Amor à última Vista escrita por M4r1-ch4n


Capítulo 7
Capítulo 6




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          Era por volta de oito horas da manhã quando Hidaka Ken escalou a árvore que descobriu ficar na frente da janela do seu quarto. Ele havia passado a noite no misterioso endereço que ele agora sabia ser do local onde Schuldig vivia. Ao contrário do que acontecia com o Weiß, os Schwarz não moravam juntos, apenas tinham um local de trabalho em comum.
          No entanto, era difícil para o moreno aceitar qualquer informação do telepata como verdadeira. O alemão poderia muito bem estar manipulando o seu próprio cérebro, sem que ele soubesse. Era uma situação deveras complicada, mas por ora, Ken decidiu acreditar nas palavras que havia ouvido entre a noite passada e o começo daquele dia.
          Assim que o moreno se jogou na própria cama, agradecendo aos céus por não terem instalado o alarme de invasão que Omi tanto queria há alguns meses, Ken ouviu batidas na porta. Protestando com palavras sem sentido, ele apenas concordou que quem estivesse do lado de fora poderia abrir a porta, avisando que o humor dele não estava dos melhores com alguns grunhidos.
          Na verdade, Ken se sentia muito satisfeito, contente e realizado. A noite com Schuldig havia sido incrível, mas ele não havia dormido nada e seu corpo agora pedia por descanso. Portanto, nada mais normal do que a sua resposta mau-humorada.
          - Ken-kun, bom dia... - Omi não chegou a entrar no seu quarto, parando na porta do mesmo - Você... Ah. Você também recebeu.
          Como o menor dos Weiß não havia dito mais nada e parecia ter os olhos pregados na escrivaninha que tinha no seu quarto, o ex-jogador de futebol acabou por esfregar seus próprios olhos e se sentar na cama, seguindo o olhar de Omi. Viu então um envelope preto sobre o móvel, e franzindo o cenho, levantou-se para pegar o mesmo.
          Letras brancas, impressas no envelope pelo lado de fora, formavam "Siberian". O menor dos Weiß tinha algo semelhante em mãos, e de onde Ken estava, ele conseguia divisar o codenome do seu colega escrito no outro envelope.
          - O que é isso, Omi?
          - Não sei, Ken-kun. Apareceu um para cada um de nós... - ele fez uma pausa - Vamos descer e conversar com Aya-kun e Yohji-kun. Talvez possamos descobrir alguma coisa.
          - Certo... - o ex-jogador de futebol concordou, passando por Omi e sentido o olhar do loirinho nas suas costas enquanto desciam as escadas. O pequeno hacker provavelmente notara que Ken havia dormido com a sua nova camisa da Alemanha e jeans, algo que não era um dos seus hábitos, e que provavelmente despertaria perguntas mais tarde. Ele se sentia estranho sob o olhar do mais novo dos Weiß de vez em quando, embora nada batesse o duro exame visual que Aya fazia freqüentemente. Aya. Se Aya descobrisse onde ele havia passado a noite... Ken não viveria tempo suficiente sequer para piscar depois disso.
          Chegando à sala onde as missões eram geralmente passadas, o ex-jogador de futebol se viu pensando novamente em Schuldig, e em como era estranho não repudiar aquela situação toda. Era como uma droga, algo que viciava lentamente, e Ken já percebia os primeiros sintomas. A adrenalina, a excitação de ficar junto de alguém estupidamente belo, sedutor e ainda por cima letal era algo que o prendia ao alemão e não deixava com que ele fosse embora.
          Por outro lado, parecia que Schuldig também era atraído por algo semelhante. Ele sempre fazia questão de enfatizar a mente e o jeito de pensar de Ken, e parecia que os assassinos rivais tinham encontrado no outro algo que exercitasse o seu interesse. O assassino de codenome Siberian estava entrando em algo sem saída, e assustadoramente, ele não tinha medo disso.
          De repente, sua atenção voltou para o envelope preto que tinha nas mãos, ao encontrar seus outros dois colegas na sala também. Yohji estava claramente mal-humorado e com sono, mas conhecendo o playboy residente, aquilo era apenas normal em um sábado, pouco depois das oito horas da manhã. Tanto ele quanto o espadachim seguravam envelopes pretos idênticos em suas mãos, e Ken acreditava que somente o codenome variava de um para outro.
          - Acho que todos nós recebemos um envelope. - Aya falou como quem tinha uma dúvida, mas todos sabiam que não era o caso.
          - Vamos... Abrir então. - Ken sugeriu e logo todos começaram a fazer o mesmo, retirando de dentro uma pequena folha preta, sem nada escrito. Rodando o papel nas mãos, o ex-jogador de futebol não entendia o motivo de aparecer um envelope misterioso preto no seu quarto sem nenhuma mensagem. Mas quem quer que fosse que havia enviado aquilo, sabia quem eles eram na realidade e o quê eles faziam também.
          - Não tem mensagem nenhuma... - reclamou Yohji, da sua posição largada no sofá.
          -...Existe alguma coisa sim. - o espadachim falou, passando os dedos pela superfície do papel. Omi balançava a cabeça afirmativamente e copiou o gesto.
          - O quê é? - Ken perguntou, somente então sentido alguma coisa em relevo no papel. Letras. Eram letras.
          - Alles... Schwarz. - Omi pronunciou as letras devagar, mas a última palavra todos reconheceram.
          - Schwarz? Foram eles que enviaram? - Yohji pareceu alarmado.
          - Não ficaria surpreso, Yohji-kun. Tendo Mastermind do lado deles, eles podem muito bem ter descoberto o nosso endereço... - o cérebro do Weiß ponderou, todos os olhos nele - E com as habilidades de Prodigy, os envelopes poderiam ter entrado aqui por frestas de janela ou qualquer coisa.
          - Droga. - o loiro mais velho murmurou, passando os dedos pelo seu próprio envelope e depois pelo papel. Ken sentiu uma culpa terrível; sua janela havia ficado aberta e ninguém precisaria possuir telecinese para ter deixado o seu envelope onde estava; precisaria saber escalar árvores, apenas.
          - Tem mais alguma coisa escrita... - o moreno murmurou, sentindo mais letras no fim do papel. Omi concordou com a cabeça mais uma vez.
          - Não é só aquele... "Alles schwarz"?
          - Acho que não, Yohji-kun. Sente algo mais no seu?
          O silêncio foi a resposta, evidenciando que todos se concentravam no resto da mensagem oculta. Algum tempo depois, o mais novo dos Weiß revelou-se como o que tinha maior habilidade para sentir as letras em relevo, escrevendo-as em um papel ao seu lado. Realmente, as mensagens eram diferentes de envelope para envelope, embora sempre começassem do mesmo jeito.
          - Eu tenho um pressentimento ruim a respeito disso... - o loiro comentou, ganhando uma risada amarga de Yohji em resposta.
          - Tudo que tem o nome Schwarz não pode ser bom.
          Ao ouvir a gravidade das palavras de Aya, Ken sentiu como se algo imenso e pesado houvesse caído no seu estômago. Tudo que ele fizera nos últimos dias, cedendo e deixando que Schuldig o controlasse... O ex-jogador de futebol se sentia mais culpado do que nunca, mesmo que ninguém ali percebesse.
          Culpado.
          Schuldig.
          ...Ele havia sido enganado pelo alemão. E quando Omi leu em voz alta as mensagens unidas de todas as folhas, Ken decidiu que iria caçar o seu inimigo telepata e tirar uma tradução dele a força.
          Se havia uma coisa que o moreno não admitia era que brincassem com os seus sentimentos ou os dos seus colegas; e Schuldig havia extrapolado todos os limites com aquela brincadeira.

          Noite de sábado. Com certeza, a pessoa que ele procurava não estaria em casa. Mordendo o lábio, Ken apertou dentro do seu bolso direito o papel com o alemão copiado dos envelopes, pensando em como encontrar Schuldig. Ele precisava achar o outro homem, que jamais estaria em casa em uma noite de final de semana.
          Vestido apenas com uma calça preta que não era esportiva demais e uma camisa azul escura, o moreno caminhava pelas ruas, pronto para entrar em qualquer casa noturna se fosse necessário. Mesmo trajando roupas simples, ainda sim o assassino era alvo de olhares nada discretos na rua, mas não estando acostumado a esse tipo de atenção, acabou por ignorá-la.
          Parando na frente do endereço que sabia ser de Schuldig, ele suspirou. Todas as luzes estavam apagadas, e barulho algum vinha de dentro da pequena casa. Decidindo que ele não tinha outro meio de começar a sua caçada a não ser por ali, Ken se aproximou da maçaneta da porta discretamente, destravando-a com um grampo de cabelo.
          Rezando para que a casa não fosse protegida por alarmes, o moreno entrou silenciosamente pelo hall, praticamente do mesmo jeito que havia feito há vinte e quatro horas. Tateando pela parede, acendeu a luz do pequeno cômodo, sua atenção sendo imediatamente chamada para um pedaço de papel preso com fita adesiva em um espelho, logo ali na entrada.
          Olhos turquesa se arregalaram. Tirando rapidamente o bilhete de onde estava, Ken apagou a luz e saiu da casa, fechando a porta mas não trancando a mesma; ele nem tinha a chave. Bufando, o ex-jogador de futebol se dirigiu para a sua esquerda, detestando saber que Schuldig já tinha idéia de que ele seria procurado aquela noite. O endereço preso no espelho havia feito o rosto de Ken assumir uma bonita coloração vermelha.
          No entanto, o jovem assassino estava decidido a provar que o encontro deles aquela noite seria diferente.

          Ken andava resolutamente, sem olhar para os rostos que viravam na sua direção quando ele passava. Embora não conhecesse o bairro, a sensação de raiva que tinha dentro de si era tão grande que parecia guiá-lo diretamente para o telepata, seus olhos azuis faiscando com algo que não era decifrável.
          Não era como se ele jamais houvesse pensando na possibilidade de se meter em encrencas com aquela espécie de relacionamento nada ortodoxo que estava se formando entre ele e Schuldig; no entanto, Ken era leal aos seus colegas, e não iria admitir que os outros fossem colocados em problemas por sua culpa. Ou por culpa do caso que estavam tendo.
          Parando na frente de uma porta grande, com algumas cortinas vermelhas na entrada, Ken sentia o piso da calçada vibrar com a alta música que vinha do lado de dentro. A casa era subterrânea, e ele conseguia imaginar pouco do interior. Olhando para cima, havia um letreiro propositadamente estragado e que parecia prestes a cair na cabeça de qualquer pessoa que entrasse ali. Ken deduziu que o nome do lugar era alemão, mas não perdeu mais tempo olhando para aquilo.
          Descendo as escadas, o moreno notou que tudo dentro da casa noturna girava em torno de preto e vermelho, embora na ausência de iluminação adequada tudo tendesse para preto mesmo. Finalmente se livrando da escada e saindo para a pista de dança, o ex-jogador de futebol respirou fundo algumas vezes, antes de se meter na confusão que era a parte central da casa.
          Olhos azuis procuravam na multidão a figura nada comum do telepata, mas sem muito sucesso. Era difícil andar pela pista, e quando finalmente conseguiu atravessar a mesma, alguns botões da sua camisa haviam sido arruinados. Ele não sabia dizer que tipo de pessoas eram aquelas que dançavam e que o haviam atacado, mas pareciam acreditar que a pista de dança era um grande quarto para orgias, porque as cenas que Ken viu não eram tão normais assim em outras casas noturnas que ele visitara, arrastado por Yohji.
          Respirando fundo, ele se virou e encontrou o bar na sua frente, iluminado por lâmpadas vermelhas e dando um tom um tanto quanto estranho ao lugar. Como se estivesse andando em um laboratório de revelação de fotos, Ken passou os olhos rapidamente pelos ocupantes dos bancos do bar, até finalmente grudar em uma massa de cabelos longos, que sob a luz estranha pareciam vermelho escuro. Andando rapidamente até o local, Ken não pensou duas vezes antes de colocar os dois braços contra o balcão e prender o telepata contra o seu próprio corpo, seus olhos azuis praticamente criando buracos no rosto do alemão.
          - Guten Nacht [1], Ken.
          A palavra "nacht" era uma das que haviam aparecido nos textos recebidos pelos membros do Weiß, o que deixou o moreno ainda mais furioso. Movendo uma das suas mãos para a garganta do telepata, o assassino mais novo assistiu com prazer o jeito que Schuldig parecia ligeiramente supresso, deixando o seu copo pousado no balcão por precaução.
          - Você pode me usar, mas eu não admito que mexa com outras pessoas. Eu detesto ser feito de marionete, Schuldig.
          - Siberian...
          A observação do alemão era interessante: naquele momento, Ken estava irado, pronto para fazer algo que causasse dor e sofrimento ao telepata. Ele era Siberian naquele momento, o assassino que trabalhava dizimando as pessoas que a lei japonesa não alcançava. Ou não queria alcançar.
          - Agora me fale o que aquelas coisas em alemão queriam dizer.
          - Eu não faço idéia do que você está falando, Kätzchen.
          A música estava tão alta que era difícil para Ken sequer ouvir a voz do outro, tendo que confiar mais na leitura labial que fazia. Isso, no entanto, o forçava a prestar atenção nos lábios do telepata, e aquilo era uma distração e tanto.
          Aproximando seus lábios da orelha de Schuldig, ele repetiu sua ordem:
          - Me fale o que aqueles envelopes querem dizer, Schuldig. Por que você está ameaçando meus amigos?
          O telepata franziu o cenho por um momento, entrando nas memórias do moreno que tinha seu corpo tão próximo do seu e de lá retirou a parte sobre envelopes, ainda não entendendo muita coisa. Ken se afastou dele então, colocando um papel sobre o balcão.
          - Traduza.
          O alemão notou com um meio-sorriso o jeito autoritário que o jovem assassino ao seu lado se dirigia a ele, virando-se por fim no banco que ocupava e deixando que seus olhos caíssem sobre as letras no papel. Depois de alguns minutos em silêncio, ele falou:
          - São trechos de uma música.
          - Eu disse "traduza", Schuldig. - Ken pressionou, ainda nada satisfeito - É capaz disso ou não?
          Assobiando baixo, o alemão riu sozinho.
          - Mein Gott, como estamos irritados hoje. Muito bem. O envelope do seu mini-agente quer dizer "Tudo é preto - tão preto quanto minhas roupas". O de Balinese é "Tudo é preto - Tão preto quanto minhas paredes", o do seu todo-poderoso líder é um tanto quanto interessante, e significa "Tudo é preto - Quando o oráculo fala". Por fim, o seu é "Tudo é preto - Dias viram noites".
          Ken não gostou nada daquilo, memorizando o máximo que conseguia com aquele barulho que nunca parava ao seu redor. Suspirando, seus olhos se endureceram novamente quando ele encarou o telepata mais uma vez.
          - Por que fez isso?
          - Não sei... Mas foi bem feito.
          - Schuldig. Por que fez isso?
          - Não fiz nada, Hidaka. - ele avisou com uma voz baixa, não achando mais aquela obstinação de Ken divertida - Eu não tenho nada a ver com isso. Se bem que...
          Dessa vez, o membro do Weiß esperou pacientemente pela resposta do outro.
          - É... Estranho. As letras vieram em alto relevo, como se fosse para alguém cego. - Ken esboçou surpresa, só então se lembrando que o homem de cabelos laranja provavelmente já tinha invadido sua mente há algum tempo agora - Farfie tem problemas de visão. Eles vieram em alemão, o que remete à mim; a palavra "oráculo" apareceu, e exatamente no envelope endereçado para Abyssinian, o que lembra Brad. E no fim, a música, Alles Schwarz. Nagi gosta dela, era uma de suas favoritas da época em que ficamos na Alemanha...
          Os olhos de Ken agora estavam do tamanho de pratos, assustado com tanta informação nova. Era basicamente uma mensagem que representava cada um dos quatro membros do Schwarz.
          - E você ainda tem a audácia de dizer que não tem nada a ver com isso?
          O assassino mais novo estava novamente sobre o corpo do outro, prendendo-o contra o balcão e com um olhar feroz praticamente fazendo buracos no rosto do outro. Sério, o alemão nem piscou, seus olhos dizendo que ele falava a verdade.
          - Eu não tive nada a ver com isso, Hidaka.
          Bufando e ainda mais frustrado, o moreno murmurou alguma coisa nada educada e foi embora do lugar, sem perceber que deixava para trás um telepata igualmente intrigado.


[1] Boa noite.


Continua...

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