- Porque não?

- Você estava certo antes. Eu tenho 17 anos e você tem 34. Não está nada certo eu me relacionar com um garoto que tem a idade de ser meu pai. – falei

- Mas ninguém sabe disso! Podemos mentir. Se nos amamos, podemos correr esse risco. – disse

Olhei para o garoto.

- Você me ama?

Ele não precisou responder apenas se aproximou de meu rosto para tocar de leve seus lábios nos meus, mas virei o rosto. Era muito cedo para me apaixonar.

- Desculpa. - abracei-o e ele me segurou num abraço apertado.

Seus braços me envolviam de um jeito aconchegante. Ele olhou para a cama vazia. Deitei-me e esperei o sono chegar. Quando consegui dormir finalmente antes de ficar pensando em Gustav, outro sonho tomou minha atenção.

Sonhei que, novamente, fui procurar por minhas amigas e encontrei-as no colégio. Fui conversar com elas e elas me xingaram. Eu as ofendi e elas, tristes, foram embora. Quando voltava para casa encontrei o mesmo homem do departamento e o segui.

Acordei com o susto. Gustav estava deitado ao meu lado, na minha cama grande de casal e me olhava dormir.

- Outro sonho?

- Sim. – estremeci. – Mas desta vez eu não consegui ver tudo. Será que se eu voltar a dormir consigo ver mais coisa?

- Não custa tentar. – ele falou e acariciou meu rosto quando eu fechei os olhos e dormi.

Vi o caminho escuro, mas não identifiquei onde eu estava. Cheguei numa casa velha e perdida e algo se mexeu. Acordei.

- Então? – perguntou ele

- Não consegui ver mais muita coisa. Só borrões.

Ele concordou e olhou-me com um sorriso.

- Que horas são? – perguntei

- Uma.

- Uma da manhã?

- Não. Uma da tarde. – corrigiu-me ele.

- Meu Deus! – ofeguei

- Você dormiu bastante hoje. Estava estressada demais. Agitada.

- Não quero que esse sonho se torne realidade. – gemi

- Porque não?

- Quero que fique comigo o dia todo hoje. – falei, ignorando sua pergunta.

Ele assentiu e acariciou minhas bochechas. Eu sorri a ele. Eu ainda não conseguia pensar que eu estava tendo um relacionamento com um garoto de 34 anos. Isso não parecia real. Algo me dizia que tudo parecia normal para mim. Mas não estava normal. Eu era um Espírito e tinha que me alimentar do medo das pessoas. Minha barriga roncou.

- Acho que vou comer. – falei e levantei da cama

Ele continuou deitado. Dei de ombros e fui até a cozinha para comer uma pêra deliciosa. Na primeira mordida percebi que ela estava estragada. Droga. Tão bonita. Coloquei-a no lixo e me servi de uma maçã.

- Porcaria. – murmurei quando mordi a maçã que estava com um gosto ruim também.

Será que eu já estava começando a minha transformação e agora precisava me alimentar só do medo das pessoas? Soltei um berro enorme. Esqueci que estava em casa e logo apareceram meu irmão e minha tia.

- O que houve? – perguntou ele

- Nada. Desculpe.

Depois que os dois foram embora, Gustav então veio até mim e me olhou profundamente nos olhos, procurando algo.

- Sua transformação já está acontecendo. – admirou-se ele.

- Quê?!

- Ela era para acontecer a partir da semana que vem. Talvez porque você é especial. Não são todos que se transformam na mesma semana que são escolhidos. – explicou ele.

Fiz uma enorme careta.

- O que você sente? – perguntou colocando sua mão em minha testa.

- Fome.

- Não. No gosto da comida.

- Gosto ruim. Estragado.

- Hum... – pensou – Você está na metade da fase. – falou ele e me arrastou para a janela.

- Que foi?

- Olhe!