Maka estava indo para casa. Depois de tudo que havia acontecido, a artesã precisava de umas boas horas de sono. Ficaria mais tempo ao lado de Chrona, mas Stein precisou levar o jovem pra algum lugar, alegando ser um assunto de extrema urgência. Ao entrar em casa, Maka estranhou. Alguns objetos estavam no chão. Quando ela se abaixou para pegar um livro, ela ouviu um grito rouco vindo do quarto de Soul. Preocupada com seu parceiro, a artesã caminhou rapidamente até o quarto da arma de olhos rubros.


- Soul! Está tudo bem? - Ela disse em voz alta para que ele pudesse ouvi-la. Do outro lado da porta, Soul arregalou os olhos, parando de rasgar o próprio travesseiro. Ele mordeu os lábios. Uma parte de si queria abrir a porta e atacá-la verbalmente. Mas a outra parte sentia-se triste ao ouvir a voz da artesã. O que ele queria fazer? Qual lado deveria seguir?

- Está... está tudo bem. - Ele respondeu, tentando deixar sua voz num tom controlado. Decidiu fingir que estava tudo certo. Olhou em volta por alguns segundos. Seu quarto estava uma bagunça, não poderia deixar que Maka entrasse de jeito nenhum.

- Mas você gritou... - Quando a artesã colocou sua mão sobre a maçaneta da porta, a mesma girou-se sem que ela houvesse feito algum movimento. Era Soul. Ele abriu um pouco a porta, deixando um espaço suficiente para que a artesã pudesse ver o rosto do parceiro pela metade.

- Quem deveria perguntar se está tudo bem sou eu. - A arma comentou, encarando Maka. Os olhos rubros estavam tão penetrantes que os olhos esmeralda não tiveram coragem de fitá-los.

- C-Comigo? Claro que está. Por que não estaria? - Maka fechou suas mãos, aparentando o nervosismo que pulsava em suas veias. Soul desviou o olhar da parceira. Ela não confiava nele? Ou ele não era bom o suficiente para ajudá-la, como Chrona? Por um breve momento, pensou que a insanidade voltaria a atormentá-lo. Mas manteu-se firme.

- Nada. Acho que o Chrona já foi capaz de te consolar. - Maka arregalou os olhos, imaginando se Soul havia visto a cena próxima à floresta. - É muito maneiro, sabe? Você confia mais em alguém que você conheceu há pouco tempo do que uma pessoa que mora sob o mesmo teto que você há anos. - Ele finalmente disse o que lhe passava pela mente, num tom irônico.

- Olha quem está falando em confiança, não seja hipócrita. Pelo menos o Chrona não me faz chor... - A artesã levou ambas as mãos até os lábios, evitando que a frase se completasse. Mesmo assim, Soul havia entendido perfeitamente. As palavras da garota simplesmente haviam saído de sua boca, num momento de desabafo. Os olhos rubros a fitaram, perplexos. Cada frase havia acertado em cheio o coração de Soul. Ele era a causa desse problema?

- M-Maka... - Ele abriu a porta completamente, ignorando o que havia feito em seu quarto. Diminuiu a distância entre ele e a parceira, dando um passo a frente. Em seguida, tentou tocar o ombro de Maka com uma das mãos, mas ela se afastou, impedindo o toque.

- Eu... preciso ficar um pouco sozinha. - Maka se virou, antes que Soul respondesse alguma coisa, e correu o mais rápido que pode.


Correndo de forma desajeitada e sem olhar para onde ia, Maka esbarrou de frente com alguém a poucos metros da entrada de casa. Seu rosto afundou em duas esferas extremamente macias, e pelo acidente inesperado, o corpo fino de Maka se desequilibrou e foi de encontro ao chão. Com os joelhos levemente arranhados, Maka abaixou a cabeça, enquanto sussurrava um pedido de desculpas. A cena não teria danos maiores se a outra pessoa não fosse justamente a única no planeta que a artesã não queria ver naquele momento.


- Meow... olha por onde anda, Maka-chan. - Os seios de Blair balançavam, enquanto a gata se inclinava, estendendo a mão (ou seria pata?) para a artesã se levantar. Ela ignorou o gesto de Blair e se levantou por conta própria, encarando a ''rival''. Blair sorria maliciosamente, embora parecesse inocente, como era de seu costume. - Ah, vejo que acabou de sair de casa... o Soul está? - O rosto da artesã se fechou. Como se não bastasse, Soul havia ido atrás dela. Ele precisava ouvir alguma explicação dos lábios da loira.

- Maka! - Ao se aproximar, porém, os olhos da arma voltaram-se para a gata vestida de forma provocante. A artesã não percebeu, pois estava de costas para ele, mas a expressão facial de Soul ao ver Blair não demonstrava nem um pouco de alegria. Demonstrava raiva. Uma expressão semelhante à da parceira.

- Meow, Soul-kun!~ - Blair sussurrou com a voz arrastada, enquanto saltava na direção de Soul. Maka aproveitou esse momento para escapar, ela realmente não queria ver mais uma cena deles juntos. Já bastava a cena que não saía da sua memória.

- Blair, eu já disse pra você parar de me perseguir! - Soul evitou o contato com a felina, se desviando do abraço que ela iria lhe dar. Não conseguiu alcançar Maka, mas pelo menos havia visto a direção para onde ela estava correndo.

- Soul-kun, não seja tão chato. - Blair fez uma expressão contrariada e, para provocar Soul e se divertir, puxou rapidamente o rosto dele e colocou-o entre seus seios. A arma se surpreendeu com a atitude da felina (embora já pudesse prever essas ações), e embora não quisesse, algumas gotas de sangue começaram a sair do seu nariz.

- Hey, se vão fazer algo, pelo menos não façam no meio da rua. - O rapaz de olhos dourados, vestindo um terno impecavelmente alinhado, se aproximou da dupla. Ao seu lado, Patty Thompson ria alegremente.

- Soul está sangrando! - A loira exclamava entre risos. Soul se afastou da felina extremamente irritado, passando as costas da mão direita pelo nariz, para limpá-lo.

- Eu não fiz nada, foi ela quem colocou minha cara nos... nos... - Soul olhou de canto para os seios de Blair, um tanto sem graça. Death the Kid revirou os olhos, como se já houvesse escutado aquela tentativa explicação um milhão de vezes.

- Sei... Pois bem, eu vim aqui falar com você, Soul. É sobre a Maka. - A arma provavelmente não teria dado muita atenção se o shinigami não tivesse especificado o assunto. Conversaria com o amigo naquele exato momento, mas alguém que ronronava ao seu lado o impedia. Kid, percebendo o incômodo de Soul, sussurrou algo no ouvido de Patty, sendo prontamente atendido.

- Sim, capitão! - A pequena fez um biquinho, enquanto se dirigia até a felina. - Gatos gostam de sorvete? - Os lábios marotos de Blair formaram um grande sorriso, acompanhados de um brilho nos olhos.

- Meow... claro que sim. Por que? Você vai pagar um pra mim? - As orelhas da felina começaram a se mexer.

- Um só não! Cinco! Vamos tomar sorvete a tarde inteira! - Patty riu, para a total alegria de Blair. Ela transformou-se em gato, pulando nos braços da loira em seguida. - La La La, chocolate, flocos e morango! - A pequena arma foi andando até a sorveteria aos pulos, carregando a gata alegremente. Soul suspirou, mais aliviado. Seu olhar voltou-se para Kid. O shinigami estava sério, encarando os olhos rubros sem receio algum. Pelo visto, sua relação com a artesã estava por um fio. Kid, apesar de suas excentricidades, era racional. Talvez fosse bom ter uma conversa com ele, já que o próprio veio ao seu encontro.