- O que a gente vai fazer você pode me explicar?

- A gente vai trocar seu uniforme, ué! Você não sabia que o colégio tem uma sala com um estoque de uniformes para casos como esses?

- Não... Bem, é que eu sou novata por aqui sabe? Não conheço muito bem os... - fui interrompida.

- Ah! Seja bem vinda! – sorriu e pude apreciar novamente aquele sorriso que tanto mexeu comigo, ele de fato tinha um belo sorriso, bem, o que quero dizer é que ele era REALMENTE BONITO! (sim, eu sou prolixa em tudo que falo). Ele tinha os olhos claros, cor de mel, cabelos negros e uma longa franja que caia sobre o seu olho esquerdo, não era muito alto, acho que tinha uns cinco centímetros a mais que eu.

- Aconteceu algo? – voltei à realidade quando escutei a sua voz, me perdi totalmente em meus pensamentos, como de costume.

- Ahn? Ah! Me desculpe, não aconteceu nada não.

- Então vamos, é logo ali – ele apontou em direção a uma porta onde tinha uma placa escrito: “Achados e perdidos”. Chegamos lá e eu fiz cara de que não estava entendendo nada.

- Acho que não é aqui, olha só. – apontei para a placa.

- É aqui sim, conheço essa escola desde o jardim de infância – forçou um outro sorriso e pudemos finalmente entrar na sala. Me troquei, aquela camisa me incomodava um pouco por ser curta demais mas eu não tinha outra opção.

- O sinal toca daqui a pouco, vou indo nessa, valeu pela ajuda.

- Não fiz mais que minha obrigação, sou um desastrado mesmo... Ah, cê sabe o caminho até sua sala?

- Unh... Mais ou menos pra falar a verdade.

- Vem eu te levo. – dizendo isso, me relembrou o caminho até lá.

Passaram as três últimas aulas, voltei pra casa e o almoço já me esperava prontinho na mesa.

- Ahhh! Que fome cara! – corri até a mesa e larguei minha mochila no chão.

- Lava as mãos antes de comer, okay? – disse minha mãe chegando à cozinha e sua velha mania de higiene pessoal.

- Unh, bom “guia” pra “vohê” também mãe – desafiei-a de boca cheia, ela odeia isso.

- Conheceu muita gente? – ignorou meu insulto e sentou-se comigo na mesa.

- Não... Bem, digamos que sim, conheci um garoto em uma circunstância meio esquisita, mas conheci. – tomei um gole do gelado suco de laranja.

- Sério? E como ele é? Conta vai! – esse era um dos objetivos de vida da senhora Linda Kemper: “desencalhar” sua única e solteira filha.

- Calma mãe! Não aconteceu nada do que você tá pensando. Ah... É um garoto qualquer ai, bem desatento por sinal, derramou Coca-Cola na minha roupa. – deixei escapar um leve sorriso.

- Hahaha! Por isso que você tá com essa camisa ai hem? Notei logo... – ela parecia sorrir mais que eu.

- È – continuei, ignorando seu comentário – ele me levou até uma sala e...

- Te beijou? Wow! – minha mãe adora prever as coisas, mas, infelizmente, digo, como sempre, ela estava errada.

- NÃO MÃE! Pára com isso, mas que droga! Era uma sala de achados e perdidos, tinha uma senhora lá e ela me deu essa blusa, que provavelmente alguém perdeu. Devolverei amanhã.

- Hum... deveria usar umas camisas como essas, caem bem em você.

Terminei de almoçar e subi pro meu quarto. O outro dia já estava começando, a mesma rotina de sempre iria se repetir. Cheguei à escola e, não sei por que motivo tive vontade de encontrá-lo novamente. Ainda tinha o ano todo para vê-lo, nem que fosse em alguma situação constrangedora como aquela eu ainda o veria, eu sou uma idiota mesmo.

Em meio à aula de Literatura, umas das melhores aulas, alguém consegue me desconcentrar.

- Ei você ai! Me conta uma coisa... – me virei pra ver quem seria o alguém. Era Katherine, Katherine Scholes, sentava-se logo atrás de mim, era tida como a popular do colégio. Patricinha irritante, a falsidade em pessoa, segundo alguns, coberta por uma “máscara” rosa.

- Por que você consegue ser tão irritante? – continuou ela tentando me irritar, não conseguiu.

- Aaam... seria porque você consegue ser tão inconveniente? – ela se espantou com a minha resposta. Max que se sentava ao meu lado deu uma risada como se estivesse gostando da discussão – Acho que você é a próxima vítima da Katherine, cuidado! – disse ele para mim rindo mais ainda, acho que eu estava começando a entender a situação.

- Saiam de sala! – exclamou a professora, nervosa o bastante para nos mandar para a diretoria.

Segui na frente e fui procurando no corredor uma sala onde estivesse escrito: “Diretoria”.

- Hey! Volta aqui imbecil!

- Imbecil é a m... – não, xingar a mãe já é sacanagem, mas bem que ela merece – MÃE E A FAMÍLIA INTEIRA TÁ LEGAL? – não me contive, às vezes perco mesmo a paciência.

- Nossa... agora fiquei profundamente magoada minha querida! – a ignorei e encontrei a sala do diretor Richard, ele sabia como a Katherine era, sabia também que ela não iria me deixar em paz, pra não ter confusão era melhor que eu trocasse de sala logo no início do ano, mas, se o problema era com ela, por que eu teria que mudar de sala? Não importa, tanto faz para mim. Sairia da classe “B” para a classe “F”.

Intervalo. Segundo dia a vagar pela escola sozinha, agora sim desfrutava do meu delicioso milkshake ovomaltine. Ah! Era tão bom escutar o barulhinho do canudo sugando aquilo tudo (wow! Isso não soou muito bem!), mas enfim, deu pra perceber que eu adoro milkshake.

- Acho que não seria legal derramar milkshake na roupa de alguém, não acha? - Levei um susto com a voz que se aproximou do meu ouvido e com a mão que tocou meu ombro. Suei frio.

Capítulo 2 - FIM