My Alternative Ending escrita por Laradith


Capítulo 5
Capítulo 5


Notas iniciais do capítulo

Enjoy =P



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Meu Deus. Isso não era o que Dimitri precisava agora. Eu queria muito estender meu braço e confortá-lo, mas a presença forte de Kirova me impediu de fazer isso. A expressão dele me dizia que eu não era a única precisando desse carinho, e eu me amaldiçoei por não ter 18 anos.

 

Vários momentos passaram, e eu nem respirei enquanto o medo tomava conta do meu corpo.

 

- O que aconteceu? – Dimitri perguntou, mais recomposto. Sua voz estava mais baixa e controlada, e sua máscara de guardião tinha voltado. Para Kirova, podia parecer convincente, mas eu conseguia observar o medo, ansiedade e raiva por baixo dela – eu o conhecia bem demais.

 

Kirova suspirou, e começou seu discurso. – Quase ao mesmo tempo do ataque que ocorreu aqui, se considerar o fuso-horário, a Academia foi atacada por um grupo de 45 strigoi. Eles agiram do mesmo jeito – esperaram as wards quebrarem e invadiram, capturando... alguns... alunos e matando um grande número de guardiões. – Ela parou, deixando a informação penetrar.

 

Assim como Dimitri, eu já sabia o por que de Kirova chamá-lo. Não era para somente avisar sobre esse ataque a St. Basil. Era algo mais.

 

- Eles estão em situação muito pior do que nós. Claro, em parte porque não tinham ninguém para avisar sobre o ataque, e em parte porque eles não têm a mínima ideia da localização dos strigoi. Simplesmente perderam o rastro, e daqui a três dias, vão declarar como mortos todos aqueles levados. – Eu arfei em choque.

 

- Quantos foram levados? – Minha boca falou, sem parar para pensar.

 

- Cerca de 20 pessoas, alguns quase mortos, e outros arrastados pela floresta, ainda conscientes. – Meu coração se apertou, mesmo eu não conhecendo nenhuma daquelas pessoas. Só de imaginar uma Academia daquele jeito... Era como se a casa de um parente meu – não que eu tivesse algum – fosse destruída. Aquele senso de proteção cresceu dentro de mim. Eu queria ajudá-los, queria salvar aquelas pessoas que tinham sido capturadas como cães, nem que isso significasse ir para outro país.

 

Dimitri fechou seus olhos com força, e seu rosto se contorceu com angustia. Meu peito estava doendo. Muito. Por ele, pela sua família, que podia muito bem ter sido morta, pelas pessoas feridas, pela Academia, e até por mim. Inconscientemente, minha mão segurou a dele, e Kirova nem se incomodou em olhar. Acho que o momento estava muito tenso para preocupações como essa. Ele apertou minha mão de volta, demonstrando o quão triste ele estava, e eu tentei oferecer minha força para ele, do mesmo jeito que ele tinha feito comigo na cabana. Aquilo parecia ter acontecido milênios atrás, mas a memória ainda estava fresca em minha mente. Tudo o que queria era deitar com ele, segura-lo, e confortá-lo. Provavelmente ia ganhar um chute no traseiro da Kirova, mas acho que valeria a pena se pudesse ficar outra noite com Dimitri.

 

- Guardião Belikov, eu te chamei aqui por duas coisas. – Antes que ela dissesse mais alguma coisa, senti minha voz, de novo, falando.

 

- Você tem a lista dos que foram levados?

 

O olhar raivoso de Kirova pairou sobre mim, mas ela não me expulsou a pauladas nem nada disso, o que era totalmente estranho. Ela me encarou, e eu devolvi, franzindo o cenho. Finalmente, ela abriu uma gaveta da sua mesa e tirou uma pasta branca. Me entregou, possivelmente pensando a mesma coisa que eu – Dimitri não seria capaz de ver. Abri a pasta, o que não foi fácil, já que estava abrindo-a com uma só mão – a outra se recusando a soltar Dimitri – e eu estava tremendo. Depois de segundos agonizantes, consegui achar a lista dos que foram levados, e dos guardiões que tinham sido mortos. Estavam separados por raças – Dhampirs ou Moroi – e se foram mortos ou capturados. Procurei o único sobrenome que me importava. Belikov.

 

Não estava na lista, e minha respiração quase explodiu de tão aliviada que saiu. Eu apertei a mão de Dimitri de novo, dessa vez como se estivesse dizendo que estava tudo bem. Ele entendeu a mensagem, e abriu seus olhos castanhos, pegando o documento, e analisando-o rapidamente. De vez em quando, eu vi um flash de dor, e eu sabia que ele conhecia alguns que estavam ali. Levantei meu rosto e dirigi a Kirova um olhar aliviado, e ela não retribuiu, balançando sua cabeça como se dissesse Não fique feliz ainda, Hathaway. Meu momento de alívio desapareceu, e eu franzi as sobrancelhas, como se perguntasse o que diabos era aquilo.

 

Depois de ver cada centímetro da lista, Dimitri suspirou, visivelmente mais relaxado.

 

- Dimitri... – Kirova disse, sem usar seu nome de guardião. Minhas defesas se levantaram outra vez, e eu senti que alguma coisa ruim estava para acontecer. Ou para ser dita. – O nome da pessoa que você está procurando não está nessa lista. Está em outro lugar.

 

- O que? – A surpresa de Dimitri ficou evidente em cada palavra. Ele se inclinou para frente, como se quisesse ter certeza do que estava ouvindo.

 

Kirova desviou o olhar e pegou outro papel de dentro da pasta. Tinha somente alguns nomes escritos nele, mas meus olhos se focavam em um só nome. Eu senti meu rosto se transformando em algo indecifrável, muito surpreso para qualquer um reconhecer. O nome Viktoria Belikov parecia saltar da folha, mas eu não entendi o por que dela estar separada dos outros.

 

- Ela foi um dos poucos alunos desaparecidos.

 

- Como assim? Você acabou de dizer que os strigoi levaram vários alunos! – Exclamei, e um sentimento negro começou a crescer dentro de mim. Não pude ficar sentada com algo desse tipo acontecendo, e praticamente saltei da cadeira.

 

- Eu não disse que ela foi levada. Disse que ela desapareceu. Não acharam seu corpo em lugar algum, e ela não foi levada pelos strigoi. – Kirova me explicou. Ao meu lado, Dimitri não se mexia, mas eu quase podia ver as engrenagens rodando na sua cabeça.

 

- Como você sabe disso? Ela pode muito bem ter sido levada por um deles! -  Eu negava o fato da irmã do Dimitri estar desaparecida.

 

- Ela não foi, e temos provas. Agora, Srta. Hathaway, controle-se, ou saia da sala. – Sua voz era dura e autoritária. Seu olhar não era menos que isso, e eu forcei minha respiração – levei alguns minutos para fazer isso - a se acalmar, e sentei de volta, sentindo o olhar preocupado de Dimitri em mim. Mesmo com toda essa desgraça, ele ainda se importava comigo. Santo Deus.

 

- Guardião Belikov, - ela disse, voltando ao modo formal. – Eu te chamei aqui por causa disso, e também, porque eles pediram nossa ajuda, mesmo depois do ataque. Como você é o único guardião da St. Vladmir com experiência na St. Basil, eu pensei que você poderia ir até lá, para ajudá-los e provavelmente lançar uma missão de resgate. – Estremeci com a lembrança da última missão de resgate que eu participei. Uma que quase me transformou em strigoi. – Pelas nossas conclusões, existe um grupo grande de strigoi por trás desses ataques. Um que é organizado o bastante para derrubar duas Academias grandes ao mesmo tempo. – O que era quase impossível de acontecer, com certeza. Strigoi trabalhando juntos era uma coisa muito incomum, já que a natureza deles sempre fazia um lutar com o outro. Strigoi trabalhando juntos, do outro lado do mundo? Definitivamente incomum. Eu somente tinha visto isso quando meus amigos e eu tínhamos sido seqüestrados por Isaiah, um líder responsável pelo massacre dos Badicas, uma das doze famílias reais. Presenciar aquilo de novo não estava na minha lista.

 

- Sim, eu irei. – Dimitri respondeu, sem hesitação. Eu já sabia disso do momento que as palavras saíram da boca de Kirova. Ele odiava os strigoi, e imaginar alguém machucando as pessoas que ele se importava o deixava furioso. Não o culpava, mas ficar aqui, sem saber o que estava acontecendo na Rússia com Dimitri era inaceitável. Um risco que eu não correria.

 

- Eu quero ir, Kirova. – Disse, com a voz confiante, e as sobrancelhas franzidas, em uma expressão dura. Eu queria muito ir, queria muito ficar com Dimitri, reconfortá-lo e ajudar a salvar sua irmã. Acima de tudo, não podia ficar para trás enquanto o homem que eu amava ia em direção ao perigo.

 

- Absolutamente não. – Kirova disse, me cortando friamente. Pelo teor da conversa, ela não me deixaria dar um passo para fora das wards, Muito menos para Rússia.

 

- Por favor. Eu quero ir. – Determinação passou pelas minhas feições, e dessa vez, quem negou foi Dimitri.

- Não. Você não vai, Rose. – Sua voz também era fria, mas para mim, só tinha preocupação. Olhando nos seus olhos, naqueles olhos que eu tanto amava, vi o quanto ele se importava comigo, e o quanto ele queria me manter segura, fora dessa missão suicida. Me sentindo extremamente mesquinha, disse:

 

- Você não manda em mim, Dimitri.

 

- Não. Mas eu mando. E eu digo que a Srta. não vai. Ponto final. – Kirova disse, chamando minha atenção de novo.

 

- Eu posso ajudar, Kirova. – Olhei para ela e Dimitri repetidamente. – Vocês sabem que eu posso ajudar, então me deixem ir. Já não provei que não sou uma inútil em batalha? – Provoquei.

 

- Isso não é sobre ser inútil ou não, Srta. Hathaway. É sobre lógica e fatos. E se você for, você vai ser morta, e isso é um fato. – As palavras foram como um tapa na cara, mas eu me recusei a aceitá-las.

 

- Obrigada pela confiança. – Disparei de volta, e ela semicerrou os olhos.

 

- Rose, é muito perigoso. Não vou permitir que você se arrisque desse jeito. – Dimitri disse suavemente.

 

- Eu vou de um jeito ou de outro. Você queira ou não. – Meu tom estava duro, inflexível, e eu estava respirando com dificuldade. Dimitri se dirigiu a Kirova.

 

- Posso ter um momento com Rose a sós? – Ela assentiu sem hesitar, e eu a ouvi murmurar “Coloque algum juízo na cabeça dela” antes de sair da sala. Ali estávamos de novo, sozinhos, com uma briga a caminho.  Aquela raiva cega ainda estava queimando no meu peito, mas eu não consegui afastá-la. Ela era muito forte, e pela primeira vez, me permiti abraçá-la, na esperança de que talvez, somente talvez, o efeito negativo pudesse me ajudar.

 

- Rose, pare. – Sua voz era controlada, mas entrou por um ouvido e saiu pelo outro. – Você não vai, então pare de discutir. Só vai conseguir uma detenção.

 

Levantei meus braços, exasperada. – Você não pode estar pensando que eu vou ficar aqui, como uma criancinha! Eu vou com você, Dimitri.

 

- Não vai.

 

- Vou sim. – rebati.

 

- Não, você não vai. Nem que eu tenha que te amarrar em uma cadeira, você não vai. – Semicerrei meus olhos, e percebi que essa briguinha fútil não ia me levar a lugar nenhum. Então, ao invés de gritar – o que eu quase estava fazendo – decidi argumentar como uma adulta.

 

- Camarada, eu posso te ajudar, assim como ajudei aqui. Eu posso chamar Mason e pedir a localização dos reféns e-

 

– Você realmente acha que Mason vai te seguir até a Rússia?

 

- Eu não sei, mas temos que tentar. E mesmo se ele não for comigo, tenho certeza que há vários fantasmas lá. – Disse, cruzando meus braços.

 

- Fantasmas que não te conhecem e podem tentar te machucar. – Dimitri disse, com a voz grave, e de novo, ele tinha aquele ar protetor enquanto falava.

 

- Dimitri, eles não vão. Nunca tentaram me causar danos antes, por que o fariam agora? Não tem sentido. – Ele suspirou, derrotado, e eu não pude segurar um sorriso na ponta dos meus lábios. Eu estava quase ganhando.

 

- Rose, é muito perigoso, eu falo sério. Não vou simplesmente até lá para olhar o estrago, eu vou caçar quem fez isso, e não quero você no meio. Pode ser morta, ou pior, transformada. Além do mais, se eu entrar em uma luta e você estiver comigo, vou me preocupar mais com você. – Era verdade. Dimitri já tinha cometido esse erro antes, quando voltou àquela caverna para me salvar, ao invés dos Moroi. Era errado em um Guardião, e por causa disso evitávamos relacionamentos.

 

- Eu sei me cuidar. Se eu puder ajudar aquelas pessoas e me machucar, valerá à pena. Eles vêm primeiro. – Repeti o mantra que carregava desde que nasci, e os olhos de Dimitri brilharam com... Raiva? Não podia contar.

 

- Você se machucar não valerá à pena de nada.

 

- Ah, não? Se você conseguir salvar todo mundo, achar a sua irmã e matar quem organizou isso, mas no final da batalha, um strigoi... quebrar seu braço, não valerá a pena? Tem certeza, Dimitri?

 

- É diferente. Você é só uma aluna, e eu sou um Guardião. É meu trabalho proteger os Moroi, assim como é seu trabalho se tornar uma de nós, não se arriscar desse jeito quando nem completou 18 anos.

 

- É meu trabalho protegê-los também. Por favor, me deixe ir com você. Eu quero ajudar a sua irmã. É meu dever, assim como é o seu. O que aconteceu com aquela história de você me tratar como um igual? – Mantive meu tom de voz baixo, e franzi o cenho, tendo certeza de que somente ele ouvisse isso. – Tudo o que passamos não é o suficiente para você me tratar como um igual?

 

Jogar isso na cara dele foi difícil, e eu esperei uma resposta fria ou até mesmo um desviar de olhos, mas ao invés disso, ele fechou o espaço entre nós, e gentilmente tocou o lado do meu rosto, mandando arrepios por onde seus dedos passavam. Seus olhos olhavam dentro da minha alma, com um olhar fixo e forte.

 

- Eu estou te tratando como um igual, e é por isso que não quero que você vá. Não quero arriscar a sua vida, Roza.

 

- E você acha que eu quero arriscar a sua? Nós somos um todo, Dimitri. Separados podemos ser fracos, mas juntos somos muito mais fortes... Fortes o bastante para matar quem levou sua irmã e acabou com a vida de pessoas inocentes. Por favor, me deixe ir. – Ele fechou seus olhos, e o ponto estava marcado. Eu iria nessa viagem, porque constatei o óbvio. Quando lutávamos juntos, lado a lado, éramos difíceis de vencer, basicamente porque tudo o que eu sabia tinha sido ensinado por Dimitri. Desse modo, nossos golpes se complementavam.

 

- Mesmo se eu permitisse isso, o que diríamos a Kirova? – Ele ainda estava pensando se devia deixar eu ir com ele, ou não.

 

- Diga a ela que vai ser uma experiência de campo, ou alguma coisa desse tipo. Diga que, como eu estou passando por muita coisa ultimamente, vai ser bom sair um pouco da mesma rotina. – Eu disse.

 

- Rose, essa é a pior desculpa que você poderia dar.

 

Suspirei, e dei a ele um olhar irritado. – Ótimo, então arranje uma você mesmo. Duvido que suas mentiras são melhores que as minhas. – Ele me deu um meio sorriso, finalmente abrindo seus olhos, que tinham um traço de dor, mas sua mão ainda continuava me acariciando, um fato que eu não tinha esquecido. A sensação de seus dedos no meu rosto era muito forte para ignorar.

 

- O que eu vou fazer com você? – Ele perguntou, balançando a cabeça. Eu lhe dei meu melhor sorriso, embora tenha saído meio triste.

 

- Eu tenho algumas idéias, camarada. – Antes que pudesse fazer mais alguma coisa, seus lábios já estavam nos meus, e eu rezei para todos os santos que conhecia – até para Vladmir – que não tivesse câmeras no escritório de Kirova, ou estaríamos muito ferrados. A sua boca se movia ternamente contra a minha, e ele colocou uma mão na minha cintura, me puxando para mais perto, e outra se entrelaçou no meu cabelo. Eu ajudei, me pressionando contra seu corpo, também, e meio que me perdi no beijo. Uma batida na porta fez nós dois nos separarmos rapidamente, tão rapidamente quanto tínhamos nos beijado. Kirova abriu a porta, e deu um olhar questionador para Dimitri, que assentiu duramente. A velhota voltou para sua mesa, e eu prendi minha respiração, com medo dos gritos que estava prestes a receber.

 

- Diretora, depois de conversarmos, eu acho que Rose deveria vir comigo. – Kirova ia começar a falar, mas Dimitri a cortou. – Deixe-me explicar. Como ela vai proteger uma princesa quando se formar... Pelo menos, é o esperado... Seria adequado Rose ter o máximo de experiência possível. A última Dragomir pode ser atacada, ou até se transformar em um alvo, já que sua morte significaria o fim de uma família real. – Estremeci com o pensamento, e ele continuou. -  Por causa disso, eu gostaria de pedir permissão para que ela me acompanhe até a Rússia. Desta maneira, Rose se tornará mais capaz de proteger Vasilisa.

 

Dimitri tinha deixado bem claro que o único motivo para eu ir com ele era a segurança de Liss, o que, se você me perguntar, eu achei uma estratégia genial. Pedir para um calouro ir em direção ao perigo era uma coisa; mandar um calouro em direção a experiência, para assegurar a vida da última Dragomir era outra coisa. Uma, digamos, aceitável. Kirova hesitou por vários momentos, mas acabou cedendo.

 

- Muito bem, - ela disse, com um suspiro, - Mas quero que saiba, Srta. Hathaway, que está indo nessa missão por pedido do Guardião Belikov, com razões estritamente especiais. Eu não vou tolerar nenhuma gracinha, ou tentativa de fuga, você entendeu? – Tentativa de fuga? Ela realmente achava que eu fugiria deixando minha melhor amiga para trás?

 

- Sim, Diretora. Eu entendi. – Ela assentiu, e nos liberou depois de me dar mais alguns sermões sobre como o que eu estava fazendo era perigoso e como vidas dependiam disso. Ta bom, como se eu não soubesse, Kirova.

 

Assim que saímos do escritório, Dimitri começou a falar. – Rose, espero que saiba o que está fazendo, porque sinceramente, não vai ser uma boa coisa você vir comigo.

 

- Eu sei, e acredite, tenho certeza do que fazer quando chegar à Rússia. Confie em mim, ok?

 

Ele balançou sua cabeça, e parou de andar, pegou meu braço e me virou para que ficássemos frente a frente. – Eu confio em você, Roza. Não confio no que pode acontecer enquanto estivermos no meio do perigo. Se alguma coisa acontecer... Qualquer coisa mesmo... – Ele deixou sua voz morrer, e eu coloquei uma mão no seu ombro.

 

- Nada vai acontecer. Como eu disse, confie em mim. Eu sei como localizar os reféns, e sei como localizar a sua irmã. – De novo, aquela dor cruzou o rosto de Dimitri, e eu apertei seu ombro confortavelmente. – Ela vai ficar bem, eu te prometo. Vamos salvá-la, eu sinto isso. – Ele fez aquela coisa legal com a sobrancelha, e perguntou:

 

- Outro efeito de ser shadowkissed? – Seu tom era muito baixo, mas a risada que eu soltei foi leve, e um pouco mais alta do que eu queria.

 

- Não, é um efeito Rose Hathaway, mesmo, - disse, e adicionei em voz baixa. – Você deveria saber o quão dotada eu posso ser. – Minha tentativa de aliviar o clima funcionou, e ele abriu um daqueles sorrisos lindos que eu amava – ainda assim, era fachada, porque a angustia estava clara nos seus olhos. – Vai ficar tudo bem, acredite em mim. Eu estou aqui por você, camarada, você sabe disso, certo?

 

- Sim. Obrigado, Roza. – Sua voz era bem suave, e eu senti aquela coisa maravilhosa, aquela conexão, passando entre nós. Mal estávamos nos tocando, mas eu podia ver as faíscas saindo dos nossos corpos. Ficamos desse jeito por alguns minutos, mas a voz de Lissa me tirou do transe.

 

Rose? Onde você está? Ela parecia preocupada, e eu suspirei. – Lissa precisa de mim, - Eu disse.

 

- Você está atrasada para o funeral. – Eu franzi o cenho profundamente. Funeral?

 

- Que funeral? – Perguntei. Ele levantou suas sobrancelhas, e me encarou com aquele olhar Você está bem? – Eu nem sabia que era hoje.

 

- Eles mudaram a data, por requisito das famílias reais. Queriam que os corpos fossem apropriadamente preparados, e enterrados com a presença dos parentes. – Eu assenti.

 

- Bem, então acho que te vejo lá. Até daqui a pouco. – Eu fui tirar a mão do seu ombro, mas ele a pegou, e deu um pequeno aperto antes de se virar e ir embora. Nossa relação estava bem perigosa. Agora já não nos segurávamos tanto assim, e gestos minúsculos como esse já não significavam mais nada, mesmo sendo arriscado. Com um sorriso na cara, deixei minha mente vagar, e entrei na cabeça de Lissa para ver onde ela estava. No seu quarto acabando de se arrumar. Ela estava vestida com um vestido preto simples, com alguns babados do lado direito, e sapatos de salto alto fino, também pretos, o que criava um look fino e delicado. Seu cabelo estava bagunçado, e eu vi que ela estava me esperando para arrumá-lo.

 

Depois de alguns minutos, já estava com ela, puxando os cabelos loiros em um coque no alto de sua cabeça, deixando alguns fios soltos. Para fechar o visual, ela colocou brincos com pequenos cristais, e um colar da mesma coleção. Soltei um suspiro ao vê-la.

 

- Você está linda, Liss. – Ela sorriu para mim abertamente, expondo suas presas, e me empurrou em direção a sua cama, para que achasse uma roupa para mim. Acabei vestindo um vestido preto, parecido com o dela, porém o decote era um pouco mais aberto, e ele marcava meu corpo em vários lugares, porém sem ser vulgar. Ela me passou um scarpin preto, e prendeu parte do meu cabelo com um arranjo bem simples, porém lindo. Quase não apliquei maquiagem. Queria que a roupa falasse por si só, além disso, a ocasião não era animadora. Acabei passando uma sombra de cor nude, e um gloss simples. Olhando-me no espelho, não pude deixar de notar o quanto estava bonita – modéstia a parte.

 

Saímos do quarto dela, e fomos em direção a igreja. No caminho, vimos várias pessoas chorando e se abraçando, na maioria Moroi reais, que tinham perdido membros da família. Dei um aceno para elas enquanto passava, e Lissa parou para prestar as condolências, dando seu charme e mandando espírito enquanto tocava-as. Fiz o melhor para expulsar a tristeza que crescia dentro do meu peito – efeitos do elemento, com certeza – e ficar firme perante todos.

 

Nos sentamos no fundo da igreja, junto com Christian, longe de olhares curiosos, só por precaução. Ainda não tinha falado para Liss sobre a escuridão, mas ela aceitou de qualquer maneira. Não sabia se eu ia começar a gritar ou alguma coisa desse tipo no meio do funeral, mas não queria arriscar. Eu não ouvi grande parte do que o padre falou, a maioria das coisas era sobre como as almas perdidas na batalha estava com Deus, e como os anjos cuidariam delas pela eternidade. Para falar a verdade, essa parte não me tocou muito... O que me tocou foi o que ele falou depois disso.

 

- Muitas vezes, - o padre Andrew disse, - pensamos que estamos sozinhos nesse mundo, o que não é verdade. Devemos nos apegar as pessoas, ao amor, a vida e a amizade, porque são eles que nos suportam e nos ajudam. São eles que te definem, assim como suas ações nessa vida. Pensamos que ela é longa, mas na verdade, passa tão rápido diante dos nossos olhos, que mal temos tempo para aproveitá-la. Por isso devemos dar importância a cada coisa que acontece ao nosso redor antes da morte. Cada minuto é precioso. – Depois disso, ele falou como quem morreu no ataque estava ao lado de Deus, eternamente. Não sabia muito bem no que acreditar, mas as palavras do padre me acordaram. Eu estava fugindo de Lissa, com medo de magoá-la, mas era a hora de contar a verdade sobre o que estava acontecendo comigo. Ia seguir o conselho de Dimitri, mesmo que isso a machucasse.

 

Pelo resto do funeral, tentei ficar com a cabeça abaixada, mas os nomes dos mortos pareciam agulhas penetrando no meu cérebro, e eu voltei minha atenção para as palavras do padre. Quando o nome Ralf Sarcozy foi pronunciado, eu senti o olhar de Jesse em mim – ele tinha virado a cabeça só para fazer eu me sentir culpada. Devolvi o olhar, e a única coisa que vi nos olhos dele foi raiva e dor. Estava tão trancada no seu olhar que tomei um susto quando ele se levantou, e foi até a frente da igreja. Minha boca se abriu, e por um instante eu pensei que ele estava louco.

 

- Eu só queria falar que... Perdi um grande amigo nessa luta, embora saiba exatamente quem foi o culpado pela morte dele. – Ele me encarou, como se quisesse gritar para o mundo que eu tinha matado Ralf. Fechei meus olhos por um tempo, e quando os abri, Jesse ainda me encarava gravemente, mesmo depois de ter terminado seu discurso. Algumas pessoas perceberam que era a mim que ele se referia, mas nada disseram, graças a Deus.

 

Quando finalmente acabou, Lissa e eu saímos da igreja, depois dela se despedir de Christian, e a imagem de Jesse me acusando ainda pairava sobre mim. O clima estava mais frio, e um vento soprava pelo campus da Academia. Estava tudo bem silencioso, o que eu achava bizarro, se você me perguntar.

 

Estávamos quase chegando ao meu dormitório, quando uma luz fraca se materializou na minha frente. Eu parei abruptamente, e disse a Lissa. – Li-Lissa, por que você não vai para o dormitório? Eu tenho que falar com Alberta sobre um negócio da segurança. Assunto de guardiões, sabe como é.

 

- Está tudo bem? – Sua voz era tímida, cautelosa, e eu assenti antes de dar um abraço trêmulo nela – nada muito estranho, já que estava uns º10. Ela se virou e foi embora, e eu vi sua partida, para não levantar suspeitas. Respirei fundo, ciente do que estava atrás de mim, e girei nos meus calcanhares, encarando-o.

 

- Mason? – Perguntei, incerta. Um rápido aceno de cabeça confirmou sua identidade.

 

Eu não precisava mesmo desse encontro. 

 


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Notas finais do capítulo

O que acharam? Eu sei que pode parecer que eu to enchendo linguiça, mas eu queria que a Rose fosse no funeral e talz.. Como que tá a historia? Continuo? Paro?

Bjoos! *-*