Sonhadora escrita por AnnaHeimer
Quando o abri, levei um choque. No bilhete estava escrito assim:
“Senhorita Jenny. Estamos enviando-lhe um mensageiro. Você foi uma das escolhidas. Esse garoto te dirá tudo o que você precisa saber. Sinto-lhe informar que você terá que se afastar de seus amigos e familiares. Será mais adequado depois que terminar de ler essa carta. Espero que não faça nada errado. Contamos com você.”
Levei a mão tremula a boca e deixei o papel cair no chão. O garoto me olhou e se levantou para pegar o papel. Eu o olhei. Ele era o meu mensageiro e aquilo estava me assustando. Olhei-o novamente. Fiquei olhando para ele e para o papel umas cinco vezes para ver se aquilo era real. Tentava me convencer que não era um sonho e que eu já estava acordada.
- Quem é você? – perguntei, quando me recuperei do enorme susto. – Como se chama?
- Me chamo Gustav. – falou o garoto. Sua voz estava rouca, mas percebi que por trás de sua rouquidão ela era bonita.
Fiquei um pouco hipnotizada.
- De onde vem? – perguntei.
- Venho da tribo Jhio Nakize.
Tribo de que?
- Espíritos. – falou e eu tentei respirar, mas não consegui.
Aquele garotinho era um espírito? Não. Não podia ser. Ou podia. Sim. Ele era um espírito. Eu achava que estava louca. E estava. E continuava ficando cada vez mais louca. Ele sentou-se novamente na minha cama. Escorreguei para o chão, de joelhos sem conseguir encontrar voz para dizer alguma coisa.
- Você é um espírito. – cuspi as palavras que estavam trancadas na minha garganta.
Ele assentiu novamente. Comecei a chorar. De medo, pena, terror, ódio... Quem podia fazer algo assim? Ele era apenas uma criança. 14 anos talvez? Quem sabe? E o que aquela carta dizia? Que eu fui A escolhida? Isso queria dizer o que? Que eu também era um espírito? Por isso teria que me afastar de meus amigos? Abafei um grito agudo com a mão. Ele veio sentar-se ao meu lado e ficou me olhando, com pena.
- Sabe... Eu fui pior no meu primeiro dia. Tentei me suicidar. Obviamente sobrevivi e me acostumei com a rotina. – disse ele.
- É só isso que tem pra dizer? Vai me reconfortar assim? Agora que descobri que estou presa na eternidade para sempre? - falei.
Logo ouvi a voz da minha tia. Logicamente ela estava irritada, como sempre.
- Sua peste, onde está você? – gritou ela pelo corredor.
Quando ela abriu a porta do meu quarto eu me assustei. Olhei para Gustav e ele sorriu, segurando a carta e depois a guardou no bolso da calça.
- Boa Tarde, tia Holga. A senhora me chamou? – perguntei com um tom de ironia na voz.
- Estava chorando? – perguntou ela.
- Não. Claro que não. Foi só um cisco que entrou no olho. Mas acabei de tirá-lo. Obrigada. – falei, limpando as lágrimas do rosto com as mãos sujas.
- Obrigado por lavar as roupas. – agradeceu ela e eu pisquei algumas vezes.
Não falei nada. Era por isso que meu irmão estava na lavanderia. Ele estava lavando a roupa por mim. Pois eu havia esquecido. Teria que agradecer mais tarde. Tia Holga saiu e me virei para Gustav.
- Isso vai acontecer comigo também? - perguntei
- O que?
- Ficar invisível – expliquei.
- Depois de um tempo... Mas não se preocupe com isso agora.
- E o com o que eu tenho que me preocupar agora?
Ele fez uma pausa.
- Bem... Você terá que se mudar, por algum tempo.
- Que? – perguntei. – O que? Não. De jeito nenhum. Não vou deixar minhas amigas. – parei – O que vai acontecer comigo?
Ele franziu o rosto numa careta.
- Não é uma notícia muito boa? – perguntei a ele e o vi assentir.
Preparei-me para ouvir.
- Elas não vão ficar nada felizes em ter uma amiga que não tem sombras nem reflexos.
Meu queixo caiu. Que? Sem sombras nem reflexos? Mas como? Ele levantou-se e andou até minha janela. Parou no sol da tarde e me olhou. Procurei por algo que eu esperava ver, mas não achei.
- Você não tem sombra – ofeguei
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