| Fazia um ano e três meses que seu pequeno filho havia nascido. Hana Asakura, era o nome do menino. A combinação dos nomes de seus pais fora escolhida para ser o nome do pequeno. Tinha o cabelo claro como o de sua mãe e o brilho do olhar de seu pai. Ainda hoje, Anna lembrava-se da reação de seu marido ao saber da notícia de sua gravidez. Essa lembrança trazia um leve sorriso ao seu lábio. Ele era o alvo de seus pensamentos. Sentia seu coração apertar de saudade desde o dia em que ele partira. Isso fora há seis meses atrás, mas logo ela estaria ao seu lado. Ainda era uma poderosa itako, e poderia achá-lo nem que fosse nos confins do inferno. E, sem sombra de dúvidas, se precisasse, o seguiria mesmo na mais distante das dimensões. ***** Flashback ***** Era uma noite de inverno. Anna se encontrava em seu quarto amamentando seu pequeno filho com um Yoh sorridente a observá-la. Ela não pôde deixar de notar um fundo de tristeza nos olhos do shaman. Já havia alguns dias que ele se encontrava apreensivo e ela notara esse fato desde o primeiro momento. Não poderia mais adiar uma conversa com seu marido. Embalou Hana em seus braços e o pôs para dormir com uma suave canção de ninar. Já era o momento propício para a conversa. O bebê já estava dormindo e eles estavam a sós. - Yoh... Começou a garota. Depois de alguns segundos em silêncio, como se estivesse retornando à realidade, Yoh respondeu: - Huh? - Faz uns dias que venho notando que você está diferente. Afirmou Anna. - Diferente? Diferente como, Anna? Indagou Yoh. - Você não pode esconder seus sentimentos de mim, Yoh. Eu te conheço desde que éramos pequenos. E sei que há algo de errado. Diga-me, sem rodeios, o que está acontecendo. Tornou a itako. - ... É ele! Eu sinto a tristeza dele a cada amanhecer. Disse Yoh, com uma expressão de tristeza em sua face, após alguns segundos de reflexão. Silêncio. A itako sabia exatamente do que ele estava falando e o que ele estava sentindo. Ela também tinha a mesma sensação a cada raiar de um novo dia. O elo que os ligava tinha se fortalecido desde os últimos acontecimentos. - ... Anna... Disse um Yoh hesitante. - Você tem certeza, Yoh? - Sim. Foi a simples resposta dele, mas ela sentiu uma grande determinação nela. - Pois, então, eu te seguirei. Quando eu desamamentar o nosso filho, eu te encontrarei. - Mas, Anna... Começou a retrucar Yoh. - Nada de "mas". Esse também é um assunto meu. Já estou decidida. Não importa onde você esteja, eu te encontrarei. Iremos juntos nessa jornada. Interrompeu Anna. Yoh apenas pôde sorrir para sua esposa. Sabia que não podia impedi-la. E, de qualquer forma, se sentia reconfortado por saber que ela o seguiria. Morreria de saudades se ficasse muito tempo longe dela. E foi ao amanhecer que Yoh partiu em uma longa jornada... ***** Fim do Flashback ***** Hana já estava acostumado com a mamadeira. Já era tempo de partir ao encontro de seu marido, mas Anna estava enrolando o quanto podia para ficar perto de seu pequeno filho. Essa separação doía no fundo do coração da itako. Não queria deixar seu filho. Não seria para sempre, mas mesmo assim era dolorido. Não tinha alternativa. Não podia levar Hana consigo, pois ele não teria os cuidados necessários durante a jornada. Tinha que partir. Yoh a aguardava. E ela sabia que teria um papel importante nessa empreitada. Partiria ao amanhecer. Essa noite se dedicaria por inteiro a seu filho. Seu pequeno Hana. Ele já estava dormindo. Dormindo como um anjo. Ela só ficaria a observá-lo. Aquela inocência que o circundava a fazia se lembrar de Yoh. Eram muito parecidos - pai e filho. Os dois eram as pessoas mais importantes de sua vida. Amava ambos com todo o amor de seu coração. Recordava-se de quando ficou sabendo de sua gravidez e da felicidade que preencheu o seu ser naquele momento. Constituir uma família era um dos seus sonhos. Em tão pouco tempo tinha realizado todos os seus maiores sonhos: um casamento numa praia à luz do luar e ao brilho das estrelas; constituir uma família com o homem amado; e, principalmente, ser plenamente amada. Agora, só restava um sonho a ser realizado: reunir novamente a família e poder desfrutar da felicidade. Não podia partir sem deixar um presente para seu filho. Uma canção de ninar fora o presente escolhido. Uma canção que ele sempre guardaria em seu coração. Mesmo que não soubesse a letra, teria sempre a voz melodiosa da sua mãe em seu coração. Já havia cantado para Hana várias vezes essa canção, mas essa noite seria diferente. Seria um presente inesquecível... De mãe para filho! De manhãzinha, Anna colocou em seu pescoço seu rosário budista de 108 contas e pegou seu 1080. Estava pronta para partir. Deixou seu filho aos cuidados de Tamao. Sabia que poderia contar com a garota e que ela cuidaria como ninguém do pequeno Hana. Permaneceu olhando seu filho por um longo momento. A ternura de seu olhar transmitia todo o amor que sentia pelo garoto. Partiu, sem olhar para trás... | 