Speechless escrita por Vick_Vampire, Jubs Novaes


Capítulo 8
7. A Feia Borralheira


Notas iniciais do capítulo

Desculpem a demora!
San, eu sei que prometi postar na terça , e só estou postando agora.
Mas espero que todos gostem!
Boa Leitura!



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Alice PDV

 

 

                Quando ele parou de falar, apenas olhando para os cadernos destruídos debaixo das rodas do Volvo do meu irmão, eu me dei conta.

                Mordi o lábio.

                Eu não podia mais falar. Não podia gritar com ele, berrar os maiores impropérios do mundo e mostrar-lhe o dedo do meio, tudo de uma só vez.

                Porque, agora, eu era muda.

                A minha visão ficou um pouco borrada, e eu tive flashes do que havia acontecido dentro do avião e na escola.

                Eu comecei a cambalear para trás, na direção da porta do carro.

                Infelizmente, ela estava mais longe do que eu imaginei, e, quando eu pensei que havia chego, eu caí para trás, com a intenção de sentar no banco.

                Minha bunda pediu arrego quando eu caí no asfalto duro e frio.

                E as lágrimas também.

                E os soluços sem som, infelizmente, também.

                Meu peito se contraia fortemente enquanto eu me virava e corria na direção do carro, desta vez olhando para o Volvo. Eu sabia que ele, o cabelo de miojo, já tinha percebido a minha infame queda.

                A porta estava borrada, e eu não conseguia ver um palmo a minha frente. Apenas a mancha prateada que era o carro, e a preta, que eram os bancos de couro com cheiro da colônia favorita do meu irmão.

                Meu. Irmão. Edward.

                Bella. Vaca-Mor.

                Me virei na direção do asfalto a tempo de vomitar o que havia de barras de cereais no meu estômago.

                Mas, infelizmente, já era tarde demais para fechar a porta do carro, porque uma mão estava impedindo isso.

                Ou pelo menos eu achei que era. Eu não podia ver nada através da cachoeira de lágrimas que escorria.

                Puxei a porta com força de novo, mas alguém arrancou a minha mão da maçaneta.

                Eu finalmente consegui clarear a minha visão, enxugando o rio de lágrimas na manga do meu moletom. O que aquele cabelinho de miojo desgraçado estava fazendo, não me deixando ir embora?

                Bom, tá certo que ele foi o único que eu vi demonstrar compaixão por mim quando a irmã dele contou que... Você Sabe. Mas, mesmo assim, ele era um merdinha que só queria desgraçar a minha vida. Eu tinha certeza. Ou quase.

                Qual é o seu problema? , “falei”, me esquecendo novamente da realidade. Meu tórax foi parar quase do outro lado do carro quando eu solucei de novo, deixando as lágrimas rolarem e rolarem, de novo.

                Eu engatinhei para trás, sem me incomodar com o câmbio e o freio, apenas passando por cima deles, até encostar minhas costas no couro frio da porta do passageiro. Abracei as pernas e enterrei o rosto nos meus joelhos, desejando que eu tivesse a capacidade de fazê-lo simplesmente desaparecer.

                Era uma pena, uma pena mesmo que eu não conseguisse fazê-lo.

                Fiquei chorando com a cara enterrada entre os joelhos por um bom tempo, sentindo os sempre incômodos soluços sem som virem e, quando decidi checar para ver se ele tinha ido embora, eu ouvi o barulho da porta do carro se fechando.

                Ele tinha mesmo ido embora? Eu estava mesmo livre dele?

                Me animei rapidamente, apesar da sensação estranha que eu tinha no corpo. Mas eu não ligava. No máximo, eram as minhas costas reclamonas outra vez. Ergui a cabeça, e, de fato, ele não estava mais lá. Eu podia ver a ruela íngreme vazia, podia ver as casinhas amontoadas que pareciam abandonadas, mas eu não o via. Ele não estava mais no banco do motorista.

                Estava catando os cadernos dele na rua, que, de fato, estavam num estado deplorável. Estranhei. Os cadernos não estavam debaixo da roda? Então por que eu podia vê-lo claramente, a alguns metros de mim? Por que ele estava indo para mais e mais longe?

                Foi quando eu olhei em volta que eu vi o freio de mão, que estava debaixo do meu pé direito.

                Ele estava, ahn, não sei exatamente a palavra, mas, “solto”. Ou seja, eu estava caindo para trás, indo na direção do prédio de concreto que havia no fim da rua.

                Entrei em pânico. Tentei puxar o freio de mão, mas ele parecia travado. Eu estava quase o arrancando quando o cabelo de miojo percebeu que eu estava caindo/

                Ele largou os cadernos no chão e começou a correr na direção do carro, o que eu achei muito estranho. Quer dizer, desde quando ele não queria me matar? O que eu fiz de bom para ele?

                Mas ele não pareceu considerar isso, porque, quando ele percebeu que o carro estava ganhando velocidade ladeira abaixo, pulou na direção da porta e puxou a maçaneta com força, fazendo a porta se escancarar e uma ventania invadir o carro. Eu fiquei ligeiramente cega por um minuto.

                Naquele momento, eu não conseguia pensar. Eu só entendia uma coisa, enquanto via o cabelo de miojo sair rolando no asfalto.

                Eu tinha que pular dali.

                Eu saltei de um banco para o outro e me joguei na rua em dois segundos, sem conseguir respirar ou sentir meu coração bater. Naquele intermédio de tempo, eu posso te jurar que morri.

                Mas eu voltei à realidade quando minhas costas e toda a lateral esquerda do meu corpo latejaram. Eu estava deitada de lado na rua, e eu não conseguia me mexer. Só ver aquele carro prateado se transformar num pontinho e bater em outro carro.

                Não sei por quanto tempo eu fiquei caída lá, gemendo de dor –ou algo perto disso-, mas eu senti duas mãos me levantarem pela cintura, me fazendo sentar no asfalto gelado.

                Eu dei uma cotovelada no braço da pessoa que me ergueu. Ele resmungou e tocou meu braço esquerdo, que estava todo ralado e manchado de sangue.

                E doeu.

                Tive vontade de gritar: PUTA QUE PARIU, DESGRAÇADO!

                Mas eu não podia, é claro.

                Então, eu fiz uma coisa muito mais civilizada e fina: Puxei meu braço com força para o outro lado e dei um tapa daqueles no braço dele.

                Mas aposto que doeu mais em mim do que nele.

                Abusado esse garoto.

                Eu me ergui do chão aos poucos, com a ajuda do cabelo de miojo. Já podia ouvir as sirenes de polícia se aproximando –afinal, numa cidade pequena como Forks, era capaz de eles terem ouvido a batida. Ouvi um suspiro atrás de mim, enquanto eu admirava a “paisagem” da batida.

                -Me desculpe. Eu não devia ter deixado você sozinha no carro. –Cabeça-de-miojo sussurrou.

                Eu balancei a cabeça. Peguei o bloquinho que tinha sobrevivido do chão e tirei a caneta do espiral para escrever.

                Não, não foi culpa sua. Escrevi, mas querendo dizer que SIM, tinha sido culpa dele. Quem mandou entrar no caminho? Revirei os olhos para mim mesma e continuei a escrever. E, quanto aos cadernos, deixa que eu passo a limpo.

                Ele leu franzindo o cenho, e voltou o olhar para mim.

                -Tem certeza que você está mesmo bem? –perguntou. Ele me pareceu bastante preocupado, mesmo depois de tudo que eu fiz para ele.

                Assenti com a cabeça e lhe dei as costas. Catei apressadamente o que restara dos cadernos dele e saí pisando forte para a calçada, me controlando para não deixar aquelas lágrimas incômodas rolarem pelo meu rosto.

                Porque, mesmo que eu acreditasse que eu já tinha chorado toda a água do meu corpo, eu sabia que tinha acabado de perder a única memória que tinha da minha família. Mas me esforçava para não pensar nisso, pois isso me fazia lembrar coisas que eu queria muito esquecer.

                Como o sorriso torto do meu irmão.

                Ou as tardes de compras com Reneesme e todos aqueles caras babando nela e em mim.

                E, principalmente, dos beijos de Emmett.

                Fechei os olhos com muita força e, mesmo sem enxergar nada, continuei meu caminho, tomando o cuidado de manter as mãos erguidas na minha frente, para não acabar trombando num poste e destruir mais o meu dia.

                Foi assim o caminho inteiro para a minha nova casa. Toda vez que eu lembrava dessas três coisas que eu queria esquecer, eu tinha que me apoiar na parede de uma casa qualquer e piscar com força, até me recuperar.

                Só não entendia porque a visão do meu pai e da minha mãe mortos não me fazia ficar tão fraca. Depois de pensar sobre isso durante todo o caminho –bom, quase todo o caminho, já que uma boa parte deste eu ficava me lembrando das “Três Coisas das Quais não Quero me Lembrar”-, eu cheguei a conclusão que Edward e Reneesme faziam mais parte da minha vida que meus pais. Apesar disso, era mesmo uma ideia assustadora.

                Quer dizer, com tudo isso, eu podia até ser uma emancipada.

                Afastei a ideia. Com os meus tios, eu nunca conseguiria isso. Eles eram perfeitos tutores adotivos quando havia gente mais importante, e, quando éramos só nós... Sem comparação.

                Quando eu ia recomeçar a discussão na minha cabeça sobre o fato de eu estranhar ter ficado com os meus tios avarentos, eu cheguei à casa deles. Mas, naquele momento, eu não estava ligando para a grama mal-cortada que me fariam arrumar, ou o amarelo horroroso da cor da casa. Eu estava olhando para o outro lado da rua, duas casas para a direita da que ficava em frente à casa dos meus tios.

                Era o Forks Supermarket.

                Bom, esse fato não me assustaria tanto, eu só diria –ou escreveria- “Que logotipo horroroso!”. Mas o fato que realmente me assustava era a casa que ficava duas casas para a direita do mercado.

                Era a casa dos Hale.

                                                                                                ***

                Depois de ficar provavelmente quase a tarde inteira absorvendo que “o inimigo mora ao lado”, ouvi uma voz grasnar atrás de mim.

                -Alice! Ah, Deus. Que menina desajustada. Entre logo, temos que conversar, mocinha! –era minha tia Renée. Eu cerrei os punhos, mordendo a língua para não mostrá-la à ela.

                Eu andei arrastando os pés no chão, segurando firmemente os cadernos estraçalhados de Cabeça-de-Miojo. Se assim era apenas o começo, eu não queria saber como seria depois.

                Quando entrei na casa, eu quase deixei meu queixo cair.

                Estava virada de ponta cabeça.

                A mesa da cozinha acumulava muitas embalagens de fast-food, e não havia mais espaço para os pratos na pia. Uma sombra passou entre alguns pratos e eu decidi que não queria investigar o que era. As despensas tinham suas portas abertas, e mostravam mais e mais pratos e embalagens, além de algumas garrafas de vinho quebradas.

                Havia uma manta esparramada no sofá bege –que eu acreditava que, na época que era limpo, era branco- e uma almofada enfiada numa fronha branca. O chão de madeira riscado estava parcialmente coberto por um carpete imundo, cheio de manchas vermelhas e amarelas.

                Apenas a sala de jantar estava em um estado decente, e era por isso que eu imaginava que os advogados e todos os outros tinham sidos recebidos ali.

                E eu tinha medo de subir as escadas e ver se no segundo andar as coisas estavam piores ainda.

                -O que você está esperando? A morte da bezerra? Pode começar aí com a cozinha. –resmungou, subindo as escadas. De repente, ela parou e voltou a cabeça para mim. –Ah, e você vai dormir aí no sofá mesmo.

                Eu segurei os cadernos com tanta força que eles quase ficaram mais estragados do que já estavam.

                Depois de colocar os cadernos de Cabeça-de-Miojo debaixo do sofá –porque, estranhamente, eu me sentia em débito com ele sobre isso, então tinha medo que alguém os estragasse mais-, procurei pela mala que tinha todas as minhas roupas –e as antigas de Nessie. O que me fez lembrar que eu não tinha perdido tudo. Ainda. – e apanhei um jeans boyfriend e uma camiseta verde. Era um conjunto das roupas de Nessie que, antigamente, me fazia pensar que ela era louca.

                Ou talvez fossem apenas roupas que ela trocou com Jacob.

                Apanhei uma calcinha e uma toalha qualquer e subi as escadas, à procura de um banheiro –que eu esperava que fosse pelo menos decente-. Tá certo, era um cubículo minúsculo que tinha um box com 1,5m² e uma privada. Só.

                E eu me perguntava como eles lavavam as mãos. Cada teoria era uma pior que a outra.

                Coloquei a roupa e a tolha sobre a tampa da privada e tranquei a porta. Como a água estava levando séculos para esquentar, eu fiquei me olhando no reflexo do espelhinho que havia grudado na parede.

                Havia uma marca avermelhada curvilínea que descia debaixo do meu olho esquerdo até o canto do meu lábio superior. Passei o indicador levemente sobre a cicatriz, sentindo o formato dela. Eu retirei rapidamente quando começou a arder.

                Do outro lado do meu rosto, havia uma linha reta quase branca que passava bem debaixo do meu olho direito na horizontal. Uma cicatriz rosa claro contornava o lado direito do meu nariz perfeitamente, como se fosse moldado para ele.

                Então, eu puxei uma mecha de cabelo e pus atrás da minha orelha direita.

                E apareceu a pior de todas.

                A cicatriz tinha um tom arroxeado, e tinha um formato de espiral, conectando linhas circulares de outras cicatrizes quase imperceptíveis. Marcava o início da orelha e, sem dúvida, era o que me tornava um monstro mais e mais terrível.

                Enxuguei as lágrimas que escorreram repentinamente e me enfiei no chuveiro, sem me preocupar se a água estava gelada ou não.

                                                                                                ***

                Quando eu desci as escadas para começar a arrumar a cozinha, eu tive vontade de fugir.

                Quer dizer, com as lágrimas secas e a cabeça clareada pela água fria, parecia tudo muito pior.

                Mesmo assim, eu terminei de descer os últimos degraus e fui pegando as embalagens de fast-food, ao mesmo tempo que esquadrinhava a cozinha com os olhos, em busca de um saco plástico.

                Depois de apinhar todas as embalagens em cima do balcão, inclusive as que estavam nas despensas, peguei os sacos de papel do McDonald’s e fui jogando, um por um e, pelas minhas contas, deu mais de trinta embalagens.

                Eu arqueei as duas sobrancelhas, falando mentalmente comigo mesma. Se tia Renée é tão magra, como será que meu tio está...? Já que, desde a última vez que eu o vira, eu tinha dois anos.

                Deixei os sacos ao lado da caixa de correio e voltei para dentro da casa, para a tarefa mais difícil: a pia.

                Eu não conseguia imaginar como eles tinham tantos pratos e nenhuma pia no banheiro. Dei de ombros e comecei a apanhar todos os que estavam largados pela cozinha, e fui apinhando no balcão, até formar duas pilhas do tamanho das torres gêmeas.

                Ao lado, eu coloquei todos os copos, xícaras e talheres. Suspirando, peguei um fragmento de esponja e passei o detergente –de uma marca da qual nunca ouvi falar- nela.

                A verdade era que eu não sabia como fazer isso. Eu nunca tinha lavado pratos na minha vida, mas eu tinha certeza que seria agora que eu iria aprender.

                Passei a esponja várias vezes em todos os talheres, até meus dedos ficarem doendo. Abri a torneira e agradeci a Deus por não ter colocado a mão debaixo da torneira direto: Eu acabara de descobrir que aquela sombra era uma barata.

                Depois de caírem três baratas, eu gritei –bom, eu não gritei. Eu tentei gritar- e me escondi atrás da porta, até ter certeza que não havia mais baratas lá. Voltei cautelosamente e, quando começou a cair água do buraco da torneira, eu me convenci de que eu teria que enxaguar os talheres de qualquer jeito.

                Certo, pensei. Com ou sem baratas, eu não vou deixar meus tios ganharem essa.

                                                                                                ***

                Não sabia quanto tempo tinha passado, só sabia que meus dedos e mãos doíam como nunca enquanto eu guardava os pratos limpos nas prateleiras. Os meus calcanhares estavam coçando, e eu tive a impressão de que era por causa do detergente.

                Quando eu fechei a última despensa que eu guardara os pratos, desabei no linóleo frio da cozinha.

                Meu corpo protestava, meus ombros doíam. Eu ainda tinha metade da cozinha para limpar, mas eu teria que deixá-lo para amanhã.

                E, às vezes, é difícil entender por que eu não gosto tanto dos meus tios. Mas a verdade é que eu sei como eles sabem atuar, sei que, se reclamar para um advogado, eles vão atuar os pobres pais coitados, e os advogados vão cair. Se eu não fazer o que eles mandam, vão me bater. Vão me deixar sem comida. Então, eu teria de contar aos advogados, e começaria tudo de novo.

                Eu me ergui, com muito esforço, do chão. Caminhei pesadamente até o sofá e caí sobre ele e a manta. Não tive tempo de pensar “sono” sequer depois do instante que fechei os olhos.

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Vick_Vampire


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Notas finais do capítulo

E aí? Mereço reviews?
Queria agradecer de coração à TODOS que mandaram reviews E recomendações. Vocês são MUITO BONITOS!
E você, que está lendo e vai subir a pagininha agora mesmo, e não mandar review, a xuxa vai puxar seu pé de noite! -Ou eu vou deixar de dar uma palavra-chave sobre uma coisa que vai acontecer na fic....E É VERDADE! NÃO É PROPAGANDA POLÍTICA NAO!
hehe
Beijos para todos!
Vickie