Amor à última Vista escrita por M4r1-ch4n


Capítulo 6
Capítulo 5




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          A árvore que Ken havia descoberto ficar convenientemente perto da sua janela foi o jeito ideal de sair do Koneko naquela noite; colocando um jogo de futebol gravado na televisão e programando a mesma para desligar depois que ele terminasse, o moreno havia dado a impressão de não ter saído do seu quarto quando na verdade caminhava para um destino desconhecido para ele até aquele dia.
          Ele não sabia ao certo porque havia aceitado o convite de Schuldig. Decidindo não pensar mais nas dezenas de coisas que ele estava colocando em risco somente por ter enganado seus colegas e ido de encontro a um de seus inimigos mortais, o ex-jogador de futebol parou na frente do endereço, descobrindo ser um local semelhante ao Koneko, com dois andares e uma porta de frente para a rua, tão comum que Ken não teria olhado duas vezes para a fachada se tivesse passado por ali antes.
          Respirando profundamente, o moreno sentiu a tentação de voltar e parar com aquilo tudo. Ele não tinha razão nenhuma para estar ali de verdade; o fato de que ele era perseguido pelo alemão até no seu quarto deveria ser um aviso mais do que suficiente para pessoas sensatas de que ir atrás do seu próprio perseguidor não era a atitude correta a tomar. E mesmo que Ken estivesse usando a justificativa de que ele aproveitaria a chance para matar Schuldig, ele sabia que isso não iria acontecer, mesmo sem possuir clarividência.
          Suspirando pesadamente e sentindo a cabeça quase girar de tantos pensamentos confusos que se trombavam dentro da mesma, o moreno parou na frente da porta, se aproximando o suficiente para que os ossos dos dedos da sua mão direita fizessem contato com a madeira da porta. Antes que ele pudesse concluir sua ação, no entanto, a mesma se abriu para dentro, sem que ele tivesse feito qualquer barulho.
          Um poste iluminava o começo de um pequeno hall de entrada e um tapete que Ken supunha conduzir à sala, mas o que mais chamou a sua atenção sem dúvida era a figura que mantinha a porta aberta. Aliás, o visual de Schuldig ali teria surtido esse efeito sobre qualquer pessoa que tivesse visão normal.
          Uma calça jeans, assustadoramente não muito justa, estava presa à parte inferior do corpo de Schuldig, lisa e sem nada de muito diferente, parecendo até mesmo levemente desbotada pelo tempo e pelas lavagens constantes. Seus pés estavam completamente descalços, parte deles coberta pela barra da calça, que alargava depois dos joelhos.
          Subindo seu olhar, o ex-jogador de futebol notou que a calça não estava presa por um cinto e muito menos pelo botão da mesma, apenas com o zíper. Piscando e lutando para que suas bochechas não assumissem a cor de um tomate, ele descobriu que aquilo era impossível com a parte de cima do corpo absurdamente estonteante de Schuldig não estando coberto, uma camisa cor de creme semi-social totalmente aberta e mostrando o seu abdômen invejado até mesmo pelo atleta para quem quisesse ver, as mangas da mesma elegantemente enroladas até o cotovelo.
          O cabelo cor de fogo parecia mais apagado pela falta de luz, já que a lâmpada do poste não atingia muito bem o rosto do telepata, mas Ken conseguiu perceber que o mesmo estava jogado para trás, liso como sempre fora e sem a clássica bandana que o moreno agora sabia detestar. Olhos azuis, brilhantes e espertos como os de um lince estavam presos na sua nova camisa, como o assassino mais novo bem pôde perceber quando analisou os olhos do alemão.
          - Guten Nacht, Kätzchen. [1]
          Ken piscou, seus olhos azuis sendo escondidos do mundo pelas pálpebras por segundos.
          - Você sabe que eu não falo alemão.
          - Ja.
          O moreno revirou os olhos, bufando e fazendo uma mecha de cabelo chocolate voar perto do seu rosto. Sem se mover do seu lugar, o telepata se sentiu no direito de fazer um exame visual no outro assassino também, depois do rigoroso e detalhado trabalho de observação a que Ken havia se entregado momentos antes a respeito de sua aparência em geral.
          O jeito que o cabelo do mais novo dos assassinos ali havia voado evidenciava que o mesmo não era cortado há algum tempo, as mechas castanhas mais compridas e parecendo dispostas a cobrir um dos olhos brilhantes e cheios de vida do ex-jogador de futebol. Schuldig pessoalmente achava que aquilo, embora representasse uma perda do charme de parecer ainda um garoto, contribuiria e muito para uma atmosfera mais adulta e sedutora no rosto do seu inimigo.
          Um sorriso nada discreto tomou o rosto do alemão quando este notou com satisfação que o outro homem vestia a camisa que ele havia comprado aquela manhã. O tamanho era aquele mesmo, e ele sentiu uma espécie de prazer estranho ao ver seu país representado no corpo de uma pessoa como Ken, tão diferente de todos que de fato ostentavam a nacionalidade alemã em seus documentos de identidade. Mesmo sendo a camisa de futebol larga, ela não fazia com que Ken parecesse um homem esquelético e perdido naquela imensidão de tecido, pelo contrário; o telepata conseguia ver os braços firmes e bronzeados do ex-jogador de futebol, apenas a amostra do que estava por baixo do tecido branco.
          Calças jeans azul escuro, mais folgadas que as suas cobriam as coxas largas e absurdamente bem torneadas do moreno; também, sendo um atleta, aquilo não era nada mais que o normal para alguém como ele. Elas terminavam perto de tênis também brancos, dando ao outro homem um aspecto simples, mas nada ordinário quando se acrescentava a isso o brilho da própria personalidade e energia do assassino de codenome Siberian.
           Schuldig notou que já estavam na porta há um bom tempo, dando alguns passos para trás e deixando claro que era para Ken entrar também. O outro homem adentrou o pequeno prédio de dois andares, seus passos mais cautelosos do que se ele estivesse pisando sobre cacos de vidro. Inconscientemente, o moreno fechou a porta atrás de si, ganhando um pequeno sorriso de aprovação do dono do lugar.
          Tudo no hall estava escuro até o momento em que Ken ouviu o barulho de um clique, virando-se rapidamente na direção do mesmo e entrando em posição defensiva. Mas não havia sido o engatilhar de uma arma, e sim o interruptor da iluminação sendo pressionada. Iluminação indireta essa, clareando o ambiente de uma forma refinada.
          A posição defensiva foi esquecida no momento em que Ken voltou a enxergar. Ele estava em um hall, de frente para uma sala ricamente mobiliada e decorada, com peças que o mais novo dos assassinos ali não duvidava ser acima do que ele ganhava em um mês no Koneko. Enquanto seus olhos seguiam cada móvel e objeto ali disposto, Schuldig riu baixinho para si mesmo e foi até a sala, deitando elegantemente em um sofá vermelho, de um tecido que Ken desconhecia.
          - Por que me chamou aqui? - foi a primeira coisa eloqüente que o integrante do Weiß conseguiu dizer depois de refeito do susto com o requinte do ambiente; ele jamais pensaria que uma fachada simples contaria com tanto luxo por dentro.
          - Porque eu queria saber se você viria.
          A resposta curta e objetiva fez o moreno arregalar os olhos, se aproximando de Schuldig na sala, desviando da mesinha de centro e sentando em uma poltrona próximas. Seus olhos desviaram-se para o tórax exposto em segundos, somente voltando para o bonito rosto do alemão quando Ken encontrou força de vontade suficiente para tanto.
          - Nani?
          Schuldig se mexeu no sofá, sentando-se na beirada do mesmo e inclinando-se na direção da poltrona que o moreno ocupava. Ken notou que o rico cabelo laranja havia sido jogado para frente também, ficando no espaço vazio que havia entre os dois corpos.
          - Por que você veio aqui... Ken?
          - Por que você não procura a resposta na minha cabeça? - o outro rebateu com uma pergunta também, começando a ficar irritado. E ele nem sabia com o quê.
          - Nein. Eu quero ouvir de você, Siberian. Eu quero que você diga porque deliberadamente veio se encontrar com um inimigo seu, desarmado.
          Ken bufou, olhando para o outro lado e se jogando para trás na poltrona e encarando o teto por alguns minutos. Até o lustre parecia caro naquele lugar. Sentindo uma ansiedade crescente dentro de si, o moreno entendia cada vez menos o quê ele estava fazendo ali; era como se ele estivesse aguardando alguma coisa, esperando por algo que Schuldig deveria fazer. Ou talvez fosse ele mesmo quem deveria agir.
          Isso acabou por lembrá-lo de outra coisa:
          - O quê aconteceu ontem à noite?
          - Ontem à noite?
          - Você esteve no meu quarto. - Ken voltou seus olhos azuis claro para o rosto sorridente do telepata alemão, de certa forma já esperando pela curva que havia se formado nos lábios do outro - Eu não lembro de nada depois do beij... - ele parou de falar, ficando repentinamente vermelho. Schuldig riu baixinho, até ele continuar - E eu acordei com roupas diferentes.
          O homem de cabelos laranja se inclinou para trás de novo no sofá, mais uma vez tentando os olhos turquesa do mais novo dos assassinos ali presente com a visão perfeita do seu corpo:
          - Eu sei. Eu troquei.
          - Como assim?
          - Eu precisava saber que tamanho de roupas você veste. - Schuldig replicou com um tom de voz que indicava que aquele era um assunto banal - E as suas memórias, você quer saber o quê aconteceu?
          - Quero. - a voz de Ken soou decidida.
          - Bom...
          Schuldig se levantou do sofá, parando na frente da poltrona que Ken ocupava e colocando seus braços ao lado da cabeça do jogador, quase prendendo-o no assento que ocupava contra o seu próprio corpo; o moreno estava convencido de que o telepata sorria como o maldito gato de Alice no País das Maravilhas.
          - Suas memórias foram apagadas. - ele murmurou, o ar quente que saía da sua boca sendo sentido por Ken no seu rosto. O mais novo dos assassinos piscou.
          - Como?
          Saindo de cima do moreno, o alemão caminhou até uma estante de livros que estava no lado oposto ao sofá na sala, parando na frente da mesma. A camisa havia fechado um pouco sozinha, e menos do peito de Schuldig estava exposto. Ken notou que aquilo o deixava estranhamente desapontado.
          - Mentes são como estantes, Kätzchen. Você pode retirar uma memória... - o telepata moveu um livro, tirando-o da sua prateleira e deixando um espaço vago - E deixar uma lacuna apenas, que invariavelmente resultará num branco quando você tentar se lembrar. Ou então, pode trocar de lugar. - Schuldig retirou outro livro, trocando as posições dos dois volumes que tinha nas mãos.
          - E o quê você fez comigo?
          - Isto. - o alemão colocou um livro no alto do móvel. Parado na frente da estante, ele cruzou os braços, olhando para o membro do Weiß com algo que evidenciava divertimento nos seus olhos também azuis.
          Ken claramente não havia entendido.
          - Como assim?
          - Ora, a memória não foi deletada para sempre... Ainda é acessível. Com um pouco mais de esforço, com uma cadeira ou esticando-se na ponta dos pés, você consegue recuperá-la.
          O moreno ficou quieto por alguns momentos. Fazia sentido. Então, se ele tentasse com bastante força, ele conseguiria lembrar de tudo que acontecera na noite passada?
          Mas a questão na verdade era: ele queria lembrar?
          - Não se torture, Kätzchen. A sua memória só irá se desbloquear com um estímulo externo muito forte, ou então se eu passar as minhas memórias para você.
          - Faça isso.
          - Destrancá-la?
          - Exatamente.
          Ken agora estava de pé, olhando o outro assassino de igual para igual. Schuldig descruzou os braços lentamente, caminhando na direção do seu oponente, colocando as mãos nos seus ombros. Ambos os homens notaram que o contato não foi desagradável, e deixou os dois com uma sensação estranha, mais esquisita ainda no caso de Ken.
          O homem de cabelos laranja agora empurrava o outro calmamente para trás, até que o sofá foi sentido contra a parte inferior das pernas do moreno. Como o alemão não parava de aplicar pressão na altura dos seus ombros, ele acabou por cair no sofá, Schuldig prontamente fazendo o mesmo e ficando por cima do moreno.
          Aquela era uma posição que estava começando a ficar familiar demais para Hidaka Ken.
          De repente, as bocas de ambos se encontraram, e o moreno respondeu por instinto, passando seus braços ao redor do torso do outro e prendendo-o no lugar. O telepata fez um barulho no meio do beijo, lembrando vagamente um som de aprovação, ele também levando uma das suas mãos até o cabelo do moreno, aprofundando o beijo.
          As memórias da noite anterior voltaram com força total.
          Corpos entrelaçados, na pouca luz que havia no quarto, cobertos de pequenas gotas de suor e com as respirações entrecortadas; preenchendo o ar, murmúrios e gemidos que estavam longe de serem manifestações de dor.
          Nomes sussurrados, um par de idiomas misturados em uma só dança onde a fantasia escolhida não importava, dois físicos perfeitos e bem talhados se entregando à uma coreografia nunca antes ensaiada. Olhos azuis que poucas vezes se encontraram, geralmente fechados por causa do intenso prazer que os corpos experimentavam, mas que quando se viam, pareciam mais fortes e desejáveis por causa do desejo estampado neles.
          Ken pareceu acordar das memórias quando elas atingiram o ponto onde o seu próprio grito, abafado por um beijo ardente, anunciava o seu êxtase na noite anterior. Ofegando, ele encontrou um Schuldig claramente satisfeito sobre si, que também parecia encontrar problemas para manter sua respiração controlada.
          - Então foi isso.
          - Foi.
          - Você não está inventando?
          - Poderia estar. Mas é verdade.
          Ken acreditava no telepata, ainda deliciosamente próximo dele.
          - Por que você me persegue tanto, Schuldig?
          - Porque você não é como a minha estante, Hidaka Ken. - ele afundou a cabeça, mais uma vez tirando do outro um beijo que ele não queria deixar terminar - Os títulos enfileirados são de livros que eu nunca li antes. O arranjo dos volumes é o mais estranho possível, e na sua cabeça, eu consigo ver a Bíblia e o Kama Sutra lado a lado.
          Mais uma vez as palavras morreram para dar lugar a beijos quentes, Ken muito consciente do que seu corpo começava a pedir das carícias e das manobras experientes da língua de Schuldig. Sua mente começava a sair de campo, permitindo que o ex-jogador de futebol se orientasse pelos sinais biológicos que seu próprio corpo fornecia. De repente, ele quebrou o beijo, ofegante. Havia uma última pergunta:
          - Por que... Gastou mais de seis mil e setecentos ienes nesta camisa? - o assassino mais novo perguntou, tocando o tecido branco da mesma com a ponta dos seus dedos.
          Um sorriso divertido tomou o rosto de Schuldig; o outro tinha uma noção perfeita do preço da camisa.
          - Para ter o prazer de tirá-la.
          E com aquilo, as mãos do alemão deslizaram por baixo do tecido da camisa, sentindo o corpo que era coberto pela mesma e deixando escapar um pequeno gemido, quase inaudível, de satisfação. Ken arregalou os olhos, mas logo os fechou e puxou Schuldig para perto de si, usando suas pernas para laçá-lo pela cintura.
          Em minutos, ambos tinham se livrado das camisas. E a sensação de perigo por estar envolvido daquela maneira com um inimigo, misturada à incrível sedução que Schuldig conseguia passar e todo o seu talento para aquele tipo de situação, clarearam a mente de Ken: era por isso que ele estava ali.
          Mas seu lampejo de consciência não durou muito, sendo apagado pela necessidade crescente que tinha de sentir, e não de pensar.


[1] Boa noite, gatinho.


Continua...

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