Tomorrow Will Come escrita por GoianoUrbano


Capítulo 6
Capítulo 06 – Entre o ódio e o amor.




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Faltavam apenas dois dias para o grande dia: a cerimônia de sintonização do Rei Shaman com o Grande Espírito. Não havia nem sinal dos inimigos de Hao. Tudo estava tranqüilo, mas Anna sabia que Yoh não iria deixar aquilo barato. Ela conhecia o menino e viu nos olhos dele uma determinação que nunca tivera, mas ele estava sendo impulsionado pelo ódio. Ódio que estava sentindo pelo seu irmão, por ele ter lhe roubado a noiva; e ódio por ela própria, por ela ter traído a sua confiança.

 

É incrível como o destino de três pessoas estava ligado pelo amor e pelo ódio. Anna não podia adiar mais essa conversa. Por mais tristes as lembranças que lhe viriam à tona, aquele era o momento propício para aquela conversa. Hao estava sentado numa pedra no jardim, e Anna observava o shaman de longe. Aquele olhar que ele tinha na face, aqueles olhos misteriosos cheios de ódio, mas que no fundo escondiam uma grande tristeza, a lembravam dela mesma.

 

"Osorezan". Era o lugar para onde Anna direcionava seus pensamentos. Osorezan era o seu lar. Foi lá que a garota passou por um duro treinamento para chegar a ser a itako que era hoje. Desde pequena treinava com Kino, e os treinamentos da avó de Yoh não eram moleza. Mas, a Anna suportou todas as provações e se tornou a melhor discípula de Kino Asakura. Isso fez com que a família Asakura a escolhessem como noiva do sucessor.

 

"Yoh". Anna se lembrava bem do dia em que conheceu o garoto. Estava mergulhada na escuridão. Isolada de tudo e de todos. Achava melhor assim. Assim não teria que encarar aqueles olhares e pensamentos acusadores. Ninguém ousava se aproximar daquela aberração de menina. Todos temiam a garota com poderes "sobrenaturais". Ela fora abandonada pela sociedade, não podia fazer parte dela. Desde então, sua opção foi o isolamento. E, dentro de seu coração, nutria um ódio crescente por tudo e por todos. Era o mesmo ódio que a garota vira nos olhos de Hao. Era esse ódio que os faziam semelhantes. Porém, Yoh foi capaz de a tirar da prisão de ódio em que ela se encontrava.

 

- Ele despertou um sentimento diferente dentro de mim. Ele despertou amor dentro do meu coração. Murmurou a itako levando a mão ao coração.

 

"Tão iguais, mas tão diferentes" Era isso que a itako pensava dos dois irmãos. Um era todo sossegado, molenga, gostava de uma vida calma e era esse o seu sonho: ter uma vida sempre tranqüila. Ele tinha vários amigos nos quais podia confiar cegamente. A amizade que unia Yoh com seus amigos era um vínculo tão forte que Anna não sabia explicar. Agora, o outro irmão era mais parecido com ela. Ele era solitário e muito forte. Era sábio e tinha escolhido pelo caminho da vingança. Estava dominado pelo ódio e era isso que fazia com que a itako estivesse ali. Ela compreendia os sentimentos de Hao, pois ela mesma já os sentira.

 

Anna foi se aproximando do shaman que se encontrava no jardim do castelo lentamente. Hao saíra de seus devaneios para dar atenção a sua adorada itako. Sorrira para ela. Um sorriso terno que era capaz de ruborizar a garota de leve. Anna desviou seu olhar do shaman e lhe disse:

 

- Nós somos parecidos, Hao. Nós éramos iguais...

 

Hao ficou sem reação diante do comentário da itako. Apesar de ser capaz de ler a mente das pessoas, não conseguia chegar ao coração da garota. Ela não lhe demonstrava nem seus pensamentos nem seus sentimentos. Realmente, fora muito bem treinada. Ele apenas ficou observando a Anna até que ela lhe revelasse o motivo daquele comentário.

 

- Seus olhos... Seus olhos escondem uma imensa tristeza por detrás desse ódio todo. E ficou por um breve período de tempo em silêncio, esperando que sua afirmativa causasse efeito.

 

- Aonde você quer chegar, Anna? Perguntou o shaman.

 

- Em nenhum lugar. Apenas quero que você me ouça. Não diga nada. Palavras não são necessárias. Apenas preste atenção no que eu tenho para lhe dizer. E finalmente olhou nos olhos do shaman.

 

Hao ficou olhando para a garota esperando que ela continuasse. Estava curioso e intrigado com a direção daquela conversa. Sabia que a itako não estava de brincadeira, enxergava uma seriedade no olhar dela. Mas, ele também enxergava um misto de tristeza.

 

- Durante muito tempo eu fui dominada por um ódio crescente em meu coração. Eu me isolei de tudo e de todos. Eu sabia claramente o que as pessoas pensavam de mim. Eu sentia que ninguém me queria por perto. Eu era uma ameaça para a sociedade. Uma garota com poderes "sobrenaturais" não pode ser vista com bons olhos. Osorezan foi onde me abandonaram. Lá que eu tive meu treinamento para me tornar uma itako. Lá que eu criei laços com a família Asakura. Uma família tradicional de shamans não me enxergava como uma aberração. Kino me acolheu e me treinou e hoje eu sou o que sou. Continuou a itako, que apesar de estar olhando nos olhos de Hao, estava muito distante, como se tivesse voltado no tempo.

 

- Eu não conseguia controlar meus poderes com eficiência até que eu conheci o Yoh Asakura. O modo que eu via o mundo, o modo que eu odiava o mundo era o motivo de eu não conseguir controlar meus poderes. Yoh me fez enxergar isso. Ele foi a primeira pessoa que conseguiu se aproximar de mim. No começo eu me mantia afastada dele, pois apesar de ele ser um shaman e não me enxergar como uma garota anormal, eu achava que ele não fosse diferente das outras pessoas. Eu achava que ele ou me temeria ou me odiaria. Mas, eu estava enganada. O Yoh foi aos poucos me libertando das minhas próprias trevas e me fez enxergar o mundo de outra maneira. Ele fez com que meu coração sentisse outro sentimento, diferente do ódio, um sentimento bom. Aos ignorantes só resta temer o que é desconhecido, por isso não podemos condená-los. Foi assim que eles foram criados e é assim que eles criarão os seus filhos e os filhos de seus filhos. A nós...A nós resta a adaptação. A adaptação nesse mundo de preconceitos. Não é todo o mundo que é preconceituoso. Nós devemos lutar para extinguir o preconceito remanescente do mundo. E as únicas armas que temos para isso são o conhecimento, a sabedoria e o amor. Terminou a itako, deixando o shaman sozinho, para que ele pudesse refletir sobre suas palavras.


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