Too Close escrita por Kirara-sama


Capítulo 11
Confissões




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            O grupo encarava aquele portal como se não acreditassem no que viam. O primeiro a entrar foi Shiroi que, curioso do jeito que era, foi andando e observando tudo que via por aquele caminho de pedras toscas, mas bem colocadas. Logo a sacerdotisa o seguiu, sendo prontamente seguida por Lynne e Aukyner. As casas naquele vilarejo eram pequenas, e as pessoas pareciam não se importar com a presença dos estranhos. Algumas crianças brincavam nos quintais das residências, parando com as peraltices ao verem os novos aventureiros.

            A estrada de pedras tinha diversas árvores e flores em seu acostamento, dando um ar mais natural àquele vilarejo no meio do nada. As primeiras casas próximas ao portal tinham o telhado de um marrom meio alaranjado e não eram muito grandes. Apenas uma delas possuía o telhado azulado, sendo bem maior que as outras. Parecia uma espécie de pousada ou hotel. Catherine conseguiu ver atrás da edificação, uma outra com o telhado da mesma cor, mas não sabia o que era.

            O grupo continuou andando e logo chegaram a uma praça. O lugar era rodeado por pequenas feiras do lado esquerdo. Ao norte havia uma casa de dois andares e do lado direito tinha uma pequena ponte que ligava um pedaço de terra com algumas casas até o centro do vilarejo. À direita da praça também havia uma pequena ilha e nesta fora construída uma grande Igreja. Não tão grande quanto a catedral de Prontera, mas ainda sim, grande.

            - Conseguimos... – Catherine balbuciou, olhando o lugar em volta. Algumas pessoas de idade se aproximaram do grupo, curiosas. A sacerdotisa nem se importou se estavam olhando-a ou não. Começou a pular de felicidade, repetindo diversas vezes que conseguiram chegar lá. Aukyner abraçou Lynne com força, também muito feliz por ter ido tão longe. Shiroi havia sumido do meio do grupo, indo paquerar uma das feirantes mais novas.

            Depois da pequena festa feita pelo grupo, um casal de senhores ficou um pouco mais perto, lançando olhares duvidosos. A senhora pronunciou-se, murmurando com uma voz gasta pelo tempo, mas muito doce.

            - Vocês são mais aventureiros contratados pela Corporação Rekenber? Ainda não desistiram de visitar o Santuário mesmo depois de todos os homens que lá foram e não retornaram? Se insistirem tanto, teremos que cancelar os barcos que vão para lá... Já estamos com a consciência pesando há muito tempo...

            O grupo entreolhou-se. Shiroi até mesmo parou de paquerar a feirante para poder prestar atenção na conversa. Catherine piscou um tanto confusa, tentando contornar a situação constrangedora em que se metera. Abriu um dos seus melhores e mais sinceros sorrisos, respondendo para a anciã de maneira mansa.

            - Não somos da Corporação Rekenber, e acho que nenhum de nós esteve em alguma cidade pertencente à República de Schwartzwald... Sim, é verdade que gostaríamos de ir até o Santuário de Odin, já que foi para isso que viemos tão longe. Mas não temos nada relacionado com pesquisas... Apenas uma questão de honra e sobrevivência de toda a Rune-Midgard... Gostaríamos muito que ajudassem, mas se nada forem fazer, daremos o nosso jeito...

            Aukyner até espantou-se com a calma da sacerdotisa. Ela chegava a assustá-lo daquela maneira, pois a loira sempre era estabanada e tinha o péssimo hábito de atropelar as palavras enquanto falava. Será que ela ainda estava mal pela morte do Dragão Mutante? Achava difícil, já que a jovem deveria saber que o draconídeo era apenas um monstro e nada mais!

            Os senhores se entreolharam e então suspiraram de maneira pesada. Com um suave aceno de cabeça, a anciã incita-os a segui-la, voltando pelo mesmo caminho que o grupo viera. Os jovens entreolharam-se, mas resolveram seguir o mesmo trajeto que o casal.

            ~*~

            - Bom, temos muitos quartos sobrando, já que são raros os aventureiros que aparecem! – A simpática atendente do hotel sorriu para o grupo. Era nova ainda, deveria ter seus dezenove anos. Possuía longos cabelos escuros e levemente encaracolados nas pontas. Os olhos eram de um castanho excepcional, para contrastar com a pele relativamente clara da garota. – Imagino que queiram dois quartos, não?

            - Na verdade, seria muito bom se fosse três... – Shiroi sorriu galanteador, mas suas feições retorceram-se de dor. Lynne pisara com força sobre o pé do arruaceiro.

            - Obrigada... – Catherine deu um sorriso meio amarelo para a atendente e subiu as escadas lentamente, deixando um trio confuso para trás. Aukyner achou aquilo muito estranho e teria ido atrás da loira se a mercenária não estivesse abraçando-o pela cintura. Teria que esperar até o jantar agora.

            ~*~

            O pequeno salão de refeições estava praticamente vazio. Apenas um grupo se encontrava sentado em uma mesa perto da janela. A lua encontrava-se alta no céu, iluminando aquela mesa. Aukyner não parava de olhar para Lynne como um adolescente apaixonado, enquanto Shiroi lançava cantadas baratas para a atendente, que ria com o que o arruaceiro lhe dizia. A sacerdotisa encarava o prato de comida, ainda intocado.

            - É uma noite muito bonita... – Murmurou a mercenária, um pouco envergonhada. Tentava desviar o olhar para o lado oposto, mas os orbes esverdeados do cavaleiro quase que a hipnotizavam.

            - Lyn-chan tem razão... – Aukyner sorriu, voltando seu olhar para a loira. Ficou espantado ao ver que a mesma não havia comido absolutamente nada. Catherine então resolveu comer forçadamente para não ser bombardeada com as perguntas do moreno. Apesar de estar ingerindo algo que todos elogiaram, não sentia o gosto na comida, o que fazia o seu jantar tornar-se ainda mais... Repugnante?

            - E enquanto eu vinha para cá, encontramos um Dragão Mut...

            Ouvia Shiroi falar, mas ainda assim, não ouvia. Seu pensamento estava longe, até demais. Não sabia o por quê, mas suas memórias voltaram até o dia em que reencontrou com Aukyner, quando ela já era uma sacerdotisa e ele, um mero espadachim. Seu coração fora acometido por um sentimento de nostalgia muito forte e a loira sorriu sozinha timidamente.

            - E então uma Bola de Fogo enoooorme! Nunca tinha vist...

            Lembrava de como fora depois. Fora razoavelmente engraçado. Aukyner não lembrava de Catherine e o mesmo custou para acreditar que ela tinha crescido tanto em tão pouco tempo. Não só em corpo, mas mentalmente também. Ele, ainda um espadachim que ainda precisava de muito para prestar o teste. Ela, uma sacerdotisa que sempre fora a garota estabanada que apenas tinha uma fé fora do comum. Depois do encontro, viraram uma dupla imbatível. O espadachim defendia a loira enquanto ela orava fervorosamente para os deuses aumentarem a habilidade do moreno.

            - Eu te amo...

            - E então com uma flecha só eu...

            A sacerdotisa congelou no lugar. Não queria levantar a cabeça. Não devia! Mas o corpo parecia ter que comprovar. Erguendo a cabeça lentamente, fitou Aukyner. Na verdade apenas a bochecha do cavaleiro, já que o rosto do rapaz estava alinhado perfeitamente com o de Lynne em um longo beijo. No início ficara estática. Em seguida levantou-se em um pulo, assustando Shiroi que estava ao seu lado e a atendente que se encontrava sentada sobre as pernas do arruaceiro. A sua atitude brusca também interrompeu o beijo do casal, que a fitara assustado.

            - Com licença... Acho que... Irei deitar-me... A viagem deixou-me muito cansada... – Curvou-se suavemente e saiu andando apressada. Novamente o cavaleiro achou a atitude muito estranha para a garota, afinal ela deveria estar faminta e o máximo que comera fora algumas carnes de ostra. Iria segui-la se Lynne não o arrebatasse com um selinho longo. Naquele momento esquecera de tudo o que deveria fazer no dia seguinte.

            ~*~

            A primeira coisa que fizera ao entrar no quarto fora trancar a porta. Subira correndo as escadas e pela primeira vez não fora com o nariz em direção ao chão como fazia de costume. Os olhos marejados pelas lágrimas faziam-na ver o quarto completamente embaçado. Até esbarrara em uma das cadeiras enquanto caminhava na direção da cama. Jogou-se nela e afundou o rosto contra o travesseiro, passando as mãos por debaixo da almofada. Sentiu algo perfurar-lhe o dedo, fazendo com que a sacerdotisa puxasse rapidamente o braço para longe. Assustara-se, era verdade, mas a curiosidade de ver o que estava escondido ali era mais forte. Passou novamente uma das mãos por debaixo do travesseiro, tirando dali de baixo uma Gladius. Pertencia à Lynne e iria colocar a adaga no lugar quando viu o reflexo do seu rosto na lâmina.

            Suicídio.

            Novamente espantara-se. Aquele tipo de pensamento não combinava de maneira alguma com ela! Mas por um lado... Era tão... Convidativa a idéia! Analisou a arma e olhou para a ponta do dedo cortada. O sangue escorria ainda quente e pingava na batina negra da sacerdotisa. Esticou a mão e passou a adaga suavemente pelas costas da mão. Uma ferida superficial vertia um pouco mais de sangue que o dedo. Aquela única palavra batia constantemente na sua cabeça, como se a incitasse a passar a Gladius logo pelo pescoço. Mas não podia! Tinha um trabalho para fazer! No entanto... O beijo... Aukyner estava feliz e não deveria atrapalhar... Talvez fosse melhor para todos se ela simplesmente deitasse e dormisse para sempre... Ou então fosse sozinha ou... Ou... Não! Tinha que espantar aquele tipo de pensamentos! Deveria primeiro terminar a missão e depois quem sabe? Entretanto a imagem do beijo surgiu forte em sua cabeça e ela resolveu-se. Repousou na cama com a adaga bem firme em mãos, suspirou fundo e relaxou. Deixou-se levar.


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