Quase um mês se passou. Quatro semanas sem que Erin ficasse sozinha comigo no mesmo ambiente por mais de 5 minutos, se pudesse evitar. Sempre inventava uma desculpa para sair correndo, não me dando nem a chance de me desculpar por aquele dia. Ela não estava me tratando mal ou qualquer coisa do tipo – muito pelo contrário, continuava simpática e educada, sempre sorrindo – ela só... Sei lá, parecia que ela tinha medo de que eu fosse agarrá-la de novo ou qualquer coisa assim. Não que eu não tivesse vontade. Eu tinha. O tempo todo. Mas eu não fazia nada.

Essa semana, o episódio tinha várias cenas de Camille e Logan. O que era bom, porque era sempre divertido filmar, mesmo que algumas situações fossem um pouco desconfortáveis, as vezes.  Era quase 22h quando fomos liberados do estúdio.

- Certo, pessoal, vejo vocês na festa amanhã. – Kendall disse, já com as chaves de seu carro na mão. Amanhã a série estrearia na TV, finalmente. Nós estávamos super nervosos e super animados.

- Até amanhã, Kendall. – Erin e Katelyn falaram ao mesmo tempo.

- Até amanhã, Kendall. – Eu, Carlos e James imitamos o tom de voz delas, mandando beijinhos e fazendo caretas. Elas riram, rolando os olhos.

- Erin, vou esperar por você la na frente. – Katelyn avisou assim que terminou de arrumar suas coisas. Ela concordou, dizendo que tinha que passar no camarim para pegar alguma coisa que tinha esquecido lá. Talvez essa fosse a minha chance para tentar falar com ela. Eu dei uma enrolada por ali, fingindo que amarravas os sapatos e logo fui atrás de Erin. Ela estava procurando por algo em sua bolsa, de costas para a porta, de modo que não me notou entrando no camarim até que eu fechasse a porta.

- A gente nunca vai conversar? – perguntei, meio nervoso. Na verdade, eu não tinha pensado muito bem no que falaria. Ela não respondeu. – Erin. Fala comigo. – pedi.

- O que você quer falar, Logan? – ela finalmente falou. Seu tom não era nem um pouco parecido com aquele simpático que ela usava quando falava comigo na frente de outras pessoas.

- Eu... Erm... Aquele dia... – tentei organizar meus pensamentos para formular uma frase, mas estava difícil.

- Aquele beijo não devia ter acontecido. – ela falou decidida.

- Mas aconteceu. – respondi, me aproximando alguns passos. – E eu não consigo parar de pensar nele. – confessei. Ela sustentou meu olhar por alguns segundos, mas logo olhou para o chão, balançando a cabeça.

- Logan, escuta. – Ela começou. Parou por um momento para pensar. – A série não pode continuar sem você, mas eu... eu sou só a Camille. – falou, dando ombros.

- Não fale assim.

- Você sabe que é verdade. Se os produtores acharem que a gente... Se eles acharem que isso vai atrapalhar a série, sou eu que vou embora.

- Você não vai sair da série só por que... – comecei, mas ela me interrompeu.

- Não é a gente que decide isso.

Eu estava sem resposta. Eu não achava que o trabalho dela estaria em risco por isso, mas ela não estava disposta a arriscar. Eu não falei mais nada, apenas observei enquanto ela terminava de arrumar suas coisas e se dirigia a porta.

- Desculpa, Logan. – eu a ouvi falando, mas não me virei para olhá-la. 

xx

A festa de estréia era em um clube na praia, cheio de gente importante, fotógrafos, os caras do estúdio e da gravadora e alguns de nossos amigos. A primeira exibição do programa era às 20h daquele dia, e um telão havia sido montado para que assistíssemos todos juntos. Depois de várias fotos – muitas mesmo – e algumas entrevistas para a imprensa, cumprimentamos alguns manda-chuva do estúdio, mais algumas fotos e mais algumas entrevistas, mas alguém querendo ser apresentado, mais algumas fotos. Nós não tivemos muito tempo para olhar em volta e ver quem realmente estava ali. Em um momento sem flashes e câmeras, passei os olhos pelo salão procurando por Erin. Carlos puxou meu braço, apontando para a direção contrária a que eu estava olhando. Ela estava lá, toda linda com seu vestido e salto alto, tirando fotos e cumprimentando pessoas também. Eu sorri momentaneamente ao vê-la, mas logo disfarcei, arranjando qualquer assunto para tirá-la da cabeça. Logo no mandaram encontrar nossos lugares.

Todos aplaudiram quando o primeiro episódio terminou. Oficialmente falando, agora estávamos na TV. Aquilo era um sentimento muito bom. Depois de alguns breves discursos do nosso diretor e de mais algumas pessoas, a festa propriamente dita começou. Nós continuamos sendo apresentados a várias pessoas e tirando várias fotos, até que finalmente a imprensa começou a ir embora e nós pudemos começar a nos divertir. Olhando em volta, vi que Carlos e James faziam alguma coreografia meio bobinha na pista de dança, mas que fazia todos em volta rir. Kendall estava com Katelyn, Erin e Victoria e eu resolvi ir até lá, já que ainda não tinha nem conseguido cumprimentá-las.

Eu cheguei atrás de Vicky, colocando as mãos na frente de seus olhos. Ela imediatamente se virou, jogando seus braços pelo meu pescoço e me abraçando.

- Looogan. – Ela quase gritou devido ao barulho da musica. – Eu achei que você não vinha falar comigo.

- Desculpa, mas sou muito requisitado por outras pessoas. – falei, dando um beijo na bochecha dela, que sorria. Ela era tão... sei lá, ela tinha o que? 16 anos? E era tão bonita. Ela me soltou e eu dei um beijo na bochecha de Katelyn e Erin também, que sorriu, apesar de não sustentar meu olhar. Nós ficamos ali, dançando e cantando as musicas que o DJ colocava pra tocar. Sempre que possível eu olhava para Erin, e sempre via ela desviando o olhar, até que ela olhava para mim e eu olhava para o outro lado. Nós ficamos com esse joguinho de ‘eu olho quando você não olhar’ por algum tempo, até que ela disse que estava cansada e resolveu sentar um pouco. Vicky disse que iria com ela e eu me vi sozinho com Kendall e Katelyn, o que não era exatamente confortável. Eu arranjei uma desculpa qualquer e me juntei a James e Carlos, que agora dançavam normalmente (na medida do possível). Eu arrisquei olhar para a mesa e vi que Erin estava sozinha. E sua cara não era das melhores. Eu relutei um pouco, mas não agüentei. Fui falar com ela.

- Ta tudo bem? – perguntei quando cheguei perto o bastante para ser ouvido.

- Eu não posso ficar com você. – ela falou. Assim. Eu nem tinha falado nada sobre isso.

- É, eu acho que você deixou isso bem claro ontem. – falei, sentando na cadeira ao seu lado e encarando meus pés.

- Logan, olha pra mim. – ela chamou. – Eu disse que não posso ficar com você, não disse que eu não quero.

Eu fiquei sem reação. Encarei seus olhos tentando acreditar que ela realmente tinha dito o que eu achava que ela tinha dito. Ela riu, como se nem ela acreditasse no que estava falando.

- Eu quero. Muito. E aquele beijo... Ele também não sai da minha cabeça. – ela já não conseguia mais encarar meus olhos. Ao invés disso, olhava para o meu ombro, ficando cada vez mais vermelha.

Como que para provocar, a música mudou para um ritmo mais lento e vários casais começaram a se abraçar na pista. Nós dois rimos do quão irônico isso parecia. Eu não conseguia pensar em nada para responder e ela parecia não ter mais nada a dizer.

- É perigoso demais se eu te chamar pra dançar agora? – falei. Ela hesitou. Eu olhei em volta e segurei a mão dela discretamente, levantando e fazendo sinal para que ela me seguisse.

- Logan, o que você ta... – ela começou, mas logo entendeu e me acompanhou, ainda rindo.

Lá fora, na sacada que dava na praia, não havia quase ninguém. O som das ondas do mar era quase tão alto quando o som da música. Eu passei minhas mãos pela sua cintura, apoiando-as em suas costas e puxando-a para bem perto. Ela colocou as mãos no meu pescoço, brincando com os cabelos da minha nuca. Nós praticamente não nos movíamos, apenas ficamos ali, abraçados. Ela fechou os olhos, descansando a cabeça em meu ombro. Eu tentei me controlar. Juro. Mas ela ali, tão perto, tão linda, foi impossível. Eu aproximei meu rosto do dela, tocando sua boca de leve, como se tivesse medo que ela fosse fugir dali. Eu estava morrendo de medo que ela fugisse dali, na verdade. Ela não fugiu. Mas afastou seu rosto, não deixando que eu continuasse. Apertou mais seu abraço, como se pedisse desculpas e eu dei um beijo em sua cabeça, mostrando que não tinha ficado chateado.

- Eu não estou dizendo que não, mas agora não dá. – ela falou. Eu concordei com a cabeça. – Me desculpa. – pediu.

- Shh.. - Eu a puxei para mais perto, fazendo ela parar de falar. Nós ficamos ali até que a música lenta deixou de ser lenta e voltou a ser animada, mas não nos soltamos. Se eu pudesse, eu não teria soltado dela nunca mais, mas logo achamos que começariam a sentir a nossa falta e decidimos voltar para a festa. Ela soltou minha mão quando entramos de novo no salão, mas não saiu do meu lado pelo resto da noite.