Too Close escrita por Kirara-sama


Capítulo 10
Revelações




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            O grupo andou por dois dias inteiros. Já haviam derrotado inúmeros monstros pelo caminho, sem, no entanto, chegar perto de seu destino. Catherine ia guiando os aventureiros, sempre consultando um mapa velho e carcomido pelo tempo. Muitas vezes a sacerdotisa se desesperava quando partes do mapa eram levados pelo vento forte da planície. Era uma cena certamente engraçada, ver a loirinha ajoelhada no chão com os olhos mareados e o rosto descrente.

            - Ehn... Acho que é por aqui... – Dizia a jovem de olhos azuis, tomando o caminho indicado pelo mapa. Estava nervosa, pois três pessoas dependiam do senso de direção dela – relativamente péssimo.

            - Aonde você está levando a gente, hein sua maluca?! – Lynne falou alto e firme, querendo intimidá-la. E conseguiu, pois a garota encolhera-se diante da mercenária. Com um rápido movimento, arrancou o pedaço de papel das mãos de Catherine e o analisou de todos os ângulos. Até reparar melhor. – Você não estava olhando esse mapa de cabeça para baixo o tempo todo... Estava? – A jovem de cabelos róseos sibilou perigosa.

            O olhar de todos pairou sobre a sacerdotisa. Esta começou a suar, muito nervosa. A mercenária deu um passo à frente, sendo tomada por uma aura relativamente assustadora. Aukyner imitou a ação da jovem de cabelos róseos, aparentemente irritado. A loira não teve outra escolha. Virou-se e correu. Mas não foi muito longe, pois seu rosto foi de encontro a um tronco de árvore. Com o impacto, não conseguiu manter-se equilibrada e caiu sentada na grama. Depois de recuperar-se do choque, olhou em volta.

            No horizonte era possível ver uma linha que destacava a planície rochosa de Juno de uma outra planície, totalmente diferente. Ao invés de uma superfície formada de pedras, havia grama. No lugar de troncos secos e sem vida, vários arbustos verdes e altos pinheiros se espalhavam pela região. O ar não era mais tão pesado e seco, mas sim fresco.

            Catherine levantou-se com um sorriso largo, de quem ganhara alguma coisa. Porém não pôde contar aos colegas, pois três Petites Voadores e um Exterminador Terrestre saíram da copa da árvore e vieram atormentar-lhe. Os dragões alados puxavam os cabelos da pobre sacerdotisa, enquanto o terrestre puxava sua batina com violência.

            - AAAAAAAAAAH! Auky! – A loira andava em círculos, com os dragões em cima dela. Não demorou muito e aquela atraçãozinha entre o rosto da jovem e o chão novamente veio a aparecer. Ficou estática, com os monstros parados sobre o seu corpo. Pareciam bem acomodados sobre a garota. Porém não ficaram ali por muito tempo, pois foram alvejados por Flechas de Oridecon.

            - Está tudo bem Cath? – O cavaleiro aproximou-se da jovem e a ajudou a levantar. Segurou uma risada ao ver o rosto da colega cheio de grama e pequenas flores brancas. Limpou o rosto dela com cuidado.

            - Ahn... Sim! Agora que me lembrei! – Catherine levantou-se novamente com uma rapidez incrível, como se nunca tivesse sido derrubada. Caminhou até Lynne e arrancou-lhe o mapa das mãos. – Estamos no caminho certo! – A loira sorriu, mostrando a língua para a mercenária. Logo em seguida estendeu o mapa na frente do corpo, deixando os companheiros visualizarem o pedaço de papel. – Se puderem ver bem, tem uma parte do mapa em verde e a outra ainda mostra a planície de Juno!

            O trio que admirava o mapa inclinava a cabeça de um lado para o outro, sincronizados. Shiroi coçou a nuca. Ele não entendia muito de mapas, mas aquele estava estranho. Lynne suspirou pesado e balançou a cabeça, negando algo. Já Aukyner apenas sorriu meio amarelo e apontou para o pedaço de papel.

            - Cath... O mapa está de cabeça para baixo...

            Corando furiosamente, a sacerdotisa apenas guardou o mapa e voltou a andar, constrangida. Murmurou algo quase incompreensível, apenas algo como “vamos continuar”. O resto do grupo apenas assentiu e seguiu a loira.

            Caminharam por quase duas horas, derrotando diversos tipos de Petites e Exterminadores. Nem mesmo os campos ao redor de Glast Heim tinham tantos monstros daquela raça. Depois de mais alguns passos entre o ambiente rochoso de Juno e o gramado do campo desconhecido, o grupo parou diante de um enorme paredão de pedras. Ao longo de sua extensão, diversos arbustos multicoloridos podiam ser vistos.

            - É impossível de escalar e dar a volta está fora de questão. – Shiroi se pronunciou depois de alguns minutos, após dar uma olhada em volta. O paredão, depois de vários metros de largura, ia fechando a planície de Juno, obrigando qualquer aventureiro a voltar.

            - Chegamos tão longe para nada?! – O cavaleiro se empolgou, desferindo um soco potente contra o paredão, que fremiu de leve. As árvores farfalharam um pouco, mas produziram um som alto o suficiente para chamar a atenção de Cath.

            - Bom, se é só até aqui que conseguiram me trazer, vou terminar o meu serviç...

            - Espera! Auky, bate de novo! – Catherine falou firme, sem sentir medo pela fala da mercenária.

            O moreno ficou confuso, mas obedeceu, dando outro potente murro no paredão. Novamente as árvores farfalharam e a sacerdotisa seguiu o som mais alto. Remexeu entre as folhas das plantas e sumiu no meio delas. Lynne, pensando que a garota aproveitara da situação para fugir, tentou segui-la. Mas a loira logo apareceu, com um largo sorriso no rosto. Sem palavras, apenas puxou a mercenária pela mão e sumiu entre as folhas novamente. Shiroi e Aukyner se entreolharam e tomaram o mesmo caminho que as duas mancebas haviam tomado. Era um caminho estreito e escuro (apesar do Sol estar a pino). Depois de andar um pouco, o baderneiro acaba por tropeçar em uma raiz e cai por cima do cavaleiro, que perde o equilíbrio e também vai de encontro ao chão. Porém a passagem estreita já tinha terminado, e ambos rolaram um pouco no solo, devido à sua inclinação. O mesmo se assimilava novamente com a planície de Juno.

            - Aaaaaaai... Acho que o mal da Cath tá passando pra gente... – Aukyner gemeu, com a mão na cabeça. Olhou em volta para procurar a sacerdotisa, mas não viu nem ela e nem Lynne. Rapidamente colocou-se de pé e viu uma pequena mão acenar por detrás de uns arbustos. Instintivamente colocou a mão na bainha da espada e se aproximou. Shiroi o seguia de perto, curioso. Quando conseguiram passar pelos arbustos, as duas garotas cutucavam um enorme ovo branco com pintas rosadas. Tinha quase o tamanho do pé até o joelho de Lynne, que fazia questão de usar suas Katares para cutucar aquilo.

            Os rapazes se aproximaram também e ficaram encarando aquele ovo por longos minutos, até que uma pequena rachadura na casca apareceu. Lynne recolheu rapidamente as Katares enquanto Catherine esperava ansiosamente o nascimento da nova criatura – seja lá qual ela fosse. Primeiro apareceu uma espécie de focinho verde, bem escamoso. Logo dois grandes olhos negros passaram a encarar o grupo. Depois de quebrar boa parte da casca, o novo ser pulou para fora do ovo. Era bípede, tira um rabo vermelho, assim como seu corpo, e possuía uma espécie de par de antenas na cabeça. Após recuperar-se do rápido nascimento, a primeira coisa que a criatura – que parecia uma espécie de dragão bebê – fez foi atacar a sacerdotisa. Investia rapidamente contra a loira, causando sérios danos para um monstro tão pequeno. Como defesa, a jovem de olhos azulados deu-lhe uma porretada na cabeça com seu Atordoador, mas não fez muito efeito. A moça de cabelos róseos então interveio, degolando o pequeno dragão.

            Assustada, Catherine correu para perto de Aukyner e o abraçou forte. O rapaz ficou muito confuso com o ato da garota, mas correspondeu o gesto de afeto.

            - Por que Auky? Por que uma criatura tão pequena tem que ser tão feroz assim? Não é justo, mesmo que seja um monstro... – A sacerdotisa falava abafado, com o tom de voz choroso.

            Sem dizer nada, o moreno ficou consolando a garota, enquanto Shiroi afanava o corpo da criatura e Lynne limpava as Katares. Logo o grupo seguiu viagem, prestando um pouco mais de atenção no lugar.

            Era um campo imenso, um pouco verde e com algumas árvores. Bem no centro do lugar havia um grande lago escuro, e no meio dele, uma caverna. Pararam perto da margem para reabastecer os cantis e beber um pouco da água fresca. Seguindo viagem, o grupo – mais precisamente Catherine – esbarrou em uma criatura estranha. A sacerdotisa berrou e se escondeu atrás de Aukyner. Era um lagarto, também bípede. Porém maior. Os olhos amarelados encaravam o grupo com curiosidade e a língua comprida entrava e saía de sua boca constantemente, como de uma cobra. No entanto o monstro logo seguiu seu próprio caminho, se camuflando novamente no ambiente.

            O sol já se punha no horizonte, deixando o céu azul tomar um tom avermelhado, quase cáqui. O quarteto ainda não havia parado de andar, apenas montando acampamento quando já estava escuro. O ambiente era assustador, pois uma densa névoa tomava conta do chão de noite.

            - Acho que amanhã ou depois conseguiremos chegar à Hugel... – Catherine murmurou, cutucando a pequena fogueira com um graveto. Os quatro estavam sentados em volta da fonte de luz e calor, pois por causa da umidade do lago, o lugar era frio à noite.

            - Silêncio... Tem algo vindo... – Shiroi murmurou, pegando o arco rapidamente. No escuro, uma silhueta humanóide surgiu.

            Era alto, possuía longos cabelos violetas e parecia ser um homem, pois vestia apenas uma calça. Quando o ser aproximou-se da luz, Aukyner congelou. Agora no claro, dava para destacar-se uma única asa ferida nas costas do rapaz e no braço esquerdo, que estava enfaixado, uma mão alterada, maior e com garras afiadas. A pele do desconhecido era cheia de cicatrizes e possuía uma cor verde água escura. As orelhas eram um pouco pontudas e os olhos transmitiam tristeza e solidão. Catherine, que nunca tinha visto ou ouvido falar dele, correu para acudi-lo, desenfaixando o braço do mutante. O mesmo olhou para a garota, que sorriu amável. Lynne e Shiroi colocaram-se em posição de batalha, enquanto Aukyner simplesmente havia congelado.

            O rapaz draconídeo não fez absolutamente nada quando a jovem sacerdotisa se dispôs para tratá-lo. Mas logo um instinto assassino se apossou da mente do desconhecido. Os olhos tristes e escuros tornaram-se amarelos e brilhantes. A loira se assustou no início e não conseguiu fazer nada para se proteger da forte braçada que levou no estômago, lançando-a longe. Catherine caiu atrás de Aukyner, e do mesmo modo que caiu, ficou. Ficara inconsciente. Lynne então resolve atacar o monstro com suas Katares, mas antes mesmo de chegar perto, o humanóide esticou seu braço esquerdo, que se transformou em uma cabeça de dragão cuspidora de fogo. A mercenária não conseguiu escapar do golpe. A Bola de Fogo foi certeira em seu estômago.

            Aukyner via a cena, mas sua consciência estava longe. Dentro de sua cabeça podia apenas ouvir gritos de desespero e chamados de socorro. Todos de um pequeno espadachim moreno.

            ~*~

            Era um dia ensolarado no Mangue Zenhai*. Um belíssimo cavaleiro ruivo de olhos cor de mel andava ao lado de um espadachim moreno de olhos verdes. Ambos conversavam alegremente. O mestre ensinava seu pupilo como era vantajoso ser um cavaleiro, gabando-se toda vez que derrotava um Anolian. O mais novo admirava seu instrutor como nunca admirou outra pessoa. Depois que o mancebo o salvara da foice do terrível Baphomet, o jovem não saíra mais do seu lado. Foi aceito como pupilo do poderoso Kalaghan Windam e seu treinamento havia sido rigoroso. Agora, com seus 16 anos, o moreno estava treinando, matando Anolians junto com seu mestre. Até que aquele maldito monstro surge. O temível Dragão Mutante aparece por entre as árvores, queimando os arbustos. Sua expressão demoníaca fez com que Aukyner ficasse paralisado. O ruivo simplesmente pegou todas as coisas que lhe pertenciam e correu para longe, deixando o pupilo para trás. Suas últimas palavras foram “Ás vezes é necessário fugir para sobreviver rapaz! Pena que não aprendeu isso antes!”. O monstro atacou-o sem piedade e o jovem espadachim desmaiou ali mesmo. Quando acordou, uma bela e loira sacerdotisa cuidava dele. Aquele dragão era o responsável pela cicatriz em seu rosto.

            ~*~

            Quando voltou a si, o rapaz viu o que acontecia em sua volta. Catherine estava jogada atrás dele, ainda inconsciente e com um pouco de sangue em volta dela. Porém o que o chocou mais foi o estado de Lynne. A mercenária estava com a roupa e a barriga queimada. Mas mesmo assim, a jovem de cabelos róseos tentava manter-se em pé, com dificuldade. Aukyner foi ajudá-la, amparando-a em seus braços.

            - Isso só vai piorar o seu estado... – O moreno murmurou, encarando a companheira nos olhos. Aquilo causou um forte rubor em ambos os rostos, mas o olhar não era desviado. O cavaleiro passou a ponta dos dedos no canto dos lábios de Lynne, para limpar o sangue que escorria da boca da mercenária. Um alto rugido tirou o casal de seus devaneios. Shiroi, depois de muito lançar flechas, conseguiu acertar o monstro no braço. Antes, o arruaceiro alvejava o humanóide, mas o mesmo se defendia das flechas com a asa.

            Aukyner deita Lynne no chão com cuidado e saca sua fiel Claymore. Logo o rapaz já avançava em cima do Dragão Mutante, investindo furiosamente em diversos ataques horizontais e verticais. O monstro começava a cansar, recebendo diversas feridas. Nesse meio tempo, Catherine acorda com uma forte dor, devido a pancada que recebera. Olhou para o ferimento, que não era perigoso, apenas sangrava demais. Sentando-se com dificuldade, a loira correu os olhos pelo campo e viu o embate feroz que se desenrolava entre o humanóide e Aukyner. A sacerdotisa prendeu a respiração. Seu companheiro dava o golpe final no Dragão, abrindo um profundo corte em seu peito. O monstro lentamente caía ajoelhado e seus olhos voltavam à cor normal.

            - Não! – Catherine correu na direção do humanóide, tentando ajudá-lo, mas já era tarde. O corpo do derrotado foi consumido em chamas e virou cinzas, que foram carregadas pelo vento. A loira apenas caiu ajoelhada onde o Dragão Mutante havia caído, e logo grossas lágrimas brotaram de seus olhos.

            - Cath? Qual o seu problema? Está doendo muit...

            - Por que você fez isso Auky?... Ele não era mau... Ele só estava defendendo seu território... – A sacerdotisa murmurava, entre um soluço e outro. – Ele sempre viveu sozinho... Ele...

            - Ele quase matou a Lynne! – Shiroi interveio. O semblante do rapaz era sério. O arruaceiro ia falar mais alguma coisa, porém fora interrompido pela jovem de olhos azulados.

            - E você fez o quê?! Não tentou o mesmo?! Ele apenas era um monstro triste, como aquelas Munaks que vivem na Caverna de Payon! Ele somente me atacou porque eu estava com cheiro de sangue, sangue de dragão! Ele apenas estava defendendo o que era dele! – Catherine se exaltou, elevando a voz com o rosto vermelho de choro.

            Aukyner e Shiroi calaram-se no mesmo momento. A moça estava certa. Depois de alguns minutos de silêncio fúnebre, a sacerdotisa levantou-se e curou Lynne, Aukyner e ela mesma. Shiroi não precisava daquilo, pois tinha ficado longe o suficiente para não ser acertado por uma Bola de Fogo. Naquela noite sem estrelas, nenhum dos quatro conseguiu dormir.

            ~*~

            Depois de mais dois dias de viagem, o grupo viu-se diante do mar aberto. Três deles ficaram admirados com a visão do azul escuro marítimo. Mas aquela que os guiava o momento inteiro não. Esta havia ficado indiferente. Na verdade ela estava daquele jeito desde a noite do ataque do Dragão Mutante. Por causa do ocorrido, Aukyner e Lynne estavam mais próximos do que nunca. Tanto que o casal até mesmo já andava de mãos dadas.

            - Estamos quase chegando... – Catherine murmurou, seguindo a areia da praia para o norte. Os companheiros a seguiam de perto. Até que uma coisa chamou a atenção de todos. Boquiabertos, o grupo apenas encarava uma espécie de portal ao estilo colonial com dizeres grandes e bem trabalhados em ferro “Welcome to Hugel”.


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