Crônicas Dracônicas escrita por Rizon


Capítulo 6
Joy




Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/91809/chapter/6

Será que os dragões são realmente os vilões que os humanos julgam? Ou será que quem causou tudo isto foram os próprios humanos? Poucos dragões nasceram com o coração realmente corrompido, e a maioria tomou as dores de outros dragões, ou sofreram traumas que os tornaram agressivos. Esses dragões abandonaram a sabedoria, abandonaram o caminho de imparcialidade e de convivência pacifica que exerciam a muitas eras. Na realidade, apenas depois do surgimento dos humanos que os dragões começaram a mudar.

Hoje vou contar a historia de um desses dragões, que abandonou seu coração em uma fatídica noite, se tornando um dos mais sanguinários dragões.

 

O sol descia lentamente, derramando sobre a paisagem uma luz laranja anunciando o seu merecido descanso. Trew observava seu filho brincando com uma bola de couro feita com pele de carneiro, Joy era um dragãozinho vermelho bebe, tinha apenas um ano e não mais que meio metro de altura por dois de envergadura. Geralmente os dragões já tinham uma forte ligação com seus filhos, mas Trew e Joy tinham uma ligação maior ainda.

 

Trew acorda no susto, sentia o cheiro deles, ouvia o barulho deles, os humanos estavam perto demais. Olhou para o pequeno Joy dormindo e se postou em cima dele em um modo protetor, mas quando percebeu nada pode fazer. Cinco garrafas foram arremessadas perto do rosto de Trew, no chão. Assim que estouraram jogando muitos cacos por todo lado, uma fumaça roxa dominou o ambiente, a visão começou a embargar e a voz a falhar. As pernas tremeram e ele desabou por pouco não caindo em cima de Joy, antes de perder a consciência, viu muitos humanos chegando com redes, espadas, arcos e cordas. Malditos caçadores.

Os caçadores amarraram e com o auxilio de cinco Tourys conseguiram rebocar o imenso corpo do dragão pelo meio da mata até o acampamento. Toury é um animal parecido com um búfalo, um olho a mais na testa, e com um tom de laranja, dois rabos verde escamosos e um tufo de pelos na ponta, tinha em media três metros e uma força incrível.

Após chegarem ao acampamento, onde aproximadamente cinquenta caçadores de dragões estavam instalados, prenderam Trew com suas mais pesadas e resistentes correntes, feitas de uma liga especial, feitas exclusivamente por um clã de anões, e presas em uma grossa placa de metal abaixo dele. O pequeno Joy estava preso em uma gaiola ao lado da fogueira, e os caçadores riam e bebiam brindando a enorme caça, e aguardando ansioso para a brincadeira que estava por vir.

Quando o imenso dragão vermelho acordou ouviu alguns grunhidos e reconheceu no momento a voz de seu filho. Sua visão ainda estava turva, mas tentou se levantar por reflexo e foi parado pelas pesadas correntes. Quando sua visão limpou ele soltou um urro que penetrou o coração dos mais medrosos.

Ao lado da fogueira amarrado a quatro cordas estavam um dragão irreconhecível. Tinham arrancado as duas pequeninas asas, e com uma pinça grande de ferro um homem musculoso arrancava escama por escama, enquanto um guardava em uma sacola, outro usava uma escama recém afiada para fazer pequenos cortes na pele descamada que já sangrava, fazendo mais sangue ainda manchar a grama.

As escamas dos dragões tinham um aspecto metálico, era uma liga de Cobre, Ferro, Zinco, Ouro, Silício e Ununtrio, possui também um pigmento especifico para cada espécie. Assim sendo as escamas de dragões são geralmente usadas para fabricação de caras espadas, adagas, laminas ou armaduras de nobres, as asas são usadas para fabricação de uma lona especial, muito mais resistente.

Mas aqueles homens estavam mais do que simplesmente trabalhando pelo seu ganha pão, estavam se divertindo, estavam rindo, estavam tirando sarro do pequeno dragão meio descamado, sangrando e chorando. Aquela visão chocou demais Trew, até aquele dia sempre fora um membro da Ordem dos Dragões, sempre pregava a convivência pacifica entre todas as espécies, e ensinara isto para seu pequeno Joy, seu amado filho. E aqueles malditos seres que recém tinham descido das arvores e infestado o mundo, agora torturavam o seu Joy com um sorriso no rosto. Se soubesse teria matado todos antes de evoluírem para aquela maldita espécie, se soubesse teria matado todos!

Estava acontecendo, o coração de um nobre dragão estava sendo entrega a escuridão pelas mãos de inescrupulosos humanos que não conseguem ver um ser pensante em um aparente monstro. Uma maldita espécie que tudo o que sabe fazer é temer o que não conhece, e tentar exterminar o que teme. Agora era tarde demais, não existia mais coração dentro daquele peito, o lugar onde antes existia a razão foi tomado pela raiva, pela ira, pela sede de vingança. Nada mais pararia aquele dragão até que todos humanos estivessem mortos.

Discretas chamas de fogo saíram pelas narinas enquanto Trew tentava se soltar das correntes. A raiva era tanta que forças normalmente adormecidas em um dragão vieram a tona. O elo de uma corrente se soltou e então começaram a partir cada vez mais, até que Trew começou a dar patadas nos humanos mais próximos, ainda meio coberto por correntes, mas totalmente livre. Trew não pensava, apenas golpeava. Não deixaria nenhum maldito humano escapar. A única corrente que ainda o prendia era uma envolta da boca, ele poderia muito bem solta-la, mas como falei, ele não pensava mais. Foi tomado por um instinto animal, foi tomado pela raiva e naquela noite exterminou todos caçadores. Pelo chão se via sangue, muito sangue. Ossos expostos, cabeças decapitadas e corpos indistinguíveis, e o pequenino dragão ao lado da fogueira gemendo de dor. Trew retirou a ultima corrente que o prendia e carbonizou dois corpos antes de se deitar e encostar o focinho no seu filho, impotente. Joy havia perdido sangue demais, metade das escamas e suas asas. Não teria nem mais meia hora de vida graças a hemorragia, e apenas uma poderosa feiticeira poderia reparar tantos ferimentos. Mas não havia tempo, nunca chegaria em uma em meia hora.

Tudo o que Trew pode fazer foi observar e oferecer alento para seu filho em seus últimos momentos em um mundo tão cruel. Observar e aumentar seu ódio interno. A cada gemido, a cada expressão de dor o imenso dragão alimentava uma gota de ódio em seu coração que já estava transbordado. Após o ultimo suspiro Trew solta um urro que arrepiaria até a alma, e que ainda fará muitos humanos chorarem antes de seu destino de dor.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Este capitulo foi um pouco forte, mas espero que tenham gostado. Por favor, deixem reviews com opiniões.



Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Crônicas Dracônicas" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.