Rascunhos de Um primeiro Amor. escrita por villarino


Capítulo 2
Capítulo 2 - Lovesick




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Capítulo 2 - Lovesick.
Só posso estar pirando, pensei. Nathalie ainda me olhava, como se esperasse a responde de uma pergunta que com certeza não ouvi. Uma luz apareceu para mim. Minha avó estava vindo com o que havia comprado e nós teríamos que subir. Essa seria a desculpa um pouco verdadeira.

- Desculpe, tenho que ir.

 - Hã, tudo bem, então. Foi um prazer e me desculpe novamente pelo seu caderno.

- Sem problemas... Até algum dia. -eu disse, com certas esperanças de encontrá-la novamente. 

Ela pegou seu celular e foi à direção oposta da minha, como se esperasse por alguém. Nossos olhares foram atraídos mais uma vez, como se não quiséssemos nos despedir.

Literalmente, eu devo estar pirando, pensei novamente. Afinal, como eu poderia ter uma ligação tão forte com alguém que eu simplesmente não conhecia? Era realmente inexplicável. Era como se eu já a conhecesse antes, era ofegante. Era estranho, incrível. Ou era a simples ilusão que eu conseguia criar? Eu não entendia porque estava parada ali, intacta com um caderno úmido abraçado em meu peito e em uma das mãos, apertava o lápis com tanta força para não escorregar nelas, suadas. Com medo ou... Com quê? O que havia acontecido com toda aquela raiva que senti por três rápidos segundos? Pisquei os olhos demoradamente uma única vez, tentando provar que aquilo era sonho. Que tudo o que acontecera no mesmo lugar que estava. Mas não era.

Eu queria poder correr atrás daquela garota e... Abraçá-la. Pedir, para que ficasse. O que era completamente estranho. Queria poder deixar minha avó ali, e perguntar onde Nathalie estava hospedada, queria saber mais sobre ela. Eu a queria.

 - Alana? Vamos? -perguntou.

- Hã, sim. Peguei algumas das sacolas de pano que minha avó carregava e subi com ela. A escadaria que nem a própria conseguia subir tão rapidamente debaixo de um calmo e vago sol da manhã. Me perguntava o que ela fazia quando estava sozinha em casa enquanto meu avô estava sozinho em seu barco. O amor deles continuava intacto. Porém eu não entendia como eles só conseguiam se ver à noite. Eu nunca entendi o amor, por nunca ter sentido-o. Então, do que adianta dar uma de detetive?

Eu não conseguia olhar para cima, olhar as outras casas brancas como fazia. Meu olhar estava focado ao chão, como seu meus pensamentos tivessem sido roubados por aquela garota. Não entendia o porquê de ficar assim. Eu tenho amigas no Brasil, porque essa garota mexeu tanto comigo? Seria saudade o que estou sentindo? Tantas saudades que acabo sentindo algo estranho? E, por mais estranho que parece ser, eu nunca senti isso quando volto ao Brasil e revejo todos novamente. 

Minha mente ficou vazia por todo o percurso que seguimos. Me senti um robô, fazendo coisas automaticamente. Subindo as escadas sem nenhum cansaço, carregando peso sem querer parar em um dos bancos das ruas estreitas e recuperar toda a minha respiração. E, em todo o caso, minha avó não havia pedido para pararmos. Estaria eu andando devagar demais? Ou ela recuperou suas forças? Trocamos de energia ou ganhamos mais energia? Não interessava. Não importava. Não... A única coisa que queria descobrir naquela hora era o porquê de pensar tanto assim em alguém, alguém como eu.

Alguém que simplesmente esbarrou em mim e manchou meu caderno que caiu na poça. Não era normal. Não era qualquer coisa, não era um susto. Não era raiva. Não era arrependimento ou peso de consciência. Era... Era... Eu não sabia a palavra e fiquei com raiva por isso. Agachei-me no meio das escadas incontáveis, ainda olhando para o chão branco, bati os pulsos nas têmporas duas vezes com as mãos fechadas e sacudi a cabeça, na tentativa de apagar todas as minhas dúvidas. Uma falha. 

Havia esquecido da minha avó e, como qualquer outro talvez fizesse, se agachou comigo, perguntando porque eu estava chorando. Deus, eu estava chorando! Chorando por alguém que esbarrou em mim e me disse seu nome. Nathalie. Deus, eu estava chorando por uma menina que se chama Nathalie. Eu estava chorando por uma garota.

 - Alana, o que houve? -perguntou.

Eu não conseguia responder. Estava percebendo que ela estava começando a se desesperar. Minha voz não queria sair. As lágrimas escorriam sobre meu rosto e pingavam no chão, fazendo um desenho. Elas que me lembraram a chuva dos invernos no Brasil. Saíam quentes, desciam mornas, caíam frias. 

Minha avó não fez mais do que o certo, pegou minha mão e me levantou, com suas poucas forças me levou para casa, sem entender o que estava realmente acontecendo comigo. Minhas desculpas já estavam prontas para quando eu conseguisse falar. O restante do caminho foi o mesmo silêncio que anteriormente, porém agora era possível ouvir meus soluços e a respiração ofegante daquela senhora.

Com pouca das minhas forças, coloquei as sacolas na pia da cozinha e a velha senhora pediu para que eu me sentasse. Veio logo com um copo d’água com açúcar e tive que beber. Beber tudo. Receitas antigas que acalmavam. 

- Agora me conte, porque você estava chorando?

- Saudades de casa, Giagia. -menti.

- Quer voltar?

- Não. 

- Tem certeza?

- Sim. -menti novamente.

Não tinha certeza de que é certo saber mais sobre o que senti hoje.

- Vá se deitar e descanse. Vai ser melhor para você. -sugeriu.

Não era má idéia. Então me arrastei até o meu quarto, deitei-me na cama macia e coloquei o travesseiro sobre meu rosto. Senti-me sufocada depois de alguns segundos. O tirei tão rapidamente que a luz que vinha da minha janela quis me cegar. 

Por alguns segundos quis me jogar da minha janela, para ver se conseguia morrer. Melhor não, pensei. Então peguei meu caderno já seco, ainda assim manchado e duro e o flashback veio à tona. 

Uma única coisa que não conseguia me lembrar era do seu sorriso. Afinal, ela havia sorrido para mim? Eu estava tão preocupada com meu caderno e com minha avó que não reparei. Eu não reparei em seu sorriso. Eu. Não. Reparei. Como pude não reparar? Como?... Realmente fiz o certo: continuei aqui. Pelo menos assim, eu tentaria achá-la novamente. Pelo menos assim, eu talvez pudesse prestigiar o seu sorriso. 

Por um momento, fiquei imaginando como ele seria. Grande, simples, engraçado... Pensei também se ela sabia sorrir. E então, eu sorri. Pela primeira vez eu sorri. Sorri por ter me lembrado dela. A garota que manchou meu caderno. Nathalie. Nathalie. Na-tha-lie.

 Eu gostava de repetir seu nome várias vezes em minha mente e tentar imaginar como era seu sorriso. Me... Acalmava, e ao mesmo tempo, me deixava ofegante, ansiosa. Querendo descobrir qual seria o nosso próximo encontro.

Nunca havia sentido isso e era o porque de estar assim. O problema era que, eu não sei o que estou sentindo. Só estou sendo atraída por... Ela. Pela voz dela em minha mente, seus olhos cor de chocolate, seus cabelos escuros e seu sorriso em minha imaginação. Eu preciso achá-la. Eu preciso saber o que é isso que me queima por dentro.


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