Too Close escrita por Kirara-sama


Capítulo 7
Salvação




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            A sacerdotisa sentiu o golpe. Berrou de dor ao constar que a mercenária havia mirado seu Stilleto direto no ombro esquerdo da loira. O sangue espirrou um pouco. O líquido era de um rubro tão intenso que poderia ser confundido com o preto. Logo uma mancha consideravelmente grande e viscosa começou a aparecer na batina de Catherine. A moça choramingava e tentava, em vão, engolir os gemidos de dor, enquanto mantinha a pouca consciência que lhe restava.

            - Você vai me levar junto para esse tal Santuário e vai me ajudar a derrubar aquele reizinho. – Lynne puxou a garota pelos cabelos. – E eu não vou aceitar um não como respost...

            A mercenária é interrompida por uma Flecha Afiada que passa zunindo ao lado de sua orelha direita. O susto havia sido tanto que a jovem de cabelos róseos se levantou de supetão, mas acabou tropeçando nas pernas de Catherine, o que lhe rendeu uma queda. A garota se levanta rápido novamente e retira sem delicadeza alguma o Stilleto do ombro de sua presa, que novamente grita de dor. Minuciosamente Lynne analisa o local. A única coisa que via por ali era outra Planta Carnívora, a vários metros dela, e o ambiente árido e rochoso que formava a inóspita planície de Juno.

            - Confusa?... – Uma voz masculina meio rouca e charmosa, com um toque de sedução pôde ser ouvida. Parecia estar perto, mas a mercenária não conseguia de maneira alguma detectar seu oponente. Reparou então que seu adversário estava escondido ou utilizando Furtividade.

            - Use Revelação! – A jovem ordenou para a sacerdotisa, que apenas se encolheu com o tom de voz. Puxou-a pelos cabelos. – Agora!

            - Heid, empreste-me um pouco do seu poder e sabedoria. Aquela que brilha, encha-me com a tua luz. Revelação! – Catherine rezava entre soluços e gemidos. Quando terminou sua prece, uma suave luz azulada envolveu-a, revelando um arruaceiro.

            Sua voz fazia jus ao seu físico. Tinha cabelos longos e grisalhos, mas não de velhice. Os olhos dourados espreitavam as duas garotas e um sorriso sedutor dançava em seus lábios, acompanhado de uma Folha Romântica. O rapaz equilibrava uma Maçã de Guilherme Tell na cabeça e nas mãos segurava uma Gakkung novíssima. E o corpo era definido. Não tinha músculos como os cavaleiros e nem era tão esguio como os mercenários. Era na medida certa.

            - Calminha garota, não vou machucar nenhuma de vocês! – O arruaceiro sorriu e se curvou. – Shiroi Sinclair... Muito prazer. – Shiroi encarou Catherine caída e piscou para ela.

            Por um segundo a mercenária piscou confusa, mas logo avançou no rapaz, que usou sua técnica Esconderijo novamente. Sem perder muito tempo, o baderneiro furtivamente deu a volta e agarrou a moça de cabelos róseos por trás, travando qualquer movimento brusco. Por mais que esperneasse e berrasse para largá-la, Lynne não obtinha sucesso nenhum em sua fuga ou ordem de soltura. Muito pelo contrário. Shiroi parecia apertá-la cada vez mais contra o seu corpo.

            - Calma garota! Já disse que não vou fazer nada contra vocês. – O arruaceiro riu das tentativas falhas da jovem. Quando percebeu que ela havia sossegado, o rapaz habilmente amarrou os pulsos de Lynne às suas costas, desarmando-a logo em seguida do Stilleto. Sem muita delicadeza, o moço empurrou-a, fazendo-a cair sentada sobre um tronco de árvore já tombado pelo vento, seco e carcomido. Sorriu ao ver a cintura da garota afundar na madeira.

            - HEY! Tire-me daqui agora e solte-me! – A mercenária esperneou furiosa, apenas afundando mais na madeira oca. Percebendo que suas ordens novamente não seriam atendidas, parou de berrar e espernear. Abaixou a cabeça, respirou fundo e olhou para o arruaceiro com cara de gato abandonado na chuva, após cair do caminhão de mudança. – Pufavô!

            Shiroi sorriu e deu as costas para Lynne, que ficara indignada com tamanha ignorância. O baderneiro analisou o Stilleto sujo de sangue e olhou para a sacerdotisa encolhida e sangrando. Agachou-se até ficar cara a cara com a moça e sibilou baixo, de uma maneira rouca que fez Catherine estremecer.

            - Não se preocupe. Pode usar sua cura divina sem problemas agora. – O jovem sorriu amável, mas no fundo um pingo de malícia podia ser visto por qualquer um naquele sorriso. Qualquer um menos a sacerdotisa, que agia como uma criança inocente. Não só agia como parecia ser uma também.

            Orando bem baixinho, a loira pôde finalmente relaxar quando uma aura verde e morna a envolveu, curando sua ferida. O sangue parou de escorrer aos montes pelo seu braço e o buraco que ficara no ombro desapareceu completamente, deixando uma cicatriz quase invisível como lembrança. O fluxo anterior, entretanto, ficou no lugar para secar, deixando a batina da jovem marcada. Além disso, a manga comprida da roupa de sacerdócio havia sido completamente arruinada, junto com a alça de um delicado sutiã branco que aparecia pelo buraco da peça.

            - Puxa... Muito obrigada, n-não sei nem como agradecer... – A sacerdotisa sorriu de maneira infantil, aliviada. Diante daquele sorriso, Shiroi alargou ainda mais o seu, deixando-o mais malicioso. Santa inocência, nem havia reparado nas segundas intenções de seu “salvador”.

            - Não foi problema nenhum minha cara... – Sutilmente, o arruaceiro segurou a mão da loira de maneira delicada e a beijou, sorrindo novamente. Com o gesto, Catherine ficou rubra instantaneamente e fez questão de afastar a mão do rosto do rapaz, tamanho o seu constrangimento.

            - Bem eu... Agradeço muito a sua ajuda, mas devo partir agora. Por favor, não faça nenhum mal a ela. – A moça indicou a mercenária presa no tronco, com uma expressão amuada no rosto. – A propósito, meu nome é Catherine. Espero que a gente ainda se veja por aí algum dia. – Beijou o rapaz no rosto e começou a se afastar, segurando a mochila por apenas uma alça agora, já que a outra havia sido cortada pelo Stilleto de Lynne.

~*~

            Com muita habilidade, a garota de cabelos róseos conseguiu tirar uma lixa de trás de sua roupa e começa a enfraquecer as cordas. Depois finalmente se desfaz das amarras. Bem a tempo. Sua presa já estava quase fugindo do seu campo de mira. Sua sorte é que o arruaceiro já não podia mais defendê-la, já que ficara parado, apenas analisando a sacerdotisa de longe, de maneira um pouco faminta. Era sua chance. Levantou-se rapidamente e lançou a primeira arma que conseguira alcançar do seu arsenal. Era uma Damascus afiadíssima.

            - Cuidado! – Shiroi gritou, esperançoso de que a loira pudesse desviar da adaga ou conjurar rapidamente um Kyrie Eleison. Mas ele sabia que não daria tempo.

            A única coisa que a sacerdotisa conseguiu fazer foi virar-se e fechar os olhos, esperando o golpe final. Que novamente não chegou. Uma sombra projetou-se sobre ela, defendendo-a do ataque com uma longa espada. Desviada a trajetória, a Damascus apenas arranhou o lado direito do rosto do estranho, indo parar em uma árvore. O sangue escorreu da ferida e pingou no chão, mas o salvador de Catherine nem se moveu.

            - Cath... Você está bem? – O rapaz falou baixo e sério. Era Aukyner. O cavaleiro logo ficou corado quando a loirinha pulou em suas costas, distribuindo vários beijos em sua fronte.

            - Por Odin você veio! – A sacerdotisa sorria, muito feliz. Mas logo apagou o sorriso. – Espere um minuto aí... Você não deveria ter vindo!

            - Sabe como é né... O dever de te proteger é sempre mais forte. – Auky sorriu e se desvencilhou do abraço, indo para perto de Shiroi e Lynne.

            Os três se encararam seriamente. A mercenária já havia se equipado com uma Gladius e uma raríssima Rondel. O arruaceiro esperava se garantir no combate de longa distância, segurando sua Gakkung. E para o cavaleiro apenas lhe restava combater com sua fiel Claymore.

            O vento batia suave contra os rostos nervosos dos combatentes. Cada um com seu objetivo. Subitamente o vento parou de soprar quando Catherine gritou. Todos voltaram sua atenção para ela.

            - AAAAAAAAAAAAAAAH! SOLTA SOLTA! PLANTA FEIA! – A sacerdotisa espancava uma Planta Carnívora com seu Atordoador. A pobre planta apenas estava mastigando a batina da jovem, e parecia que não iria largar tão cedo. Sem opções, a loirinha vira o corpo meio de lado e puxa a roupa, apoiando o pé esquerdo em uma pedra. O resultado foi uma batina rasgada até quase a cintura e o rosto angelical da garota afundado no solo... Novamente.

            Em todos surgiu uma gota gigantesca. Não estava acontecendo nada de anormal com a jovem.

            Voltaram a se encarar. Cada um lutava contra dois oponentes por um objetivo em comum: a sacerdotisa. Lynne a queria para derrubar o rei e futuramente matá-la. Aukyner apenas desejava proteger a amiga, mesmo que isso custasse a sua vida. E Shiroi... Bem, não se sabia o real motivo do arruaceiro até agora, mas aparentemente era para satisfazê-lo.

            Avançaram. O combate que aqueles lutadores iriam travar provavelmente nunca mais seria visto ou executado por outras pessoas. A melhor mercenária. O cavaleiro mais corajoso. O misterioso arruaceiro. Tudo poderia acontecer naquele entrave. E para Catherine, só lhe restava assistir.


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