Lina Inverse e a Pedra do Feiticeiro escrita por niele mzk


Capítulo 3
Cap I, PII: Cartas Para Quem?




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CAPITULO I
DESCOBERTA


  Parte II – Cartas Para Quem?

  No dia seguinte, Lina estava se sentindo morta. Depois de acordar e gritar com qualquer criatura viva em seu campo de visão, Martina obrigou a garota a limpar toda a sala, antes de ir ao seu quarto e tomar varios calmantes. Lina tinha ficado todo o restante do dia fazendo o que podia para melhorar o estado da sala, mas não havia nada que a garota pudesse fazer em relação ao enorme buraco na parede e no teto. Na verdade, a sala não tinha mais parede alguma, com exeção de um trecho lateral, onde ficava a porta da frente. Lina riu sem humor. Que adiantava a porta ficar em pé se não havia mais necessidade de usa-la?
  Durante a próxima semana, a pergunta que não queria calar era: Como aquilo aconteceu? Os convidados da festa juraram que foi Lina, mas era impossivel. Como uma garota de onze anos de idade poderia ter feito uma explosão daquele tamanho? Os pais dos convidados que presenciaram a cena combinaram juntos de mandar os filhos para terapia em grupo, e internamente juraram nunca mais deixar seus filhos perto da familha daquela louca Martina. Zangulus não conseguia explicar nem para si mesmo os acontecimentos, muito menos para os vizinhos que simplesmente andavam dentro da sala pelo buraco recém criado, perguntando o que acontecera. Marggy ficara em estado de choque e demorou dois dias para ele abrir a boca para falar pela primeira vez desde o incidente. Claro que suas perguntas foram “o que aconteceu?”. A resposta de sua mãe foi que houve uma explosão de gás.
  - Mas como acontece uma explosão de gás na sala?? - Margulus questionou.
  - Acontecendo – disseram seus pais. Desnecessario dizer, a resposta não satisfez em nada o garoto.
  Todos estavam confusos. Menos Martina. Ela era a única que parecia estar certa do que aconteceu alí, mas não queria dizer a ninguem. Quando a questionavam ela vinha com a desculpa da explosão de gás e lançava um olhar de morte para Lina. Martina tinha certeza absoluta que Lina foi a causa e por isso suas torturas em cima da garota foram maiores que o normal nos ultimos dias. Porem, nem Lina entendia como que ela fez aquilo. Foi uma reação tão natural, ela nem precebeu o que estava fazendo quanto gritou as palavras. E por alguma estranha razão, essa foi a causa da explosão. Apesar de todos se perguntarem internamente sobre o incidente, ninguem queria falar sobre o assunto. E foi deixado por isso mesmo.
  Na semana seguinte, Lina acordou e saiu de seu armário. Martina tinha decretado que ela ficaria presa em seu armário pelos próximos tres meses, porem quando o ronco da barriga de Lina se tornou alto demais para se suportar, a mulher desistira e destrancara a porta do armário sete dias depois. Então, novamente Lina, vitoriosa sobre as punições de Martina (mesmo que sem querer), entrou na cozinha para encontrar o resto de sua “familia”.
  - Marggy, amorzinho, quer mais um pouco de omelete? - Martina disse meigamente, fingindo que não via a garota que tinha acabando de entrar.
  - Humm, acho que quero sim! - Margulus respondeu, entregando o prato.
  - Certo então! Zangulus, faz mais omelete! - ela passou o prato para o marido.
  - Eu não sei fazer! - Zanggy protestou, segurando o prato, confuso.
  - Certo então! Inverse, faz mais omelete! - Martina arrancou o prato das mãos de Zangulus e passou pra Lina, que tinha acabado de sentar.
  - Sim, Tia-
  - MARTINA-SAMA!
  - ...sim, Martina-sama... - ela resmungou e se levantou de novo. Nesse momento se ouviu o som de alguem batendo na porta, por mais estranho que isso possa parecer na situação.
  - Certo então! Inverse, esqueça o omelete. Atenda a porta. Zangulus, faça o omelete! - ela arrancou o prato de Lina e passou para Zangulus. Lina saiu da cozinha sem falar nada.
  - Benzinho, talvez não fosse melhor se voce fizesse o-
  - ZANGULUS, faça o OMELETE!!!!
  - Yessir!! - e saltou para fora da cadeira.
  - Obrigada querido! - Martina sorriu com doçura.
  Na sala de estar/jantar, Lina viu que era o carteiro. Ela contornou a porta para não ter o trabalho de ter que destranca-la e se colocou ao lado do homem gordo de uniforme.
  - Sim? - ela falou, enquanto o homem avaliava as paredes (ou a falta delas).
  - ...uh? Ah, tenho uma encomenda! Pode assinar aqui, por favor? - o carteiro deu um leve pacote embrulhado em papel pardo para Lina e um papel amarelo onde ela deveria assinar. Feito isso, o cartero recolheu seu papel e a caneta que emprestara para Lina e entregou mais uma meia duzia de cartas – Obrigado, senhorita! Um bom dia para voce. Espero que não chova! - ele saiu, deixando Lina parada à soleira da porta.
  A garota chaqualhou o pacote com curiosidade. Ela o levou ao que restava da mesa de jantar e colocou em cima, antes de começar a examinar as outras cartas. Nesse momento Margulus veio da cozinha.
  - Quem era? - depois ele avistou o homem subindo a rua em direção a casa nº3 – Ah, o carteiro trouxe minha encomenda?
  - ...contas, contas, contas, contas.. o que? Ah, trouxe, está na mesa.
  - Que mesa?
  Lina se virou para ver que os restos mortais da sólida mesa de madeira tinham acabado de desmoronar com o peso do pacote.
  - *gota* Uh... Deixa pra lá... Afinal o que tem nessa caixa?
  - Nada que interesse a voce – Margulus empinou o nariz de uma maneira que lembrava Martina – O que voce está olhando aí?
  - Contas, contas, contas, contas... sua mãe já pagou a vizinha pelo muro destruido?
  - Acho que já... Me dê isso! Papai não vai gostar de voce mexendo na correspondencia! - ele estendeu a mão, mas Lina foi para fora de seu alcançe.
  - Contas, contas... meu deus, Margs, seus pais tem contas!... contas, contas... olha, alguma coisa que não é conta! Nossa, que envelope esquisito... uhhh? - o rosto de Lina passou de ligeira curiosidade para completo espanto.
  - Que foi? O que é? - Margulus perguntou, vendo o rosto da menina. Ela entregou as dezenas de dívidas para o rapaz e segurou com ambas as mãos uma carta de papel amarelado, os olhos brilhando.
  - Uma carta para mim! - Lina proclamou, com espanto e orgulho. Ela leu o envelope várias vezes e realmente não tinha como se enganar. “Srta. L. Inverse, A Casa Parcialmente Destruida, Rua dos Alfeneteiros 4” etc etc. Sim, era para ela, sem duvida alguma.
  - Carta pra voce? - Margulus repitiu – Quem escreveria para voce? Voce não tem amigos, nem parentes, nem... - ele se calou ao receber “O Olhar”, de Lina. Ele foi ao lado da garota para examinar a carta – Humm, quem sabe alguma carta de amor?
  - Como? Taí, até que faz sentido! Afinal, quem não se sentiria atraido pela genial e belíssima mulher que eu sou! - Lina jogou os cabelos por cima dos ombros de uma forma sensual. Margs decidiu não comentar. Era mais seguro. Lina começou lentamente a abrir o envelope – Deixe-me ver então o que esse adimirador me escreveu...
  Nesse momento Martina abriu a porta e entrou na sala, seguida de uma boa quantidade de fumaça.
  - Marggyzinho, fofo, voce não prefere um pedaço de bolo ou algo assim?  Seu pai está tendo sificuldades com o omelete... - então ela viu a carta nas mão de Lina e estreitou os olhos. Quem aquela menina pensa que é para ler a correspondencia? Lina tinha acabado de desdobrar o papel de dentro do envelepe e leu “Prezada Srta. L. Inverse”, segundos antes de Martina puxar a carta de suas mãos.
  - EII! Isso é meu! - a menina protestou. Martina soltou um rio de escárnio.
  - Seu? Quem escreveria pra voce? - ela falou sorrindo maléficamente, depois começou a ler a carta. Aos poucos o rosto de Martina foi perdendo a cor, sendo que quando ela terminou de ler a carta ela estava mais branca que roupa lavada com Ace.
  - ...............
  - Pode me devolver minha carta, Martina-SAMA? - Lina estendeu a mão para receber sua carta por trás de Martina, sem ver o rosto da mulher.
  - Papai, voce está bem? - Margulus pareceu preocupado. Martina não respondeu, apenas releu a carta com os olhos arregalados, as mãos tremendo. Ela começara a suar, de maneira semelhante de quando viu sua sala de estar/jantar explodida, alguns dias atrás. Nesse hora, Lina já tinha visto o reação de Martina e ergueu uma sobrancelha, intrigada. Zangulus abriu a porta da cozinha, deixando escapar uma nuvem monumental de fumaça negra e fedorenta.
  - Ack! Marty-chan, omeletes costumam explodir com frequencia? Só pra saber, proque... - ele parou de abanar a fumaça com o chapéu ao ver a cara de Martina - Marty-chan? Martina, querida, voce está bem?
  - ....AHHHHHHHHHH!!!! NÃO DE NOVO!!!! - Martina berrou repentinamente, assuntando a todos.
  - De novo..? Eu quero ver minha carta!
  - Papai, o que houve? Que quero ver a carta tambem!
  - Amor, que está acontecendo?
  - N-Nada! Nadinha! - Martina se virou para todos, sorrindo embaraçada, ainda visivelmente pálida, escondendo a carta nas costas – Za-Zangulus querido, porque n-não tenta fazer cereal com leite para Marggyzinho? É m-mais fácil...
  - Epa, epa! E quando a minha carta?
  - Não era pra voce, aderessaram por engano! - Martina falou ríspidamente para Lina, que protestou.
  - Eu li as primeiras linhas! Diziam “Srta. L. Inverse”! Eu sou a única Inverse dessa casa, então a carta é minha sim!
  - Quem escreveu para Lina?? - Margs se afogava em curiosidade.
  - Que carta? - Zangulus olhou da mulher para o filho, do filho para a menina.
  - Não discuta comigo, Inverse! - Martina rosnou – Vá para seu armário!
  - Não vou até que me devolva o que é meu! - Lina pulou em Martina, tentando tirar a carta das mãos dela.
  - ACK! - foi o que Martina disse, antes de cair no chão com o peso da garota (que não era lá muito pesada, mas o suficiente para derrubar alguem desprevinido). Zang e Margs recuaram, observando de olhos arregalados enquanto Lina e Martina lutavam pela posse da carta no chão arruinado da sala. Um extremamente preocupado, o outro sorrindo como se nunca tivesse visto coisa mais divertida em toda sua vida.
  - SUA PIRRALHA, SAIA DE CIMA DE MIM!! - Martina estava lívida de furia, afastando a mão da garota com brutalidade.
  - ME DÊ MINHA CARTA ENTÃO!! - Lina berrou em resposta, puxando o cabelo esverdeado da mulher. A luta durou alguns minutos, e depois de muitos socos, pontapés, puxões de cabelo, cotoveladas e unhadas, Martina se irritou e picotou o papel em micropartículas.
  - Nãããão!!! - Lina sentiu o estomago afundar ao ver sua preciosa correspondencia destruida. Ela ajoelhou e faloucom uma voz ferida – Porque fez isso? Qual é o grande crime de me deixar ver uma carta que era pra mim? Porque tem que ser tão má comigo, o que eu te fiz??
  Martina se levantou triunfante. As roupas laciadas e rasgadas, o cabelo completamente despenteado, a pele cheia de marcas roxas e vermelhas, mas ainda assim, triunfante.
  - Tenha respeito por sua superior, pra inicio de conversa! Se eu digo que a carta não era pra voce, então não era e voce não tem nada que discutir! Eu sou mais velha, mas experiente, mais inteligente que voce e da próxima vez que voce discutir comigo, vai passar a regime pão e agua até o natal!! Agora suma da minha frente, e seu eu ver voce fora daquele armário de novo, juro que vai se arrepender!! Sai! - ela apontou dramáticamente para o corredor. Lina soltou uma exclamação frustrada, e saiu pisando duro na direção apontada por Martina, que sorria contente consigo mesma.

  No dia seguinte, Lina sentou-se na mesa de café sem fome alguma, pela primeira vez em muito tempo. Ela tinha passado todo o dia anterior frustrada consigo mesmo por não ter conseguido ler a carta. Ela nunca havia recebido uma carta em toda a sua vida, e quando isso finalmente acontece, Martina tem que estar lá para estragar tudo, é claro. A garota se perguntava o porque de Martina ter reagido de maneira tão estranha ao ler aquela carta. O que afinal estava escrito lá? Lina tinha escutado no dia anterior a conversa entre Martina e seu marido, alta o suficiente para ser ouvida do armário.
  - O foi aquilo afinal? Nunca vi voce brigar com a menina daquele jeito – a voz de Zangulus flutuou até os ouvidos da garota, enquanto falava com sua mulher – Ela recebeu uma carta, é isso? O que estava escrito?
  - Ah, nada de importante – Martina soou evasiva, disfarçando – Não era para ela.
  - Voce parecia bem preocupada...
  - Não seja bobo, porque eu ficaria preocupada com um pedaço de papel? - Lina se perguntou a mesma coisa ao ouvir a frase – Eu só queria manter a correspondecia alheia longe dos olhos daquela menina, mas ela tem que responder com violencia pra tudo! Ela me atacou! Voce viu que absurdo? Atacar a mim, que insulto! Com certeza, ela será punida pelo grande Zoamelgustar, por ter atacado sua sumo-sacerdotisa...
  A partir daí, Lina não se deu o trabalho de ouvir mais, enquanto Martina discursava sobre sua tão poderosa e inexistente entidade superior e sonhava acordada em como o futuro seria se tal coisa acontecesse, e blá blá blá. A garota lançou um olhar azedo para Martina, que tomava seu café tranquilamente, Zangulus ao seu lado, lendo o jornal. Margs tambem parecia emburrado, por alguma razão. Poderia ter a ver com o fato que ele não pode ler a carta tambem, ou com a encomenda que foi confiscada por Zangulus, ao perceber que se tratava de uma arma de disparo de dardos, mas isso era dificil saber.
  - Essa não! - Zanggy exclamou das profundezas de seu jornal – Parece que tem uma tempestade vindo para cá!
  - Vamos ter que tirar todos os moveis da sala – Martina comentou, enquanto Margs acabava de comer e saia da cozinha.
  - Que moveis da sala? - Lina perguntou – A mesa foi tudo que sobrou, isso é, até ontem.
  - ...Silencio! Voce não influencia em nada as decisões dessa familia! - Martina corou e cruzou os braços, empinando o nariz.
  - Talvez devessemos colocar um saco plástico na porta da frente? - Zangulus sugeriu – A madeira pode estragar se molhar. Quanto ao resto é melhor que chova, vai fazer o chão voltar a cor natural aos poucos.
  - Que tal se vendessemos a porta? Não vamos usar mesmo! Daí usamos o dinheiro como extra na reforma! - Martina sorriu, orgulhosa com a própria ideia.
  - Se vamos reformar, não é melhor mantermos a porta? - Zangulus coçou a cabeça.
  - Ora, a gente compra outra depois que as paredes voltarem a existir.
  - Pra que vender a porta se vão ter que comprar de novo? - Lina se exasperou.
  - Eu já decidi, Inverse! Não queira ser mais esperta do que eu – Lina sentiu a inevitavel gota descendo pelas costas da cabeça diante a ultima frase de Martina. Nesse momento Margulus entrou na cozinha de novo, carregando alguns envelopes.
  - Olha! Lina recebeu mais oito cartas! Esse tal adimirador deve te amar mesmo hein? - ele comentou alegremente. As duas mulheres naquele comodo fizeram caras de surpresa iguais e depois se lançaram em cima do pobre indefeso garoto para ver quem conseguia colocar as mãos nas cartas primeiro.
  - Aha!! - Martina correu com as cartas bem seguras em sua mão – Ganhei!!
  - Devolve isso, devolv-- ahhhhh! - Lina sfundou em tristeza ao ver suas cartas serem quimadas numa das bocas do fogão – Qualé a sua??
  - Hahaha ganhei Inverse! - Martina riu, enquanto Lina saia da cozinha resmungando coisas desagradáveis.
  A partir daquele dia Lina se animou mais. Afinal, tinham lhe enviado a carta de novo. Sabiam que não tinha recebido sua correspondencia então provavelmente iriam envia-la mais uma vez agora que Martina tinha queimado suas cartas. “Ganhou é?” Lina pensou, “Vamos ver quem ri por ultimo, Marty-Sama!
  Na segunda-feira haviam nada menos que doze cartas para Lina, vindas através do mesmo carteiro gordo da primeira vez que assustou a todos entrando na cozinha sem avisar. Aparentemente ficara mais de vinte minutos esperando na porta até a familia parar de discutir que iria pegar a correspondencia desta vez e decidira simplesmente dar a volta na porta e entrar. Lina tinha certeza que ele não faria isso da proxima vez, considerando a cor vermelha nas orelhas do homem depois de escutar muito dos gritos de Martina, que rasgou todas as cartas sem dizer uma unica palavra e depois voltou a tomar café como se nada tivesse acontecido.
  Na terça-feira, o correio matinal não continha cartas para Lina, que ficou extremamente desapontada, ao contrario de Martina, que era só sorrisos. Porem, para a surpresa de todos, elas chegaram dentro do pacotinho de pão que Zangulus comprara na volta do trabalho. Ele explicou desesperado que não sabia como as cartas foram parar alí, enquanto fugia de Martina que tentava acerta-lo na cabeça com a panela de pressão.
  Lina quase conseguira ler sua preciosa correspondencia quarta-feira, quando aproximadamente quarenta delas foram enfiadas através da janela do quarto de Margs, no meio da tarde. O garoto tinha ido visitar um amigo que não via desde o ultimo dia de aulas e sua mãe fora busca-lo quando Lina reparou na imensa quantidade de papelada embaixo da janela do quarto do rapaz enquanto se dirigia a seu armário. Porem, para sua infelicidade, Zangulus estava passando no momento em que raptava uma das cartas para ler em seu armário e mesmo que o homem não visse motivo para impedir Lina de ler sua correspondencia, isso iria irritar Martina, e por si só esse era um ótimo motivo. Ela assistiu entristecida enquanto Tio Zanggy fazia uma bela chama na lareira com suas cartinhas.
  No dia seguinte choveu, transformando a sala arruinada num charco sujismundo. Naquele dia as cartas chegaram disfarçadas dentro dos muitos envelopes de contas que chegavam diariamente à casa dos Navratilova. Martina ligou ao banco reclamando, enquanto Zangulus limpava a sujeira da sala com as cartas (não que fosse muito eficiente mas era um bom uso para os setenta e cinco envelopes; desperdiçar nunca é bom!).
  Na sexta a coisa começou a ficar crítica. As cartas apareceram embaixo do tapete da sala, dentro da geladeira, nas embalagens de cereal compradas da padaria da esquina, espremidas pela janelinha do banheiro e dentro do chapéu de Zangulus, quando este voltou do trabalho. Após receber outra panelada da mulher e sem saber explicar como aquilo foi parar na sua peça de vestuario favorta, Zangulus se irritou.
  - Quem é o obssecado que ta mandando essas porcarias?? Será que já não deu pra perceber que ninguem tá interessado?? - ele esbravejou, colocando um pacote de gelo na cabeça, por debaixo do chapéu.
  Martina estava indo a loucura tentando não deixar Lina ou Margulus lerem as cartas, o que era um trabalho muito dificil. Sabado, quando Lina conseguira apanhar uma das cem cartas que desceram pela chaminé tanto Margs quando Martina se mostraram obstaculos. Margs se matava de curiosidade de saber o que e quem estava escrevendo mas sua mãe nunca deixava ninguem sequer olhar para os envelopes amarelos. Mais uma vez, as cartas foram queimadas na lareira, enquanto os dois pré-adolescentes asistiam tristemente.
  - Quem quer tanto falar com voce? Quer dizer, se for uma carta de amor, quem é louco o suficiente ou tem tanto mal gosto para- AGH! - Margulus foi interrompido no meio da frase pelo cotovelo de Lina que acertou seu estomago.
  No domingo, Lina acordou com o barulho de marteladas. Ao chegar na ex-sala de estar/jantar ela descobriu a origem do ruido. Zangulus estava pregando com tábuas a falta de paredes, ou pelo menos tentando. A buraco era tão grande que ele estava tendo que construir outra parede, só que dessa vez com madeira, e de uma forma muito precária e insegura. Atrás dele, Martina e Margs assistiam.
  - Pra quê isso? - foi a primeira frase de Lina no dia.
  - Bom dia pra voce tambem.... - Marggy murmurou, enquanto sua mãe respondia à pergunta.
  - Não é obvio? Estamos tentando dar um jeito nessa falta de privacidade. Assim não fica tão fácil nos enviarem aquelas malditas cartas.
  - ...mas eles não tem enviado pelo correio – Lina observou.
  - Pode até ser, mas ao menos podemos obrigar aqueles que chegam a usar a porta. E então, podemos dizer a quem está enviando essa porcaria para desistir e ir embora para sempre! Hahaha! - Martina riu alegremente ao pensar na sua vida normal, sem cartas chegando por meios absurdos. Lina via um monte de falhas na linha de pensamento de Tia Marty mas decidiu não comentar nada. Zangulus se equilibrava de forma precária numa cadeira, tentando colocar as tábuas mais altas.
  - Marty-chan? Pode pegar mais alguns pregos pra mim, por favor, querida? - ele falou, tantando segurar uma tábua rebelde no lugar certo – Está na àrea de serviço.
  - Claro que sim, amor! - Martina sorriu e depois se virou para Lina – Vá buscar o balde de pregos!
  - Hã? Mas ele pediu pra voce!
  - AGORA! - o grito de Martina fez a garota se colocar a caminho da àrea de serviço, de má vontade. Margulus riu baixinho. Zanggy olhou para a mulher e o filho por cima do ombro.
  - Querida, o que voce acha de colocarmos um teto provisório tambem? Parece que estava previsto chuva por toda a próxima semana.
  - Boa ideia, Zan Zan... mas... voce acha que isso vai aguentar a chuva? - Martina pareceu apreensiva.
  - Claro que vai amor! Confie em mim! Vou fazer uma parede provisória tão sólida que- ...o que é isso? - Zangulus parou de sorrir ao ouvir um barulho estranho.
  - Tambem ouvi! Está vindo lá de fora – Marggy informou, se aproximando da porta. Martina não disse nada e foi junto ao filho para tentar ouvir melhor. Era um ruido baixo, como alguma coisa leve batendo contra o sólido. Aos poucos, o barulho foi aumentando. Então...
  Enquanto isso, Lina encontrara o balde de pregos, que aliaz era bem pesado. Ela arrastava o objeto pela alça, irritada. Não haviam chegado cartas para Lina naquela manhã, e ela sabia que era isso que estava deixando Martina tão contente. Talvez o remetente tivesse desistido afinal, talvez estivesse tirando o domingo para descansar. A garota jurou para si mesma que ainda iria ler suas cartas. Impossivel terem se enganado de endereço tantas vezes. Só podia ser...
  Um enorme estrondo acompanhado de gritos vindos da ex-sala fez Lina pular e derrubar o balde de pregos, que espalhou seu conteudo pelo chão. Ela correu pela cozinha e parou na porta para a sala, de olhos arregalados.
  A “parede” de tábuas que Zangulus estava construindo caíra (em cima do pobre Zangulus e cia.) e milhares de cartas faziam o que parecia ser um tapete amarelado por cima dos destroços. Aparentemente, a construção do Tio Zanggy não era tão forte, pois caira com a pressão exercida pelas cartas, que continuavam a entrar na casa de maneira impossivel, como se um vendaval as fizesse voar.
  Sem disposição ou vontade de ficar e pensar em como aquilo estava acontecendo (e tambem por já estar acostumada com coisas estranhas, morando na mesma casa de Martina), Lina correu e agarrou a primeira carta que viu, depois lutou para transpor os obstaculos das tábuas caidas para chegar à porta do corredor, que a leveria a seu armário onde poderia se trancar e ler am paz. Porem, no meio do caminho, alguma coisa emergiu dos destroços e agarrou o pé da garota, que gritou de susto e tentou pisar no que a segurava, antes de perceber que era uma mão. Depois da mão, uma Martina extremamente irritada emergiu do meio das tábuas caidas, segurando o braço ao invés do pé de Lina.
  - Larga... isso... JÁ!!! - ela berrou para a garota, que apertou a carta contra o peito, como uma mãe protegendo um filho – Chega!! Pelo amor de Zoamelgustar, CHEGA!! Não suporto mais essa situação ridícula! QUER LARGAR ESSA DROGA??? - Martina estivera o tempo todo tentando tirar a carta das mãos da menina, que a segurava for a de alcance.
  - É isso aí! Já encheu o saco!! - Zangulus se levantou repentinamente do meio dos destroços, seguido de um Margulus que se levantava lentamente, reclamando de seus machucados. Zanggy parecia tão irado quanto sua mulher – Eu passo a manhã inteira pra constuir essa porra e agora isso??? Já chega!! E NÃO PENSE EM ENCOSTAR SUA MÃO NISSO!! - ele berrou para Margs, que congelou no ato de se abaixar para pegar uma carta e ler.
  - Me solta!! - Lina gritou, tentando se desvencilhar do aperto da mulher.
  - Nós vamos embora! - Martina decidiu, ainda tentando conter Lina – É isso! Zangulus, faça as malas! Margulus, chame o táxi! Inverse, PARE QUIETA!! Vamos sair dessa casa, para bem longe, onde não possam nos perseguir com suas cartas infernais! Em nome do grande Zoamelgustar, nós devemos partir agora mesmo!
  A familia fez exatamente o que ela mandou, mas desta vez não por medo de uma represaria, e sim por concordarem com Martina. A própria ficou do lado de for a da casa, longe das cartas, ainda segurando no braço de Lina, que bufava. Dez minutos depois eles estavam na beira da rua, Zangulus carregando uma mala muito miserável e arrumada as pressas, esperando pelo táxi, que chegou vinte minutos depois.
  Depois de bastante tempo dentro do táxi apertado, onde o motorista discutiu as direções com  o casal Navratilova durante quase todo o trajeto, eles chegaram num bairro miserável da periferia da cidade. Após passar quase quinze minutos discutindo um pouco mais com o motorista, desta vez sobre e preço do trajeto, Martina os guiou para dentro de uma casa velha e em péssimo estado, abrindo a porta e entrando como se morasse alí.
  Lina se perguntou o que estavam fazendo naquele lugar de crépto, mas depois de subir ao segundo andar suas duvidas foram esclarecidas. A maior sala do segundo andar estava ocupada por apenas algumas velas, objetos estranhos de uso indefinido e a grande mascara de Zoamelgustar na parede, similar àquela que Martina mantinha na sala de estar/jantar da casa deles, antes de ser destruida juntamente com o restante da mobilia.
  - Deixa eu adivinhar – Lina começou – Sala de reuniões da seita?
  - Esta é a sede temporaria da Ordem de Culto ao Monstruoso Zoamelgustar! - Martina bradou dramaticamente, orgulhosa.
  - Temporaria? - Margs repetiu.
  - Sim! Saberia disso se frequentasse as reuniões da Ordem como todo bom membro, mocinho! - Martina ralhou - É apenas um local onde podemos rezar ao poderoso enquanto obtemos fundos para construir um verdadeiro templo, digno de sua majestade!
  - É! Porque o outro foi destruido! - Zangulus falou alegremente. Martina pareceu desconcentrada ao se lembrar da antiga pequenina sede, aquela que ela mesma havia feito a planta e que gastara tanto de seu precioso dinheiro para construir e manter, para depois cair durante uma chuva mais forte, por erro de construção (na verdade, erro de planejamento, mas Martina jamais admitiria isso).
  - ...Sim! - Martina continuou, tentando recuperar a pose – Mas não importa o quão simples seja o lugar, onde as pessoas se unem em nome do grande Zoamelgustar é um lugar sagrado e será recolhido em seu braços pela fé que depositamos em sua monstruosa imagem!
  - Claro, claro... - Lina bocejou, examinando o local.
  - Martina-sama? É voce? - um homem magro e franzino apareceu na porta da sala por onde eles haviam entrado. Tinha cabelos sujos e desgrenhados e a barba por fazer, os olhos pesados meio for a de foco.
  - Dennis! Que bom que apareceu! - Martina saudou com alegria o homem, que podia ser facilmente confundido com um mendigo, depois falou de forma dramática – É chegada a hora em que venho cobrar a sua ajuda, em nome do progresso de nossa amada Ordem!
  Margulus e Lina fizeram semelhante expressão de confusão, enquando Zangulus apenas olhava para o sujeito. Aquele era um dos membros da Ordem, um dos poucos que estiveram nela desde o seu principio. Nos ultimos anos, a Ordem obeteve novos membros, mas nenhum deles era tão devotado quanto Dennis. Vai ver porque ele não tinha mais nada a perder, alem da casa, atualmente nomeada Sede Temporaria. Dennis piscou uma, duas vezes e depois correu para dentro da sala, sorrindo com os olhos repentinamente iluminados.
  - Mesmo? Oh, Martina-sama, diga por favor, qual é a grande tarefa que devo desepenhar em nome do grande e poderoso Zoamelgustar?
  - Espero que a rima não tenha sido intencional. Que gente louca! - Lina murmurou baixinho. Martina estava ocupada demais falando com Dennis para notar.
  - Voce deve, primeiro de tudo, nos forneçer abrigo e alimento! - Martina declarou. Dennis pareceu murchar.
  - É... só isso? Tem certeza que é em nome da Ordem? - ele ergueu uma sobrancelha.
  - OUSA questionar a SUMO-sacerdotisa de ZOAMELGUSTAR????
  - N-N-Não! De m-modo algum! Seja bem vinda, voce e todos os outros, a c-casa é sua! - Dennis recuou, tropeçando nos próprios pés.
  - Muito bom! - Martina sorriu – Será recompensado pelo grande Zoamelgustar por sua dedicação. Agora, voces todos, para os quartos!
  - Papai, porque vamos dormir aqui? - Lina viu Marggy se dirigir à Martina, que teve um tremor de palpebra involuntário – Esse lugar me dá arrepios. Porque não podemos pagar um hotel?
  - Pergunte a seu pai. Ou melhor, à carteira dele.
  - Mas eu já estou perguntando ao meu pai.
  - ....Marggy-chan, eu sou sua mãe...

  Naquela noite, Lina dormiu muito desconfortavel no chão de madeira de um dos miseráveis quartos dauquela casa. Martina tinha ficado com o quarto de hospedes enquanto Zangulus dormiu no sofá da sala, considerando que a cama de solteiro era pequena demais para os dois. Margulus ficou com o quarto ao lado, que parecia pertencer ao próprio Dennis, considerando a bagunça. Lina tinha ficado com o sofá-cama, mas o estado daquela coisa era tão nojento que a garota preferira se ajeitar na parte mais fofa e menos emporcalhada do chão da sala, tendo como compania apenas os roncos do Tio Zanggy.
  Quando o dia raiou, Martina levantou de bom humor. Nada parecia abalar a felicidade da mulher, nem mesmo o café da manhã abominável que Dennis improvisou e que nem mesmo Lina ousou comer (na verdade, eram as sobras do almoço do dia anterior). Porem, no meio da manhã, o bom humor da sumo-sacerdotisa teve uma grande reviravolta quando maços incontáveis de cartas para Lina foram depositados na soleira da casa.
  - Espere, Martina-sama! Porque já está indo embora? Não os tratei bem o suficiente? Eu serei castigado por Zoamelgustar? - um Dennis confuso e amedrontado não parava de perguntar, enquanto Zangulus pegava a mala e abria a porta da frente para deixar o resto de sua familia passar, Martina segurando Lina com uma mão e Margulus com a outra.
  - Humm, talvez voce ainda possa ajudar! - Martina largou os dois quando decidiu que já estavam longe o suficiente dos envelopes amarelos e se virou para Dennis – Conheçe algum lugar onde podemos ficar, um lugar distante, inacessivel para todos, onde possamos despistar os nossos inimigos infames?
  - Quê inimigos infames? São apenas cartas! - Margs falou.
  - Minhas cartas! - Lina completou.
  - Psssiu!! Não discutam com sua mãe! - Zangulus ralhou, agora tendo tomado partido de Martina em sua luta contra as cartas.
  - Ela não é minha mãe! - Lina disse com nojo, ao pensar na possibilidade.
  - Porque está fugindo, Martina-sama? Voce sempre disse que enquanto tivermos a porteção do grande Zoamelgustar do nosso lado nada de errado irá acontecer conosco!
  - Assuntos superiores, não pergunte, não questione, apenas responda! Sabe de um bom esconderijo, ou não?
  - Humm... - Dennis pensou por um momento, depois sorriu, revelando dentes muito amarelos – Acho que eu conheço um lugar...

  Lina sempre achou que Martina era doida, mas as esquisitices dela, apesar de fazer da mulher uma pessoa bastante ecêntrica, não eram tãããão eficientes assim como prova de sua insanidade, ao ponto de vista da garota. Mas, depois de aceitar a recomendação de Dennis, Lina teve certeza absoluta que Martina é completamente louca!
  Chovia. A garota ergueu os olhos para o alto do enorme rochedo que se projetava para fora do mar e pensou que tipo de noite eles teriam no casebre encarrapitado no cume. Porque alí era o lugar que Dennis havia recomendado.
  Depois de uma desagradavel viagem apertados dentro do fusquinha caindo aos pedaços de Dennis (Lina se surpreendeu que ele tivesse um carro, por mais miseravel que fosse) os quatro alugaram um pequeno bote a remo para chegar até a cabana miseravel que seria seu lar até que a) a paranóia de Martina acabasse b) a comida acabasse c) o casbre caisse sobre suas cabeças, o que, como pensou Lina, era o mais provavel de acontecer primeiro.
  Chegando até o rochedo, depois de enfrentar uma subida cansativa e perigosa, os Navratilova e a ùnica Inverse entraram todos encharcados na cabana de madeira. O lugar era frio, cheio de goteiras e cheirava fortemente a peixe. Lina fez questão de classificar aquela casinha na lista dos Lugares Que Eu Mais Odeio no Mundo, juntamente com a sede provisória da seita de Martina e o banheiro do escola.
  - Porque temos que ficar aqui? - Margs começou a reclamar e todos os outros viraram os olhos para cima – Eu não gosto desse lugar! É pequeno, apertado, fedorento, escuro e frio! Está caindo um toró lá fora e eu estou congelando! Porque não podiamos ter ficado em casa?
  - Ahh, Marggyzinho lindinho, pensa bem! Ninguem vai vir entregar cartas estúpidas nessas condições, né? - Martina acariciou a cabeça do filho de maneira brincalhona, e sorriu de orelha a orelha. Lina teve que admitir que ela estava certa, provavelmente. Quem seria louco (alem da própria Martina e seu marido) de virem para aquele fim de mundo num tempo desses? Bem, podia dizer adeus a chance de ler sua preciosa cartinha.
  Zangulus desempacotou da mala surrada a comida que ele tinha trazido, e depois serviu um pouco para cada membro da familia. Lina recebeu menos que os outros, mas engoliu tudo sem reclamar. Estava faminta, depois de passar o dia todo sem café, sem almoço, apertada dentro de um carrinho mixuruca, fazendo todo o percurso de horas até o litoral. Margulus parecia compartilhar de seu ponto de vista e fez questão de comer o mais rápido que podia, antes que a garota conseguisse roubar seu jantar, o que fez o jovem se engasgar e precisar levar algumas porradas de Zangulus nas costas para voltar a respirar direito. Martina estava radiante. Apesar de estar longe de todas as coisas que ela mais ama em sua vida (tal como conforto, dinheiro, luxo, bolo de frutas, seu seita...) a mulher se sentia contente em saber que se livrara das cartas.O próprio Zangulus não parecia muito feliz, mas estava satisfeito porque sua mulher estava satisfeita e porque se viu longe das cartas irritantes. Ao menos tinha seu chapéu!
  Minutos depois foram todos dormir, pois não havia nada para se fazer naquele lugar e Zangulus havia esquecido de pegar o baralho. Ele e Martina ficaram com o único quarto (se é que se podia chamar aquilo de quarto) do lugar, enquanto os dois membros mais jovens da casa brigaram silenciosamente para ver quem ficava com o sofá. Lina ganhou, é claro, mas depois que Margs ameaçou contar para os pais a garota cedeu o lugar para ele. Não se sabia que outras loucuram poderiam passar pela cabeça de Martina se ficasse irritada mais uma vez com a garota e Lina não gostava da perspectiva de ser jogada pela janela a uma altura daquelas.
  Desejando que o sofá estivesse cheio de escorpiões, Lina se deitou no chão umido e tentou dormir. Ela ouviu a chuva rugindo do lado de for a. Ouviu as goteiras caindo no chão de madeira do casebre, que parecia tremer com a força do vento. Ouviu Tio Zanggy roncando no quarto e pensou em como seu chapéu não saira voando com o vento durante a subida. Seria engraçado ver sua reação. Ouviu Margulus resmungar alguma coisa durante o sono e pensou com o que o garoto estaria sonhando. Ouviu o som de alguma coisa farfalhando e pensou se o remetente das cartas ainda estaria mandando os envelopes amarelos para ela quando voltarem ao nº4. Ouviu passos do lado de fora e pensou...
  ...Pensou em como não deveriam existir passos do lado de fora! Lina se sentou bruscamente e espiou a porta. Sombras de pés apareceram recortadas no vão de baixo quando um relampago cortou a noite. O som do trovão se misturou com o som das batidas na porta. Lina se levantou, sem saber o que fazer. Talvez devesse acordar Margulus, afinal por mais irritante que pudesse ser, o garoto não merecia ficar exposto daquela maneira. Ela não sabia quais eram as intenções daquele que estava à porta.
  O estranho bateu de novo, desta vez com mais força. A porta se sacudiu perigosamente. Não seria difícil arrombar aquilo. Fosse quem fosse, quele que estava parado do lado de fora iria entrar de qualquer maneira.

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