Lina Inverse e a Pedra do Feiticeiro escrita por niele mzk


Capítulo 4
Cap I, pIII: A Quimera e a Revelação




Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/900/chapter/4

CAPITULO I
DESCOBERTA

  Parte III – A Quimera e a Revelação

  Um trovão ecoou de forma dramatica quando a porta desabou fazendo alto estrondo. Lina pulou para trás involuntariamente, enquanto Margulus sentava rapidamente, acordando assutado.
  - Quê? O que foi...! - a voz de Margs morreu no meio da frase ao olhar para a porta. Recortado contra o céu tempestuoso da noite e os relampagos que caiam sem cessar havia uma figura vestida em trajes longos e claros, o rosto oculto por um capuz.
  O tempo pareceu parar enquanto Lina encarava o recém chegado, seus propósitos desconhecidos. A garota ficou em posição preparada para correr a qualquer movimento hostil, mesmo sabendo que seria inutil já que ela não tinha para onde correr. O silencio foi cortado quando Zangulus e Martina sairam correndo do quarto, o homem empunhando sua antiga espada.
  - Mas o que... Ahhh! - Martina soltou um gritinho de pavor ao ver um estranho parado em sua porta. Zangulus avançou, erguendo a espada.
  - Sabia que tinha sido uma boa ideia trazer isso aqui! - ele sorriu orgulhoso depois assumiu uma postura séria, encarando o estranho – Quem é voce? O que está fazendo em nossa casa? Responda agora!! Eu tenho uma espada e não tenho medo de usa-la!!
  O estranho nada respondeu. Ao invés disso ele entrou lentamente e tirou o capuz da cabeça. Lina arregalou os olhos, pasmada, enquanto Martina soltava outro gritinho. Até mesmo Zangulus pareceu recuar.
  A pele do homem era cinza-azulada, irregular de tal maneira que deixava a impressão de ser àspera ao toque, e seu rosto era pontuado em algumas partes com calombos escuros que mais pareciam rochas, como se alguem tivesse recoberto seu corpo com lascas de pedra. Seus cabelos prata-azulados exibiam um brilho metálico e eram extremamente rebeldes, espetados para todas as direções, uma grande mecha cobrindo o lado direito de seu rosto, deixando à mostra apenas um de seus profundos olhos escuros.
  - Boa noite. Peço desculpas por invadir desse modo, mas creio que isso não teria aconteciso se tivessem aberto a porta quando bati pelas primeiras vezes – o recem-chegado disse de forma displicente e serena, com uma voz baixa e suave – Talvez não tenham me escutado bater, a chuva está piorando.
  Ele ergueu a porta e a recolocou precáriamente no lugar em que deveria estar e depois adentrou mais na sala. A tensão parecia ter diminuido e Lina relaxou um pouco sua posição, porem Zangulus apontou a espada para a garganta do recém-chegado.
  - Voce não me respondeu! O quê... Quem é voce e o que quer com a minha familia??
  - Não quero nada com a sua familia – o estranho respondeu, inexpressivo – Meu assunto é com Lina Inverse – ele olhou para a garota, que pareceu ainda mais surpresa. Ela nunca tinha visto alguem como aquele sujeito em toda sua vida com absoluta certeza (não estava certa se ousaria se esquecer de um rosto como aquele) e não imaginava por qual razão ele estaria atrás dela. Lina logo fez as ligações.
  - Voce... Voce é quem tem me enviado as cartas... não é? - ela perguntou, querendo confirmar suas suspeitas. O sujeito fez de sim com a cabeça, sem tirar os olhos de Lina. Nesse momento, Margulus, que esteve preso a uma especie de transe desde a estrada dramatica do estranho, apontou para o sujeito e riu triunfalmente.
  - Aha! Eu sabia! Eu sabia!! Para mandar cartas de amor para Lina só podia ser um cara feio desses, afinal, quem mais se sentiria atraido por uma menina baixinha, de olhos esbugalhados e sem peito feito ela?
  Thump! Lina se apressou em aplicar um bem merecido soco no nariz de Margulus, fazendo  garoto cair do sofá, enquanto o recém-chegado observava com uma gota de suor descendo pela sua cabeça.
  - ....Quem é você, responda logo, ou mando meu marido ataca-lo! - Martina se voltou para o estranho como se não tivesse ocorrido nenhuma interrupção.
  - Meu nome é Zelgadis. E-
  - Zaldadis?
  - ....não, Zelgadis – ele respondeu com um breve tremor de palpebra, depois pareceu examinar a mulher – E você deve ser... Martina Zoana Mel Navratilova, estou certo?
  - ... - Martina olhou para ele, sem saber ao certo o que responder.
  - Abaixe essa espada, não vai precisar dela agora – Zelgadis se dirigiu a Zangulus, que tratou de substituir o olhar confuso por outro mais sério e autoconfiante.
  - Eu decido quando vou precisar usar uma arma ou não, estranho! - Zangulus aproximou a lâmina do pescoço de Zelgadis, que apenas suspirou e segurou a espada pela ponta. Com um puxão, ele arrancou a arma das mãos de Zangulus e arremessou em um canto qualquer, como se fosse um espetinho de churrasco.
  - Ei!! É de estimação!! - Zanggy correu para sua espada, deixando a esposa com uma carranca nada amigavel encarando Zelgadis. Lina se surpreendeu com o gesto simples e sem esforço do homem. Como ele conseguira puxar a espada pela lâmina sem cortar a mão? Zelgadis deixou o casal e se colocou na frente da garota, que perguntou antes sequer que ele conseguisse abrir a boca:
  - Porque voce tem essas coisas na cara? - Lina não conseguiu segurar a pergunta antes que lhe escapasse dos lábios. Zelgadis franziu a cara e pareceu desconcentrado.
  - São... marcas. É a prova mais visível que sou uma quimera – ele respondeu numa voz mais baixa que o normal e desviou o olhar. Lina piscou sem entender. Não fazia a minima ideia do que fosse uma quimera, mas examinando a reação de Zelgadis, ela percebeu que não deveria insistir.
  - Desculpe, mas quem é voce realmente? - a garota perguntou.
  - Eu sou Zelgadis Greywords, estou aqui a serviço do Prof. Philionel Saillune, diretor de Hazeyard.
  - Hazeyard? - Lina pareceu ainda mais confusa. Atrás dela, Martina engasgou e empalideceu, como se alguem a tivesse ameaçado de morte. Zelgadis continuou, meio desconcentrado.
  - Sim, Hazeyard, a escola que voce deverá frequentar a partir do dia de hoje, como estava declarado desde o momento em que nasceu. Já deve ter ouvido isso não? Ou se esqueceu?
  - Hã? Nunca ouvi falar desse lugar!
  Zelgadis pareceu surpreso, depois irritado.
  - Não te contaram??
  - Contar o que? - Zangulus entrou na conversa.
  - Pelos céus, por isso que não recebia nenhuma das cartas que mandei! Porque não contaram a ela sobre Hazeyard? - ele se dirigiu para Zangulus, elevando a voz pela primeira vez.
  - Eu nem sei o que é isso! - Zanggy se defendeu. Ele não percebeu Martina tentando sair de fininho por trás.
  - O que é isso? - Lina perguntou.
  - Uma escola – foi a resposta de Zelgadis, voltando ao tom natural – Não apenas uma escola mas a melhor escola para gente como nós.
  - ...como nós? - Lina hesitou.
  - ...sim, do mesmo tipo que eu e voce.
  - ...voce quer dizer que eu tambem sou uma... quimera?
  - *gota* ...Não nesse sentido. Quis dizer gente do nosso mundo, com nossas habilidades.
  - Hã? Que habilidades? Que mundo? - Lina estava começando a ficar perturbada com aquela conversa. Zelgadis arregalou os olhos.
  - Você não sabe? Ha, mas é claro! Se não te contaram sobre Hazeyard devem ter ocultado todo o resto das informações - Zelgadis, que agora estava bastante irritado, se virou para Zangulus – Não contaram NADA a ela?? Será possivel que todo esse tempo voces esconderam da menina quem ela realmente é??
  - ...Quer dizer que ela não é Lina Inverse? - Zelgadis ficou exasperado diante a ultima frase.
  - Mas é CLARO que ela é!! Esse é o ponto! E voces não lhe disseram nada sobre ela, ou sobre seus pais??
  - Mas eles não sabem quem foram meus pais... ninguem sabe – Lina enterviu. Sua fala perceu perturbar Zelgadis mais do que qualquer outra coisa que tivessem dito desde o momento em que entrara.
  - Como é??
  - Quer dizer, eles me abandonaram... - Lina não continuou porque Zelgadis parecia que iria quebrar os próprios dentes se os apertesse mais.
  - Abandoraram- VOLTEM AQUI!! - ele berrou ao reparar Zangulus tambem tentando sair de fininho, como Martina fizera. Ele voltou correndo, apavorado demais para discutir, trazendo a esposa, que tremia.
  - Imaginei que ela sabia pouco, mas não tanto assim! Não disseram a ela nada do que Philionel escreveu naquela carta quando a receberam??
  - Que carta? Martina quem a encontrou... - Zangulus se virou lentamente para a esposa. Agora, todos os olhares convergiam para Martina, que recuou um passo e sorriu amendrontada.
  - C-Carta? Eu não sei do que voce está falando!
  A furia de Zelgadis pareceu sumir quando a compreensão o atingiu, expressa em suas estranhas feições.
  - Voce guardou a carta, voce a recebeu, e não disse a ninguem quem era de fato aquela criança – Zelgadis falou, e sua frase não soou exatamente como uma pergunta.
  - C-Como assim? E-Eu não entendo...
  - Depois de tanto tempo, o que aconteceu com voce para cortar todos seus laços? - Zelgadis continuou, no mesmo tom inexpressivo – Está decidida a ser completamente trouxa agora?
  - Trouxa? - Margulus levantara de trás do sofá, massageando a cabeça.
  - Está xingando minha mulher? - Zangulus se voltou furioso contra Zelgadis, que o ignorou.
  - E-Eu... Pare! Não me... não me faça... não me obrigue...
  - Tem vergonha do seu passado ou o que? Não me diga que ninguem aqui sabe quem realmente voce é.
  - Martina, voce tem escondido alguma coisa de nós? - Zangulus perguntou, sem sombra de acusação na voz.
  - N-Nunca! Eu não! Jamais... com minha familia...
  Lina leu o medo e constrangimento de Martina como se fosse um livro. Era obvio que a mulher estava mentindo.
  - Voce está mentindo! - Lina acusou. Zelgadis acenou com a cabeça, concordando. Zangulus parecia confuso e um tanto desconfiando. Marggy apenas olhava de sua mãe, imaginando no que aquilo ia dar, para o rosto de Zelgadis, imaginando quê diabos é aquilo que ele tem na cara.
  Martina encarou todos os olhos desconfiados que se dirigiam a ela e então não pode mais segurar aquilo que estivera preso em sua garganta desde tanto tempo que ela nem se lembrava mais.
  - Está BEM!!! - ela gritou, substituindo a expressão nervosa e amendrontada por uma de raiva – Eu estou escondendo! Escondi o tempo inteiro! Sua mãe – ela se voltou para Lina – não te abandonou, como se não a quisesse, como eu falei. Ela morreu está bem? Sua mãe e seu pai! E como não podiam, obvio, cuidar de voce, decidiram deixar a bomba estourar em mim!
  - Como é?? - Lina arregalou os olhos e gritou – Então voce sabe quem era minha mãe! Voce sabe o porque das cartas, senão não teria as escondido de mim, certo? O que mais voce esconde?
  - Não me obrigue a falar mais nada!! - Martina gritou exasperada, olhando nervosa para o marido e o filho, que tinham expressões identicas de confusão.
  - Acho que, por enquanto, é minha hora de falar – Zelgadis interrompeu e se virou para Lina, falando unicamente a ela, decidido a ignorar o resto daquela confusa familia. Lina olhou para cima, encarando os olhos fundos do quimera, que falou sem cerimônias.
  - Você é uma feiticeira, Lina.
  Lina pensou ter escutado mal. Pensou ter cera demais em seus ouvidos. Pensou que talvez aquele estranho que acabara de antrar pela porta da frente do amontoado de entulho que ousavam chamar de casa estava delirando, ou tinha fugido de algum hospicio proximo. Lina pensou ter enloquecido, atingido a insanidade, passado do ponto, ficado gagá, fritado os miolos, pirado na batatinha, perdido um parafuso, pego o virus 'Martina' ou coisa pior. Esses pensamentos se fundiram todos e fizeram uma sinfonia de confusão numa grande balburdia detro da cabeça de Lina, deixando-a incapacitada de fazer algo alem de encarar Zelgadis por algum tempo. Mesmo assim, em algum lugar, uma fagulha de compreensão começou a brilhar.
  - .........hã? - foi a resposta da garota, um minuto depois – Sou o quê?
  - Uma feiticeira – Zelgadis repetiu – Assim como sua mãe e seu pai foram, antes de serem... antes de morrerem. E devo confessar que voce deve ter herdado os genes mágicos de ambos, considerando o que fez até agora. Ainda não entendi como conseguiu fazer aquilo com a sala da casa que costumavam viver antes, que aliaz era muito melhor que essa, mesmo com metade das paredes arrancadas... em todo caso, acho que você merece sua carta agora, Lina Inverse.
  Ele levou a mão ao bolso da calça e tirou de lá o tão bem conhecido envelope amarelo e o entegou a Lina. Ela olhou para o papel. Depois de tanto tempo, depois de tanto lutar por sua carta alí estava ela em suas mão, entregue docilmente por um desconhecido (que agora era conhecido, mas isso não está em pauta no momento). Lina abriu sua carta e leu a caligrafia fina e inclinada, escrita em tinta preta.

Srta. L. Inverse,
 Temos a honra de lhe informar que V.Sa. Tem uma vaga na Escola de Magia e Feitiçaria de Hazeyard. É um prazer te-la conosco como aluna e aprendiz da fina arte da magia. Estamos anexando uma lista do material necessário para o primeiro ano.
 O ano letivo começa em 1º de Setembro, favor enviar uma resposta no dia 31 de Julho no mais tardar.


 Antenciosamente,    

Filia Ul Copt    
 Vice-Diretora   


  Lina releu antes de erguer a cabeça novamente.
  - Então... eu posso usar magia...
  - É um talento nato – Zelgadis afirmou – Sua mãe foi uma das mais conhecidas feiticeiras que se tem noticia, assim como voce, e seu pai tambem não era nada insignificante quando se tratava de feitiços-
  - Eu sabia!! - Lina gritou, repentinamente e sorriu orgulhosa, interrompendo a fala de Zelgadis que pulou para trás involuntariamente.
  - HÃ? Como assim, voce sabia?
  - Eu já devia estar esperando algo assim acontecer – a feiticeira Inverse explicou – Veja: esquisitices acontecendo por toda parte, itens misteriosos e incomuns que foram deixado para mim pelos meus pais, coisas tendem a explodir dependendo do que eu falo, mãe guardava um livro de feitiços... - ela contou nos dedos - quer dizer, não sou totalmente cega, não é? A pessoa pode concluir algo assim depois de tantas evidencias. Mas é claro que seu eu dissesse que suspeitava de um mundo secreto de praticantes de magia ou que eu tinha poderes especiais iriam me confundir com Martina então é melhor sempre permanecer calada. Mas agora minhas suspeitas se confirmaram então não tenho mais nada a temer.
  Quando Lina finalmente calou a boca, os tres ouvintes olhavam para ela, pasmos. Zelgadis faou timidamente.
  - Então... já pensava que era uma feiticeira?
  - Não com essas palavras claro, e tambem não sabia nada sobre minha mãe ou sobre escolas...
  - C-Como voce encontrou os objetos pessoais que estavam embrulhados?? - Martina recuperou a voz.
  - Eu sabia que era uma má ideia deixar o pacote... - Zelgadis falou consigo mesmo, se lembrando do dia em que deixara Lina na porta da casa na Rua dos Alfeneteiros.
  - Ah, voces escondem as coisas mal demais – Lina dispensou a pergunta com um aceno de mão – Porque voce acha que Margs vive encontrando a espada toda vez? Se até ele descobre o esconderijo das coisas não é surpresa que eu consiga tambem. Eu só gostaria de confirmar minhas hiposteses sobre o porque que esconderam isso de mim o tempo inteiro.
  - U-Uma feiticeira? - Zangulus estava bobo. Margulus tinha os olhos arregalados e parecia estar se divertindo muito, como numa fascinação espantada.
  - Mas isso é OBVIO, não acha? - Martina colocou as mãos na cintura e encarou a menina – Se deixassemos as coisas daquele pacote com voce, voce teria descoberto, assim como fez agora!
  - Então isso quer dizer que voce sabia sobre isso o tempo todo? - Zangulus se virou para a mulher, que empalideceu na mesma hora.
  - Ah... bem, vejam... hehe – ela recuou, constrangida e arrependida por ter falado demais.
  - Vai se explicar, ou não? - o tom de Zelgadis foi frio. Martina engoliu em seco.
  - Eu...eu... AH! Mas é CLARO que eu já sabia sobre isso o tempo todo! - ela voltou à sua postura normal, irritada  - Como não poderia saber? Ela, afinal, é uma INVERSE! Isso automaticamente coloca ela no mesmo plano de fundo da mãe, a outra Lina, aquela maldita mulher que se dizia minha amiga! Uma feiticeira destruitiva, uma assassina de lares, a inimiga-de-todos-que-vivem – sua voz tremeu ao continuar – Foi por causa dela que eu.... que eu desisti! Que decidir abandonar os meus poderes. Mas é claro, minha mágica nunca foi tão boa quanto a da poderosa Lina Inverse! Não! Martina sempre era colocada em segundo plano, né? Pra quê? Pra ter sua casa DESTRUIDA por aquela... aquela... - ela soltou um rosnado e parou para respirar. Antes que conseguisse retomar a conversa, Zangulus perguntou a mesmissima coisa que passou pela mente de Lina.
  - V-Voce...v-v-voce t-tambem era uma... uma... f-feiticeira? - a voz do homem quase não saia, os olhos grandes como pires. Martina desistiu de esconder qualquer coisa.
  - Claro que era. Eu estudei nesse mesmo lugar... essa escola... Hazeyard. Lá eu conheci Inverse, uma grande amiga, claaaro, até destruir tudo o que eu tinha! Eu fiquei sem mais nada na vida, sem lar, sem dinheiro, sem comida, com apenas minha fé em Zoamelgustar para guiar meus passos e me manter viva – a ultima frase foi dita dramaticamente, ênfase no nome de seu deus – Só o que me restou foi Hazeyard. Eu dava todo meu suor e sangue durante o ano para obter dinheiro para pagar a escola, graças a aquela maldita Inverse! E tambem por causa dela eu acabei sendo EXPULSA!! Enxotada como cachorro vira-lata, rejeitada como revista do mês passado, depois de tudo que passei e de todo dinheiro que perdi para pagar aquele lugar! - ela parou de novo para respirar, mas desta vez ninguem interrompeu. Quando continuou, Martina parecia mais triste – Por isso desisti de ser uma feiticeira. Queria deixar para trás esse passado desastroso e conseguir vida nova. Mas mesmo quando eu decido ser apenas uma trouxa, a memória de Lina Inverse volta para arruinar minha vida!
  Martina parou, respirando com dificuldade. Zangulus estava atônito, parado de boca aberta, encarando sua mulher como se fosse uma completa estranha (o que, pra todos os efeitos, era naquele momento). Margulus estava espantado e maravilhado ao mesmo tempo. Sua mãe era mágica! Todos iriam morrer de inveja quando contasse aquilo na escola, quem sabe até esqueceriam o desastre da festa de aniversário! Lina tinha a mente funcionando em alta velocidade. De repente, todas as esquicitices, manias, traumas e exêntricidades de Martina pareciam ter se explicado (com a exeção daquele negócio de Zoamelgustar) e a garota se perguntou se todos os outros feiticeiros seriam como martina. Mas, afinal, Martina não era mais uma feiticeira, certo?
  - Voce quis ser... trouxa? - a voz de Margulus se fez ouvir no silencio que se seguiu.
  - É como chamamos quem não tem poderes mágicos – Zelgadis respondeu por Martina, entendendo em como o garoto havia interpretado a frase erroneamente – Quer dizer que ela queria viver sem suas habilidades.
  - Mas voce ainda pode usar mágica? - a pergunta de Lina surpreendeu Martina – Voce abandonou a comunidade de magicos, mas isso não quer dizer que voce não pode mais realizar alguns truques, certo?
  - ...sim. Ainda me lembro das mágicas e, principalmente, das maldições. São a parte mais util - Martina respondeu.
  - V-Voce pode fazer MAGICA! - Zangulus parecia ainda não querer acreditar – E eu sendo forçado a ralhar todo o dia naquele imprego picareta pra sustentar uma existencia miseravel de classe-média!!
  Gotas decoraram a cabeça dos demais.
  - Zeldigas, só tem uma coisa que ainda não me explicaram – Lina começou – O que afinal aconteceu com meus pais?
  - É Zelgadis – o quimera corrigiu, ligeiramente irritado – E quando aos acontecimentos no dia que seus pais morreram... Acho que ainda não está na hora de falar sobre isso. Temos muito o que fazer antes disso. Você vem comigo, estamos de saida.
  - A essa hora da noite? - Lina perguntou chocada, olhando pela janela os horizontes escuros.
  - Sim. Acho que voce leu em sua carta que o ano letivo começa dia primeiro, ou seja, depois de amanhã. Temos muito o que fazer.
  - Hã? - Lina pegou a carta de novo e leu novamente. É, de fato, 1º de setembro, e... ! Ela olhou para Zelgadis – M-Mas aqui diz para enviar a resposta até dia 31 de Julho! Essa data já passou faz tempo!
  - Não importa – Zelgadis a tranquilizou – O Prof. Philionel está ciente das condições especiais, se tratando sobre você (pelo menos eu acho que está). Então uma exeção foi aberta nesse caso. Por isso temos que nos apressar, voce deve estar embarcando para Hazeyard amanhã.
  Lina se encheu de esperança. Uma feiticeira... isso explicava muita coisa! Claro que por enquanto tudo ainda estava muito confuso, mas ela trataria de conhecer melhor os detalhes no futuro. Uma exitação e uma ansiedade até então desconhecida queimou dentro de Lina. Fazer mágica é uma coisa que ela sempre quis, uma ambição que (ela agora percebia) devia estar nos genes de sua familia. E depois, ela não teria mais que morar com Martina! Yay!
  - Ha! Como se ela fosse para lá! - Martina falou repentinamente em tom de escárnio, chamando a atenção de novo para ela.
  - Quê quer dizer com isso? - Lina perguntou com rispidez.
  - Oh, duh, Inverse! Quer dizer que voce não tem como ir! - Martina continuou no mesmo tom – Você não tem um tostão furado, e EU não vou pagar para Hazeyard treinar outra destruidora descontrolada!
  - ... - a esperança e felicidade de Lina murchou ao lembrar desse detalhe, mas depois ela sorriu, um sorriso um tanto meléfico mas ainda assim, um sorriso – Heh! Voce acha isso mesmo, é?
  - O que está tramando, Inverse? - Martina levantou uma sobrancelha, encarando Lina desconfiada.
  - Aposto que já tem uma maneira de como contornar a situação... - Zelgadis falou baixinho, sendo que poucos ouviram exatamente suas palavras. Um dos poucos que ouviram foi Lina.
  - Está certo! - ela falou com convicção – Tenho guardado algumas... economias... que consegui com o passar dos anos. Não sei se serve para pagar tudo, mas pode servir de entrada!
  - Economias de QUÊ? Quando foi que algum dia de sua vida eu lhe dei algum dinheiro?
  - Entrada, e como planeja pagar o resto? - Zelgadis perguntou, só pra testar. Nem o sorriso, nem o tom anérgico da voz de Lina mudou quando ela respondeu.
  - Não faço a minima ideia!
  THUMP! Martina e Zelgadis se estatelaram no chão. Zangulus estava muito ocupado bancando o catatônico e tentando digerir toda a nova informação sobre a esposa que ele pensou que conhecia para prestar atenção. Quanto a Margulus... bem, ele parou de ligar para a conversa faz tempo, e foi mexer na espada que o pai deixou jogada carinhosamente em um canto. Zelgadis se levantou lentamente.
  - Acho que é melhor eu te dizer para não se preocupar com isso. Existem outros meios de resolver esse problema – ele suspirou baixinho – É identica à mãe, não tem como evitar...
  - Eh? Que bom! Quanto mais dinheiro poupado tivermos, mais ricos seremos! - Lina sorriu alegremente. Aprendera com os tempos de dificuldade na casa dos Navratilova a guardar cada centavo e apreciar o valor de toda mísera moeda. Mal sabia ela, Zelgadis já reconhecia nela outra peculiaridade da mãe.
  O quimera se dirigiu a porta. Ele não queria perder mais tempo do que o necessário com aquela familia de trouxas (principalmente depois de provar um pouco do que era Martina) e aquilo já havia demorado o soficiente.
  - Venha, Lina. Temos muito o que fazer.
  - É assim então? - Martina se voltou para Zelgadis, os braços cruzados - “Venha Lina” e pronto? Não vai levar ela assim tão facil!
  - Pensei que se sentiria feliz em vê-la longe de sua casa – Zelgadis ponderou.
  - Ah, é? E quanto a mim? E quanto a todo o meu sacrificio para conter esse monstro na minha casa?
  - Ei! - Lina protestou.
  - Eu devo ser recopensada de alguma forma – Martina continuou – A minha casa continua sem parede, caso não saiba, e deve estar toda suja depois dessa tempestade!
  - Coloque seu filho para limpar. Algum dia esse imprestavel vai ter que aprender a fazer alguma coisa.
  - Ei! - Zangulus protestou.
  - Não se atreva a insultar meu filho, sua coisa!! Onde Inverse aprendeu o Dragon Slave? Aposto que é tudo uma conspiração sua e de sei lá quem possa ser seu chefe contra mim! Contra a minha felicidade! Depois de todo o trabalho que eu tive com aquela pirralha voce ainda vem discutir comigo é?
  - Marty-chan, quem está discutindo é voce...
  - NINGUEM te chamou pra conversa, Zanggy-CHAN! - ela berrou perigosamente.
  - Dragon Slave? - o rosto rochoso de Zelgadis era uma mescla de confusão e espanto. Lina redobrou a atenção na conversa (que agora já era discussão).
  - Sim! Eu me lembro dessa maldita magia com perfeição, em como Lina, mãe dessa aí, inventou esse golpe e ameaçava usa-lo em cima de qualquer um! Ela destruiu todo o meu QUARTEIRÃO com aquilo! Essa aí – Martina apontou para Lina – usou um DRAGON SLAVE na MINHA SALA! Não tem como ela ter aprendido aquilo a não ser que tenham ensinado a ela! Ou seja, voce é tão culpado quanto ela nisso tudo!
  Zelgadis pareceu pensativo e lançou um olhar receoso à Lina. Depois de o que pareceu uma fração de segundos, ele voltou à lidar com Martina.
  - Não sei do que está falando. Foi sua escolha quando a recebeu, voce decidiu ficar com ela, poderia ter recusado mas não o fez. Agora terá de lidar com as consequencias.
  - Eu já lidei com consequencias suficientes esses ultimos dez anos, obrigada! Agora eu quero alguma coisa em troca! JÁ! Não me importo se voce é só um criadinho ou sei lá o que voce pode ser, mas vai ter que arrumar um jeito de me compensar!
  - Não tenho nada para voce – Zelgadis respondeu de maneira glacial – O que pretende fazer sobre isso?
  - Ela não vai! - Martina se colocou na frente de Lina – Se não me der bons motivos, ela fica aqui. E tô nem ligando pra o que pode fazer! Voce me obrigou a revelar todo meu passado bem aqui, então não tenho mais porque temer o contato com a magia.
  Zelgadis avançou um passo na direção da mulher, que não se moveu.
  - Eu posso te dar muitas razões para temer o contato com a magia, se quiser – ele falou num tom de voz letal, sua expressão se tornando mais hostil a cada segundo – Não quero ser obrigado a isso, então peço que coopere.
  Martina pareceu hesitar, mas mesmo assim não se moveu. Lina decidiu que já era tempo de se fazer mais presente naquela conversa.
  - Eu QUERO ir! - a garota falou, mas foi o mesmo que tentar falar com os restos queimados da mascara cerimônial de Zoamelgustar que Martina, porque não obteve resposta alguma.
  - Acha que me assusta?? - Martina gritou de maneira perturbada. Zangulus decidiu que essa era uma boa hora para agachar atrás do sofá. A mulher continuou, parecendo perder todo o controle e razão ao mesmo tempo – Não vai meter medo em Martina Zoana Mel Navratilova, Sumo-Sacerdotisa do Monstruoso Zoamelgustar! O fato de voce ser uma placa de granito ambulante não muda minha atitude, então é melhor parar de ameaças fúteis, sua aberração azul!
  Aquilo foi a gota da água. No segundo seguinte, Zelgadis havia erguido a mão acima da cabeça, de onde brilhava uma luz avermelhada. Aquela visão fez Martina voltar ao mundo real e perceber a situação que tinha se metido.
  - E-Espera! Não faça! NÂO FAÇ-
  - BOMB SPRID!!! - o quimera gritou e arrmessou a esfera vermelha na diração da apavorada sumo-sacerdotisa de Zoamelgustar, que se tacou no chão evitando ser atingida por milímetros. Lina saltou de lado e tambem evitou o contato com a bola vermelha. Margulus, porem, não teve essa felicidade.
  O garoto estava destraido demais com a espada de estimação dee seu pai para perceber a magia indo em sua diração, exeto no ultimo segundo em que ele olhou por cima do ombro. Seus ultimos pensamentos antes de ser arremessado no ar por uma explosão violenta foram algo como “Que legal! Explode!”.
  - Marggy!!! - Martina esqueceu de Lina e do quimera na mesma hora e correu para verificar se a saùde de seu futuro sum-sacerdote estava o.k. Lina viu ela passar pela fumaça e se agachar ao lado do corpo caìdo do garoto. A garota observou admirada que apesar de ter acabado de ocorrer uma explosão que chacoalhou as paredes da velha cabana, o chão, as roupas e a pele de Margulus estavam (aparentemente) intactas, embora o garoto tivesse aparencia de quem está sentindo uma dor nada agradável.
  - S-S-Seu... s-seu... MONSTRO!! - Martina berrou no mais agudo de sua voz e carregou um Margs semi-consciente com aspirais no lugar dos olhos para dentro do ùnico quarto da casa. Zangulus asstiu tudo de olhos arregalados e fez questão de correr para dentro do quarto antes que sua mulher batesse a porta, assegurando assim uma distancia mais ou menos segura entre ele e aquele perigoso ser de cabelos metalicos parado à porta.
  - ... - Lina piscou uma vez, depois outra vez. Ela olhou para o quimera – Isso foi...?
  Zelgadis coçou a parte de trás da cabeça.
  - Hum... Acho que exagerei um pouco – ele disse, arrependido – Não era pra acertar o garoto, de qualquer forma. Bem, ela tomou o que mereceu – acrescentou ele, recuperando um pouco da antiga raiva – NUNCA me chame de aberração!
  - Vou me lembrar disso – disse Lina. Ela olhou para o quimera – Nós... estavamos de saida, é isso?
  - É. Saída – ele retomou sua atenção no que veio fazer naquele lugar miserável – Temos muito o que fazer.
  - Certo, não quero estar aqui quando Martina sair daquele quarto. Muito bem Zegaldis, vamos nessa!! - ela sorriu e saiu da cabana, enquanto o quimera segurava a porta aberta. Lina sentiu a brisa marinha e o cheiro de sal. A noite estava escura, mas pelo menos já tinha parado de chover. Estava curiosissima para saber que assuntos tão importantes eles teriam naquela noite.
  - Lina...
  - Sim?
  - Meu nome – a voz do quimera subiu de tom – é ZELGADIS!

Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!