Too Close escrita por Kirara-sama


Capítulo 8
Combate




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            Aukyner não sabia em quem avançar primeiro. Ambos eram adversários fortes e mortais. Lynne o faria em pedaços se cometesse um mínimo deslize. Shiroi também parecia experiente o suficiente para meter-lhe uma flecha certeira na testa. Começou a suar de nervosismo. Já enfrentara inúmeras batalhas. Já havia encarado o Reino de Hel de frente algumas dezenas de vezes. E todas essas vezes, a sacerdotisa estava lá para salva-lo. Catherine estava contando com ele para continuar sua missão proibida. Ele não poderia falhar agora, depois de tudo que a loirinha fizera por ele. Não... Ele não iria falhar agora.

            O pensamento da mercenária era parecido. Aukyner Aclahayr era um renomado cavaleiro. Apesar de não ser um nobre ou pertencer à classe média, seu nome corria pelos quatro cantos do Reino. Era forte e bonito, mas sua falta de dinheiro fazia com que quase nenhuma garota o fitasse com outros olhos. Já o arruaceiro... Seu nome não lhe era estranho. Lembrava de algumas palavras desconexas, como “mulherengo” e “bom de mira”. Mas era apenas isso que conseguia se recordar no momento. De qualquer maneira, não iria perder agora que fora tão longe.

            Já Shiroi... Bem, o rapaz definitivamente estava com cara de bobo alegre. E seus olhos fitavam... As pernas descobertas de Catherine, que se encontrava sentada a muitos metros de distância, de maneira inocente. Porém, no fundo, estava preocupado com a batalha. Suas habilidades com o arco o deixavam confiante, mas isso em uma luta de um contra um. Agora ele tinha dois inimigos, e não sabia quem iria avançar primeiro. Não obstante, o real problema não era o avanço dos adversários, e sim o que aconteceria caso ambos atacassem o baderneiro. Aquele pensamento o deixava um pouco nervoso e, apesar do ar de perversão e calma, Shiroi mastigava a pobre Folha Romântica.

            - Rapidez Com Duas Mãos! - Aukyner bradou em alto e bom som e avançou em Lynne, sentindo uma energia frenética correr por todo o seu corpo, logo concentrando-se em seus braços. Sempre fora um pouco impetuoso nas batalhas, o que lhe rendeu diversas cicatrizes de ferimentos que a pequena serva de Odin não pudera curar por causa de sua ausência.

            A batalha fora iniciada. Lynne sorriu por dentro e apenas deixou que o rapaz avançasse. As novas Asas de Demônio e Orelhas Malignas davam um ar assombroso para a garota de cabelos curtos e róseos. Quando o cavaleiro chegou dentro do seu raio de alcance, a mercenária desviou da Claymore, que vinha de cima abaixo direto na sua cabeça, indo para o lado com um único passo. Como contra-ataque, a jovem fez uma volta de 180º, esticando a mão que empunhava a Rondel. A adaga destruiu a armadura e a malha grossa que cobria a lateral do abdômen de Aukyner, também abrindo um profundo corte na pele do adversário. Mas o cavaleiro não deixou barato. Usando o frenesi que se acumulava em seus braços, mudou a rota da espada, atacando Lynne na horizontal. Por pouco o jovem não descontou o corte que abrira em seu corpo, pois a garota de cabelos róseos pulou para trás, tomando apenas parte do dano: um pequeno arranhão que começava a sangrar, mas nada exagerado. Afastaram-se novamente, pois uma Flecha de Fogo passou rente o corpo de ambos. Admirados, olharam para o lado.

            Shiroi parecia estar muito irritado por ter sido deixado de lado. Armou agora uma Flecha de Aço, afiadíssima. Esticou a corda o máximo que pôde, fazendo com que os limbos do arco se curvassem um em direção ao outro. O ato, que aparentemente durou longos minutos, levou apenas dois segundos para ser executado. O arruaceiro soltou a corda e deixou que o arco voltasse à forma normal, lançando assim a flecha com força na direção do cavaleiro. O jovem de longos cabelos queria acabar com Aukyner o mais rápido possível. O moreno desviava quase toda a atenção da sacerdotisa para si, o que deixava o baderneiro com ciúmes. Estava confiante de que acertaria o seu inimigo no peito. Porém sua felicidade não durou muito ao ver que o rapaz pulara para o lado, desviando por pouco do projétil.

            Lynne também não ficou satisfeita ao ver o belo cavaleiro ser atacado tão ferozmente. Em sua concepção, o rapaz de olhos verdes deveria morrer pelas mãos dela, talvez fosse menos doloroso. Irritada, avançou no arruaceiro, desferindo diversos golpes na diagonal e horizontal, balançando sempre as adagas com muita destreza. O casaco emplumado de Shiroi começou a ser estraçalhado pela fúria da mercenária, que chegava cada vez mais perto de sua pele. Por mais que recuasse, logo encontraria algum obstáculo pelo caminho. E achou. Trombou contra uma árvore seca, que acabou caindo com o empurrão. Aquilo salvou sua vida, pois, sem apoio nenhum, o baderneiro também desabou, quase recebendo um profundo golpe na clavícula. A adaga da assassina passou arranhando o ombro do rapaz, fazendo o sangue espirrar nas folhas secas de alguns arbustos. Com o adversário caído no chão, Lynne se preparou para desferir o golpe de misericórdia, mas algo a interrompeu. Aukyner empurrou a mercenária com violência, que caiu sobre Shiroi. Este ficou surpreso com o inesperado peso extra que desabou sobre ele. Ambos ficaram imóveis no chão. O cavaleiro já havia perdido muito sangue e a malha grossa que protegia seu corpo estava pela metade, manchada de negro. Para não perder o equilíbrio, o moreno tinha que se apoiar em sua Claymore, que também carregava um pouco do fluído sanguíneo de Lynne.

            - Impacto Explosivo! – Aukyner novamente bradou, levantando a sua espada, que era tomada por uma aura de fogo. Ao fincá-la no chão, o fogo se espalhou, com uma fraca explosão. A mercenária e Shiroi foram lançados para longe, sendo parados por uma enorme formação rochosa. Ambos caíram em um baque surdo, um por cima do outro. O cavaleiro havia usado toda a sua força restante para aquele ataque, por isso caíra para frente, exausto.

~*~

            Catherine observava a luta apreensiva. Como sacerdotisa deveria parar aquele tipo de atitude imediatamente. Mas sabia que se tentasse interferir, Aukyner ficaria magoado e com raiva. Ficou por longos minutos observando os combatentes, até que o cavaleiro fora ferido. Não agüentou olhar para aquilo e colocou ambas as mãos sobre os olhos. Ver o amigo sangrar e não poder usar da sua Cura para ajudá-lo deixava a sacerdotisa impotente. Tanto por dentro quanto por fora. Passou a torcer internamente pelo moreno, já que não iria continuar assistindo o embate feroz. Apenas ficava a ouvir os gemidos de dor que um ou outro lutador emitia. Com um último golpe, o silêncio veio. A loirinha tirou lentamente as mãos da frente do rosto e encarou o vencedor. Seu amigo estava de pé! Mas por pouco tempo. O cansaço se apossou do corpo do rapaz e o derrubou.

            - Auky! – Catherine correu até o jovem, muito desajeitada. Parecia que quanto mais corria, mais longe o seu salvador ficava. Mas era tudo imaginação criada pelo pavor que carregava em seu coração, pois logo chegara perto do colega. – Auky! Fala comigo, por favor, Auky! – A sacerdotisa virou o corpo do rapaz, encarando a profunda abertura que o Rondel de Lynne causara. Logo colocou jeitosamente a cabeça do cavaleiro no colo, afagando-lhe os cabelos enquanto grossas lágrimas corriam-lhe pelos olhos. Um clima lúgubre instalou-se na planície de Juno, pois grossas e pesadas nuvens de chuva começaram a cobrir o céu. A chuva precipitou-se e começou a lavar aquele lugar seco e castigado pelo sol, que se mantinha presente quase todos os dias do ano.

            - Desde pequena... Você sempre foi chorona... Cath... – Aukyner sussurrou baixo, com um sorriso travesso no rosto. Mesmo de olhos fechados, o rapaz conseguia ouvir os soluços que a sacerdotisa emitia. Ainda não descobrira o porquê aquilo lhe doer tanto.

            A loira sorriu um pouco aliviada e juntou as mãos, orando baixo para os deuses. Iria Curar o amigo até ficar exausta. Começou então o seu trabalho de enfermeira, usando quase toda a sua energia para recuperar o cavaleiro. Porém teve que parar. Ia usar o resto do seu poder para ajudar um outro alguém.


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