Rascunhos de Um primeiro Amor. escrita por villarino


Capítulo 3
Capítulo 3 -Skin On Skin.




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Sem entender o porque de ficar olhando o caderno manchado, deitei-me ainda ansiosa. Não tinha fome, não tinha sono. Minha vontade era de correr o porto inteiro à procura dela, correr a Grécia inteira. Até achar aquele sorriso que eu não vi. 

Fiquei esfregando meus pés nuns nos outros e minha mão acariciava o travesseiro macio. Era a primeira vez que eu fazia aquilo. Parecia que havia mesmo alguém do meu lado. Mas não era quem eu queria. Eu queria. Era diferente, principalmente para mim, judia e que nunca havia sentido algo assim por uma garota. 

Se eu fechasse meus olhos, eu via seu rosto e ouvia a sua voz me pedindo desculpas. Se eu olhasse para o teto azul claro do meu quarto, eu imaginava seu sorriso. Em qualquer lugar que eu olhasse, eu só conseguia vê-la. Até que de tanto olhar para o teto azul, peguei um breve sono.

Jardins, jardins, jardins. Será que nunca vão parar de aparecer em meus sonhos? Desta vez, eu estava sozinha. Correndo. Mas... Porque eu estava correndo? O que eu temia, ou o que eu procurava? Eu estava sozinha.

Se há uma coisa que me prende há dezenove anos é a solidão. Eu tenho amigos, família. Mas há uma certa companhia que realmente precisamos. Uma certa companhia que eu preciso. Logo tudo ficou preto. Até que parei de sonhar.

- Alana, Alana. -disse Nikos, de longe me balançando.

- Hmm? 

- Tem uma garota aí. Disse que você perdeu uma coisa e quer te devolver. 

Dei um pulo da cama e vi que já era noite. Uma linda noite como um lindo dia havia sido. Ajeitei meus cabelos e escovei meus dentes. Meu avô já estava em casa e meu irmão também. Já era tarde mesmo.

Corri de meias até a varanda da frente. Era ela. Por um momento meus olhos brilharam e eu vi um pequeno sorriso se formar no canto de sua boca. 

- Olá. 

- Hã, me desculpe por hoje mais cedo. Olha, um caderno novo para você desenhar. 

Não sabia como receber aquele presente. Ela havia se importado comigo. Ela não queria que eu ficasse com raiva. Ela queria se reconciliar. 

- Nossa... Obrigada. Eu... Nunca achei que fosse mesmo comprar um novo para mim. -admiti.

- Ah, que isso. Eu vi a sua cara quando ele caiu no chão. Faria a mesma se fosse comigo. 

Sorri, com uma certa vergonha de olhar em seus olhos, para conferir se estavam brilhando como os meus. Meu coração queria pular para fora e minhas mãos suavam mais frio do que meus pés, vestidos com meias.

- Quer dar uma volta na praia? -perguntou.

Assustei-me com a pergunta. Ela queria dar uma volta na praia comigo. Ela queria a minha companhia. 

- Claro! Só vou calçar algum sapato. -disse e corri até meu quarto.

Tirei as meias e calcei chinelos. Fui de calças jeans e camisa de mangas compridas. Não queria deixá-la esperando. Avisei aos meus avós que daria uma volta na praia e saí. Ela continuava no portãozinho.

- Vamos?

Ela assentiu e eu não conseguia tirar os olhos da sua face. Era... Enigmática, penetrante. Queria pará-la e poder... E poder... Be. Beijá-la. Olhar em seus olhos e fazer com que fechassem. E assim, provar seus lábios. Nossas trocas de olhares continuaram, como se estivéssemos esperando uma atitude de uma das duas.

Seus cabelos balançavam, mesmo curtos, conforme o vento tocava sua pele. E eu gostava conforme seus olhos se fechavam delicadamente e ainda, ela descia as escadas brancas. Eu queria poder desviar. Queria... Falar alguma coisa, perguntar alguma coisa. Mas era impossível.

Eu estava tão compenetrada em cada movimento que ela fazia e vice versa, que não conseguia perguntar qualquer coisa que fosse. Logo, seus passos aceleraram e ela estava correndo até a areia fofa. O vento vindo do mar fazia com que a sua franja ficasse para trás e Nathalie não se importava nem um pouco.

Apressei-me também, para alcançá-la. Ela corria como se fosse uma eterna criança, como se estivesse se livrado de algo, enquanto eu ficava parada, sentindo o cheio de sal e mar, observando cada passo que Nathalie dava. Tudo parou.

Ela estava a meio passo do meu rosto, até pegar minha mão e puxar, pedindo para que corresse com ela. Pedindo que rolasse na areia, que encostasse numa pedra aleatória e risse das besteiras que estávamos fazendo.

E foi isso que fizemos. Estávamos ofegantes, com dores no abdômen de tanto rir. Rir das besteiras que fizemos, das caras engraçadas, das roladas na areia, das fugidas de quando o mar vinha. 

- Cansei. -disse, depois de muito tempo caladas.

- Eu também.

 - Quer subir?

- Não. -automaticamente respondi.

Não queria ir embora tão cedo. Queria ficar ali. Sentir minha pele na pele dela. Encostar minha cabeça em seu ombro, e se pudesse, dormir ali. 

- Você é brasileira, não é? -perguntou.

- Sou. -disse num suspiro, já cansada.

- E judia.

- Sim. Mas pela minha família. -expliquei.

O silêncio permaneceu, como se ela pensasse em mais alguma coisa. Olhei para cima, tentando fitar os seus olhos. Ela olhava o mar. As ondas conforme vinham e voltavam.

- Que foi? -perguntei.

- Só estava pensando. 

- Em quê? 

- No quão atraída fiquei por você. -disse, depois de um tempo.

Três segundos. Três segundos pelo qual meu coração sentiu uma fisgada e parou. Senti meu rosto quente e minhas mãos voltaram a suar. Depois dos três segundos, ele voltou a bater. Porém batia muito mais forte do que se possa imaginar. Achei que vomitaria meu próprio coração.

- Hoje mais cedo, eu queria enxergar seu rosto, até que esbarrei em você. E, estava tão preocupada com o caderno que eu havia estragado que não consegui vê-lo certamente. A não sei pela raiva ou pela decepção. Agora, eu o vi feliz, mas ainda assim, me sinto atraída. Como um ímã. -continuou a explicar.

Eu não sabia o que dizer. Eu queria dizer que minha vontade era de provar os seus lábios, que eu nunca senti isso e nem sei o que é. E pediria para que me dissesse o nome desse sentimento, dessa adrenalina que eu sentia tão rapidamente por apenas um único dia. Era diferente, porque era um ÚNICO dia. Pela manhã, nos encontramos. À tarde, pensamos uma na outra e agora, vemos que sentimos o mesmo.

Eu queria perguntar o que ela sentia. Eu queria poder... Sentir o cheiro de sua pele sem ela estranhar. Queria poder provar seus lábios sem ela rejeitar. Queria... Eu a queria, sem ela... Sem ela se afastar se eu dissesse isso. Então, sem apressar as coisas, beijei sua face. Tentando retribuir o que ela havia me dito. Voltei a deitar minha cabeça em seu ombro e continuei olhando mar.

O silêncio nos tomou completamente depois disso. E como eu adorava aquele silêncio! Ao mesmo tempo, eu o odiava. Odiava porque queria ouvir mais e mais aquela voz que me tomava por dentro. 

- Ficar ao seu lado sem fazer nada é absolutamente tudo para mim agora. -admiti.

Uma breve e rápida expiração de sua respiração surgiu, como se fosse uma risada. E aí, aí, eu vi um sorriso. O pequeno sorriso. O sorriso que eu já havia visto. E não era esse que eu quero. É aquele, que quando ela estiver completamente alegre, ela irá me mostrar.  

Para continuar acordada, tive que levantar minha cabeça de seu ombro, até que então, olhamos para o mesmo lugar. O mar. 

Deus! Meus desejos deviam ser ditos em voz alta! Nathalie havia pego minha mão e entrelaçado com a sua. Sim, nós estávamos realmente ligadas. Nós tínhamos algo em comum. Nós sentíamos algo em comum. E eu não sabia o que era. Na verdade, eu devia saber. Eu só... Não sabia.Simplesmente não sabia como explicar, qual era a palavra para isso tudo. Eu só... Sentia. 

E por falar em sentir, seu indicador acariciando as costas da minha mão que estava entrelaçada com a sua. E ali, ali. Eu me sentia confortável. Claro! Eu estava com ela. A garota que eu havia pensado a tarde inteira. A que me atraía pela primeira vez, uma garota me atraía. E tudo, acontecera num único dia.

- Nathalie...

- Diga. 

- Me conta a sua história? -pedi, envergonhada.

- Tudo bem. -disse, num suspiro- Eu sou francesa, você sabe. Eu nasci na França, morei na França. E, esse ano, meus pais queriam comemorar seus não-sei-quantos anos de casados. Acabaram me chamando e chamando meu irmão. Viemos para a Grécia. E, eu queria conhecer um pouco daqui. Enquanto minha família relaxava no Hotel. Mas, se eu estivesse fazendo o mesmo, eu não derrubaria suas coisas nem te conheceria. 

- Entendi. Ah, é mesmo. -parei, travando. Não havia jeito, eu iria falar- É estranho que em um único dia, eu...

- Eu sinta algo diferente por você. -completou. 

- Exatamente. -murmurei, olhando em seus olhos. 

Ficamos ali. Os olhos penetrados uma na outra. Ouvindo o barulho do mar. Sentindo o vento em nossos cabelos. Porém nada mais importava. Tudo sumiu. Havia eu. Havia Nathalie. Sim, ela estava ali. Por mais difícil fosse acreditar. Ela estava ali. 


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