This Is My Gang! escrita por Metal_Will


Capítulo 156
Capítulo 156




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Capítulo 156 - Luzes, câmera...bizarrices

  E lá estávamos nós no meio da praça gravando as cenas de nossa grandicissíma produção de baixo custo (nunca é demais relembrar). A ordem das cenas estava no script elaborado por Wilson (com o roteiro criado por Karina) e estávamos aproveitando para capturar as imagens de Jorjão como monstro de cabelo com todas as perucas arranjadas para o filme. A reação das pessoas em volta era, no mínimo, de estranhamento. E olha que ainda estávamos no começo das filmagens.

- Grrruaaah! - rugia Jorjão, em uma primeira tomada das cenas.

- Corta! - gritou Wilson, logo no início. Ele desligou a câmera e suspirou.

- O que aconteceu? - perguntou Jorjão.

- Não, não, não ruja desse jeito. Talvez seja melhor ficar em silêncio. O monstro de cabelo não tem boca. O rugido até deixaria a coisa mais trash, mas temos que manter um mínimo de verossimilhança.

 O mínimo no nosso caso era bem mínimo mesmo.

- Entendi - falou Jorjão - Então só vou fazer os movimentos

- Isso. Vamos filmar os movimentos do monstro e depois juntar isso com as outras cenas do filme na edição - falou Wilson.

- Então deixa eu ver se entendi...o Jorjão vai ser filmado totalmente em separado das outras cenas. Quer dizer...nunca vamos aparecer na tela junto do monstro? - questionei.

- Mais ou menos por aí - falou Wilson - Vamos utilizar diversos cortes e cenas separadas...o filme nunca ficará monótono.

- Mas as pessoas não vão perceber? - perguntou Demi.

- Claro que sim - disse Wilson - Isso pode ficar como uma marca registrada do filme também. Precisamos deixar claro que é uma produção trash de baixo custo.

 Acho que só o fato do filme ser nosso já deixava isso bem claro, mas era melhor deixar muito mais claro, em caso da menor dúvida. Resumindo: quanto pior, melhor. Embora precise manter um mínimo de realismo, como o fato do monstro não ter boca. Utilizamos o espaço da praça para gravar as tomadas de Jorjão e, além disso, aproveitaríamos para filmar as cenas de ação. E era aí que o meu mico entrava.

- Haaah! - gritei em uma das cenas de ação, onde eu, corajosamente, iria enfrentar o terrível monstro feito de cabelo.

- Corta! - gritou Wilson. Cara, essa deve ser uma das palavras mais proferidas pelos diretores.

- O que foi? - perguntei.

- Mais emoção, Daniel! Pense que em todo o significado que essa luta tem para o herói! - disse ele.

 Se eu não vou ganhar um beijo da Demi no final, a luta perde em muito o seu significado.

- Quer quer eu coloque ainda mais emoção? - perguntei - Já estou me esforçando bastante.

- Mais esforço, então - disse ele - Ainda está muito sem graça. Desperte o ator que existe em você!

 Eu não sou um ator e acho que ele já devia saber disso. Mas para o Wilson você é aquilo que ele quer que você seja, afinal de contas, não existia "eu" na NERD e sim "nós".

- Sabe qual é o truque? - disse Demi, a única entre nós que realmente era atriz - É esquecer que você é você mesmo

- Como assim? - indaguei.

- Um ator precisa incorporar o personagem quando está encenando. Você não é mais o Daniel e sim o herói do filme, entendeu? Precisa assumir a personalidade dele completamente.

 Isso seria bem mais fácil se não tivesse tantos curiosos olhando em volta.

- Tem certeza que precisamos gravar essa cena aqui? - perguntei, já não gostando muito da ideia das pessoas ao redor sacando seus celulares para gravarem alguma cena bizarra.

- Só queremos aproveitar o espaço para as cenas de ação, Daniel - falou Wilson - Se conseguirmos salvar essas cenas, o resto vai ser só conversa. Será bem mais fácil.

- Tá legal - reclamei.

 Tentativa vai, tentativa vem, ficamos a tarde toda ali gravando as cenas, e, finalmente, a tomada saiu boa.

- Isso! É disso que eu tô falando! - comemorou Wilson, quando a cena enfim saíra do jeito que ele desejava.

- Até que enfim - retruquei, suspirando de cansaço.

- Espere - falou Karina, ao rever as filmagens da câmera - Acho que a iluminação deixou a desejar.

- Hã? - falei não muito contente.

- É verdade - concordou Wilson - Daniel. Pode repetir a cena? É só fazer a mesma coisa, só que agora melhorando a iluminação.

 Trouxemos um tipo de guarda-sol para controlar a iluminação da cena. Mas...eu agradeceria muito se tivessem dito isso antes! Lá se foram mais quarenta minutos de gravação (porque eu não repeti a cena com toda a perfeição que tinha antes) e, finalmente, terminamos as cenas de mais ação.

- Beleza! Valeu, galera - disse Wilson - Agora é só adaptar os seus movimentos para o cenário de verdade.

- E onde vamos encontrar os cenários de verdade? - perguntou Demi - Pelo que eu lembro, há cenas no meio da cidade, em algumas casas e...em uma cafeteria.

- Exato - disse Wilson - O mais difícil será na cafeteria.

- Vamos precisar montar um cenário de cafeteria? - perguntei.

- Não, não. Não precisamos montar um cenário se tivermos uma cafeteria de verdade -  falou Wilson.

- E onde vamos arranjar uma cafeteria de verdade? - perguntei, mas eu já devia imaginar que a resposta não seria das melhores. E lá estávamos nós, em pleno fim de semana, às quatro e meia da manhã, em uma cafeteria do centro da cidade.

- Por que tivemos que acordar tão cedo? - falei, com os olhos mais fechados do que abertos. Aliás, de todos nós, só Karina e Wilson pareciam normais em pleno sábado de madrugada.

- Meu pai sempre vem nessa cafeteria e ele conhece o dono - falou Wilson - Temos permissão para filmar desde que não atrapalhe os clientes.

 Ter a gravação de um filme enquanto você tenta tomar seu café tranquilamente...é claro que isso iria atrapalhar.

- E como vamos fazer isso? - perguntei.

- É por isso que acordamos cedo - falou Wilson - Vamos aproveitar que não vem quase ninguém e gravar o máximo de cenas que pudermos. O cara que vai abrir a cafeteria hoje já tá avisado do nosso filme. Aliás, iremos colocar os créditos da cafeteria no filme também em troca desse favor.

 Incrível. Simplesmente incrível. Como é que aquele cara sempre conseguia o que queria? De qualquer forma, aos trancos e barrancos, conseguimos gravar as cenas mais tranquilas. Nessas eu não precisava mexer tanto com o corpo, apenas falar de forma coerente com o personagem. Nesse ponto foi mais fácil. Mas isso não significa que a gravação foi curta. E também não significa que os curiosos deixaram de dar pitacos no filme.

- Ei, aquele não é o garoto do sorvete? - perguntou uma desses curiosos que aparentemente não conseguiam esquecer o passado da internet.

- Ele mesmo - confirmou Wilson, para aumento da taxa de coloração vermelha do meu rosto - O garoto do sorvete, sucesso da internet do ano passado, retornará nas telonas.

- Um filme? - perguntou um.

- Exato - disse Wilson, confiante - Apareçam no festival cultural do colégio Megatec daqui a alguns dias para verem a pré-estreia do nosso filme em primeira mão!

 Uma coisa é certa: Wilson sabe vender o peixe dele. Terminadas aquelas gravações, restavam ainda as cenas nas cidades e nas casas. Essas eram mais fáceis (e não tinham tantos curiosos). Além disso, as cenas da cidade só dependiam de uma boa edição e de uma boa maquete que Karina nos arranjou,.

- Isso pode virar uma cidade nas telas, não acham? - disse Karina, na nossa próxima reunião na casa de Wilson, trazendo uma enorme maquete e colocando-a sobre a mesa.

- Você trouxe isso da sua casa até aqui? - perguntei.

- É leve - ela respondeu.

- Mas é muito grande - falei - Deve ter chamado a atenção.

- Não reparei - disse ela. Mas aquela garota era do tipo que não esboçaria emoção mesmo se andasse com uma melancia no pescoço.

- Legal. Está muito bem feita - elogiou Demi - Você fez tudo isso, Ka?

- Sim. Mas ela já estava pronta. Tive que fazer algo assim na primeira série - falou ela - Foi um trabalho em grupo, mas ninguém quis ficar com a maquete...daí sobrou para mim.

- Mas tá super conservada - disse Demi.

- Nem tanto - falou Karina - Mas nada que a edição do vídeo não possa melhorar.

 Ela estava se referindo a alguns prédios descascando, mas o defeito era tão pequeno que ninguém notaria, a menos que fosse o Wilson.

- Nada que a edição não resolva. Relaxem. Os programas de edição de vídeo estão bem desenvolvidos hoje em dia - falou ele.

- É verdade, Wilson - falou Demi - Você não vai precisar de ajuda para editar?

- Relaxem. Eu cuido disso.

 Sim, ele era bom com computadores. Apesar dos pesares, apesar de todo o mico que pagamos, preciso reconhecer que a parte mais difícil ficou com o Wilson. Bem ou mal, nosso filme estava em formação. Como será que vai ficar o resultado final?


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Notas finais do capítulo

No próximo capítulo...alguns detalhes de pós-produção. Como o Daniel disse, o filme está em formação! XD