- Vamos, turma. Não temos o dia todo! – A diretora falou, deixando todos ainda mais irritados. Já sabíamos que não tínhamos tanto tempo. Afinal, estávamos todos ansiosos para chegar. Acampamento em pleno verão pode ser estranho, já que normalmente acampa-se no inverno, mas o local para onde íamos era simplesmente perfeito.

Entramos todos no ônibus, onde o professor de biologia – um cara chato, mas sexy – nos mandava sentar em ordem de chamada. Sabe o que isso significa, não é? Brown vinha logo depois de Bieber na lista de chamada, então tive que sentar ao lado dele. Pelo menos meu número era na janela, então eu podia fingir interesse na paisagem e ignorá-lo.

Assim que o ônibus começou a andar, todos comemoramos. Todo mundo adorava aquele acampamento.

- O que tem de mais nessa excursão? – Justin perguntou. – Todos parecem adorar.

- Se todos adoram, é porque é boa. – Dei de ombros. – Mas acho melhor você tirar suas próprias conclusões. Nenhum de nós já viajou para milhares de lugares.

- Anna. – Ele suspirou. – Quando vai parar de me tratar assim? Caralho, já falei que não foi culpa minha.

- Tá legal, Bieber. Não falei que te culpo, falei? – Olhei-o, fria. – Não significa que vai me fazer de brinquedo, no entanto.

- Jamais faria de você um brinquedo. – Ele fez uma careta.

- E isso é confortador. – Ironizei. Depois sorri e peguei meu celular.

Já estamos no ônibus – A.Brown.

Enviei a mensagem e esperei.

Já estou acomodado no local onde a escola sempre fica. Dessa vez tenho um chalé só meu. Já sabe o que quero dizer... – A. Sterling.

Gargalhei da resposta dele. Alex e eu éramos amigos desde crianças, e ele fez bastante falta quando se mudou. Na época, era um nerd engraçado. No entanto, sua mudança tinha acontecido há dois anos, e ele mudou bastante com o tempo. Nas poucas vezes que nos vimos (a última foi meio ano depois da mudança dele), eu notei a mudança nele. Mudou rápido, eu sei, mas foi pra melhor. De repente, deixou de ser só um nerd-engraçado para virar um nerd-engraçado-alto-gato-e-supersexy. Sim, ele tinha melhorado muito. Sua voz engrossou, passou a se vestir melhor (entenda-se: passou a se vestir como um garoto), e de repente falava de tudo e mais um pouco. Se eu já gostava dele antes (como amigo, relaxem), depois só aumentou. Sim, eu o adorava.

O mais legal nele era que, apesar de ter melhorado tanto, ele ainda era o mesmo comigo. Ainda me ouvia sem reclamar, ainda me ajudava, e ainda me contava todos os problemas dele (que antigamente envolviam notas, atualmente envolviam garotas). É, seria bom revê-lo.

- Alguém é bem direto. – Justin observou, lendo a mensagem. Revirei os olhos. Ele que pensasse o que quisesse. – Quem é esse?

- Um amigo. – Sorri, simples. – Ei, Mia! – Chamei. Ela estava duas fileiras na frente e ficou de joelhos, virada para trás, para me ver. – Vou repassar uma mensagem, pegue o celular.

Mia assentiu e pegou o aparelho. Enviei a ela o que Alex me enviou.

Mia deu um gritinho empolgado que assustou muita gente.

AH. MEU. DEUS. Anna! DESDE QUANDO SABE QUE ALEX ESTARÁ LÁ? POR QUE NÃO ME CONTOU ANTES? APOSTO QUE ELE TE LIGOU HÁ SÉCULOS. ELE SEMPRE TE LIGA.

Eu ri ainda mais.

Ligou na festa. Ah, qual é, ele me ama mais do que te ama!

Era brincadeira. Alex podia ser um grande amigo, mas tanto Mia quanto eu sabíamos que não era de mim que ele gostava (por sorte... Imagina se eu tivesse que dar o fora no meu melhor amigo de todos os tempos??). Ele gostava dela, de Mia.

O negócio é que eles nunca chegaram a assumir que tinham alguma coisa. Basicamente, eles se pegavam quando se viam, depois agiam como simples amigos, ou nem isso. Casal estranho, não? Eu torcia para que aquilo deixasse de ser só um rolo, só que era um sonho bem difícil. Não, eu não interferia, e nem pretendia fazê-lo. Ambos eram meus amigos, e ambos que se entendessem. Eu continuaria agindo normalmente enquanto pudesse.

- Parece que você não é tão descompromissada assim. – Justin comentou, parecendo surpreso.

- Como se eu ligasse para o que você pensa. – Revirei os olhos. – Quer parar de ler minhas mensagens?

Ele riu e olhou para frente, pegando um ipod e colocando fones no ouvido. Fiz o mesmo com meu ipod, mas não dei play, porque ele me distraiu.

Ele começou a cantar baixinho, acho que acompanhando a música, e eu acabei me esquecendo de que o detestava. Afinal, ainda gostava das músicas, e ouvi-las ao vivo era um tanto melhor.

Me plus you, I'ma tell you one time
Me plus you, I'ma tell you one time

Tinha que ser aquela música? Era de propósito, fato. Por fim, depois de babar um tanto e ficar beeem encantada, eu coloque meus fones de ouvido e me desliguei dele (tive que colocar McFly pra tocar).

Não demoramos tanto a chegar, e a diretora nos dividiu em chalés, em ordem alfabética. Calma, eu sei que chalés não tem nada a ver com acampamentos, mas estávamos em uma montanha, rodeados por árvores e bosques, em um lugar lindo e cheio de insetos (comentário de Stacy).

A diretora cismou de nos organizar por sobrenome nos chalés também. Só que seriam meninos de um lado, meninas de outro, é claro, então acabei ficando no quarto de Mia... E Stacy.

Não tenho muito do que reclamar, já que Stacy parara de me incomodar. O alvo dela agora era Rebecca, e o alvo de Rebecca, naquele momento, era Stacy. Enquanto a briga das duas durasse, seria bom para mim, que ficaria esquecida.

Depois de deixar as coisas no meu chalé, fui para o chalé de Alex (ele me mandara uma mensagem falando qual era). Bati na porta e ele não demorou a abrir.

Arregalei os olhos.

- Alex! – Gritei. – O que você fez? Está ainda mais alto do que da ultima vez, e seu corpo... – Corei ao me dar conta de que tinha falado aquilo alto.

Ele gargalhou e fez sinal para que eu entrasse.

- Anna, você me viu há mais de um ano. – Ele zombou. – E aí, como estão as coisas?

- Normais, eu acho. – Ele arqueou uma sobrancelha quando respondi. – Tá, nem tão normais assim. Mas é muita coisa pra contar.

Ele sorriu e vestiu uma camisa. Não pude conter um suspiro. Ele ficava tão melhor sem aquela camisa!

Ok, acho melhor eu parar.

- Vem, vamos dar uma caminhada e você me conta. Sei que hoje tem o dia livre.

Assenti e fomos para o exterior. Respirei fundo, sentindo o ar puro e adorando. Todos os alunos estavam ali fora. Rebecca foi a primeira a me ver saindo, infelizmente.

Ela foi até nós.

- Anna – Cumprimentou, com um sorriso muito falso no rosto. – Quem é ele?

- Alex Sterling. – Ele se apresentou. – E, pela cara de Anna, você deve ser Rebecca.

Fechei a cara para ele, que riu e colocou um braço ao redor dos meus ombros. Acabei sorrindo.

- Anna falou de mim em tão pouco tempo? – Rebecca pareceu interessada e irritada ao mesmo tempo.

- Pouco tempo? – Alex zombou. – Conheço Anna desde os cinco anos de idade e... – Ele parou de falar, fitando um ponto atrás de Rebecca. Olhei, curiosa, e caí na gargalhada.

Mia estava parada, olhando-o também, tão pasma quanto imaginei que ficaria. Afinal, ela não o vira desde que ele foi embora (mas falava com ele pela internet, e pelo que me contavam, o clima entre eles era o mesmo).

- Acho – Falei, chamando a atenção dele – Que quer que eu te conte as novidades depois, adivinhei?

Lentamente, ele sorriu.

- Acertou em cheio, Anninha. – Falou, me soltando e indo até Mia. Fui para perto de Stacy (podem ficar pasmos), que sorriu para mim (podem ficar mais pasmos ainda).

- Onde Mia foi? – Ela estranhou. Apontei por cima do ombro, e Stacy arregalou os olhos. – Aquele ali é o nerd? – Ela perguntou. – Alex?

Assenti.

- Ele mesmo, por incrível que pareça.

- Anna Brown – Ela me olhou séria – Se você conhece mais algum nerd, me apresente agora. Quem sabe eu também não dou a sorte de Mia?

Caí na gargalhada.

- Não conheço, mas vou ficar de olho.

Ignorei a imagem de meu irmão, que subitamente me veio na cabeça. Ele não era nerd, mas fazia o tipo de Stacy. Ou pelo menos, o tipo de garoto que ela dizia que a atraía.

Mia e Alex saíram, juntos, rumo à floresta.

- Acho que temos que tomar banho cedo – Stacy, que também viu, comentou. Olhei-a sem entender. – Mia vai voltar com os cabelos sujos de terra, e nem preciso mencionar outro motivo para ela precisar de um banho, né?

Novamente, caí na gargalhada, e nós duas fomos com o resto da classe para perto de um lago que havia ali. Rebecca e a turminha de seguidoras dela também foi, e ela carregou o namorado junto. Eu ainda sentia raiva por vê-los.

Mas não era ciúme!

Há! A quem eu quero enganar?