Chance escrita por Haku Shishi


Capítulo 2
Chance #2




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Chance #2

A chuva torrêncial não parecia impedir o trabalho da polícia japonesa naquela casa onde, mesmo duas horas depois, já se comenta a tragédia do triplo homicídio seguido de um seqüestro, assim como alguns falam. O cordão amarelo rodeava parte da porta de entrada da casa dos Tezuka, curiosos se glomeraram ao lado do cordão, não havia muita gente, era umas 2 horas da manhã quando foi descoberto os corpos.

Policial #1: Oh, detetive Nomura, aqui está o relatório inicial.

O polical roliço entrega o envelope amarelo para o detetivo que tinha uma expressão cansada, entediada, ainda mais desleixada por causa do cigarro aceso que pendia no canto de sua boca, parecia que ia cair. Retirou uma das luvas de borracha e passou a mão no terno branco amarrotado, abriu o envelope e começou a ler os dados inicais com cautela.

Nomura: Pai, mãe e filho mortos, filho mais novo desaparecido, provavelmente seqüestrado, ninguém ouviu nada, provavelmente por causa da tempestade. Ok, temos o primeiro suspeito, o filho mais novo. Evidências: Faca estocada na porta segurando um papel onde havia escrito em sangue: “15 dias para liberdade”. Fitas da vigilância do bairro... – Nomura lia o resto sem muito interesse, mas ao terminar, arqueou a sobrancelha, virando-se para o policial que o entregou o relatório – E as digitais?

Policial #1: Nada senhor...

Um grito foi escutado, ele vinha de dentro da casa dos Tezuka, logo após ouvia-se um barulho de passos descendo rápido as escadas. O policial saiu da casa, segurando um caderno preto, logo entregando para Nomura, que realmente não estava nem um pouco interessado.

Policial#2: Detetive, achei esse caderno no quarto do garoto...é estranho...

Nomura abre o caderno, e se depara com uma escrita que nunca viu na vida, parecia ser runas ou algo bem antigo, supôs. Havia 18 linhas em destaque, cada linha havia runas que pareciam simbolizar nomes, três estavam riscados.

Nomura: Ok, se formos relacionar com o que achamos escrito na parede, esses escritos podem significar datas. Mas como vemos 3 palavras riscadas, vamos supor que sejam nomes, os riscados são os da família Tezuka, se descobrirmos os nomes desse caderno, vamos saber os passos do assassino e assim pegá-lo em flagrante. – Nomura suspira, coçando a nuca e guardando o caderninho na bolsa de evidências – Os assassinos de hoje não têm mais tanta criatividade assim...vou pra casa depois de assistir os vídeos na delegacia, em 3 dias eu pego ele.

Nomura entrou no carro, descansou a cabeça no volante, suspirou e dirigiu até a delegacia. Antes Nomura parou no sinal vermelho, aproveitou para apanhar a sacola de evidências que, por causa do freio, havia caído do banco do passageiro. Ele ainda não sabia porque sempre parava nos sinais em plena madrugada, não havia quase nenhum fluxo de carro e tampouco fluxo de pedestre. Ao se levantar, ele percebeu que parado de frente ao seu carro havia um garoto, totalmente ensopado pela chuva, esse garoto o observava, com olhos frios e sem vida, com os cabelos escorridos por toda a face, como um predador, analisando de perto sua presa. Nomura engoliu seco e buzinou para o garoto sair da frente, e o menino apenas continou a atravessar a rua, sumindo na esquina.

Hoje era um dia normal para a escola, pois apesar de Tetsuya estudar lá, ninguém soube o que aconteceu com seus pais, essa notícia sairia apenas no jornal. Alunos ordinários, levando suas vidinhas ordinárias. Tetsuya aproxima-se do portão da escola, com as mãos no bolso, não estava mais molhado, mas seus cabelos estavam totalmente espalhados e espetados. Todos que passavam pelo garoto estranhavam aquela aparência do menino, mas como sempre, acabavam por ignorar o mesmo, dando de ombros.

Kazuma: Ei! Tetsuya! Venha conosco aqui, atrás do ginásio! – Kazuma agarrou o garoto pelo pescoço e simplesmente arrastou ele para o lado oposto a todos os estudantes –

Nomura ainda estava acordado na delegacia, com o controle remoto em mãos, voltando e pausando a fita de vigilância, estava diferente, estava empolgado, não acreditava no que via.

Nomura: Agora, aumente o foco aqui! E preste bem atenção nessa parte! – Falava ele, meio que animado, para o especialista em imagem de vídeo –

Realmente, era uma cena bizarra. Apesar da imagem está em preto e branco, dava para reconhecer totalmente a casa de Tetsuya. No momento a fita estava rodando e nada de anormal aparecia na tela, mas poucos minutos depois do assassinato, a porta da casa de Tetsuya abriu, mas não tinha ninguém, a porta simplesmente abriu, para alguém entrar ou sair, não se sabe, mas a imagem captou também a porta fechando sozinha, e logo após um relâmpago clarerou toda a tela, segundos depois estava a faca fincada na porta com o papel.

Nomura: ..Parece que temos um fantasminha, afinal de contas. Muito bom, você é melhor do que eu pensei, vamos lá, vamos lá, todos deixam uma brexa, você deixou uma e vou descobrir. Matsumoto, já conseguiu alguém para decifrar aquele caderno?

Matusmoto: Não, senhor, mas já enviei para o Museu de cidade, talvez algum historiador saiba.

Nomura: Realmente, não há assistente melhor que você. – Joga uma latinha de refrigerante pro rapaz gordinho, que vestia um terno branco bem parecido com o de Nomura -

Voltou novamente a fita, assistiu, voltou, assistiu, estava ficando mais e mais animado com aquele quebra-cabeça.

Com certeza um ótimo lugar para se falar a sós seria atrás do ginásio da escola. Miyuki e Kazuma sabiam bem disso. Miyuki estava balançando um envelope branco, lotado de fotografias, ela retirou uma e jogou para Tetsuya ver.

Miyuki: Aí está, nerdtsuya, fotos da calcinha das meninas que você tirou debaixo daquela escada.

Tetsuya: Não tirei nada... – Na foto estava escrito a sangue: “Ela forjou tudo isso, ela roubou sua carteira ontem e mandou revelar as fotos em seu nome, por isso ela tem o recibo com seu nome escrito.” – Obrigado, Second-sama. – Murmura -

Miyuki: Ora, tem seu nome no recibo, você está acabado Tetsuya.

Tetsuya: Você roubou minha carteira e mandou revelar essas fotos em meu nome. – Falava fria e pausadamente, olhando para o chão, ocultando sua face –

Miyuki: ...Grr...não importa! Eu quero dinheiro, está ouvindo?! Dinheiro! Senão...Kazuma vai fazer um servicinho...

Kazume: Isso aí... – Sorria, encostado na parede do ginásio, sacodindo um bastão de alumínio de baseball –

Tetsuya: Não vou pagar nada a vocês.

Miyuki: A não vai? Ok, Kazuma...dê uma lição nele, que depois nos divertiremos na minha casa. – Miyuki pisca e se afasta dos dois, observando de longe, sorrindo, com puro contentamento nos lábios –

Kazuma gira o bastão no ar, erguendo-o. “Strike 1!” grita o garoto acertando uma porrada forte nas costas de Tetsuya, que cai de joelhos no chão, sem emitir um gemido sequer de dor. “Strike 2!” Kazuma segura o bastão de alumínio com as duas mãos e golpeia mais uma vez as costas de Tetsuya, que dessa vez cai debruçado no chão devido ao impacto. “Strike 3!” Kazuma segura o bastão com apenas uma mão e acerta o cotovelo estendido de Tetsuya, esmigalhando os ossos do local, partindo alguns ossos do braço com o impacto sobressalente. Kazuma larga o bastão em cima de Tetsuya e põe as mãos nos bolsos, aproximando-se de Miyuki.

Miyuki: ...Ka...Ka...zuma... – A garota aponta em direção ao que seria Tetsuya estendido no chão, mas ele estava de pé, com o bastão de alumínio no braço “bom”, segurando firme.

Kazuma não entendeu ou sequer teve tempo, pois teve sua cabeça estourada com uma pancada certeira do garoto que estava atrás dele. Kazuma cai de joelhos, logo após de bruços, ainda tendo espasmos nos músculos da perna, sua cabeça estava totalmente amasada e com apenas uma tacada de Tetsuya. “Você está fora.” Tetsuya falou...suavemente, como se fosse a coisa mais natural do mundo, matar e sorrir.

Miyuki: Era...era...para você...está desmaiado...quem é você?! Seu monstro! – A garota cai sentada no chão, aterrorizada, com lágrimas nos olhos e a voz falhando a cada palavra –

Tetsuya: Eu...- O rosto do garoto estava coberto de sangue, o que o deixava mais sinistro, com um semblante que lembrava a própria morte, de uma maneira mais cruel – Eu sou aquele que recebeu a Segunda Chance para me vingar...a Segunda Chance para a liberdade.

As aulas de educação física só tinham início no final da tarde e foi nesse horário onde acharam os corpos. Detetive Nomura foi chamado devido a semelhança do caso com o caso da família Tezuka. Ao chegar lá, ele simplesmente balançando a cabeça de forma negativa, o trabalho de investigação também exigia a frieza do ser humano.   O corpo de Kazuma estava do mesmo jeito, estendido no chão, a poça de sangue descrevia uma esfera ao redor de seu corpo. O corpo de Miyuki também estava estendido no chão, mas ela estava sem o olho direito, sem o coração e sem os dedos, pois os mesmos estavam pregados na parede, formando um “13” e logo abaixo escrito em sangue “Liberdade”.

Nomura: ...Temos um louco aqui. – O detetive se agaixa, examina os corpos apenas com o olhar, percebe logo o bastão ensanguentado, arma do crime obviamente –

Matsumoto: Não vejo a hora de descobrirmos esse desgraçado...

Nomura: Matsumoto. Interrogue todos os vizinhos, colegas de classes e qualquer pessoa que tenha relação com Tetsuya Tezuka.

Matsumoto: Tetsuya? O garoto seqüestrado?

Nomura: Não, Tetsuya, nosso assassino. Essa escola tem câmeras de vigilância, em todas as partes, inclusive aqui, já que esse lugar é perfeito para estupros. E também quero uma analise daquela fita feita por um especialista, quero todos os misterios daquela “porta fantasma” desvendados.

Matsumoto: Chefe...ele é apenas...um garoto de 15 anos, não poderia ter feito tudo isso.

Nomura: Errado, a partir de agora, ele é minha caça. Não o vejo mais como um garoto, o vejo como um assassino perigoso e louco que cruzou meu caminho. E é minha obrigação capturar esse assassino. Agora vá, não vamos perder mais tempo aqui, Matsumoto. Quero o relatório de tudo que eu pedi para depois de amanhã.

O detetive e seu assistente saíram do local do crime 3 horas depois, foram direto para a delegacia. Nomura foi para a sala de vídeo e Matsumoto tratou de iniciar as investigações sobre a vida de Tetsuya.

Policial#1: Senhor Nomura, esta encomenda veio para o senhor, do museu da cidade.

Nomura põe o embrulho sobre a mesa e põe logo a fita de vigilância e assiste, sorrindo, dessa vez, não tinha mais portas mágicas ou locais para se esconder, estava quase ao ar livre. Nomura não acreditou no que estava assistindo, era impossível, totalmente impossível. Na fita de vigilância, Miyuki e Kazuma estavam sozinhos, mas falavam com alguém, direcionavam seus olhos para alguém, mas esse alguém não aparecia na fita de vídeo. Ele viu Kazuma bater no “nada” 3 vezes com o bastão, viu o bastão sumir quando Kazuma o jogou no chão, viu a cabeça de Kazuma estourando do nada e viu Miyuki morrer lentamente, mas não viu o assassino! Nada! Nomura levou as mãos ao rosto e esfregou fortemente, rebobinou e assistiu aquilo tudo denovo e simplesmente não entendia. Quase entrou no desespero, até que sentiu um cheiro de enxofre muito forte vindo da encomenda que recebera. Tratou de rasgar logo o pacote e a primeira coisa que viu dentro da caixa era um papel: “Desculpe-me, mas não conseguimos decifrar o que estava escrito nesse caderno.” Nomura pegou o caderno, sentiu o mesmo bastante quente e abriu na folha em que estavam os supostos nomes.

Nomura: Não...não...- Realmente não acreditou, mas viu um traço vermelho passando por cima de dois nomes, lentamente, deixando aquele rastro macabro de sangue –

Matsumoto:  NOMURA-SAN! NOMURA-SAN! – Nomura assusta-se, ainda com o caderno em mãos, observando a entrada brusca de Matsumoto – Eu interroguei um dos vizinhos e ele me falou que Tetsuya era um garoto com problemas sérios, sempre foi maltratado na escola e em casa! Parece que ele tem motivos para querer vingança, se for o que estamos procurando...mas....mas...ele está morto...

Nomura: O que?! Quem está morto?!

Matusmoto: Tetsuya! – Matsumoto joga 4 fotografias tiradas de uma câmera de vigilância do prédio de Tetsuya, onde mostrava o garoto na sacada, abrindo os braços, tomando um leve impulso e em queda livre – O mais sinistro...ninguém sabe onde está o corpo dele...ele se matou e não deixou, nenhum vestígio...

Nomura larga o caderno no chão, olha para as fotos de Tetsuya, amassa ela, vira-se para TV onde o fantasma estava matando Miyuki e Kazuma...aproxima-se lentamente dela e a segura pelas laterais.

Nomura: Não pode ser um fantasma! Tem que ter um segredo! UM SEGREDO POR TRÁS DISSO! EU VOU DESCOBRIR! AAHHHH! – Ergue a TV e estraçalha ela no chão. Sai correndo da delegacia logo em seguida, entrando no carro e saindo em alta velocidade –

Nomura seguia a toda velocidade para a casa de Tetsuya, o segredo estava lá, ele ia descobrir o que era, a todo custo! A todo custo! Parou no mesmo cruzamento onde viu o garoto, não havia ninguém, era estranho, mas não se importava. Estava sem paciência, decidiu furar o sinal vermelho até que viu, Tetsuya, como vira ontem, parado de frente pra ele, olhando-o, ia sair do carro, mas quando desengatou o cinto, uma frase em tom avermelhado no para-brisa do carro: “Você está entrando no mundo onde não entende, e ao contrário de mim, você não terá a Segunda Chance.”  Nomura bate com a cabeça no para-brisas do carro, desmaiando, pois estava sem cinto e o impacto do carro que bateu em sua traseira foi demais para seu corpo resistir e manter-se parado. Antes de desmaiar, Nomura dirigiu o olhar para Tetsuya, que andava até o mesmo beco, sumindo...sumindo...assim como sua visão.

Continua

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