Perdendo e Encontrando escrita por Sandra


Capítulo 1
Capítulo 1




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Jared POV 

 

Contra toda a expectativa, eu sobrevivi e ainda era eu mesmo, sem parasita dentro de mim. Mas era sozinho. Minha família, meus amigos... Ninguém conseguiu. Concha vazia. Era o que eu era. Pouco mais que um animal. Eu só me escondia, roubava, lutava... Prosseguia. Simplesmente por princípio; por abominar a idéia de me render, de me deixar ser capturado e... apagado.

 

Naqueles dias, eu era um borrão raivoso, um arremedo de mim mesmo.

 

Um dia, eu fui um homem bom. Um analista de sistemas. Gostava de ir a academia, malhar. Tomar uma cerveja com os meus amigos, visitar a minha irmã e seu novo marido.... Eles eram tão felizes. O sorriso e o amor estavam constantemente estampados em suas faces. Eu não assumiria em voz alta, mas eu os invejava. Sonhava com o dia em que meu coração fosse capturado por uma garota, pra que eu pudesse devotar a vida a ela. Mas enquanto a tal, não aparecia, eu tinha tantas pessoas a quem eu amava e que me devolviam o sentimento... Minha irmã e seu marido eram apenas alguns. Como dizem por ai: "Eu era feliz e nem sabia". Hoje, eu sentia a sua falta, de todos eles.

 

Eu dei um suspiro. E foi então que eu escutei um barulho. Imediatamente, me pús em alerta. Eu já tinha definido que ninguém me capturaria. Eu preferia a morte ao destino de ter o meu corpo habitado por um dos parasitas. Assim sendo, tomei a faca em minhas mãos e me preparei. Matar o parasita que estivesse lá fora, ou me matar, se esta fosse a única opção. Pra mim, uma coisa ou outra tinha pouca diferença. Eu não tinha esperanças, nem porque viver; assim sendo, contanto que eu não fosse parasitado, a morte me parecia um destino bastante aceitável; até mesmo, guardava um certo alívio.

 

Mas pra minha surpresa, naquela noite, eu não encontrei nenhum parasita. Apenas, uma menina humana, de corpo dourado e esguio e um garoto bochechudo e de cabelos escuros que era seu irmão. Eles eram humanos. Humanos! Eu não podia acreditar. Ainda havia humanos, uma pequena família humana. Eu não pude proteger a minha família, mas a deles, a deles eu protegeria eu assumi uma nova determinação: Parasita nenhum iria ferir ou apanhar Mel, ou Jamie. Eles ficariam sempre a salvo. Não importando o preço disto. Eles ficariam seguros.

 

Os dias se passavam, e eu me sentia renascer, a alegria de Mel, sua inteligência, seu sorriso... Eles me encantavam. Seu corpo cheio de curvas, me seduzia. Eu me sentia arder por ela. Eu a queria. Mas não devia querer, eu devia apenas protegé-la, guardá-la, mas eu só não conseguia. O máximo que conseguia fazer era não a deflorar. E isso custava todo o meu auto-controle. Uma parte de mim se sentia um canalha. Afinal de contas, ela era só uma menina, nem dezoito anos tinha! Por Deus do céu! Eu nunca sai com ninguém tão novo, desde que deixei de ter esta idade. Mas por outro lado, será que as regras de conduta não poderiam ser suavisadas? Afinal de contas, realisticamente falando, era o fim do mundo. Literalmente! Dadas as circunstâncias, seria assim tão terrível me deixar envolver em um relacionamento com ela? Ela parecia muito, muito disposta. Não! Minha mãe me criou melhor do que isso. E Jamie, como você poderia trair a confiança de uma criança inocente como ele, deflorando a sua irmã? Seu único parente com o qual ele tinha contato (sim porque o tio de Mel, parecia um tanto perdido). Beijar, beijar tudo bem, mas mantenha as suas mãos pra si mesmo!

 

Eu dizia para mim, quando as coisas ficavam... quentes demais entre nós dois.

 

E então, tudo aconteceu. Mel sumiu, eu e Jamie descobrimos que ela tinha sido capturada. Naquele instante, algum parasita poderia estar apagando-a, tomando posse do corpo que eu amava. Sim, porque eu amava aquela menina. E ainda assim, eu falhei com ela, com Jamie. Como eu pude deixá-la ir sozinha? Porque eu não fui com ela? Idiota! Burro! Era o que eu era. E por culpa de minha estupidez. Mel deixara de existir. Meu peito parecia em pedaços; rasgado. Tudo o quanto eu conseguia pensar era que seria muito, muito bom apenas me enfurnar em algum lugar recondido e me deixar morrer. Mas eu não podia, havia Jamie, e eu também amava o menino. Mel o amava mais que a própria vida. Eu cuidaria dele, por ela. Eu lhe devia isso e ele, ele merecia. Ele era o meu único parente agora. Ele era o único que importava. Eu viveria por ele, e eu certamente, seria feliz em morrer por ele. Eu o faria. Eu faria o meu melhor. Eu honraria a memoria dela, cuidando de quem ela mais amava no mundo: Jamie. E eu cuidaria dele, encontrando o resto de sua família de quem Mel me tinha falado. Se o tal Jeb estivesse vivo neste mundo. Eu o iria encontrar. Isto era uma promessa.

 

Eu os achei! Eu não podia acreditar nisso! Eu fiz. Eu os achei! Achei Jeb! Eu queria rir, gargalhar mesmo de puro alívio. Eu olhava os olhos enrrugados onde brilhavam em iguais medidas inteligência e teimosia e que eram tão parecidos com os de minha Mel, que eu queria chorar. Eu era um traste e precisou do fim do mundo pra eu perceber. Quão imbecil é preciso ser pra se chegar a esse ponto?

 

A vida nas cavernas não era ruim, havia mais sobreviventes como nós do que eu jamais pensei ser possível; também não era boa. Mas então, nenhuma vida jamais seria boa sem Mel. Eu a queria tanto... Meu corpo doía por sentir o calor do corpo dela. Minhas mãos desejavam acariciar a sua pele, seus cabelos castanhos... E em pensar que eu a tive tantas vezes próximo a mim e não fiz nada do que eu queria. Eu pensei que tivessemos tempo, que eu poderia esperar que ela amadurecesse um pouco mais. Mas não nos foi dado este tempo. Ela nunca mais veria seu tio, seu irmão... a mim. Eu não iria ver os seus olhos brilharem de falso horror quando eu a provocava. Eu nunca mais a poderia carregar sobre os meus ombros e girá-la. E ela não gritaria comigo me dizendo pra parar de ser idiota. Eu sentia tanto a sua falta!

 

As lágrimas caíam e eu não me importava o suficiente para enxugá-las. Apenas entremeei os dedos nos cabelos escuros de Jamie que naquele momento estava adormecido. Ele resmungou um pouco e chamou o nome dela. Imediatamente eu senti como se me tivessem esfaqueado e imediatamente recolhi a mão. A culpa por ter falhado com ela mordeu de novo um pedaço de minha alma.

 

- Sinto muito Jamie – Eu disse baixinho fechando os olhos. Apenas para abri-los de novo e sacar de dentro do bolso o pequeno bilhete que ela nos tinha deixado. Porque eu não vi o que ela iria fazer? Porque eu a perdi? Tanto já me tinha sido tirado... Eu não merecia isso. Jamie não merecia isso. Eu beijei a folha já amassada.

 

- Você faz tanta falta, Mel... Tanta falta. Eu amo você. - falei para o ouvido de ninguém e fechei os meus olhos. Dessa vez, o sono me carregou para longe, para os únicos braços pelos quais eu ansiava, os dela, da minha Melanie.

 

 


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