Sim, já estávamos no meio do ano, muita coisa já tinha acontecido até então. Sempre andávamos juntos: eu, Bob, Ray, Gerard, Mikey e Frank. Éramos um grupo inseparável, e o fato de ter só eu de mulher nele não me incomodava de nenhuma forma, fazia sim certa falta uma outra garota pra conversar, pra ser uma amiga em quem eu pudesse confiar, mas os meus amigos conseguiam preencher qualquer vazio que eu pudesse sentir.

Era uma tarde ensolarada, combinamos de sair pro parque mais próximo do bairro, onde tinha uma praça e diversas alamedas, era um lugar amplo e aconchegante, lugar para conversar, caminhar, bagunçar...

- Namorar! É isso ai – gritou Bob em uma euforia esplendida, fazendo-me voltar ao assunto pelo qual fiquei desligada uns minutos, observando o lugar.

- Vai pra porra Bob, não me enche o saco, agora nem um comentário a gente pode fazer por aqui – disse Frank bastante irritado com Bob, não estava entendendo nada do que estavam falando, até que me pronunciei.

- Pera aê! Não to entendendo nada! – gesticulei querendo um minuto de atenção – o que é que tá rolando aqui hein, posso saber?

- DEVE saber! Pra perturbar o Frankito até ele dizer basta! – Ray parecia bastante empolgado também.

- O Frank tava falando que tava se sentindo sozinho, sem ânimo pra nada, e coisa e tal, todo desanimado aê... mó fossa! – Mikey dizia e ao mesmo tempo ria muito do pobre Frank, ele era sempre motivo de zoação entre os garotos, digamos que eu era a única que não pegava tão pesado assim, eu não conseguia fazer aquilo com ele, Frank era uma pessoa muito boa... E boba também.

- É! A gente deu a magnífica idéia dele arranjar uma namorada, namorar seria a melhor solução pra ele, creio eu, mas – Gerard olhou para Frank que estava ao seu lado e disse – como eu sei que ele me ama muito, não gostou muito da idéia, né Frank boneca? – envolveu seu braço esquerdo no pescoço do Frank dando um leve beijo em sua face, o que fez Frank se irritar e revidar.

- PAROU! Já chega né? Vocês não se cansam não? – levantou num impulso e nos encarou – mas que merda! – seguiu adiante como se estivesse partindo.

- Não! – o “não” saiu da minha boca automaticamente, me espantei – fica Frank, era só brincadeira dos meninos – olhei para todos e procurei me acalmar – não é meninos?

-É! – disseram em coro, chateados, afinal adoravam provocar o Frank.

- Parecem mais pirralhos de cinco anos, eu hein... – disse me sentando no banco e apoiando meus cotovelos nos joelhos e minhas mãos no rosto.

- Concordo com a Vicky, sempre é ela que tem que impor moral nessa bagunça, parecendo mais nossas mães – disse Bob sentando ao meu lado e ficando na mesma posição que eu estava.

- Não se faz de vítima Bob! E agradeçam ao papai do céu criancinhas indefesas

que vocês tem a mamãe aqui pra impor ordem – falei ironicamente.

- Muito bem – disse Mikey batendo palmas, apenas sorri de volta e observei Frank que continuara calado até então.

O pôr-do-sol já surgia e o crepúsculo que se destacava nas cores lilás e laranja clareava os rostos de cada um dos meus amigos, mas apenas um me fazia estremecer por dentro, pensar nele a todo o momento, sim era o Frank, só ele conseguia fazer com que meus sentimentos se rebatessem, e eu sofria com isso.

- Por quê?! – a voz de Gerard quebrava o silêncio em qualquer hora – eu não te entendo cara! – falava em tom alto se levantando em direção ao Frank. Agora era eu que não estava entendendo mais nada.

- O que há Gerard? – recuava Frank estranhando a atitude do amigo.

- Eu é que te pergunto! Não se faz de santo comigo... sei muito bem que não é nenhum bomzinho como pensam que é – Gerard me lançou um olhar furioso e marejado. Arregalei os olhos e engoli em seco “o que eu fiz?” Era a única coisa que me vinha em mente.

- Gee! Pára com isso – Mikey tentava acalmar o irmão que puxara a blusa de Frank pela gola e o levantara na altura de seu rosto.

- Me solta Mikey! Você não tem razões para se intrometer na conversa, o único que tem razões aqui sou eu! EU! SERÁ QUE NÃO ENTENDEM? – gritava desesperadamente, nunca o tinha visto daquela maneira, me arrepiei.

- Se você nos explicasse o que tá rolando a gente poderia até tentar entender né Gerard? Pára de ser infantil...

– Ray parou de falar até sentir o punho de Gerard estalar em sua boca que, em um choque de ação e reação, começou a sangrar. Foi socorrido pelo Bob que estava logo atrás. Enfureci-me e explodi naquele momento.

- PARE! PARE GERARD, AGORA! – gritei. Eu odiava brigas, e o pior, Frank estava envolvido e sofrendo, o que me deixava ainda mais perturbada.

- VOCÊ PENSA QUE É ASSIM? É SÓ PEDIR PRA PARAR QUE A GENTE PÁRA? EU NÃO SOU O FRANK TÁ LEGAL? – Gritava e mantinha-o em suas mãos... Frank mudava de cor, estava com dificuldades para respirar.

- TUDO O QUE VOCÊ PEDE ESSE OTÁRIO TE OBEDECE, MAS EU NÃO SOU ASSIM VICTORIA, AH! NÃO SOU... – abaixou a cabeça e cuspiu no chão – Só queria entender o porquê de ele fazer tudo o que você manda – largou Frank que pôs a mão na garganta e tossiu, ajeitou a camisa e tirou sua franja do rosto. – Você tá bem cara? – disse Bob – Sim, estou. Obrigado Bob.

- Ou seu fruta! Não acabei ainda não – Gerard gostava mesmo de provocar – me responde vai, tá ou não tá afim da Vicky, me diz! – ainda o encarava furioso, passava as mãos entre os cabelos num gesto de nervosismo.

- Olha aqui – revidou Frank – acho que o único fruta que tem por aqui é você, primeiro fica tirando brincadeira comigo, e depois dá uma de valentão – Frank se aproximava cada vez mais de Gerard, como se fosse partir pra briga. Um outro Frank começava a despertar a partir dali.

- Afinal, você ta com ciúmes da Vicky – Frank se aproximou do ouvido de Gerard e sussurrou – ou de mim? – dizendo isso socou o seu estômago.

- Urrgh! – Gerard sentia dores em seu abdome, não agüentou ficar de pé e caiu no chão, Mikey ficou ao seu lado a todo instante mesmo sentindo a repulsa do irmão.

- Por acaso está gostando dela? – Frank falava sério agora, eu só queria sair daquele lugar o mais rápido possível, não havia mais ninguém por ali, a noite exalava sua escuridão por todo o ambiente, ficando perigoso...

- E-e-essa pergun-n-ta é minha, você que tem que me responder! Urgh! – dizia Gerard ainda sentindo muitas dores.

- Gente vamo parar por aqui né? Já ta ficando tarde e vocês sabem o quanto é perigoso esse parque de noite – tentava Ray acalmar a briga e desviar do assunto, não sabia o favor que estaria me fazendo.

- CALA A BOCA! – disseram os dois, Frank e Gerard de uma vez só.

- Já que você insiste tanto eu te respondo – começava Frank, estava ofegante, talvez nunca tivesse se metido em uma briga como aquela antes – Eu...

Todos olhavam para Frank naquele momento, eu já não sabia mais se olhava para ele ou se me escondia atrás das minhas próprias mãos escondendo meu rosto, apavorada. Queria parar com tudo aquilo, mas não tinha forças, desejei que algo ocorresse e impedisse o Frank de dar aquela resposta, afinal, não queria nem imaginar o que pudesse vir depois dela...