, pigarreou e iniciou sua argumentação.

– Não sei se vocês sabem...mas estamos produzindo um filme - disse nosso líder, na maior cara de pau.

– Um filme? - estranhou Solano - Vocês? Fala sério!

– É sério! Iremos até exibir no dia do festival cultural do colégio. Se duvidam, basta perguntar para a professora Vitória.

– Tá. E daí? - disse Abelardo - O que a gente tem a ver com isso?

– Vocês são uma banda, não são? - perguntou Wilson.

– A gente toca um pouco de rock, metal...ou coisas parecidas. Por quê? - Abelardo ainda estava desconfiado.

– Esse filme é uma boa chance para vocês se promoverem! - exclamou Wilson - Queria pedir que nos deixassem usar uma música de vocês para nossa cena de ação. Assim nós ganhamos uma trilha sonora para melhorar a qualidade do nosso filme e vocês ganham mais notoriedade. Parece bom, não?

Você já ouviu a música daqueles caras? Qualidade não era bem a palavra...e o som que eles fizeram na festa junina do ano passado tá doendo no meu ouvido até agora...mas, apesar dos pesares, o som pesado combinaria com a cena de ação. Fazer o quê? Além disso, nada melhor que uma música trash para combinar com um filme trash.

– Sério mesmo? - Murilo parecia feliz. Mas Abel era mais desconfiado.

– Ei, ei, peraí - falou Abelardo - Como vamos saber se não vão zuar nossa música?

– Assistam vocês mesmos o filme no dia do festival. Será aberto a todos. Quando o som da sua banda ultrapassar as barreiras daquelas caixas de som, vocês serão aplaudidos de pé. Podem apostar. O nome de vocês aparecerá nos créditos sem dúvida...a banda...err..qual é mesmo o nome da banda de vocês?

– Porcos Sem Alma! - eles gritaram juntos, fazendo sinal de mão chifrada. Agora pareceram animados.

–Porcos Sem Alma? - estranhei - No festival da escola vocês não tocaram como Metal Genius ou algo assim?

– Tivemos que trocar o nome por que a coordenação achou o nome original ofensivo. Mas somos mesmos os Porcos Sem Alma! - exclamou Solano.

– Então...vocês vão ajudar a gente? - falou Demi.

– Tá legal. Vamos mandar nossa música e assistir o filme de vocês - falou Abel - Mas se zuarem a gente...

– Relaxem - falou Wilson - Vocês subirão como músicos e nós como equipe de cinema.

Não sei se me surpreendo mais com a ambição astronômica de Wilson ou com a facilidade com que aqueles caras eram convencidos. De qualquer forma, o problema apareceu de manhã e antes das aulas acabarem, já estava resolvido. Não tínhamos apenas um pianista para fazer o background...tínhamos uma banda de metal trash trabalhando de graça pra gente (nada como uma banda em início de carreira doida pra se promover).

– Legal! Agora é ir pra casa e terminar a edição - falou Wilson no final das aulas. Jorjão e eu o acompanhávamos no corredor - O Abelardo falou que me manda o mp3 da música do filme ainda essa semana.

– As coisas estão dando certo demais - comentei - Tô até desconfiado.

– Relaxe - falou ele - O que mais pode acontecer?

– Danzinho!!! - essa voz...você já sabem que é, não é? "Alguém" me abraça de repente.

– Emília - murmurei sem muita vontade - Há quanto tempo...

– É verdade o que andam dizendo por aí? - disse ela - Que você vai participar de um filme?

– Sim. É verdade - Wilson fez o favor de responder por mim - Está convidado para ver nosso grande Daniel encarnando o herói de um filme de terror!

– Terror? Isso pode atrair maus espíritos - falou ela.

– Mas teremos um pouco de tudo...comédia, ação, romance - e ele não devia ter dito essa última palavra.

– COMO É QUE É?! - Emília não parecia muito contente ao ter ouvido aquilo - R-Romance? Você e a Demi estão...ou você e a Karina..ou...você e o Jorjão..

– Epa, epa! Nem pensa nisso, não! - disse Jorjão.

– É verdade! Tá estranhando? - reclamei - É verdade que a Demi e eu fizemos os personagens principais e..

– O QUÊ?! Você e a Demi...então no filme vocês...Não, eu nunca vou permitir isso! - reclamou Emília, com um olhar realmente furioso - Nem que eu tenha que voltar ao passado pra impedir a realização desse filme, eu não vou deixar vocês dois..

– Calma, Emília - Wilson entrou na conversa - Não acontece nada no filme...eles mal dão a mão um para o outro.

– Sério? - perguntou ela.

O pior de tudo é que isso é verdade.

– Além disso, é só um filme. A vida pessoal dos atores não tem nada a ver com as filmagens - argumentou ele.

– Bom, se é assim - ela parecia mais calma - Mas eu vou ver esse filme com o olhar mais crítico do mundo, ouviu?

– T-Tá legal - concordei. Emília me deu um beijo no rosto (e desagradavelmente molhado) e saiu toda saltitante.

– Não acredito que escapei dessa - falei, enquanto secava a bochecha.

– Hehe. Eu já previa uma reação semelhante - falou Wilson - Por isso removi quase todo tipo de contato romântico desse filme.

Eu havia me esquecido que a Emília certamente assistiria nossa produção. Sendo assim, não ter um beijo no final acabou salvando a minha vida. Wilson é um louco, mas é um gênio.

– Obrigado, Wilson! - agradeci, quase chorando de alegria por não precisar aguentar a Emília como uma maluca se visse uma cena mais romântica com a Demi (é...um dia essa Emília vai precisar me esquecer, mas tenho a impressão de que ela não vai aceitar isso tão bem assim).

– Relaxe, Daniel. Ah, e concentre-se no filme! Eu diria que você já pode preparar seu discurso como ator do ano na Megatec - falou ele.

Ator do ano? Menos...de qualquer modo, quatro dias depois, na véspera do festival, Wilson convidou nós quatro para assistir a versão final do filme na casa dele. E assistimos tudo.

– É isso...que vai passar pra todo mundo no telão? - perguntei, engolindo em seco.

– E então? Não ficou bom? - perguntou ele, extremamente confiante em seu trabalho.

– Muito legal! - disse Demi - Tomara que o pessoal goste!

Sinceramente, eu achei que fiquei péssimo na câmera (talvez seja trauma do meu vídeo viral que saiu na internet ano passado). De qualquer forma, se a ideia era criar um filme trash, ele conseguiu. Acho que nunca viu um filme tão bizarro e tosco na minha vida. Certamente isso ficará na memória de muita gente. Curioso para saber como ficou? Acostume...você vai ver junto com todo mundo no dia do festival que seria...amanhã. Oh, menos de 24 horas para o mundo conhecer...O Ataque da Peruca Cafeinada!


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Notas finais do capítulo

"Nem que eu tenha que voltar ao passado pra impedir a realização desse filme...", Emília falando como boa personagem yandere que é... E é como o Daniel disse...só no festival cultural veremos o resultado final da obra (com as falas e cenas detalhadas). O que, no nosso caso, corresponde a duas semanas (o próximo capítulo vai ser o início do festival cultural). Até lá!