Sos escrita por Maria Rodrigues


Capítulo 2
Capítulo 2




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           Quando entrou na sala, o garoto tentou com toda sua paciência não rir. Ou não se deixar abalar. Potter realmente tinha algo. Ele se lembrava de ouvir as garotas falarem como a cicatriz em sua testa era charmosa, ou como seu modo soberbo apenas o fazia mais popular e mais perfeito ao ver de toda a comunidade feminina da escola. Mas nunca achou que fosse concordar. Mas de fato, não concordava. Era exagero. Potter tinha, sim, olhos bonitos. E a cicatriz em sua testa lhe chamava a atenção, mas já se enjoara de vê-la.

O garoto estava com os olhos fechados, mas mesmo assim era como se seus olhos esmeralda estivessem ali, brilhando com sua arrogância e o fitando como se ele fosse um mero garoto pobre de cabelos coloridos. Não se importava com o que o garoto pensava. Só queria ajudar. Era errado, talvez, mas sentia que devia algo àquele menino tão aparentemente inabalável, mas que por dentro sangrava feridas abertas que nem o tempo poderia curar. Ele apenas tinha seu palpite, e ele o indicava que o moreno precisava dele. Ele apenas sentia.

         Sentou ao lado dele, mexendo freneticamente em seus cabelos que já chegavam à altura do ombro. Potter também estava com o cabelo comprido, e isso era horrível – o fato de partilharem algo semelhante. Era óbvio que eram opostos! Seus fios coloridos artificialmente de azul e rosa estavam perdendo a intensidade. Já iria precisar colori-los novamente logo, logo. Gostava do contraste de seu cabelo naturalmente moreno com as cores vivas. O dava um diferencial.

         E seus olhos... Os adorava. Eram quase cinza por terem um azul tão profundo. Mas os do garoto novo... Ah, eram imbatíveis. Se lembrava de ter ficado minutos apenas os contemplando de longe. Tentava não ser notado, mas não tinha certeza se havia tido sucesso. Aquele garoto, que vinha de tão longe, lhe parecia tão infeliz que achou, por alguns minutos, que ele mesmo era feliz. Estava enganado, é claro. Passados alguns instantes, voltou a perceber como sua vida estava um fiasco. Voltou a lembrar a situação em que se encontrava.  

Quando alguém iria pensar que Draco Malfoy iria para o lado do bem? Quando alguém iria cogitar a idéia de que o jovem Malfoy trabalharia para ter certeza do bem estar do Harry Idiota Potter? Quem, algum dia, iria imaginar que ele estaria se passando por um maldito trouxa para que o maldito Potter não se machucasse? Não morresse?

Ninguém. E isso não o ajudava. E não ajudava também o fato de que seu estoque de poção polissuco estava acabando. Ou o fato de que o garoto em que havia se transformado estava morto, o que tornaria impossível a ele voltar a ficar com essa aparência rebelde que o chamara atenção.

E tudo isso só significava uma coisa: Precisava contar ao Grifinório.

Mas como? Se contasse, o orgulhoso iria fingir que nunca conversou com Brendon Khol – era o nome do bruxo por quem estava fingindo ser – e provavelmente faria com que todos achassem que o dito Brendon estava louco. E ele estaria, se não estivesse morto.

          O professor entrou em classe, e Draco ficou penalizado ao ter que acordar Potter. Ele parecia dormir tão profundamente que, por alguns segundos, parecia inofensivo.

           “Hey Potter! Acorde.” O polissucado tocou o ombro de Harry gentilmente, o fazendo despertar de seu sono devagar. “O professor já chegou, acorda.” Quando retirou a mão do ombro coberto pelo casaco do moreno, era como se tivesse tomado um choque. Não sabia o que aquilo havia significado, mas algo dentre dele pedia para o toque voltar. Bufou, balançando os cabelos de modo que ficassem despojados. Estava gostando de ter aquela aparência moribunda. Claro, ser um Malfoy convinha quando precisava impor algum respeito, mas não ter que fingir ser alguém que não é era bom também. O que soava contraditório no momento.

              “Obrigado. Qual seu nome, mesmo?” Percebeu que Harry o olhava intrigado. Deveria estar o observando enquanto pensava. Fazia muito isso ultimamente. Não era proposital, é claro, mas apenas acontecia. E não estava gostando disso, não mesmo.

               Draco fingiu não ouvir a pergunta. Era muito bom em ignorar Potter, então não era bem um problema fazer isso agora. Era até mais conveniente, na verdade, uma vez que o Grifinório não poderia usar magia ou chamar atenção.

               “Olha só Potter, preciso falar com você quando as aulas terminarem. E não vou aceitar nenhum ‘não’ como resposta. E estou falando sério.”

                E Malfoy não chegou a ouvir sua resposta, por que o professor havia achado prudente começar a gritar bem naquele instante. Alguém muito espirituoso havia cuspido uma bolinha de papel em seu rosto. A brincadeira idiota fez com que o Sonserino até sentisse falta do que os Gêmeos Weasleys fazia. E isso era algo difícil de acontecer. Bem difícil.

                O sinal logo tocou após os cinqüenta dolorosos minutos em que tentaram, exato, tentaram aprender Física. Draco não tinha muitos problemas, já que havia achado alguns livros sobre isso e os estudado por vários minutos. Mas era não inútil saber algo daquilo, que simplesmente deixou de lado após dois dias de leitura constante.

                 Chegada a hora. Viu que Potter demorava a arrumar o material, obviamente esperando que Draco tomasse alguma atitude. Como dizer? Talvez desse algumas dicas, mas do jeito que o garoto era tapado provavelmente não entenderia, o que faria com que Draco se irritasse.


                  “Certo, Potter. Vamos por algumas cartas na mesa.” Malfoy já tinha todo seu material arrumado na mochila que pesava devido ao grande número de livros que carregava. Deveria usar um Feitiço Levitador, mas seria arriscado demais. “Me mostre seu Patrono para que eu possa comprovar que é você.”

                Os olhos do moreno se arregalaram tanto que Draco achou que iriam saltar de seus buracos. O verde parecia estar invadindo a sala em que estavam. Só o que podiam ouvir era a vassoura do faxineiro, que lembrava muito a Filch por estar sempre gritando e reclamando com os alunos, e suas respirações pesadas.

“Como você – Eu não – Isso é ridículo!” as frases saiam desconexas da boca do garoto, que parecia estar seca pelo que seu pomo-de-adão não parava de subir e descer, o entregando.

         “Você deve estar se perguntando como que eu descobri, mas você não é um gênio, Cicatriz.” Desta vez os olhos de Harry se comprimiram, de modo questionador e então voltaram a se abrir, arregalados, ao notarem o sorriso irônico inconfundível que brincava nos lábios do Sonserino disfarçado.

         “Não é possível.” Ele parou abruptamente, ainda olhando para o garoto, questionando se era mesmo quem ele pensava que era. “Malfoy?”

         “Ora, ora! O garoto pensa!” E assim como Draco achou que fosse capaz de continuar a inimizade com o outro fora de Hogwarts, Harry também não achou que fosse ficar feliz com a aparição do até agora arquiinimigo.

         Mas ambos estavam enganados.


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