- E a história se repete.

Saí correndo escada abaixo; tinha que alcançar aquele desgraçado.

O que aquele pirralho mal-amado tinha na cabeça para dizer uma coisa dessas?!!

Escutei Stefan nos fundos da casa; quando estava fazendo a curva por trás para pegá-lo de surpresa, ouvi sons estranhos dentro da casa. Primeiro foi como um baque surdo, como se algo tivesse sido derrubado no chão ou coisa parecida. Não foi interessante o suficiente para me fazer perder o foco; até que eu pude ouvir uma voz fraca balbuciando coisas que eu não conseguia entender, vinha do segundo andar e era muito baixo, mas me fez parar por um motivo: a única pessoa na casa era Lizzie. O que será que estava acontecendo?? Parei automaticamente, e nesse instante percebi que não alcançaria mais Stefan mesmo que voltasse a correr, éramos muito rápidos, um segundo a mais de dianteira significava que ele já estava longe daqui.

Prestei mais atenção nos sons, que pararam de repente. Subi as escadas novamente e olhei no corredor, o quarto de Lizzie ainda estava fechado, então imaginei que ele ainda estivesse no meu. Entrei olhando para todos os lados cautelosamente, para garantir que não havia mais ninguém no quarto. Vi Lizzie encolhida no chão, perto da cômoda. Abaixei-me rapidamente e segurei-a em meus braços para ver o que tinha acontecido; Minha camiseta que ela usava estava completamente ensopada, assim como seu rosto; mas a parte mais estranha era que ela não estava acordando. Estava inconciente.

- Lizzie? Acorde! Lizzie.. O que aconteceu, fale comigo..! - Eu dizia enquanto a sacudia um pouco, ela tinha que acordar. Vampiros não desmaiam facilmente, geralmente isso só acontece quando são gravemente feridos ou algo assim..

Quando me levantei com ela no colo, percebi que algo caiu no chão, provavelmente estava com ela e no meu desespero não percebi. Abaixei-me novamente e peguei a folha de papel. Analisei melhor e vi o escrito tão familiar no canto: Katherine Pierce - 1864. Virei-o e aqueles olhos castanhos que eu conhecia tão bem me fitaram. O que Lizzie estava fazendo com a foto de Kath...?

Não importava agora. Primeiro eu tinha que ter certeza de que ela estava bem. E para isso ela tinha que acordar. Levei-a para seu próprio quarto, que estava mais organizado que o meu. Deitei-a em sua cama e coloquei o cobertor sobre seu corpo frágil, na altura da cintura.

Sentei-me no canto do colchão, e pensei o que eu poderia fazer. Fui até seu banheiro, peguei uma toalha de rosto limpa e molhei um pouco com água fria da pia. Voltei até o quarto e comecei a passar a ponte da toalha por sua testa e depois delicadamente pelo resto do rosto, retirando o máximo de lágrimas que eu consegui.

Depois esperei mais alguns minutos para ver se ela acordaria, o que não aconteceu. Deve estar em estado de choque ou algo assim, pensei. Decidi o que fazer, e que provavelmente lhe daria forças para acordar. Levei meu pulso até a boca e fiz pequenos furos com a ponta dos dentes. Quando o sangue começou a fluir, levei o braço até a boca de Lizzie e esperei que ela começasse a sugar instintivamente, o que acontecia até durante a inconciência. Estava um tanto lento, então demorou um tempo até que percebi que suas bochechas tinham ganhado um leve tom rosado, havia vida novamente em seu rosto. Demorou um pouco mais até que ela realmente reagisse, primeiro soltando meu braço, e depois abrindo os olhos bem devagar, piscando várias vezes, como se a luz os ferisse. Senti um enorme alívio quando ela me encarou com aquelas lindas esmeraldas verdes. Meu plano havia funcionado.

- Você está bem? - Perguntei. Não esperava que ela fosse sincera, ela sempre pensava nos outros antes de si mesma.

Ela fez que sim com a cabeça; e como eu já esperava, pude ver que era mentira. Seus olhos estavam cheios de lágrimas, e ela piscou várias vezes para evitar que elas caíssem.

- O..o que aconteceu? - Perguntou ela com um fio de voz embargada pelo choro preso.

- Bom.. - Eu não conseguia decidir se contava tudo pra ela ou esperava até ter certeza de que ela estava bem.

- Damon, por favor, me diga a verdade. Nada de preocupações bobas sobre "como eu estou", você sabe muito bem que não sou tão fraquinha assim. - Disse ela em um tom de comando que se tornou meio ofendido no fim.

- Tudo bem.. Mas não foi nada de mais, na verdade...Eu não cheguei a alcançá-lo depois que saí correndo; quando estava prestes a agarrá-lo eu ouvi você aqui em cima e parei. Ele continuou correndo e não sei para onde foi. Tomara que fique lá por um bom tempo, senão serei forçado a quebrar a cara dele. - Disse tentando controlar a raiva.

- E depois..? - Perguntou ela com a testa franzida, como se tentasse se lembrar de algo.

- Você não se lembra..? Estava no meu quarto; você desmaiou. - Era realmente estranho ela não se lembrar. Será que tinha batido a cabeça ou coisa assim??

- Eu desmaiei?? Não seja ridículo, é claro que eu não desmaiei; não sou nenhum tipo de humaninha frágil. - Disse ela fechando a cara. Ela estava duvidando de mim?!

- Tudo bem, tudo bem..(Suspiro) Discutimos isso depois. Eu queria te perguntar.. O que você estava fazendo segurando a foto de Katherine? - Perguntei confuso. Isso era muito estranho. Observei o rosto de Lizzie enquanto esperava uma resposta; primeiro ela pareceu estranhar a pergunta, depois uma súbita compreensão encheu seu rosto, e por último ela pareceu empenhada em me esconder o rosto de mim, como se não quisesse que eu soubesse o que estava acontecendo. Ela abaixou a cabeça e seu longo cabelo negro tampou seu lindo rosto que agora tinha uma expressão triste que beirava a agonia. 

- Lizzie? Olhe para mim. - Eu disse erguendo seu rosto com minha mão enquanto passava a outra por seu cabelo. - Sabe que pode me dizer qualquer coisa. - Seus olhos se encheram de lágrimas novamente. - O que você estava fazendo com aquela foto? - Perguntei encarando seus olhos de esmeralda.

*PDV Lizzie*

 - O que você estava fazendo com aquela foto? - Perguntou ele incisivo. Como eu responderia? Como podia dizer a ele que ele estava apaixonado por um monstro horrível como eu? Ele não entenderia.

No momento em que ele disse que eu havia desmaiado eu achei que fosse brincadeira ou algo assim, não me lembrava de nada parecido. Mas depois que ele mencionou a foto de Katherine foi como se a memória voltasse em flashes, cada palavra dita para aquele estúpido pedaço de papel velho, cada sentimento terrível que eu senti e cada pensamento confuso que me fazia ter a impressão de que minha cabeça ia explodir. Tudo junto certamente havia sido demais para meu cérebro, que foi automaticamente desligado. Não sei como isso podia acontecer, céus eu era uma vampira, não era?!!

Damon ainda me encarava esperando por uma resposta. Eu não aguentei mais, tinha que contar a verdade para ele. As lágrimas que eu segurava com tanto esforço finalmente me venceram e escorreram por meu rosto. Como eu podia chorar mais?? Já devia estar desidratada com tanto chororô alguns minutos atrás. Pigarreei para tentar melhorar minha voz embargada.

- Damon, e-eu.. eu peguei a foto porque.. bom, é que alguns dias atrás eu fui até seu quarto para te ver, mas você não estava lá, e eu vi um papel junto com cacos de vidro no chão e me abaixei para ver o que era; era essa tal foto da Katherine, e eu comecei a pensar sobre tudo o que aconteceu e percebi que era tudo culpa dela, toda essa briga de vocês dois.. - Parei para tomar fôlego. - E que ela era um monstro terrível. Mas depois do que aconteceu, de tudo o que houve entre nós, e a reação de Stefan.. No momento em que você saiu correndo atrás dele, furioso, eu percebi que vocês estavam brigando de novo.. Mas dessa vez por minha causa.. e.. e.. - Não consegui falar por causa dos soluços. Maldito choro. Respirei fundo algumas vezes para me acalmar, o que não deu muito certo, mas pelo menos consegui continuar o que estava dizendo. - Percebi que sou um monstro tão ruim quanto ela foi; e por isso não posso mais continuar.. aqui. Percebi que o único jeito de consertar meu erro é me afastando de vocês, para não causar mais confusões. Eu vou embora assim que terminar de fazer as malas, talvez amanhã de manhã. - Mais lágrimas. E Damon me encarava com uma expressão indecifrável, da qual eu só conseguia distinguir a surpresa. - Sinto muito por todos os problemas e confusões que causei a sua família; e obrigada por cuidar de mim por todos esses anos, mas.. eu tenho que deixar de ser egoísta e querer vocês por perto, porque isso está destruindo todos nós. - Terminei de dizer aquelas palavras que me feriam tanto e fechei meus olhos. Não conseguia continuar olhando para Damon e ver qual seria sua expressão. Sabia que me machucaria vê-lo tanto sofrendo por "perder seu amor", ou aceitando tranquilamente que eu era a culpada de tudo isso sem se importar se nunca mais nos veríamos, ou qualquer que fosse sua reação, eu sabia que iria me machucar, porque doía demais ter que me separar dele, principalmente agora que estávamos juntos de verdade.

Continuei de olhos fechados, forçando-me a continuar respirando, coisa que agora parecia exigir esforço demais, não parecia valer a pena.

Senti seus braços me segurando bem apertado, e seu queixo apoiado em no topo de minha cabeça. Derepente algo quente estava molhando a raiz de meu cabelo. Lágrimas. Será que esse era seu modo de se despedir? Ficou estranho quando ele começou a rir, ainda mais porque o som se juntava ao som de choro.

- Acredito que sua imaginação fértil tenha pensado em besteiras e comparações idiotas e sem nexo como essa, e acredito que você tenha bolado todo esse plano tolo, mas que teve boas intenções, que pensou em nós antes de pensar em si mesma.. mas se esqueceu de um detalhe.

- Qual? - Perguntei tentando entender porque ele estava rindo do meu plano. Era um dos momentos mais tristes da minha vida, não era para rir.

- Você realmente achou que eu te deixaria ir? - Perguntou ele sério. - Você é a razão pela qual eu vivo, o amor da minha vida. Acha mesmo que se livraria de mim assim tão fácil? Só porque você teve um ataque de loucura?? - Disse ele divertido.

- Vou ter você ao meu lado para sempre; bom, enquanto você me amar também. - Sussurrou ele.

- Para sempre. - Sussurrei de volta em seu ouvido. - Me desculpe por tudo.. É só que.. tem tanta coisa acontecendo agora, que eu me senti perdida; não sei o que fazer. - Adimiti.

- Não se preocupe, sempre vou estar aqui para te ajudar. - Prometeu ele.

E então a noite passada se repetiu...