Sonhadora escrita por AnnaHeimer


Capítulo 8
Capítulo 8




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Olhei para onde ele apontava e levei um susto. Minha sombra. Estava mais clara que antes e em alguns pontos ela nem aparecia mais.

– Vocês se transformam antes e mais rápido. Isso é incrível. – falou ele

– Não é não. É ruim.

Mas eu não teria como escapar. Aquilo era o meu presente e o meu futuro. Estaria preso em mim pra sempre. Lágrimas involuntárias começaram a cair e deixaram Gustav sem saber o que fazer.

– Você vai se acostumar. Vem comigo. Vou fazer você aprender as regras. – pediu ele, puxando delicadamente meu braço, em direção ao meu quarto.

Concordei e andamos lentamente.

– Sente-se aí – apontou para minha cama.

Sentei lentamente e esperei. Ele pensou um pouco e respirou fundo.

– Certo. A primeira coisa que você tem que saber é que para você se dar bem é não ter pena das pessoas. Você tem que dar medo nelas e se convencer de que você vive apenas disso.

Assenti de olhos fechados.

– Nunca revele sua identidade.

Tornei a assentir. Não queria que minhas amigas soubessem que agora era eu quem fazia os pesadelos delas. Ele ficou em silêncio. Abri os olhos e acompanhei-o sentar-se ao meu lado.

– Era só isso? Não tenho que abandonar a cidade e etc.? – perguntei, irritada.

Aquela maldita história que eu teria que deixar a cidade pra sempre rondava minha cabeça e me deixava preocupada. Nunca havia pensando em deixar tudo o que eu havia vivido, pra trás. Isso era como uma faca no meu coração.

– Estava chegando nessa parte, agora. – falou ele

– Vamos partir no final de semana, então preciso que você invente alguma história para se livrar de sua tia a de seu irmão. – continuou ele e franziu a testa quando mencionou a palavra irmão.

Esse final de semana? Era o aniversário de Tiffany. Ela ficaria tão ofendida e chateada se eu não fosse na sua super festa. O que eu inventaria? Eu mentiria? Mas eu também não queria que elas desconfiassem e vissem que eu não era mais totalmente humana. Aquilo estava ficando estranho. Minha barriga berrava pra mim, chamando minha atenção. Como eu iria me alimentar do ‘medo das pessoas’?

– Não podemos adiar para domingo ou segunda? – perguntei, nervosa.

– Não podemos. O certo seria partir hoje à tardezinha. Mas vamos dar um tempo a mais a você. – falou ele juntando algumas roupas minhas do armário e colocou em uma grande mala.

– Não quero ir. – falei, com medo.

Mas eu também não conseguia esconder que eu estava louca para conhecer as pessoas de lá. Como elas eram? Bonitas? Andavam de preto, como góticos e emos? Eu não queria me vestir de preto e vestir capas pesadas. Coturnos com percevejos e camisetas com frases esquisitas. Nunca usaria isso. Era nojento. Ou será que eles eram coloridos, alegres, fofoqueiros, e tudo mais? Eu me encaixaria nesse grupo? E como deveria ser o local onde eles habitavam? Escuro, das trevas, com morcegos e teias de aranhas espalhadas por tudo quanto é lugar? Imaginar tudo isso me fez ter ânsia de vômito. Ou viveriam em cabanas com animais fofos, borboletas, cafés da tarde e campos floridos? Gustav me tirou de meus devaneios e fez com que eu acordasse para a realidade.

– Você vai gostar das pessoas de lá. Tenho uma amiga para te apresentar. – falou ele.

Eu imaginei uma menina loira, patricinha digamos assim, que era engraçada e me fazia esquecer de tudo aquilo, como se tudo fosse só um pesadelo.

– Se vista. Tem que ir à escola hoje. – falou. – Ou quer ficar ainda mais presa? - perguntou ele.

– Tenho mesmo que ir? – fiz careta.



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