Sonhadora escrita por AnnaHeimer


Capítulo 4
Capítulo 4




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Ele se colocou em frente ao espelho e eu gritei.

- Você não tem nem reflexo!

Coloquei-me ao seu lado e olhei meu reflexo. No espelho mostrava uma garota solitária. Não havia nada ao seu lado. Gustav me olhou.

- Entende agora porque você tem que se mudar?

Congelei.

- Mas quando vou embora? Tenho que avisar minha família e minhas amigas

- O quanto antes melhor. Sua sombra estará sumindo aos poucos junto com seus reflexos e isso não será nada bom para as pessoas que a verem.

Joguei-me na cama. Minha barriga roncou. Não me lembrava de ter almoçado naquela tarde.

- Vocês comem? – perguntei, curiosa.

- Não é necessário. Nos alimentamos do medo das pessoas. – explicou.

Não falei nada. Eu seria capaz de aguentar isso por um dia? Minhas amigas. O que elas fariam?  Pulei da cama, bocejando.

- Nossa. Preciso dormir e comer. – falei a ele. – Fique aqui.

Andei em direção a porta e saí do meu quarto. Respirei o cheiro delicioso da comida da minha tia. Fui até a cozinha e fiquei feliz em estar novamente com pessoas normais e sem problemas enormes para enfrentar. Por um tempo, esqueci do garoto, meu mensageiro, desconhecido que me aguardava com mais novidades. Sentei-me na mesa e esfreguei os olhos. Estava cansada. Minha tia serviu a panqueca com ovo frito e comeu em silêncio. Meu irmão idiota convidou a nova namorada piriguete para jantar conosco e conhecer a família.

-... E essa é minha irmã, Jenny. – falou ele e apontou pra mim.

- Oi, Jenny! – falou ela com uma voz aguda e irritante, de pura falsidade.

Quase tive vontade de me esconder embaixo da mesa, e não ter que falar com eles. Levantei as sobrancelhas sem um pingo de bom-humor. Ela deu um sorriso amarelo e percebeu que eu não tinha gostado dela. Só para me provocar ela deu um beijo meloso no meu irmão e quase me fez vomitar a panqueca que estava mastigando. Comi rápido, sem olhar nem falar com eles e corri para o meu quarto, quando terminei. Lá estava me esperando algo que eu não queria ver nem pensar.  Algo que eu ainda não acreditava que era real. Abri a porta e Gustav me olhava, sorrindo.

- Então?

- Você pode dormir aqui, hoje? - perguntei.

- Bem, não sei se será uma ideia muito boa, mas posso ficar sentado aqui até você dormir. – disse ele puxando meu sofá e sentando perto da janela.

Fechei a janela e a cortina. Deitei-me na cama e esperei Gustav dizer algo.

- Quantos anos você tem? – perguntei de repente.

- Fisicamente ou aparentemente?

- Bem... Pode dizer-me os dois. – falei, confusa.

- Pareço ter 16 anos, mas na verdade eu tenho mais de trinta anos. – ele riu com a minha cara de pavor.

- Meu Deus! Quer dizer que eu vou viver pra sempre com 17?

Ele assentiu.

- Porque não aceitou ficar aqui até amanhã? - perguntei.

- Pois quando você acordar amanhã, talvez você leve um susto muito grande e, queira tentar se matar ou me matar. – falou. – Não se preocupe. Isso já aconteceu comigo. Eu sei como é e não quero isso pra você também.

- Credo. – murmurei – Mas volte pra me ver. - pedi.

- Sempre estarei a vigiando.

Levantei-me da cama e andei até ele. Puxei-o para abraçá-lo e ele também me abraçou. O abraço, primeiramente foi estranho, mas depois relaxei.

- Obrigado. - sussurrei.

- Pelo que? – perguntou ele me olhando.

- Por cuidar de mim.

Ele sorriu e devolvi o sorriso, indo para a cama.

- Vocês dormem? – perguntei e ele negou.

Fiz cara feia e fechei os olhos. Teria que aproveitar. Talvez aquelas fossem as últimas vezes que eu iria comer ou dormir.

Meu sonho foi esquisito. Sonhei que eu decidi ir à casa das minhas amigas e elas não estavam lá. Então saí em busca delas pela cidade e acabei encontrando Joe. Fui para a casa dele, nós brigamos e terminamos. Voltei para casa, fiquei irritada com o meu irmão e o xinguei. Ele acabou ficando com medo de mim e eu saí rindo, vitoriosa.

Acordei do sonho gritando. Não queria terminar com o meu namorado muito menos brigar com minhas amigas. Mas era preciso. Gustav estava ali, me olhando. Comecei a chorar. Ele levantou-se da cadeira, andou até mim e afagou minha cabeça.

- Por quê? – perguntava entre lágrimas. – Porque me escolheram?

- No fim, você vai gostar. – disse ele. – Temos qualidades também. – falou ele e eu levantei a cabeça para olhá-lo.

Ele se levantou, ligou a luz do quarto e ficou de pé na minha frente. Ele olhou-me e me fitou. Fiquei com medo do seu olhar assustador. Olhei a luz ligada e ela começou a piscar e simplesmente desligou. Olhei-o e ele riu.

- Vou ter que pagar uma lâmpada nova. – murmurou ele, rindo.

- Tenho uma nova na gaveta. Vou pedir para meu irmão colocar amanhã e... – falei, mas me interrompi quando a gaveta da cômoda se abriu sozinha e a lâmpada saiu de lá flutuando.

Ele pegou-a e trocou as lâmpadas. Fiquei assustada e maravilhada ao mesmo tempo.

- Eu vou poder fazer isso também? - perguntei.

- Talvez. Ou poderá controlar as sombras, ou os reflexos... Não sei. Depende do que a nossa Mãe decidir. – resumiu ele.

- Quem é essa Mãe? – perguntei confusa.



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