“Quando você vai embora

Os pedaços do meu coração sentem a sua falta

Quando você vai embora

O rosto que eu conheci também me faz falta...

Eu sinto a sua falta.”

When You’re Gone - Avril Lavigne

- Vou sentir sua falta. - falei.

- Também vou sentir a sua. Promete que nunca vai me esquecer de mim? - Bill olhava nos meus olhos.

- Você é inesquecível! - comecei a rir. - É claro que não vou me esquecer de você, é o meu melhor amigo...

8 anos depois...

Acordei e me espreguicei. Levei um susto ao ver o relógio ao lado da cama: marcava 07h20min, ou seja, estava atrasada para o trabalho! 

Eu tinha dez minutos para me trocar, escovar os dentes, comer alguma coisa e sair correndo de casa. Havia me formado em jornalismo há pouco tempo, e já conseguido um bom emprego em um dos principais telejornais de Chicago, como “moça do tempo”, mostrando as previsões meteorológicas do dia.

- Droga, não vou chegar a tempo! - resmunguei, trocando de roupa.

Corri para a cozinha e enchi uma xícara com café. Bebi apenas alguns goles. Em seguida, calcei meus sapatos de bico fino e saí do apartamento, entrei no elevador e desci até a garagem.

Dei a partida no meu Audi A3 e em alguns minutos cheguei ao estúdio.

No mesmo instante que entrei, encontrei a editora-chefe, Sra. Parker, e ela me puxou pelo braço.

- Precisamos conversar - disse ela, me levando até sua sala.

Hã? O que ela queria conversar comigo? Iria me demitir só porque eu cheguei atrasada? Ai...

Entramos e ela pediu para que eu me sentasse na cadeira em frente à sua mesa, que estava cheia de papéis. Logo comecei a dar justificativas para o meu atraso.

- Desculpe-me pelo atraso, Sra. Parker... Não vai se repetir e...

Ela fez um sinal para que eu me calasse.

- Não é sobre isso que vamos conversar - disse, com um sorriso misterioso. - Nicolle, você nasceu na Alemanha, certo?

- Sim - respondi - Morei lá até os treze anos.

- Já pensou em voltar para lá? - continuou a editora-chefe.

- Já, muitas vezes, para ser sincera. Sinto saudades da Alemanha. - suspirei. - Mas estou gostando de viver aqui em Chicago, não posso reclamar de nada. Por que está me fazendo essas perguntas?

- Tenho uma proposta para você. - disse ela. - Quer ser correspondente do Chicago News em Hamburgo?

- Correspondente? Eu? - falei, incrédula. - Mas eu me formei há menos de um ano, nem tenho tanta experiência com essas coisas... E não sei se devo me mudar daqui...

- O nosso correspondente atual sofreu um acidente e não vai mais poder trabalhar. Pense bem, Nicolle, é pegar ou largar, decida-se.

Fiquei um instante em silêncio para pensar. Sair de Chicago? Voltar para a Alemanha? A proposta era ótima, meu salário iria duplicar, e eu sabia falar alemão fluentemente, claro, já havia morado lá. Minha vontade era de levantar, subir em cima da mesa, segurar a Sra. Parker pelos ombros e gritar “Sim!!! É claro que eu aceito o emprego!!!”, mas resolvi ter um ar mais profissional.

- Hm, acho que vou precisar de um tempo para me organizar, mas a idéia parece ótima.

- Perfeito. Seu vôo para Hamburgo sai daqui a três dias. - ela pegou uma caneta e começou a escrever alguma coisa.

Saí da sala da editora-chefe com uma sensação estranha, algo dentro de mim dizia que tinha feito a escolha certa.

~*~

Estava anoitecendo quando voltei para casa.

Larguei a bolsa no sofá e fui preparar alguma coisa para comer na cozinha. Fui até a sala com um pacote de bolachas recheadas - calóricas, mas eu não estava nem aí para o meu peso -, me sentei no sofá e liguei a TV.

- Foi tudo tão rápido - pensei. - Nem acredito que em três dias estarei de volta à Alemanha, depois de tanto tempo longe...

Passei os canais com o controle remoto, e parei na MTV. Estava sendo transmitido um show ao vivo.

- Thank you so much!

 - Hey, espera aí... - falei, quase cuspindo o chocolate na tela da televisão. - Isso me parece familiar...

There are days, when you feel so small, and you know, you could be so tall. You think you got no choice, look at the earth…

Aquela voz. Aquele rosto. Não havia dúvidas, era ele.

- Bill - pronunciei lentamente aquele nome, e todas as lembranças vieram à tona.

Silence can destroy, get up and raise your voice, make some noise!

É claro que eu já sabia que ele tinha ficado famoso, e que sua banda estava fazendo muito sucesso - exatamente como ele havia previsto quando ainda tínhamos doze anos - mas... Meu Deus, era ele mesmo?

You were free, you were innocent, you believed in a happy end. Days turned into years… Now you’re here, with your broken mind…

Ele estava tão... Lindo! Quer dizer, sempre foi né, mas vê-lo assim, cantando, parecia tão feliz... Será que ele ainda se lembraria de mim?

Silence can destroy, get up and raise your voice... Make some NOISE!

De repente, senti uma dor no peito. Me lembrei de tudo que havíamos passado juntos, todas aquelas risadas, todas aquelas lágrimas que já havíamos compartilhado...

“Meu melhor amigo”, as palavras ressoaram pela minha mente.

Em um impulso, saí da sala correndo e fui até o meu quarto. Abri várias gavetas, fui tirando coisas e jogando no chão.

- Droga... Onde eu coloquei?

Finalmente, encontrei a gargantilha dourada. Estava no compartimento secreto da minha cômoda, uma gaveta escondida. Toquei o metal levemente empoeirado, e passei alguns minutos olhando fixamente para aquela estrela, onde estava escrito uma frase em alemão.

Wir sind traümer. Nós somos sonhadores.

- Eu sinto sua falta. - murmurei, deixando uma pequena lágrima escorrer dos meus olhos.

Deitei-me e adormeci segurando aquela linda estrela dourada.