Recomeço escrita por Rosa Scarcela


Capítulo 10
Uma caçada a três




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De fato não seria de bons olhos se meu pai saísse por aí sem camisa. Ele foi até a cozinha para me fazer companhia enquanto a mamãe não voltava.

Como quem não queria nada, eu comentei. – Eu gostaria que a mamãe e você voltassem a ser um casal.

- Eu também gostaria disso – ele disse imitando minha indiferença.

- Foi bom vocês estarem juntos hoje? – continuei.

- Foi bom conversar. Pelo menos eu pude dizer tudo o que eu queria. Não sei o que se passa na cabeça dela...

- Ela segurou o escudo? – eu já sabia a resposta.

Ele lamentou – Não me permitiu saber o que ela pensava por um segundo que fosse. Mas eu ainda sou muito bom em lê-la. – meu pai gabou-se. – Ah, não estou me gabando...

Eu ri quando ele respondeu aos meus pensamentos. – Então o quê?

- Só um lembrete... – Ele olhou para minha lasanha. – Não se esqueça de deixar um espaço no seu estômago. Ainda temos uma caçada...

- Como vou esquecer, pai? Acho que já comi o necessário mesmo. – empurrei o meu prato para o centro da mesa e me virei.

- É bom estar tão perto de você... – ele abriu a boca para falar, mas eu continuei. – Só estou dizendo para o caso de você sentir alguma dúvida.

- Neste momento, minha única certeza é você, Nessie.

Nos abraçamos e ele beijou minhas bochechas, como fazia desde que eu era muito novinha. Não muito tempo depois, ouvimos a mamãe entrar e ir direto para a cozinha. Ela tinha uma sacola de loja nas mãos e entregou ao papai.

- Tem três.

Meu pai abriu um sorriso lindo, daqueles que, tenho certeza, fariam o coração da mamãe derreter, se ela ainda tivesse um. Tudo por causa de três camisas? Bom, três eram melhor do que uma, mas ficar tão feliz assim? Ouvi meu pai rindo para mim. Minha mãe olhava para ele sem entender nada.

- Por que você está rindo, Edward? – com certeza minha mãe queria saber qual era a piada, assim como eu.

Ao mesmo tempo em que se levantava com a sacola de camisas, ele justificou – É muito divertido ouvir os pensamentos da sua filha, Isabella.

Eu ainda não sabia qual era o motivo para ele rir de mim quando ele nos deixou a sós. – Eu só fiquei pensando porque ele ficou tão feliz por ter ganho três camisas. É claro que eram melhor que ganhar apenas uma- - e a risada da minha mãe também me interrompeu. Ah, isso já estava ficando chato.

Minha mãe tirou meu prato e seguiu em direção à pia para lavar a louça do meu jantar. O papai voltou já usando a camisa branca que a mamãe comprou e sem sacola. Eu ainda estava confusa pelas risadas, mas quase pude ouvir um estalo quando ele se aproximou dela pelas costas e sussurrou em seu ouvido.

- Isso quer dizer que você decidiu que eu posso ficar esta noite?

Ela virou o rosto em direção ao meu pai. – Apenas que pode ser necessário que você tenha algumas camisas de reserva, para emergências.

Um sorriu para o outro e depois eles olharam para mim. Fiquei constrangida e eles se afastaram. Ainda pude ver meu pai afagando o braço da minha mãe. Será que existia felicidade plena? Eu tinha a impressão que sim.

Fomos caçar nos arredores de Seattle. Parte do trajeto até a floresta nós seguimos de carro, com meu pai dirigindo o carro da minha mãe. Depois, subi nas costas do papai e corremos até onde deveríamos caçar. Assim que fiquei em pé no chão, segurei a mão da minha mãe e mandei imagens dela colocando seu escudo nos meus pensamentos e bloqueando meu pai.

- Por quê? – ela queria saber, já protegendo meus pensamentos. O papai nos olhou, aparentemente descontente.

Mais uma vez, mandei imagens explicando que eu não queria que ele se distraísse com meus pensamentos durante a caçada. Ela concordou sem maiores questionamentos.

A caçada me deixou exausta. Eu não estava com tanta fome – ou sede – mas queria aproveitar o momento em família. Me satisfiz com um pequeno cervo. Já o papai e a mamãe demoraram bem mais.

Sentei-me no chão, aos pés de um grande e antigo abeto e apenas esperei. Eles deixaram-se levar pelos instintos. Era uma coisa que eu nunca me cansaria era vê-los sendo apenas eles. Eu mesma jamais teria toda esta beleza caçando.

Acompanhei, atenta, quando o papai capturou um leão da montanha – seu preferido – e, em questão de segundos, chutou a carcaça vazia do animal para o lado, virando-se para observar a mamãe. Graciosamente, ela atacou o maior alce que já vi em toda minha vida.

Meu olfato nunca seria tão apurado e rápido como o dos vampiros e quando me virei para o lado de onde vinha o cheiro de um cervo, meu pai já estava com os dentes cravados no pescoço dele.

Olhei de volta procurando minha mãe e ela estava sentando-se ao meu lado.

- Você mais olhou do que caçou – observou ela.

- É porque eu gosto de vê-los em ação juntos. – Sorri.

- Eu não sou o papai, mas sei o que está se passando nesta sua linda cabecinha, viu? – ela passou a mão pelos meus cabelos. – Eu não posso te prometer nada, filha – ela ficou séria.

O papai se juntou a nós. Eu precisava aproveitar e conversar com os dois.

- Se vocês me perguntarem o que eu realmente quero, eu posso dizer que é vocês dois juntos e felizes de novo, mas eu sei que os problemas dos adultos não são tão simples de serem resolvidos. Só que eu sei também que se vocês não tentarem conversar, se forem orgulhosos – olhei para a minha mãe -, vocês nunca poderão olhar para trás e terem a certeza de que pelo menos tentaram.

Eu estava prestes a chorar quando a mamãe me abraçou. Eu a segurei forte e, por cima da minha cabeça, ela falou com o papai. – Viu só? Nossa menininha está nos dando uma bela lição.

Minha mãe olhou para mim e puxou meu rosto para que eu a olhasse também.

- Como eu disse antes... Eu não vou prometer nada a você, mas nós vamos tentar. Nós já estamos tentando.

- Eu sei – concordei.

Meu pai respirou fundo e nós duas olhamos para ele.

- Quero aproveitar e dizer uma coisa a vocês. – Sai do abraço da minha mãe e sentei no seu colo, ambas viradas na direção do meu pai. Esperamos que ele começasse.

- Eu tenho plena consciência de que errei com vocês, principalmente com você Bella. Também estou ciente que não foi só uma vez, mas eu acho que já fui punido o suficiente por isso. Não existe tortura maior para mim do que não tê-las ao meu lado. Eu não quero passar por isso de novo. Não quero perdê-las mais uma vez agora que eu acho que as estou recuperando. Só posso garantir que vou ser o melhor pai e o melhor marido que qualquer um ser poderia ser. Vocês têm a minha palavra.

Me ajoelhei no colo do meu pai e o abracei. Senti minha mãe se aproximando de nós dois. Eu estava de costas e não vi seu rosto, mas as palavras do meu pai devem ter tido um bom efeito com ela porque ela se aproximou, colocou a mão nas minhas costas e beijou o meu pai. Eu não queria interrompê-los, então esperei. Eu me sentia tão leve e tão cansada.


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