Entrei no carro e acelerei até o Centro da cidade. Uma nova loja de roupas masculinas fora inaugurada há poucos dias no shopping que eu costumava frequentar com o pessoal do escritório. Logo que passei pela porta de vidro, uma vendedora aproximou-se, não tão à vontade quanto deveria estar com os clientes, mas me serviria.

- Posso ajudá-la, senhora?

- Por favor, me chame de Bella. – tentei deixá-la confortável. E consegui. – Preciso de camisas de manga longa.

- Claro, Bella. Me acompanhe, por favor. – a vendedora, que não devia ter mais idade do que eu quando fui transformada, seguiu até uma parede tomada de camisas penduradas em cabides, organizadas por tipo de tecidos e cores. Eu senti o cheiro da seda, da malha, do algodão.

- Quero três camisas de algodão. Duas brancas e uma azul claro – decidi.

- E o tamanho?

- Hummm.. Deixa eu dar uma olhada na média. – Apenas de olhar eu saberia se serviria no meu marido ou não.

Ela retirou uma camisa branca de algodão do meio das dezenas de camisas penduradas e a estendeu em sua frente.

- Isso mesmo.. Três camisas de algodão – duas brancas e uma azul claro – no tamanho médio.

Fiz questão de dar-lhe uma boa gorjeta, antes de sair com a sacola de papel em mãos. Andei depressa até o estacionamento e acelerei para casa. Entrei direto na cozinha.

- Tem três – disse, entregando a sacola para Edward.

Enfim, o sorriso que eu amava voltou ao seu rosto. Não só o sorriso, mas um riso alto escapou de sua garganta. Eu estava perdida.

- Por que você está rindo, Edward? – questionei.

– É muito divertido ouvir os pensamentos da sua filha, Isabella. – Ele nos deixou na cozinha, ainda rindo.

Renesmee também não sabia qual era o motivo da graça. – Eu só fiquei pensando porque ele ficou tão feliz por ter ganho três camisas. É claro que eram melhor que ganhar apenas uma- - não consegui segurar a risada. Mas eu estava satisfeita. Os pensamentos da minha menina ainda eram de menina, sem malícia, sem maldade. Edward sabia o que três camisas significavam. Renesmee era inocente o suficiente. Tirei seu prato da mesa e o coloquei na pia para lavar antes de sairmos para caçar. Senti Edward encostar-se em mim pelas minhas costas.

- Isso quer dizer que você decidiu que eu posso ficar esta noite? – ele falou no meu ouvido.

Eu já tinha me decidido mesmo. E tinha ido comprar as camisas com este objetivo. Virou o rosto em direção a Edward. – Apenas que pode ser necessário que você tenha algumas camisas de reserva, para emergências. – Sorri e ele retribuiu. Edward percebeu que Renesmee estava concentrada em nossas ações e a olhou. Segui seu olhar e... Ela estava envergonhada de ver a mamãe e o papai tão próximos? "Deveríamos ir devagar com ela" – pensei depois de afastar meu escudo e permitir que Edward ouvisse meus pensamentos. Ele afastou-se de mim.

Eu não precisava caçar, mas jamais negaria um pedido de Renesmee. Não nos afastamos muito, mas seguimos de carro ao nosso destino.

Peguei a chave da Ferrari e entreguei a Edward na calçada. Ele estava confuso.

- Tem certeza? – ele tentou se certificar.

- É claro. Este é o tipo de carro que você gosta. Veloz, muito veloz.

Já na floresta, Renesmee me pediu para manter o escudo em seus pensamentos.

- Por quê? – perguntei, fazendo o que ela me pediu. Edward ficou insatisfeito.

Um mar de imagens inundou minha cabeça, me explicando que ela queria que o papai não se desconcentrasse por ela durante a caçada. Fazia um pouco de sentido. Edward jamais deixaria de prestar atenção nos pensamentos de nossa filha, mesmo quando deveria estar completamente entregue aos seus sentidos. Mas mesmo que sua atenção na caça fosse reduzida, não havia a possibilidade de que ele se ferisse. Só o fiz para tranqüilizar Renesmee.

Avistei um alce adulto cerca de 50 metros à minha esquerda e parti para o ataque. A sensação de caçar com minha família completa me deixou animada. Bebi cada gota de sangue daquele animal em poucos segundos. Ainda estava cheia pela caçada do final de semana com Robert e logo me juntei a minha filha para observar Edward caçando.

- Você mais olhou do que caçou.

- É porque eu gosto de vê-los em ação juntos. – Um sorriso parecido com o do pai iluminou o rosto da minha pequena.

- Eu não sou o papai, mas sei o que está se passando nesta sua linda cabecinha, viu? – a acariciei. – Eu não posso te prometer nada, filha. – Ao mesmo tempo em que eu queria que tudo voltasse ao normal, eu sabia que seria mais difícil do que na teoria. Se Nessie se magoasse por minha culpa, eu não me perdoaria.

Edward percebeu – ou ouviu – nossa conversa e se juntou a nós.

Surpreendentemente, Renesmee começou a falar - Se vocês me perguntarem o que eu realmente quero, eu posso dizer que é vocês dois juntos e felizes de novo, mas eu sei que os problemas dos adultos não são tão simples de serem resolvidos. Só que eu sei também que se vocês não tentarem conversar, se forem orgulhosos – estava claro que esta acusação era para mim -, vocês nunca poderão olhar para trás e terem a certeza de que pelo menos tentaram.

A abracei instantaneamente.– Viu só, nossa menininha está nos dando uma bela lição – disse para Edward. Puxei o rosto de Renesmee para mim. - Como eu disse antes... Eu não vou prometer nada a você, mas nós vamos tentar. Nós já estamos tentando. – tentei confortá-la.

- Eu sei.

Edward tomou um bom fôlego, o que me fez olhar para ele.

- Quero aproveitar e dizer uma coisa a vocês. Eu tenho plena consciência de que errei com vocês, principalmente com você Bella. Também estou ciente que não foi só uma vez, mas eu acho que já fui punido o suficiente por isso. Não existe tortura maior para mim do que não tê-las ao meu lado. Eu não quero passar por isso de novo. Não quero perdê-las mais uma vez agora que eu acho que as estou recuperando. Só posso garantir que vou ser o melhor pai e o melhor marido que qualquer um ser poderia ser. Vocês têm a minha palavra.

Nós três nos abraçamos. Depois de ouvir meu marido, eu só queria levá-lo para longe de tudo e de todos e fazer dar certo.

O beijei de maneira que ele soubesse que eu confiava nele, que acreditava em cada palavra dita. Seguimos abraçados de volta ao meu carro, mas Renesmee já dormia nos braços do pai. Era como se agora ela pudesse descansar.

A tirei de Edward e deitei no banco de trás do carro. Edward esperou que eu a ajeitasse para fechar a porta de trás e abrir a do carona para mim. Entrei em silêncio e quase no mesmo instante que ele fechou a minha porta a dele foi aberta.

Edward dirigiu calmamente para casa, como se não quisesse que aquele momento terminasse nunca. Ele segurou minha mão durante todo o trajeto.

Ao estacionar na minha garagem, ele virou o corpo para o meu lado. Fiz o mesmo. Não precisávamos de palavras ali. Calmamente, ele aproximou o rosto do meu e beijou os meus lábios com ternura.

- Eu te amo tanto. – Edward não se cansava de me dizer isso.

Nos beijamos com cuidado – não era o cuidado que ele, principalmente, tinha no começo do nosso namoro, quando ele poderia me machucar. Agora, tínhamos cuidado para não estragar o momento. Os nossos beijos tinham um significado diferente. Não só desejo. Eram redenção. Apoio. Recomeço.

Beijar Edward ainda era uma sensação inexplicável, mas tê-lo ali, comigo, depois de tanto tempo longe, me deixava mais eufórica. Quando ele percebeu que passaríamos dos limites ele me afastou um pouco.

- Vamos entrar. Nessie deveria dormir na cama, você não acha?

Assenti e sai do carro desejando que eu pudesse passar a noite sem que as lembranças ruins viessem à minha mente, de maneira que eu estivesse inteiramente – corpo e mente – com Edward.