Recomeço escrita por Rosa Scarcela


Capítulo 12
Um pequeno problema




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- O que está errado? – é claro que meu pai sabia o que eu estava pensando.

Ele me puxou e me sentou sobre suas pernas, virada de frente para a mamãe.

- Não sei, pai. Só que está estranho aqui dentro – coloquei a mão sobre meu peito, em cima do meu coração.

- Vai ficar tudo bem. Não se preocupe. Deixe isso para os adultos. – a mamãe tentou me tranquilizar em vão.

Tomei um banho, escovei os dentes e os cabelos, me troquei, peguei minha mochila e fui para a sala. E lá estavam meus pais agarrados, perto da porta, se beijando, provavelmente tentando recuperar o tempo perdido. Meu pai riu nos lábios da minha mãe pelos meus pensamentos. Nossa, eu já estava acostumada a não ter que me preocupar com o que eu pensava 24 horas por dia.

- Vocês vão ficar se beijando aí o dia todo?

Eles se separaram – os lábios, porque as mãos estavam seguras uma na outra – e vieram em minha direção.

- O papai vai te deixar no colégio e a mim no escritório.

- Depois eu vou para Forks pegar algumas roupas e o meu carro. Voltarei o mais rápido que eu conseguir, ok?

- Você me busca no colégio, pai?

Não havia mais preocupação em sua voz – Claro, linda. Depois podemos encontrar a mamãe.

- Por mim tudo bem – ela se virou para ele e o beijou rapidamente. – Vamos?

O centro do meu Universo parecia estar se estabilizando exceto por um detalhe: ainda havia um certo vampiro afim da minha mãe e que seria dispensado por ela a qualquer momento. A menos que ele apenas tenha a usado, essa não seria uma tarefa fácil para a mamãe. Mesmo que eu fosse apenas metade vampiro, eu sabia muito sobre o assunto. Sabia, por exemplo, que o amor era eterno e que a vingança era comum. De repente, me veio a preocupação quanto ao que o tal Robert estava sentindo pela minha mãe. Meus devaneios foram interrompidos com o sinal do final do dia tocando e por alguém que esbarrou na minha cadeira. Nem vi quem foi.

Peguei minha mochila e segui até a parte de fora da escola onde meu pai deveria estar me esperando. E estava... Ele nunca ia me decepcionar.

Encostado em seu Volvo, o papai estava com uma roupa diferente da que usou ontem e hoje. Pude imaginar como minha tia Alice ficou quando soube que ele usou a mesma roupa por dois dias.

- Ela quase teve um ataque histérico – meu pai respondeu quando o abracei.

- Eu tinha certeza. Ele abriu a porta do passageiro para mim e eu entrei. Esperei que ele desse a volta no carro em velocidade humana até entrar no banco do motorista e partirmos para o Centro de Seattle para buscar a mamãe.

- Deu tudo certo em Forks, pai?

- Claro... Por que não daria?

- É só um modo de dizer – tentei pensar em outra pergunta que me desse a chance de chegar onde eu queria.

- Prefiro que você vá direto ao ponto, Renesmee.

Essa era a parte ruim de ter um pai que podia ler meus pensamentos.

- Você lembra que eu disse que a mamãe estava saindo com alguém?

- Sim, ela também mencionou algo sobre isso.

- Então, eu estive pensando o quão envolvidos eles estavam e como será a reação dele quando a mamãe disser que vocês estão juntos de novo.

Ele parou por um momento, perdido nos seus próprios pensamentos. Eu sabia que não devia me preocupar com a estrada. Os reflexos dele eram milhares de vezes melhores que os meus.

Senti meu pai acelerar o carro.

- Eu não havia pensado nisso ainda – meu pai confessou. – Talvez Bella esteja em perigo.

Droga!

Entramos depressa no edifício em que ficava o escritório de advogados que a mamãe trabalhava, mas tivemos de para na recepção para sermos autorizados e subir até sua sala. Meu pai estava impaciente e por pouco não perdeu o controle com o segurança. Mas ele sabia que não ajudaria em nada uma atitude daquelas.

Recebemos nossos crachás e subimos de elevador, acompanhados pelo segurança, até o 19º andar. A mamãe já nos esperava na porta da sala, sozinha. Vi – ou melhor, não vi – quando o papai disparou para seu lado e lhe deu um forte e seguro abraço. Eu também corri e me juntei aos dois.

- O que é tudo isso? – ela perguntou sorrindo.

Mandei visões dos meus pensamentos sobre a reação do Robert e ela nos tranquilizou.

- Ainda não falei com ele. Ele teve de viajar e só volta em alguns dias. E não acho que isso seja motivo para tanta preocupação.

Me afastei e meu pai segurou o rosto dela entre suas mãos.

- Você tem certeza, meu amor? Por que eu não posso imaginar qualquer um-

Ela o interrompeu com um beijo.

- Hey... Não sou mais aquela menina frágil que você conheceu, Edward. Eu sei me cuidar. Vocês estão exagerando. – Ela o beijou novamente, agora mais demorado.

Dei às costas aos dois e esperei. Assustei quando a mão gelada do meu pai tocou meu ombro.

- Vamos?

Apenas assenti.

Eles me deixaram escolher o que íamos fazer esta noite. Eu quis ir ao cinema, não que isso fosse agradável ao lado dos meus pais se beijando o tempo todo, mas porque eu realmente queria ver um filme. Como a sala estava vazia, sentei bem longe deles. Assim pude apreciar.

O tempo todo tive a sensação de ser observada. Olhei por cima do ombro para ver a reação do meu pai ao meu pensamento, mas foi como se ele não pudesse ter me ouvido de qualquer maneira. Então sim, por um segundo ele desgrudou seus lábios dos lábios da minha mãe e me olhou. Sorriu e minha mãe o olhou, confusa. Ele olhou de volta para ela e ela olhou para mim, também sorrindo. Voltei a olhar para a grande tela a minha frente, esquecendo que meus pais estavam comigo. Afinal, era a mesma coisa.

Atravessamos a baía de ferryboat, porque, apesar de morar em Seattle há meses, só agora eu pude fazer este passeio. Pelo menos foi o momento em que meus pais ficaram mais de dez centímetros longe um do outro (mas ainda de mãos dadas) e me deram a atenção que eu merecia.

- Já devíamos ter vindo aqui há um bom tempo – minha mãe se lamentou para mim.

- Mas então não seria especial como está sendo hoje – tentei parecer empolgada com a situação. Não que eu não estivesse. Eu realmente estava feliz, mas eu ainda estava preocupada com minha mãe e aquela sensação do cinema-

- Eu não senti nenhum cheiro diferente e nem ouvi pensamentos estranhos – meu pai interrompeu-me, obviamente ouvindo meus pensamentos.

- Eu percebi.

- Não. Você achou que o papai tinha coisas mais importantes com que se preocupar. – A mamãe sorriu para mim.

Meu pai a apertou junto a ele. – Não importa onde eu estou ou o que eu estou fazendo, sempre estou prestando atenção em você, filha. – Ele me puxou para junto dele também. – Só não achei que havia qualquer perigo. Eu tinha certeza que você estava bem. – Meu pai ainda deu um beijo no topo de minha cabeça e eu fui para a lateral do ferry. O vento batendo em meu rosto, atirando meus cabelos para todos os lados, era incrível. Por mais que estivesse frio, não me incomodava.

Chegamos em casa bem tarde. Eu estava cansada e com muito sono, mas eu queria ficar com o papai e a mamãe mais um pouco. Fui tomar banho, enquanto minha mãe estava separando meu pijama.

- Posso ficar mais um tempo com vocês antes de dormir, mãe? – falei alto, de dentro do banheiro, apesar de saber que eu poderia sussurrar que minha mãe me ouviria num raio de 100 metros.

- Claro que pode. – Ela demorou uns segundos antes de voltar a falar. – Pensei que você fosse logo para a cama. Você nunca chegou até este horário acordada.

Deixei que a água quente do chuveiro escorresse nas minhas costas, então joguei a cabeça para trás, para que a água também caísse no meu rosto e, quem sabe, levasse meu sono com ela pelo ralo.

- Eu ainda posso aguentar algumas horas – menti.

Minha mãe riu. Ela sabia que eu dormiria a qualquer segundo. – Vamos esperá-la na sala, ok? Seu pijama já está aqui na cama.

Quanto mais eu demorasse, mais seria impossível eu ficar acordada. Me enxuguei rapidamente, me vesti, penteei os meus cabelos e fui para a sala, mas antes de chegar lá eu parei.

- Vocês estão vestidos, né? – apareci na porta com as mãos por cima dos olhos.

Senti uma brisa fria e, em seguida, duas mãos geladas me seguraram pelos punhos.

- Não seja boba – o papai falou com ar de zombeteiro. Talvez eles estivessem mesmo sem roupa. Ainda bem que perguntei.

- Controle seus pensamentos, sim? – meu pai me advertiu, mais sério.

Vi que minha mãe estava sentada no chão, encostada no sofá, em frente à nossa lareira. Provavelmente era onde meu pai estava sentado antes de me encontrar. Ele me levou pelas mãos até a mamãe e eu me joguei no colo dela. O papai sentou ao nosso lado, enquanto minha mãe passou seus braços ao redor do meu corpo. Me encostei em seus ombros. Já sentia como se minhas pálpebras tivessem uma tonelada. Já não ouvia nem enxergava ninguém.


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