Chance escrita por Haku Shishi


Capítulo 1
Chance #1




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Chance #1





Sakura Gakuen, primavera. A escola parecia ser um castelo, sua estrutura era de um branco quase que cegante. Seu portão principal era doudaro, alguns dizem que é realmente de ouro, já que a escola foi construída por um importante Shogun e resiste até hoje, por isso ela tem o apelido de “Escola Imortal”. Mas não é apenas sua forte construção que da juz ao seu apelido, grandes gênios japoneses que são conhecidos como “Os Imortais” se formaram nessa escola, com louvor, lógico. Mas isso não vem ao caso, nenhuma informação dada até aqui é valiosa, atenções devem ser voltadas para Tetsuya Tezuka, estudante do Primeiro Ano colegial, sala 3, corredor #7. A sala de aula parecia mais um campo de guerra, bolinhas de papel voavam, vindas de todas as direções. Praticamente todos os alunos brincavam e se divertiam, mas apenas um garoto estava mergulhado no livro de Física, parecia gostar de resolver aquelas esqüações misteriosas.



Miyuki: Ali! Acertem o Nerdtsuya! – A garota artificialmente morena e de maquiagem pesada e clara, um perfeito modelo de ganguro –



Logo as bolinhas foram em direção a Tetsuya, o garoto não teve tempo nem de correr, foi alveijado e quase que soterrado por tanta bolinha. A porta foi aberta com um forte empurrão, o professor entrou sério, mantendo aquele ar cisudo de velho mal-amado. Professor: Alunos, abram seus livros na página 45 por favor e me dêem a resposta do exercício 5 e 6.

Tetsuya: 56m/s e 45N, senhor.



Toda a sala vaiou o garoto, que se encolheu em sua carteira, vermelho como um pimentão, que culpa tinha de ser o único esforçado? A Sirene do intervalo tocou, junto com ela vinha o barulho infernal daquela correria de alunos que queriam sair para conversar, comer ou tentar fugir da escola, sim essa era uma prática normal naquele lugar. Como sempre Tetsuya sentou sozinho debaixo da escada, era um local que ninguém o veria comer e jogar Nintendo DS, sim era um viciado em games como qualquer jovem normal (ele sempre repetia isso para si mesmo, queria ser normal a todo custo.). Desde que entrou naquela escola, aquele lugar era seu refúgio, seu lugar-comum, mas por azar, isso, o azar que às vezes do nada nos golpeia como um machado furioso, alguém lhe roubou o seu cantinho e sua atenção.



Kazuma: Hey, Tetsuya, vem aqui. – O jovem mal encarado não esperou o menino sair do seu “buraco”, puxou-o com força, jogando ele no chão – Miyuki quer falar com você.

Tetsuya: Miyuki-chan?... – Do nada, o sorriso dele ficou largo, imenso, parecia um sonho ouvir alguém falar aquele nome –



Kazuma parecia escoltar Tetsuya até o corredor da morte, pois todos olhavam o menino, alguns com olhar pesarozo e outros riam mesmo, descarados, inescrupulosos.



Miyuki: Oh, finalmente, Tetsuya-kun – A garota o abraçou no melhor estilo “eu sou falsa e daí”, ao mesmo tempo deslizava a bochecha na dele, sorrindo –



O menino estava no céu, ele não conseguia ver nada, não percebia as pessoas ao seu redor, pois o cheiro de Miyuki o entorpecia. Ele tentou abraçar a garota, a mesma já o afastou.



Miyuki: Eu sou...sua pombinha, como consta aqui não é? – Erguendo um caderno com capa escura, que Tetsuya sempre carregava, e nele anotava suas coisas pessoas – “Miyuki-chan, quem dera eu poder...pelo menos dizer bom dia para você sem ficar envergonhado” Huh! Que garanhão! HAhAHAHAHAHAHAH!



Não foi só Miyuki que riu, mas todos os outros alunos presentes quase que caem no chão rindo, apontando para Tetsuya que não sabia onde se esconder.
O pior de tudo foi que Miyuki largou seu cardeno no chão e pisou em cima, como esmagasse todo o sentimento do garoto sem dó, sem piedade, com aquela frieza que ela mostrava nos olhos que fitavam o menino ajoelhado no chão, em um estado deplorável.



Tetsuya: Meu...cardeno...Miyuki-chan... – Tremia ao apanhar o caderno todo amassado e sujo, abraça o mesmo, as lágrimas escorriam de seus olhos e molhavam seu uniforme –

Miyuki: Não pronuncie meu nome! Otaku nojento! Como seu eu fosse me interessar por um idiota como você! Um chorão! Um merdinha! Kazuma, tire ele daqui.



Parecia ter prazer em humilhar as pessoas, pois Kazuma sem se importar com o garoto sem força emocional alguma para reagir, pegou pela gola do uniforme e o puxou até a porta da sala de aula do mesmo. Não achou aquilo o suficiente, agaixou-se aos pés do menino e puxou as calças do mesmo, retirando e pendurando na janela.



Kazuma: Trofeu Idiota do Ano! Hahahahahaha! – Apenas saiu, apontando para o garoto. –



Era como se não o mundo fosse uma imensa bola escura, como se nada mais importasse para Tetsuya, tudo que sentia foi pisado, teve a moral arrancada e o orgulho ceifado por alguém mais forte que você. Não escapou das piadinhas quando saía do colégio, também não escapou dos comentários penosos dos colegas mais “humanos”, digamos assim. Retirou os sapatos antes de entrar em casa, lembrou, hoje tinha que entregar as provas para os pais avaliarem, era sempre assim, tinha que ser o melhor, tinha que orgulhar seus pais. Assim que entrou, sua mãe logo estendeu o braço e pediu rispidamente: “Provas.”



Okon: ...9.5...8.9...9.0?! ISSO SÃO NOTAS?! Eu e seu pai, só pedimos isso de você! Nota 10! Damos tudo para você, casa, comida, seus bonecos idiotas, seus jogos estúpidos e você não pode nos retribuir?! Não pode ser como seu irmão? É pedir demais! Que vergonha! Tetsuya, que vergonha!

Tetsuya: Mas...mamãe, hoje..!! – O garoto não teve tempo de terminar, foi atingido por um tapa forte e certeiro de sua mãe –

Okon: Não ouse falar enquanto brigo com você! Já para seu quarto! Agora!...Espere, vá comprar comida para mim, antes. – Joga o dinheiro em cima do garoto, virando-se para a TV e jogando as provas do menino no lixo. –



A chuva torrencial banhava o corpo de Tetsuya, estava de braços abertos, parecia querer que a água limpasse todos os seus sentimentos ruins, que a água o purificasse. Tinha dificuldades de se equilibrar no pequeno e estreito para-peito da sacada do último andar do prédio onde mora. Olhou para cima, pra que viver? Pra que viver? Não suportava, 15 anos de humilhação, 15 anos, desde de pequeno, sempre estava em último lugar, nunca fazia nada direito, tinha mais era que morrer...mas no fundo, não queria. Encarou o suicídio como obrigação e simplesmente deixou seu corpo leve e o vento o empurrar, empurrar para sua morte. Sentia que caía em alta velocidade, gotas d’agua não o alcansava mais, seu corpo o avisava, ia se esborrachar em segundos, mas antes disso, ouviu um trovão, alto, sentiu medo, arrepiou-se e abriu os olhos.



Tetsuya: ...? – Sentiu o braço macio apoiando sua testa, ergueu de repente a cabeça, assustado, olhava para os lados, não entendeu, á um segundo atrás estava caindo para a morte e agora estava no quarto debruçado na sua escrivaniha. –



Abraçou o próprio corpo, sentindo o arrepio da morte passar por seu corpo, achou besteira, foi tudo um sonho, claro, nunca teria coragem de tirar a própria vida. Suspirou e passou a mão no rosto, deduziu que deveria ter cochilado ao voltar da compra, não lembrava de nada, e quer saber, ele não se importou. Tetsuya olha para baixo e sente o seu coração subir por sua garganta, arregalou os olhos e ficou de pé, afastando-se da parede que encarava fixamente.



Tetsuya: ...O...que é...que é isso?? – Apontando, simplesmente morrendo de medo, na parede havia escrito em sangue: “Olá, eu sou a Segunda Chance.” –



O garoto engoliu seco e decidiu tocar com seus dedos enrrugados...ei, os dedos estavam enrrugados? Isso quer dizer que ele realmente estava naquela sacada? O que diabos estava acontecendo?! Movido pela curiosidade, Tetsuya resolve sentar na cama e falar, suavemente, com sua voz trêmula...desgastada.



Tetsuya: Olá...eu sou Tetsuya. – Um barulho alto, como um rugido foi ouvido pelo garoto, ele se virou institivamente para a outra parede, onde havia escrito em sangue: “Olá Tetsuya, você foi resgatado por mim, eu lhe dei uma nova chance, chance de mudar sua vida totalmente.” – Mudar...minha vida? Não entendo. – Agora no teto aparecia os escritos em sangue: “Procure dentro de você, o que você realmente quer fazer, para mudar sua vida...” – O que...eu quero fazer? – O chão era tingido de vermelho: “Eu, Segunda Chance, sou chamado quando uma pessoa que quer tirar a própria vida, expõe um sentimento enorme na hora de sua morte, e eu, posso realizar esse seu sentimento, que acaba se tornando um desejo em minhas mãos.” – Eu...não lembro de nenhum, sentimento...não... – De repente, o rugido ficou maior e todo o quarto do garoto foi coberto pelo nome avermelhado: “Vingança.” – Vingança...eu não sou vingativo! Eu...perdoei eles...antes de morrer. – “Eu não me engano, seu coração não mente, eu sei que você...deseja a morte deles, quer simplesmente se vingar, de toda humilhação...todo...o lixo em que te colaram.” - ...Segunda Chance...eu não tenho forças...para tal coisa... – O garoto se levantou, correu até seu caderno, viu os nomes escritos na folha. “Essa é a lista das pessoas que lhe fizeram mal. Cada uma delas, foi responsável pelo seu sofrimento, pelo seu desespero...apenas...destrua esses indíviduos deploráveis.” – Eu nunca gostei...de machucar pessoas, não! Isso só pode ser um sonho! Droga! Um pesadelo! – Tetsuya ergue seu caderno e o joga no lixo, berrando com as mãos puxando seus cabelos, queria simplesmente explodir. O quarto dele começou a tremer, o tremor lançou o garoto no chão, ele viu, parecia que estava sendo pixado em sua parede, as palavras se formavam lentamente, naquele vermelho brutal. “Poucos têm a oportunidade de receber a Segunda Chance, você além de obter essa chance, tem a oportunidade de limpar o seu passado sujo. Assim que você matar todos os nomes nessa lista, sua vida até aqui será apagada e você acordar em um mundo onde sempre quis, com pessoas que o entendem...e que gostam de você. Lógico, isso tem um preço.” Tetsuya chorava, de medo, dúvida, incerteza, tremia no chão, as lágrimas banhavam o carpete, recobrou a coragem, falando pausadamente – ...Qual...o preço? – “Sua alma. Não se preocupe, quando você matar todas essas pessoas, eu a devolverei. Sua alma é sua identidade, sem ela, você não pode ser filmado, fotografado, não tem identidade, você simplesmente não existe, ninguém poderá capturá-lo ou perceber suas intenções, seus olhos não terão mais brilho. Entretanto, sem sua alma, você poderá facilmente matar essas pessoas. Entretanto, desculpe minha repetição, corpos não vivem sem alma, por isso vou te da um pedaço da minha, por isso eu mencionei que andaremos sempre juntos.” Tetsuya ficou de pé, estendeu a mão e a encostou na parede, falando, alto. – Segunda Chance! Eu aceito seus termos! – O quarto ficou totalmente escuro e uma explosão de fogo lançou o menino para trás...ele abriu os olhos, os mesmos estavam dominados...de nada, como se o vácuo morasse no olhar do garoto. Levantou, olhou as próprias mãos, deslizou-as no corpo, não sentia nada de diferente, não sentia aquela coragem e aquela força que Segunda Chance o prometera. – Eu não sinto nada...que idiota fui, não passou...de um sonho... – Tetsuya viu uma seta vermelha desenhada no chão guiando-o para fora do quarto, ele seguiu, logo que saiu, foi seguindo várias setas na parede, a última seta estava desenhada em frente a sua mãe, nas costas dela, havia escrito: “Mate-a...ela não se importa com você, só deseja suas notas e a reputação, quer que seu filho seja um exemplo para todos, um amor...falso, ela não o ama! Mate-a!” – Não posso! Ela é minha mãe!



A mãe de Tetsuya assustou-se e virou-se com pressa e viu o garoto, engoliu seco, viu apenas a imagem sombria de Tetsuya, não sentia aquele calor de filho que ele emanava, mesmo ela sendo horrível com ele.



Okon: Tetsuya...você...está estranho...vá para cozinha! Me faça chá!



Tetsuya obedece como sempre, estava na cozinha, balançava a cabeça, estava louco, só podia. Novamente setas de sangue apareceram desenhada na parede, levando até uma faca, na lâmina havia algo escrito: “Ela realmente gosta de você? Nem ao menos perguntou o que há com você, não o notou...mate-a! Mate-a! Ela não merece ser sua mãe...não merece!”.



Tetsuya: Silêncio!... – Berrou, jogando a faca no chão, tremia, sentia um frio horrível, não sabia porque. Na bandeija onde estava depositando o chá e os biscoitos que a mãe pediu, ele viu algo escrito: “Tetsuya você não pode tirar notas melhores?! Você é uma vergonha! Uma vergonha! Um lixo!”.



A tempestade parecia que ia arrancar as janelas da residência do garoto, os trovões ecoavam ensurdecedores. O pai de Tetsuya entra em casa todo ensopado, chacoalhando o casaco, aproximando-se da mulher, suspirando e reclamando do dia com seu bom e velho: “Dia horrível!”. A mãe virou o olhar para a porta da cozinha e viu o olhar sombrio de Tetsuya olhando para os dois, não tinha mais nada, sentimento algum, olhos vazios...e frios. “Tetsuya? O que foi? Que faca é essa?” A mãe se aproximou do menino e segurou no pulso dele, chamando-o de louco e berrando descontrolada. A luz caiu, assim que a casa foi engolfada pela escuridão ouviram-se gritos de desespero, som de carne sendo cortada, sangue espirrando na parede, tudo isso abafado pelo som da tempestade. “Tetsuya! Tetsuya! Pare! Tetsuyaaa! GAAHHH!!” isso foi a última coisa que se foi ouvida, a luz voltou. Tetsuya estava parado, no meio da sala, olhando para cima com o rosto ensopado de sangue. Seu pai estava debruçado sobre o sofá, a garganta cortava e várias perfurações nas costas e cabeça. Sua mãe ainda tinha espamos, pois teve o olho perfurados, os dois olhos, sem contar vários hematomas que mostravam que seus membros e juntas estavam completamente esmagados, um pedaço da perna da mesinha quabrada estava sujo de sangue, que denunciava a arma que Tetsuya usou para quebrar os membros da mãe.



Shiki: Mamãe, papai, esto... – Shiki, irmão mais velho de Tetsuya gritou e encolheu-se no chão ao ver seus pais mortos e seu irmão, com uma faca na mão, olhando para cima...sorrindo...- Tetsuya?! O que foi issoo! Responda! Tetsuya!



Tetsuya apenas desceu o olhar para o irmão já em estado de choque, voltou a olhar para cima, suspirando, parecia...entediado.



Tetsuya: Second-sama, meu irmão também está naquela lista? – “Sim.” Apareceu no teto, dessa vez o sangue da escrita pingou na testa de Tetsuya, que moveu-se, caminhando lentamente em direção ao irmão, que, totalmente confuso, perguntava insistentemente o que havia acontecido. – Poucos recebem uma Segunda Chance, irmão, pena que você não será um deles. – Ao que Tetsuya sorri, a luz cai novamente, abafados pela tempestade, não se pode ouvir o grito desesperado do irmão.



Shiki: TETSUYAAAAAAAAA!!!!!!!



No andar de cima, quarto de Tetsuya, o seu caderno estava preenchidos com vários nomes, mas apenas três tinham um traço vermelho cortando a sua escrita, tomando a cor de sangue-seco: “Okon  Nakamura  Shiki”.















Continua


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