— BRUNINHO!!!

O grande caos que havia se instaurado desde que os Skullgreymons surgiram em Salvador, seguia tomando proporções inimagináveis.

João estava reunido a todos os seus colegas domadores e observava Calamon chegar acompanhado de cinco domadores, sendo que três deles estavam ali contra a vontade. Alex e Blaze seguiam firmes em seus planos de destruírem os Domadores Beta a qualquer custo, e para isso, se aliaram ao inimigo que esteve por trás de tudo o que acontecera de ruim até agora.

O mais jovem dentre todos os domadores seguia abraçado a Verônica e a Lúcia desde que o digimon das trevas surgira a frente deles. Todos sabiam dos artifícios que ele era capaz de fazer para conseguir captura-lo. Calamon já possuía Patamon e só lhe restava Bruno Soares para poder por seu plano em prática.

Como que hipnotizado, o garoto se livra dos braços das duas domadoras que lhe protegiam e começa a caminhar na direção de Calamon enquanto seguia levitando a cada passo que dava. As garotas, que também não conseguiram esboçar nenhuma reação de imediato, tentam contê-lo, mas o mesmo levita a uma grande velocidade, posicionando-se ao lado de Patamon e igualmente desacordado.

O grito de Lúcia, chamando-o, ecoa pelas ruas desertas e escuras da capital baiana.

— Calma, amiga – pede Verônica.

— Como que ele conseguiu fazer isso, Culumon? – indaga Rafael.

— Ele possui o dom da Manipulação, além da Transfiguração e da Telecinese, culú.

— Como que a gente vai derrotar um inimigo assim?

— Ele só se tornará um digimon indestrutível se conseguir todas as cartas, culú.

— Liberte Bruninho agora! – brada João, atraindo a atenção de todos!

— Me force a fazer!

Calamon é envolto por uma áurea negra que, segundos depois, envolve os demais. Dukemon regride para Guilmon e revela a presença de Blaze. O mesmo acontece com Grappleomon, que volta a ser Leormon.

— Por que regrediu tanto?

— Eu não sei dizer, Alex. Foi contra a minha vontade.

— O que Calamon pretende? – cochicha o garoto, domador de Tentomon.

— Não faço a mínima ideia, Will – responde Antônio. – Coisa boa que não é!

Blaze começa a gargalhar.

— Finalmente poderemos nos vingar da maneira que sempre desejamos.

— Para de ser criança e vê se cresce, Blaze! – interfere, no mesmo tom, Fernanda. – Não vê o que você está fazendo consigo mesmo? Está se aliando com o digimon das trevas... Logo você que sempre foi tão altruísta, que sempre foi dono da própria cabeça.

— Bateu o desespero, agora, garota falsa, ingrata! Traíra!!!

— Deixa ela, guri – diz Alex tranquilamente. - Deve estar com remorso. Ela é esperta. Percebeu que escolheu o lado errado e se arrependeu. Estamos um passo à frente deles. E em pouco tempo, seremos os únicos Domadores que existirão. Quer dizer, os únicos Imperadores.

— E você, Culumon, - pontua Calamon - assista a criação do meu poderoso exército! Já que possui humanos trabalhando ao seu lado, eu também terei os meus!  Só que de uma forma modificada.

— Como, assim, modificada? – indaga Blaze no mesmo instante.

— Não acordamos nada sobre uma forma modificada – prossegue Alex. – O que pretende?

— Vocês são humanos. E como humanos possuem vontades que vão além do meu alcance. Não arriscarei cometer o mesmo erro que meu irmãozinho.

— O que você fará com eles? – grita Lucas, atraindo a atenção do lobo negro alado.

— Digimons são divididos e três categorias: Vacina, Vírus e Dados. Essas categorias exercem dominação e subordinação umas sobre as outras naturalmente. Vacina domina vírus, que domina dados, que domina vacina.

— Você enlouqueceu? – brada Pastreli aos risos.

— O que ele diz é verdade, culú.

— E esse círculo é responsável por toda a harmonia do Mundo Digital. Ao centro, é claro, está meu irmãozinho. Mas, breve eu estarei no lugar dele.

— Isso se deixarmos! – responde o garoto de cabelo negro e olhos azuis ao lado do seu digimon labrador.

— Igor, você foi uma das minhas opções de escolhas para ser um Imperador. Mas sua índole não combinou com o seu digimon. Seria difícil controla-lo. Por isso escolhi Bruno, mesmo seu digimon sendo um tipo Vacina.

— Alex e Blaze sempre me questionaram e defenderam seus ideais alegando que todos os domadores que não podiam atingir a Extremidade eram meros coadjuvantes em toda essa batalha, culú. O enigma recebido por Lúcia e revelado a todos vocês faz referência aos domadores que podem chegar ao topo da montanha.

— Eu me lembro disso – intervém Albert. – Esses domadores são os Beta.

— Exatamente isso, culú. Porém, se os seis não estiverem unidos, não terão forças para cumprirem sua missão. E com a ausência de Carlos, outro domador precisou assumir seu posto.

— Por isso que meu digivice assumiu a cor azul. Teoricamente eu sou o substituto de Carlos. Assumi a vaga deixada por ele.

— E é fácil concluir que cada um aqui tem características parecidas com alguns dos Domadores Beta – prossegue Calamon. – E não fica nada difícil supor as características de quem que os meus escolhidos possuem.

Rafael sente um frio na espinha, ao passo que era alvo dos olhares dos demais.

— ME SOLTA!!!

A reação inesperada e desesperada de Alex assusta a todos os humanos, inclusive o seu colega Blaze.

— Por que você está assim? – questiona o garoto alto e corpulento. - O que você sabe que eu não sei?

— Eu sei que estamos numa grande enrascada! Esse maldito irá nos usar de um modo que não poderemos resistir, assim como fez com Bento e Etemon.

— E o que a gente faz, Alex? Guilmon, vamos evoluir para Dukemon agora!

Calamon começa a gargalhar.

— Calem a boca – diz o digimon das trevas com um leve brilho branco nos olhos.

Prontamente, os garotos e seus digimons param de se agitar e conversar, passando a ficar como os demais.

— Para combatê-los, resolvi reunir domadores que tivessem uma tendência, um ímpeto para o mal, propriamente dito.

— Você fará com esses garotos o mesmo que Devimon fez comigo?

— Exatamente, Rafael, só que com uma pequena diferença.

— Qual?

— Vocês verão agora!

Os olhos do lobo negro alado começam a emitir um sutil brilho branco até que suas íris não fossem mais visíveis. Uma áurea rosada passa a envolver os seis humanos e seus respectivos digimons, enquanto o portal mais atrás do grupo, antes branco e ofuscante, passa a exibir a imagem de uma cidade que possuía as ruas inteiramente forradas por emborrachados coloridos como se fosse um gigantesco e infinito quebra-cabeça. Diversos ovos de cascas com formas geométricas e cores variadas estavam espalhadas em uma enorme clareira entre prédios igualmente coloridos, além de um lago repleto de patinhos de borracha.

Dados negros começam a se acumular sobre o céu da Cidade do Princípio. Outros dados multicoloridos seguiam se desprendendo do chão, tornando-se negros e se juntando aos demais. Toda a cidade começa a tomar um aspecto cinzento e degradado, com prédios e casas destruídas, árvores em cinzas, ruas esburacadas. Era como se a mesma se tornasse uma cidade-fantasma.

— Antes que me perguntem, estou drenando os dados da Cidade do Princípio por um simples motivo: nenhum digimon renascerá a partir de hoje. E esses dados são vitais para meu plano.

Diversos digitamas seguem perdendo a coloração, tornando-se pedras.

Calamon seguia concentrado e, a cada momento, o céu tornava-se ainda mais escuro.

— Galera! – brada o líder de todos os domadores. – Essa é a nossa chance. Ele está vulnerável. Temos que ataca-lo com todas as nossas forças.

— Gotsumon, - diz a garota negra – vamos trazer Ancientvolcamon a ativa!

Otávio seguia atentamente assistindo tudo o que acontecia em Salvador. A imagem do seu filho estava estampada na tela da televisão. Samantha, sua esposa e mãe de Leon, fica desesperada ao ver que seu filho estava envolvido nos recentes acontecimentos e, agora, acompanhado por um pequeno digimon azul de forma humanoide.

— Você está mesmo decidido a fazer isso?

Otávio, anos mais jovem, caminhava pela orla do Farol da Barra acompanhado de dois amigos, quando um dos garotos o questionara.

— Sim, Marcos. Conversei com Celso sobre isso e ele me deu total apoio.

— Você é maluco ou o quê? Como que o apoia a desistir da faculdade?

— É o sonho dele! E ele está mais do que certo em ir atrás do que realmente gosta.

— Isso tem a ver com aqueles rabiscos que você vive fazendo, né?

— Pode ser!

— E você só responde isso? – refuta, Marcos.

— Sim. Vou dar um jeito de ir pra Europa. Lá em Madrid tem um curso de Ciências da Computação super avançado. A depender da disciplina, existem salas com um microcomputador para cada aluno.

— Pensando por esse lado, é mais fácil estudar esse curso fora do Brasil.

— Mas antes de viajar, vamos marcar uma festa de despedida – pontua Celso, sorrindo.

Betamon, Plotmon, Gotsumon, Gabumon, Palmon e Kokabuterimon atingem suas formas extremas. Acompanhando a enorme serpente de metal, a digimon arcanjo de armadura esverdeada e asas douradas, o lobo metálico de asas e calda douradas, a digimon humanoide rainha das flores e o mais novo integrante do grupo, o besouro mecânico de cor roxa e gigantesca boca, estava um digimon tão grande quanto Metalseadramon e Tyrantkabuterimon. Uma bola de pedra, redonda como a lua, que carrega um poderoso vulcão sobre as costas, além de possuir braços e pernas fortes, e uma cabeça protegida por um poderoso capacete.

Os seis digimons disparam em sincronia:

— Corrente Final.

— Lança do Éden.

— Bomba Atômica – brada o digimon de Lúcia após girar o corpo e trazer o enorme vulcão para frente, e lançar uma rajada de magma.

— Bafo Congelante.

— Tentação Proibida.

— Canhão do Escaravelho – diz o digimon de Antônio após projetar para fora da boca um enorme canhão de metal e disparar uma rajada de energia roxa.

As técnicas se fundem em pleno ar, formando um espiral de energias coloridas que avançam na direção do inimigo das trevas. Calamon rapidamente faz um movimento com as mãos e trás do Mundo Digital uma enorme quantidade de dados negros, criando uma enorme barreira que o protege, gerando uma poderosa explosão.

— Acharam mesmo que o simples fato de novamente existir seis Domadores Beta me destruiria? Precisarão mais do que isso a partir de agora.

Os dados negros seguiam se acumulando, e agora se aproximavam de cada um dos domadores desacordados, envolvendo-os em casulos de energia negra.

— Ataquem mais uma vez! – ordena João!

Os seis digimons novamente repetem a investida, que é repelida como da primeira vez.

— É inútil insistir, culú. Ele vai usar desse artifício até concluir o que planejou.

Aos poucos o casulo negro seguia liberando faíscas de eletricidade em todas as direções. Lentamente, dados brancos passam a envolver os digimon de cada domador e formar casulos de evolução. Sombras negras surgem pelo portal gargalhando enquanto voavam ao redor do lobo negro alado. Suas imagens eram distorcidas e seguiam numa feição horripilante com olhos vazados e enorme boca. Os vultos avançam na direção dos domadores, assustando-os e criando um grande desconforto geral entre humanos e digimons, que se agitavam numa tentativa de se livrar do mal eminente. João, Culumon, que estava sobre o ombro do garoto, e os digimons Extremo eram os únicos que não se intimidaram com a presença das seis sombras negras que seguiam destinadas a desestabiliza-los. Os vultos rodopiavam, gargalhavam e atravessavam os corpos dos humanos e digimons Novato que estavam por ali.

— Retornem, minhas criaturas.

Os vultos se afastam dos domadores e voltam para próximo de Calamon. Após voarem ao redor do digimon das trevas, que seguia com um semblante altivo e sorridente, se aproximam de cada uma das esferas negras que estavam ao redor dos domadores.

Os olhos de Culumon saltam das órbitas. Era nítida a sua expressão de que havia acabado de compreender o que Calamon queria fazer.

— Não pode ser, culú. Isso será o fim do Mundo Digital.

João fita o deus-digimon e, ao vê-lo assustado, percebe que Calamon não economizaria no ataque. O digimon negro estava disposto a usar todas as suas fichas nessa última ofensiva, nem que para isso perdesse o mundo que ele tanto desejava conquistar.

No portal aberto logo atrás do digimon das trevas, cada vez mais, uma enorme quantidade de dados coloridos que seguiam se desprendendo do Mundo Digital e tornando-se dados negros aumentava e vinha em direção ao Mundo Real. Alguns digimons que observavam a grande movimentação de dados também eram dissolvidos. Aos poucos, todo o mundo dos digimons eram disseminado, tendo seus dados convertidos em energia negra.

Os vultos entram em cada um dos casulos e gritos desesperados dos domadores eram escutados por todos os lados. Os seis digimons Extremos tentam uma aproximação, numa tentativa de barrar o plano do inimigo, e novamente não são páreos para o grande mar de dados negros que seguia se reunindo nos casulos e ao redor de Calamon.

— Pessoal, tive uma ideia maluca – diz Murilo, numa tentativa de achar uma saída em meio a todo o caos que acontecia. – Quando enfrentamos Metaletemon no mausoléu com nossas evoluções de dados nós o enfraquecemos com as habilidades especiais desses digimons.

João, Verônica, Bárbara e Flávia pensavam na ideia dada pelo garoto magro, enquanto os demais domadores apenas observavam.

— Ele tem razão – manifesta-se a garota loira. - Não custa nada tentar.

— Então vamos! – propõe João sacando uma carta com imagens de shurikens.

Verônica, Murilo, Flávia e Bárbara o acompanham no movimento.

Metalseadramon e Ophanimon regridem.

— Evolução de Dados, já! – diz o garoto de barba cerrada juntamente com seus colegas.

Um tornado de folhas e lâminas passam a envolver Betamon, assim como uma caixa de madeira se forma ao redor de Patamon, uma gota d’água em volta de Plotmon e uma pedra e um tornado ao redor de Fanbeemon e Lunamon, respectivamente.

Shurimon, Yashamon, Ranamon, Digmon e Kazemon surgem no campo de batalha e avançam na direção de Calamon, que ainda planava sobre o Farol da Barra em frente ao enorme portal que conectava o Mundo Real ao Mundo Digital. Repentinamente, uma enorme estrela em lâmina avança contra o digimon das trevas, que por poucos centímetros não é atingido. Visivelmente irritado com tamanha afronta, e antes mesmo que os demais digimons híbridos também atacassem, Calamon dispara uma poderosa rajada de dados negros, envolvendo-os. A força foi tão devastadora que os cinco digimons caem no chão já em suas formas Novato.

João, Verônica, Flávia e Murilo correm até os seus digimons e os pegam nos braços, sendo que o domador de Patamon também resgata a pequena digimon abelha.

Calamon não emite nenhuma palavra após mais uma tentativa de ataque dos Domadores. O digimon lobo negro alado seguia concentrado em seu plano quando os casulos brancos seguiam se dissolvendo, revelando a presença de outros quatros digimons Extremos, além do cavaleiro medieval de capa vermelha, lança e escudo, e do gorila inteiramente de metal que usa óculos de sol.

— Como é possível Dukemon e Metaletemon aparecerem sem a presença de Blaze e Bento? – brada Fernanda, assustada.

Todos os domadores sacam seus digivices para conferirem as formas extremas dos outros digimons.

Um buggy azul surge nas proximidades do campo de batalha e estaciona em um local mais reservado.

Continua...