Edward Pov

Não percebi o tempo passar e mal me dei conta que já era de manhã. Esperava que Priscila já estivesse mais calma e pudesse obter algumas respostas. Não que eu quisesse encarar Marcella ainda, mas era necessário.

Corri de volta para casa. As luzes ainda estavam acesas. Só pude deduzir que haviam saído para caçar ou algo parecido. Mas tinha alguém na casa, eu podia ouvir. Entrei pela porta dos fundos e pude ouvir duas pessoas conversando na sala.

- Não acredito nisso. - A voz de Priscila chegou até mim e eu tive esperanças de saber o que eram os caídos afinal.

- Mas pelo que você me contou, eles irão nos caçar e não descansarão até conseguir nos dizimar! - Como assim James sabia o que eram aquelas coisas?

- Tenho certeza que eles sabem que há vampiros aqui ou não teriam vindo.

- Mas não temos nenhuma chance contra eles? Afinal, somos um clã grande!

- Você não entende, James! Não podemos matar criaturas celestiais! Morreriamos antes mesmo dos corpos tocarem o chão!

O que diabos eles estavam falando? Fui até a sala e, quando me viram, eles pararam de conversar. Priscila estava nervosa e me olhava com um medo que nunca antes tinha visto em seu rosto. Sempre havia pensado nela como uma pessoa corajosa, apesar de completamente maluca. Nunca imaginei que ela teria medo de alguma coisa.

- Priscila, acho bom você começar a falar o que sabe. Quanto antes soubermos contra o quê estamos lutando, melhor.

Ela olhou para James e voltou a olhar para mim.

- Sente-se, Edward. - Ela disse. - Acho que temos de começar a tomar providências para fugir.

Fugir? Como assim? Não daria um passo em direção aos limites de Forks sem uma boa luta antes. Nada me faria fugir como um cão assustado.

- Como assim fugir? Não vamos fugir, Priscila!

- Eles vão nos matar, Edward!

- Ninguém vai nos matar. Não sem uma boa luta antes!

- Isso não é possível! Antes mesmos de lutarmos eles irão nos destruir!

- Por quê? Afinal, o que diabos são esses caídos?

Fiquei esperando por uma resposta dela que não veio. Priscila estava indecisa e mordia o lábio nervosa. Estreitei os olhos e a observei melhor. Ela nunca ficava nervosa. Aquilo já estava me aborrecendo.

- Anda, me diz o que eles são! - gritei. Todo aquele mistério para contar contra o que deveríamos estar lutando estava ficando sem graça já.

- Caídos são.. bom, eu... não sei bem como dizer...

- Começe pelo começo, Priscila. Tudo isso já está me enchendo o saco!

Priscila começou a andar pela sala. Eu podia ouvir sua respiração alterada e sabia que ela tentava decidir o que podia me contar. Certamente não o que eles haviam feito a ela. Eu, nem ninguém, podería saber de uma fraqueza dela. E isso me preocupava. Algo que conseguia atingi-la era de fato perigoso.

- Bom, se eu vou lhe contar isso deve prometer que não vai me perguntar como sei disso tudo.

- Mas como vou poder...

- Por favor, Edward - ela me interrompeu. Fiquei chocado, Priscila nunca pedia por vafor.- Prometa!

Eu não podia acreditar no que estava ouvindo! O que ela queria de mim? Não sabia se poderia não perguntar nada a ela. Minha cabeça rodava com perguntas que eu nem sabia como foram parar lá! Tudo por causa de uma maldita caçada em Forks! Seu eu caçasse nas redondezas de novo eu mesmo chutaria meu saco.

- Tudo bem - eu me vi respondendo. - Eu não vou perguntar nada...

- Obrigada, Edward.

- ... ainda. - Ela suspirou e revirou os olhos. - Me diga, por que Marcella não sabe disso?

Ela rosnou e mostrou ligeiramente os dentes.

- Marcella não precisa saber de nada disso. Ela estará mais segura se não souber como eu obtive tantos conhecimentos sobre os Caídos.

Opa, essa era nova. Pelo que eu sabia Priscila e Marcella eram as irmãs mais unidas que eu conhecia. Por que ela ignoraria o passado de Priscila?

- Por que..

- Sem perguntas, Edward! - Fiquei quieto. Eu não começaria a perguntar nada ainda. Mas iria obter umas respostas logo, logo.

Me sentei no sofá e me preparei para ouvir a fantástica história dos Caídos. Ela limpou a garganta e começou a falar enquanto andava pela casa.

- Tudo bem, vamos começar. Bom, tudo começou antes do mundo ser mundo. Começou com um guerra. Por poder, é claro. Sei que você não acredita, Edward, mas existe uma força maior que criou tudo e todos.

Peraí, volta a fita. O quê? Eu olhei para ela cético. Como assim? Pelo que eu sabia Priscila, Priscila, a criatura mais incrédula do planeta, não acreditava nisso. Ela parou de andar e voltou-se para mim com um sorriso.

- Eu sei o que está pensando, Edward, mas não é bem assim. Eu deixei de me preocupar com isso quando me tornei vampira. Decidi que isso não importa mesmo porque eu vou para o inferno.

- Priscila...- James falou do canto dele.

- Não, James, é a mais pura verdade. Mas eu vou continuar.

Eu perdi alguma coisa? Desde quando Priscila chamava James pelo nome? E os apelidos carinhosos? Lesma, carrapato, idiota, retardado? Havia mais coisas nessa sopa do que eu estava vendo. Que merda estava acontecendo entre os dois?

- Esse "Criador" fez tudo, inclusive o homem. Quando ele criou a humanidade mandou que seus anjos, seres celestiais mais poderosos que qualquer ser que existisse abaixo do Criador, cuidassem de sua criação mais perfeita, feita a sua imagem e semelhança. Um desses anjos, Sammael, se recusou a fazer isso julgando-se uma criação superior aos frágeis e inconstantes humanos, e começou a guerra. Mas ele foi derrotado. Aqueles que ganharam se tornaram Celestiais. Mas, existiram aqueles que não lutaram. Medo, dúvidas, incertezas fizeram com que eles não tomassem partido na Grande Batalha. Eles foram então condenados a experimentar a condição humana, perderam suas asas e caíram.

O quê? Que histórinha para boi dormir ela estava me contando? Como ela podia saber de tudo isso? Minha mente trabalhava rápido enquanto ela falava tentando achar um puco de lógica em tudo aquilo. Mas algo me escapava.

Eu ainda não entendia porque tínhamos de ter medo de algo assim. Priscila me olhava com espectativa quase quicando de ansiedade.

- Eu ainda não entendi... - o sorriso dela se apagou e ela parou quieta, uma sobrancelha levantada.

- O que você não entendeu, Edward?

- Por que devemos nos preocupar com eles?

Priscila suspirou e passou a mão sobre os olhos. Eu estava ligeiramente confuso e só queria entender porque não poderia lutar contra algo que nos ameaçava como já havia feito antes. Eu não sentia nada, mas achava que se eu tivesse comido Marcella teria menos dores de cabeça.

Ouvi um risinho de escárnio sair da boca de James e rosnei para ele. Esse idiota não tinha amor a vida mesmo.

- Edward, o que você anda não entendeu?

- Por que devemos fugir desses Caídos?

- Bom, porque o que eles mas querem é voltar para o lugar de onde vieram, e a melhor forma de fazer isso é lutar contra tudo aquilo que ameaça a humanidade. Nós somos uma dessas ameaças. Devíamos estar mortos, mas não estamos, somos seres maus que vivem de sangue.

- Hum, vamos ver se eu entendi. - Tentei organizar tudo na minha mente. Eu começava a ver a luz de tudo aquilo. - Esses Caídos querem voltar para o ”Céu”? E nós somos a forma mais rápida de eles conseguirem isso?

Priscila sorriu e balançou a cabeça, feliz como uma professora que acabara de ensinar alguma coisa a uma criança levemente retardada.

Mas ainda não conseguia entender porque diabos eu teria de fugir em vez de lutar. Certo, eu tinha entendido que eles eram super-poderosos, mas e daí? Nada me deixaria mais feliz nesse momento do que uma boa briga. Depois do que havia acontecido com Marcella na noite anterior, eu estava com vontade de socar algo e um Caído viria a calhar.

- Ótimo – eu disse. - É muito bom saber contra o que estamos lutando.

- O quê?

- Vamos lutar com eles de igual para igual.

Priscila estava branca e me olhava cheia de medo.

- Você não prestou atenção em nada do que eu disse, Edward? Eles vão nos dizimar em segundos.

- Mas nos podemos lutar com eles e é isso que importa!

- Não podemos!

- Por que não? Somos tão fortes quanto eles. E como você sabe tanto sobre isso?

Ela suspirou derrotada. Olhou para James e de novo pra mim.

- Por que eu era um deles.