- Oh, tudo bem! – Ele pareceu meio desconcertado. – Não ligue para a minha surpresa, mas é que isso não ocorre todos os dias... – Ele coçou a cabeça duas vezes. – Quer dizer, isso não acontece nunca! Poucas almas querem ser Buscadoras... Normalmente já nascemos assim... Ninguém nos olha da mesma forma das outras almas... – Ele virou os olhos. – Acho que é por que parecemos muito com os hospedeiros dessa espécie.

Sim, e como parecem. Aqui está o maior motivo para eu ter escolhido essa profissão, sabia que meu corpo, minha mente e meu ser eram mentirosos e se pareciam com Buscadores.

- Oh sim, eu acabei de nascer. – era uma mentira, claro, mas em relação a minha alma, era a pura verdade.

- Acabou de nascer e já quer ser uma Buscadora? – Ele disse assustado. – Eu só virei Buscador depois de algumas vidas... – Murmurou mais para si mesmo.

- Sim, meus pais também acham estranho. – eu estava me saindo muito bem com as mentiras. – Mas eu gosto, acho bonito o trabalho de vocês!

Claro que eu não achava bonito o trabalho deles, antes eu achava a coisa mais medonha do mundo.

- Isso é impressionante, mas será bem vinda! – Sorriu para mim. – Por mais incrível que pareça, ainda tem muitos humanos que se escondem de nós... e falta Buscadores no mercado...

Um arrepio passou pela minha espinha, um dos motivos era que eu sou uma humana. Outro motivo foi que pelo que ele me disse, ainda havia humanos escondidos por ai... quem sabe eu não os achasse?

- Hey calma. – Ele deve ter percebido minha reação. – Faz muito tempo que não vejo um humano... Muitos anos!

- Entendo... – Murmurei essas palavras mais para acabar o assunto.

Pelo que entendi, realmente eu estava sozinha no mundo. Se já fazia anos que os humanos tinham sumido, provavelmente era por que eles tinham se extinguido.

- Então sou bem vinda?

- Mas é claro que é! – Falou animado. – Sempre uma alma é bem vinda na nossa profissão! A propósito, meu nome é Segundo Sol Adjacente, mas todos me chamam de Sol. – Nome estranho como todos os outros.

- Prazer Segundo Sol! Bem, meu nome é Coral...

- Prazer! – Ele veio para perto de mim e deu a mão.

Eu não gostava muito de ser chamada por esse nome de alma, não era ruim, mas era tão diferente da minha espécie... e se me chamassem do meu nome original, como humana? Será que eles iam desconfiar de algo?

- Eu prefiro que me chame do nome de minha hospedeira, Marina. – Murmurei baixinho.

- Marina? – Repetiu para confirmar, deveria ser estranho para ele.

- Sim, Marina.

- Tudo bem, como queira... Anh... Marina. – Sorriu por um momento, depois fechou a cara. Confesso que fiquei com medo. – Não sei se te avisaram Marina, mas para ser uma Buscadora você precisará de um treinamento para manusear armas...

Isso me surpreendeu.

- Não, eu não sabia... realmente eu nunca toquei em uma arma... – Era totalmente verdade.

- Fique tranqüila, normalmente não a usamos, somente em casos extremos. Você vai se dar bem com elas.

- Será mesmo? – Perguntei incrédula.

- Sim, venha cá e te mostrarei.

Assenti. Achei estranho a forma com que ele me tratou, não duvidou nenhum pouco de minhas palavras e me aceitou assim, tão bem... acho que todas as almas são assim.

Ele saiu do balcão e caminhou até uma porta. Essa porta era diferente das outras, uma das primeiras que tinham fechaduras e estava trancada literalmente com sete chaves.

Quando ele a abriu, entendi por que a preocupação. Era ali que eles guardavam todo o arsenal de armas. Tinha muitos tipos, eu não sabia o nome de nenhuma delas.

Ele pegou duas iguais, provavelmente uma para mim e uma para ele. Deu uma delas na minha mão, com um cuidado excessivo. Achei engraçado, mas realmente ele tinha razão de ter esse cuidado.

Ele me levou para outro lugar, um campo totalmente aberto onde tinha algumas placas com alvos. Entendi bem o que era, eu iria treinar tiro nesse local, nem precisou da explicação dele, eu já estava habituada a isso.

- Tome sempre cuidado. – Ele murmurou isso pela décima vez.

- Ok.

- Agora vamos treinar sua pontaria, claro que com o tempo tudo melhora, deixa eu explicar como funciona...

Ele me explicou coisas que eu já estava cansada de saber, como atirar, mirar... escutei tudo o que ele disse, concordando com tudo, por mais que minha mente estava bem longe dali.

Depois que a explicação terminou, ele mostrou com a sua arma o que teria que ser feito. Falou também que tipo de arma era aquela, uma 12? Acho que era isso.

- Assim olha... – Apontou para um alvo e deu um tiro certeiro. – Agora você, vou te ajudar!

Realmente ele me ajudou, e muito. Tudo o que eu tinha dúvida ele me auxiliava, mostrava como fazia e explicava. Era bem dedicado e cuidadoso com tudo.

Simpatizei e muito com esse Buscador, Sol. Ele também pareceu simpatizar comigo!