O silêncio havia reinado ali. O medo crescia em cada um, tempo difíceis vinham e eles sabiam disso. Um ronco de seis barrigas quebrou o silêncio.

- Vou buscar algo para comermos. – disse Luke se levantando.

- Não! – praticamente gritou Lílian o puxando pela mão. – Fica comigo.

- Amor, alguém precisa ir buscar comida. – resmungou Luke. Lílian fez uma careta e olhou para Alvo.

- Alvito! – chamou Lílian fazendo um beicinho. Alvo rolou os olhos. Ele se levantou, fuzilando a irmã com o olhar, e estendeu a mão para Isabelle.

- Vamos? – perguntou Alvo. Isabelle aceitou a mão oferecida e juntos sumiram numa passagem que a sala oferecera para eles.

   A passagem deu exatamente para o corredor da cozinha. Alvo se voltou para trás e olhou a parede abismado.

- Eu amo magia! – ele riu

   Isabelle riu junto e o puxou pela mão para perto do quadro da cesta com frutas e fez cócegas na pêra. A passagem se abriu imediatamente e vários elfos os atacaram cheios de bandejas e perguntas.

- Eu juro que amo magia! – Alvo riu mais uma vez

- Amor...cala a boca! – Isabelle riu e puxou o elfo mais próximo ditando o queria

- Vocês tem ordem para obedecer qualquer um do castelo? – Alvo riu e perguntou para os elfos que ainda os rodeavam

- Qualquer um que pertença ao castelo sim! – uma elfa baixinha e gorda sorriu

- E como sabem que não são intrusos? – o moreno franziu as sobrancelhas

- Magia! – ela respondeu prontamente

   Alvo ergueu as sobrancelhas pronto para perguntar outra coisa, mas Isabelle já o puxava para fora, de volta ao corredor.

- Nossa, amor! Também amo você! – ele riu da impetuosidade dela

- Também te amo! – ela sorriu singelamente mostrando a cesta

- Comida! – ele exclamou e pegou uma maça na cesta – Estava morrendo de fome!

- Eu também! – ela sorriu

- E creio que foi por isso que invadiram a cozinha!

   Os dois arregalaram os olhos e se voltaram para trás. Dórios Oceanus estava ali, com a varinha pendida em uma mão e os braços cruzados. No rosto uma expressão sinistra.

- Desculpe professora! – Isabelle respondeu rápido

- Não se pode andar pelo castelo a uma hora dessas! E pelo fato de serem de casas diferentes, creio que não passaram a noite em seus salões comunais! – ela se aproximou devagar, mas cada passo já dizia que eles estavam enrascados

- Não professora... nos encontramos e... – Alvo tentou explicar, mas ela fez que se calasse apenas com um olhar.

- Detenção hoje a noite junto com aqueles seus amigos! E espero não encontrá-los sozinhos por aí também! – ela voltou as costas e já ia voltando por onde viera – E dez pontos a menos de cada um! – e ela sumiu. Alvo bufou e começou a resmungar e ofender as gerações da professora. Isabelle riu e foi pela passagem que os aguardavam para a Sala Precisa.

   Rose vestia a blusa do uniforme, enquanto Isabelle saía do banheiro enrolada em uma toalha.

- Da próxima vez eu tomo banho primeiro! – Isabelle sentou na cama irritada – Esse ar quente acaba com meu cabelo!

- Não acredito que está preocupada com seu cabelo! – Rose riu jogando uma almofada na amiga

- Rose? – Isabelle segurou a almofada no colo e a ruiva a encarou – Quando dormiu com Scorpius? – ela foi direta

- Você ainda está com isso na cabeça Belle? Eu nunca dormi com o Scorpius! – Rose voltou a procurar algo no malão

- Você já está com o uniforme completo Rose! – Isabelle constatou – Para de fingir que ainda falta algo e me encare!

   A ruiva suspirou e se voltou girando para a loira.

- O que quer Isabelle? – a ruiva pediu séria

- Quero que me conte a verdade! – a loira levantou e ficou em frente a outra – Sei que está mentindo, te conheço bem demais!

   Rose balançou a cabeça tentando ver se conseguia entender a situação. Mas só o que sabia, era que estava acabada.

- Quando ele me traiu com você? – Isabelle voltou a perguntar

   A loira podia se fazer de burra, patricinha e mimada, mas era a garota mais perspicaz das três. Rose suspirou e encarou a amiga, não conseguiria mentir, não quando Belle já descobrira tudo.

- Na sua casa! No armário naquela brincadeira! – a ruiva soltou de uma vez só

- Eu imagine! – Belle estava séria demais – Quando mais?

- Depois que ataquei o Alvo no lago, também na sua casa! – Rose sentou na cama mais próxima, agora que começara não poderia mais parar

- E quando dormiu com ele?

- Não dormi! Falei a verdade!

- Se não dormiu, então...vocês... – Isabelle arregalou os olhos para a outra

   Rose se limitou a acenar com a cabeça e confirmar.

- Merlin! – Isabelle exclamou e virou de costas – Achei que você pudesse não ter culpa, mas você me traiu também!

- Não Belle! – Rose se levantou e tentou se aproximar da amiga, mas a loira se esquivou

- Rose! Você transou com ele enquanto ainda éramos namorados! Sabe o que é isso? – Isabelle quase chorava – Confiei em você! Achei que jamais faria isso comigo!

- Eu não me senti bem ok? – Rose deixou as lágrimas correrem pelo rosto assim como a loira – Eu pensei o tempo todo em você!

- Até quando transava com ele? – ela deu um sorrisinho irônico

- Eu me senti um lixo, me senti usada! – Rose desabafou – Foi a minha primeira vez Isabelle! E ainda por cima foi em um trem!

- Agora vai querer dizer que não gostou? – a loira riu de novo – Poupe-me Rose!

- É bem porque eu gostei que eu me senti um lixo! – Rose quase gritou

- Nunca imaginei que seria tão falsa Weasley! – Isabelle fechou a cara e olhou a outra de cima a baixo – Nem vadia para se entregar no banco de um trem!

   Rose abriu a boca algumas vezes, mas a loira virou as costas antes que ela respondesse. Mas se Belle queria assim, então seria assim.

- Quer saber Becker? – Rose limpou as lágrimas e impediu a loira de sair na frente – Não me arrependo de nada! – ela sorriu

- É porque você não conhece o Scorpius o suficiente, mas pode deixar que eu te apresento! – a loira riu e saiu do quarto

            As horas se passaram e o clima tenso continuou sobre elas. Scorpius e Alvo resolveram não se meter na briga das duas. “Briga de mulher” disse Alvo. Scorpius tinha concordado com o amigo imaginando que a briga iria ser resolvida rapidamente. Estava redondamente enganado. Finalmente o horário da detenção chegou. Scorpius e Rose iam para a sala, a ruiva automaticamente prendeu a respiração ao ver a loira ali na porta. Com a cabeça erguida, Rose foi até a porta da professora sendo seguida pelos outros. Rose abriu a porta calmamente, colocou a cabeça ruiva para dentro e espiou a sala. Silenciosa e vazia. Então escancarou a porta e os quatro olharam abismados a sala.
   Escura como breu. Pesadas cortinas cobriam as janelas sem deixar passar um resquício de luz solar. No centro e atrás estava uma mesa de madeira antiga, atrás dela uma cadeira com estofado e espaldar reto, nem de longe parecia confortável. Pela mesa vários papéis embolados e jogados, como se tivessem sido examinados há minutos. Ao lado esquerdo estava uns balcões estranhos também de madeira e com vários castiçais e velas ao lado de potes de vidros estranhamente reluzentes. Do lado direito os mesmos balcões e os mesmos castiçais, mas os potes de vidros agora foram substituídos por caixas. Todos se sentiram ligeiramente desconfortáveis ali.
   Alvo se aproximou do primeiro castiçal e acenando a varinha, acendeu as velas uma a uma. Fez isso com todas de cada lado e então finalmente eles puderam ver o que tudo aquilo continha.

            Nos potes de vidros, tinham peixes. Um mais estranho e exótico que o outro. Isabelle cuidadosamente, se aproximou dos potes e soltou um grito. Num dos potes, tinha um peixe com cabeça de gato. Assustada, foi andando para trás. Queria se livrar daquele assustador peixe, mas ao mesmo tempo não conseguia parar de encarar-lo. Bateu num balcão com vários papeis.

- O que estão fazendo? – perguntou uma voz na porta da sala. A porta aberta dava chance da luz entrar na sala escura.

- Professora! – Rose se sobressaltou – Nós...viemos para a detenção!

- E aproveitaram para olhar a minha sala? – Dóris Oceanus olhou a sala de cima a baixo vendo se não faltava nada, ou quem sabe tentando ver se algo a comprometia – Já que estão aqui...minha sala necessita de uma limpeza! Podem começar! Dentro de duas horas eu volto! – ela se voltou para a porta – Ah! Sem varinhas! Accio varinhas!

   Todas as varinhas saíram dos bolsos dos casacos deles e voaram para a mão dela. Ela sorriu misteriosa e saiu da sala deixando-os ali sozinhos.

   Rose se manteve com a cabeça abaixada e os outros três se entreolharam nervosos. Além daquilo estar uma bagunça, aquela sala não causava uma boa sensação em nenhum deles.

- Ok! Eu começo pela mesa! – Isabelle pegou um pano que aparecera em um canto junto com baldes, água e esfregões

- Vou limpar o balcão das caixas! – Alvo disse pesaroso acompanhando a namorada até os produtos de limpeza

- Está tudo bem Rose? – Scorpius sussurrou baixinho para a ruiva

- Não gosto dela! – ela encarou o loiro séria

- Eu também não! – ele sorriu de lado – Estamos todos juntos aqui! Nada vai nos acontecer!

- Obrigada! – ela sorriu, ele se aproximou dela e selou seus lábios em um selinho antes de se dirigir aos balcões dos aquários

   Rose pegou um esfregão e começou a limpar o chão. Durante horas ficaram assim em silêncio e apenas trabalhando.

- Ei! – Isabelle exclamou, todos se voltaram para ela e viram a loira segurando um pergaminho amassado na mão – Olhem isso!

   Alvo e Scorpius se apoiaram um de cada lado da cadeira dela e Rose ficou em frente a mesa.

- Vamos ter um baile! – Alvo exclamou

- Um baile de inverno! – Scorpius indicou uma passagem escrita no pergaminho

- Pelo menos uma coisa boa! – Rose disse indiferente

- Ela não parece ter gostado! – Alvo encarou a prima – O pergaminho está bem amassado!

- Ou talvez, não importasse! – Belle concluiu – Vou deixar isso por aqui! – ela colocou o pergaminho no meio de outros em uma pilha – Mais tarde conversamos sobre isso!

- Ok! – eles disseram em coro e voltaram as suas tarefas ainda pensando sobre o baile e o motivo para o pergaminho estar amassado.