Sete Chaves I - acima dos Céus escrita por apequenaanta


Capítulo 11
De certo modo, ele era a nossa melhor opção.


Notas iniciais do capítulo

Postei de novo, qiço, ninguém me segura mano. -qqq
Então é o seguinte, camaradas. Capítulo pequeno, mas fundamental. É.
Espero que gostem.



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CAPÍTULO DEZ

         De certo modo, ele era a nossa melhor opção.

 

 

 O bar seria o lugar perfeito para Gabe passar seus domingos de Poker, se estivesse vivo, é claro.

 Depois que saímos discretamente do hotel, pagando á diária como se uma janela não estive quebrada e um quarto totalmente inundado, Annabeth nos levou novamente para o bar.

 O lugar, para você ter idéia, era bem aquele cenário que os alcoólicos e maridos traídos escolhiam passar o dia inteiro, afogando suas magoas nos copos cheios de cerveja ou qualquer outra substancia alcoólica que o barman empurrava com tanto gosto.

 Não era um bar grande. Era estreito e longo. O local a onde ficavam as bebidas, ocupava quase todo o espaço do bar, deixando somente três ou quatros mesas feita de uma madeira que parecia bem gasta, ficarem dispostas pelo recinto. Banquinhos presos ao chão rodeavam o bar, e quase todos estavam sendo usados por caras muitos gordos, ou muito magricelos. Não havia meio termo.

 Uma luminária presa ao teto, que era sustentada por um fio de cobre, balançava de um lado para ou outro, como se o vento soprasse nela. Detalhe: não entrava vento aqui. Como se não bastasse à luz fraca que a luminária emitia, a densa nuvem de poeira misturada com fumaça de cigarros e charutos dominava completamente o ar, abafando ainda mais o seu brilho fraco, deixando o lugar com uma aparência parecidíssima com os filmes de velho oeste que Paul adorava assistir.

  Assim que puxamos a porta para entrar, um sino tilintou, fazendo cabeças virarem para observar os cinco adolescentes perfumados e arrumados, sem a cara suja e oleosa que geralmente os bêbados tinham. Após olharem por um tempo, os bêbados decidiram que éramos crianças insignificantes, e voltaram para suas garrafas e copos de cerveja. 

 O barman sorriu de maneira desgraçada assim que avistou Annabeth e Thalia ao nosso lado.

– As meninas decidiram voltar – disse ele alegremente, com um forte sotaque holandês. Depositou uma garrafa de absinto no balcão – Por conta da casa. 

 O barman era um cara por volta dos 40 anos. A calvície em seus cabelos já era bastante evidente. Vestia uma camisa preta colada e por cima uma jaqueta de couro, que não era uma ótima combinação com o avental florido que estava amarrado em sua cintura. Ele parecia mais um motoqueiro do inferno com o hobby de cozinhar bolinhos fofinhos de caricaturas de gatinhos.

 Torci meu rosto, obviamente não feliz com o jeito que ele as olhava e principalmente com o jeito que alguns bêbados avaliaram Annabeth de cima para baixo.

 Annabeth se pos a minha frente com o corpo ereto, querendo mostrar que as coisas estavam sérias.

– Não viemos para beber Jack, mas obrigada.

 Jack? Ela já até sabia o nome desse ser imundo que alimentava ainda mais os vícios dos bêbados?  

 O barman Jack deixou o sorriso murchar, visivelmente triste por perder algumas clientes que ele de cara já parecia gostar muito. Ou simplesmente estava decepcionado por perceber minha aproximação perigosa de Annabeth, mostrando para ele de maneira implícita que ela era minha. Claro, sem ela saber.

 Ele retirou a garra de absinto do balcão, deixando ela ao lado das outras inúmeras garrafas de bebidas que eu não sabia o nome.

– Bem, fica para a próxima então – ele falou meio esperançoso.

– Eu acho que não, hein, amigão? - eu disse alto, me impondo ao lado de Annabeth.

 Ele virou a cabeça para me encarar, me lançando um olhar estilo “estou pronto para pegar um dos meus bolinhos de gatinhos e tacar na sua cara”.

– E você seria? – ele perguntou, enquanto limpava um copo.

– Percy, não se mete nisso – Annabeth pediu, segurando meu braço.

 Os olhos do barman brilharam ainda mais.

– Oh, então você é o Percy. O lento e burro Percy – falou ele meio alto demais, atraindo as risadas zombeiras dos bêbados puxas sacos, que esperavam uma rodada de graça após o apoiaram.

– E você é o Jack, o cara que oferece bebida para duas garotas menores de idade – pelo o jeito que ele me olhou, parecia que eu havia marcado um ponto.

 Riam dessa, bêbados imundos.

 Mas é claro que eles não riram. Só viraram as cabeça, esperando a carnificina que aconteceria em breve.

– Elas são menores de idade? – ele perguntou visivelmente perturbado – Vocês são de menores? – ele parecia mais irritado do que perturbado agora - Mas... Mas suas identidades dizem que ambas tem 22 anos!

 Queixos foram ao chão. Nico, Clarisse e eu viramos imediatamente para as meninas, que olhavam envergonhadamente para os seus pés.

– Nós precisávamos nos misturar ao ambiente – Thalia admitiu chutando uma pedrinha invisível.

– Eu não acredito – Clarisse disse – O que Ártemis e Atenas pensaram de vocês?

– Elas estão bravas – Annabeth falou levantando a cabeça.

– Muito bravas.

 Como elas sabiam disso?

– Sonhos – Annabeth respondeu parecendo ler minha mente – Elas fizeram questão de nos colocar no mesmo sonho e ambas brigaram com nós.

 O barman estava ao nosso lado agora. Ele brincava visivelmente impaciente com um canivete vermelho, abrindo e o fechado, me fazendo ter um vislumbre de Ares.

 Agora que ele estava perto o suficiente, pude notar o quão grande e musculoso o cara era. Se saíssemos numa briga de socos aqui – só de olhar na sua cara já dava para ver que ele queria e muito – eu apanharia feio.

– Vocês são de menores, sim ou não? – ele perguntou ameaçadoramente para Thalia e Annabeth.

 Jack pareceu se irritar em ver que ambas não demonstraram qualquer medo ao ver o canivete que fazia questão de brincar a vista de todos, mostrando o quão perigoso ele era. Claro que o avental florido não ajudava muito nisso.

 Annabeth cerrou os olhos, irritada pela ameaça indireta que havia levado.

– Sim.

– E o que estão fazendo em meu bar?

– Procurando alguém.

– Vão procurar esse alguém em outro lugar.

– Não podemos – Annabeth disso apontando o dedo para um velho gordo, de cabelos bagunçados, que vestia uma camisa social florida, semelhante as que Dionísio usava. Ele estava tão entretido com sua porção oleosa de batatas fritas que nem notou os olhares de quase todos no bar para ele – Porque ele está bem ali.

 Eu queria, queria mesmo que ela não tivesse apontando o dedo para o velho. Queria que alguém heróico, com ar de bondade estivesse atrás dele, colando cartazes de adoções de cachorrinhos, fosse á pessoa que ela apontava com o orgulho e admiração exalando dos seus olhos cinzentos. Mas as coisas não são assim comigo.

 Ela marchou até o velho, que pareceu não perceber que cinco adolescentes parados bem ao seu lado, esperando alguma reação dele.

 Olhei para a sua batatinha. Tinha que admitir, apesar de estar oleosa e murcha, ela parecia imensamente apetitosa, me fazendo lembrar que a ultima coisa que eu tinha comido foi uma barra de cereal de banana, que havia achado no fundo da minha mochila ontem de noite.

 Clarisse pigarreou impaciente e o velho olhou para nós, parecendo notar somente agora que estávamos aqui.

– Annabeth, Thalia – então ele olhou para nós com repulsa – Outros.

– Velho – cumprimentou Nico com ironia.

 O velho olhou com indiferença para o garoto e voltou a brincar com suas batatinhas apetitosas. Annabeth olhou feio para Nico e lhe deu uma cotovelada no estomago tão discretamente, que se eu não a conhecesse, acharia que ela só estava brincando.

 Suava e discreta. Essa é a Annabeth.

– Theodore... – começou Annabeth com uma voz calma – Precisamos a sua ajuda.

– Igual ontem? – o velho perguntou casualmente sem tirar os olhos do castelo de batatas fritas que havia feito.

– Não. Quer dizer, sim, mas – Annabeth disse se enrolando com as palavras – Argh, foi você que ofereceu aquela bebida. Argh. Esqueça, precisamos da sua ajuda.

– Não sabiam que ambas eram fracas com bebidas – defendeu-se Theodoro, virando para olha-las – Mas enfim, o que os pestinhas precisam?

– Informações – eu disse.

 O velho dirigiu seu olhar para o meu e me estudou com seus olhos acinzentados.

– Corajoso, vivido e filho de Poseidon – ele disse – Você deve ser o Percy.

 Assenti não escondendo minha surpresa. Como ele sabia quem eu era?

– Seus olhos – ele respondeu parecendo ler minha mente, apontando para os dois olhos – São agitados e rebeldes como o mar.

 Então ele virou-se para Clarisse, que estava mais atrás de nós com os braços cruzados, olhando desafiadoramente para o velho.

– Ares – ele acertou novamente – Orgulhosa e metida como aquele crápula. Nem preciso olhar em seus olhos para saber disso.

 Antes que Clarisse assimilasse a idéia e partisse para cima dele, empunhando sua lança elétrica, Theorode virou-se para Nico, que estava ao meu lado, fitando faminto a porção de batatinhas do velho. O garoto estava com tanta fome quanto eu, ou até mais, se duvidar.

 Theodore analisou Nico de cima para baixo e cerrou os olhos, parecendo procurar alguma coisa em sua mente. Depois de alguns segundos olhando, ele suspirou pesadamente e soltou um muxoxo.

– Você eu não sei – ele admitiu com relutância – Filho de quem?

– Hades – Annabeth respondeu prontamente – Theodore, temos que sair daqui. Aquele barman já está irritado o suficiente, e eu não me surpreenderia se ele tirasse uma arma da cintura e atirasse em nós.

– Jack late como um dachshund, mas é tão inofensivo quanto um labrador.

 Sobrancelhas franziram.

– Não seria justamente ao contrario? – Nico perguntou, tirando seus olhos da batatinha do homem.

– Não – Annabeth falou balançando a cabeça – Os dachshund (cães salsichas) é a raça mais feroz do mundo. Os labradores são mocinhos perto deles.

 Mas isso não me faria sentir mais seguro perto de um labrador. Quer dizer, tudo bem se o salsicha for um cão feroz, seria mais fácil você fugir dele do que de um labrador. A uma terrível imagem se apossou de mim: Eu correndo pela rua, em quanto um cão salsicha latia ferozmente, correndo ao meu encontro para arrancar um pedaço de mim.

 Ameaçador.

 Não sei como um assunto tão complexo como quem são nossos pais foi se transformar em cachorros, mas só sei que depois de dez minutos de puro debate entre Annabeth e Nico – com a Annabeth vencedora, claro – Jack, o salsicha, veio pedir impaciente para nos retirarmos do seu bar, ainda brincando com o seu canivete inofensivo.

 Retiramos-nos, sendo seguidos por um Theodore nada contente por ter que pagar por batatinhas que nem teve a chance de comer. Mas pelo menos não foi em vão, Nico e eu enfiamos a mão com tudo na porção a enchendo de deliciosas batatas. Eu sei, nojento, mas hei, passe uma manhã inteira só com uma barra de cereais sabor banana. Você come qualquer coisa comestível.

 Theodore nos guiou até uma praçinha meio abandonada, que pelo o que eu pude notar, era o lugar perfeito para conseguir ganhar dinheiro fácil com bocas de fumo. Por que fala sério, quem iria querer inspecionar uma praça que os bancos estavam destruídos por vândalos, as arvores estavam tão mal cuidadas que fungos, musgos e cogumelos cresciam em sua volta e claro, não se esqueça do ar de cenário perfeito para um serial killer?

 Ninguém ia perder seu tempo, é claro. Tinham mais coisas para fazer, como do tipo, procurar dois adolescentes pelo assassinado de duas velhinhas. Esse mundo está perdido.

 Theodore era o tipico velho quarentão extremamente bipolar. Numa hora ele estava nos olhando como se fossemos seres inferiores a ele, em outra, ria e fazia piadinhas infames. De certo modo, ele me lembrou Annabeth.

 Ele se sentou sobre uma dos únicos banquinhos inteiros e nos acomodamos em sua volta. Annabeth lhe contou sobre quase tudo, evitando as suspeitas de Nico.

– Eu sei a onde está – ele comentou casualmente sobre a fortaleza prateada, enquanto olhava as unhas – Mas com uma condição.

 Annabeth resmungou baixo. É claro que ele não falaria as coisas de graça para nós.

– O que você quer? – Clarisse perguntou.

– Quero ir com vocês.

 Silencio coletivo. Até os pássaros pareceram ficar quietos.

– Oi?

– Eu quero ir com vocês – ele disso novamente, com um brilho estranho nos olhos – Meu sonho é ir para lá, resgatar a princesa presa.

– Princesa? – dessa vez Annabeth perguntou.

– Sim, princesa. Na verdade as lendas rezam que ela é uma meio sangue, como nós, mas ela tem um dom, um dom especial que os deuses temem – ele contava com um brilho nos olhos – Ela tem o dom de apagar memórias ou simplesmente fazer memórias apagadas, voltarem. Ela pode tanto apagar completamente a memória de um deus, titã ou até deuses primordiais.

 Então tudo pareceu fazer sentindo para mim.

– Luke foi atrás dessa princesa exatamente por causa disso – falei – Cronos a queria para ajudá-lo a dominar o mundo. Sem as memórias, os deuses seriam só bebes com poderes destrutivos.  

Annabeth olhou para mim e eu senti que ela iria começar a defendê-lo. Típico.

– Ou... – ela começou fazendo uma pausa dramática – Ele queria a princesa para fazer Cronos perder a memória e parar de tentar destruir Olimpio.

 Isso me irritou bem mais que Nico e sua má escolha para tutores de ensino a magia antiga.

 Então eu explodi, sabia que iria me arrepender mais tarde, mas eu não agüentava mais ficar com os pensamentos presos em minha cabeça.

– Ah claro, porque Luke foi um cara bom e legal. Só quase me matou, o que? Um zilhão de vezes? Lembra aquela vez que ele lhe fez carregar os céus? Bem legal da parte dele, não é? Às vezes a bondade dele me inspira a ser uma pessoa melhor.

 Annabeth ficou vermelha e eu sabia que dessa vez não era de vergonha.

– Você é inacreditável!

– E você é ingênua.

– Eu ingênua? Eu só penso em todas as opções possíveis.

– Claro. Opções que consistem somente em Luke como o bom samaritano.

– Luke era um bom samaritano.

– Nossa, tão bom que traiu você, Thalia, seu pai e toda a sua família porque estava com raivinha dos deuses. Se isso não é bondade, não sei o que é.

– Pelo menos ele se arrependeu no final e foi o salvador do Olimpio.

– Milagres acontecem. Você por exemplo, é um milagre. Que filha de Atenas vai ser tão burra como uma porta?

 A julgar pela sua expressão, minhas palavras a atingiu com tudo, causando o maior estrago dentro de si. Senti-me mal. Mas depois me odiei por sentir mal. Ela merecia, e sabia disso. Estava cegada pelo seu passado. Pelo Luke do seu passado. Agora não conseguia ver o que Luke fora realmente: Um cara egoísta, mimado e facilmente influenciado.

 Traduzindo: Um bundão.

– Melhor ser burra como uma porta, do que ser um peixe sem sentimentos – ela respondeu, com a magoa pesando em sua voz.

 Eu não respondi, quer dizer, eu não conseguiria responder. Quando ouvi a magoa em sua voz, foi como se tivessem pegado um facão de açougueiro,atravessado meu peito até a bainha e depois, rodarem ele em 360º. Uma coisa meio que dolorida dessas.

 Theodore pigarreou, chamando a atenção de todo mundo.

– Mas voltando. Só lhes digo a onde é se vocês me levarem, claro – ele disso.

– Porque você não foi sozinho? – Nico perguntou.

 Uma sombra passou pelo rosto de Theodore.

– Porque o caminho até lá é perigoso. Um semideus comum não conseguiria ir sozinho, nem se fosse invulnerável – então ele olhou para mim.

 Dei os ombros. Eu poderia tentar, mas não vou, é claro.

– Não podemos ir – Thalia disse dando sinal de vida pela primeira vez – Temos que buscar as urnas.

– Unas?

– Sim, as urnas de Caos – Annabeth respondeu, olhando fixamente para o velho.

 Os olhos acinzentados do velho arregalaram e suas narinas inflaram.

– Vocês... Vocês não são tão estúpidos ao ponto de procura-las, certo?

– Infelizmente, somos – respondi por todos – Mas não temos escolha, alguém está tentando junta-las e os deuses pediram a nossa ajuda.

– Típico. Deuses não fazem nada sozinhos.

 Um trovão ribombou pelo céu limpo de Los Angeles, e Theodore resmungou um desculpa baixo.

– Mas... Nos primeiros versos da profecia, dizia que iríamos procurar um Deus desaparecido, e com ele às respostas viriam – Annabeth se lembrou – Talvez, só talvez, á uma pequena chance da menina em cima da torre ser uma deusa. Porque ela não viveria por tanto tempo assim com sua forma intacta. A não ser que estivesse no Hotel Lótus, o que não é o caso.

 Olhando por esse lado, até que faz sentindo. Tirando o fato de que eu havia sonhado com isso e meus sonhos nunca são só sonhos.

 Olhei para os outros e eles entenderam meu olhar. Balançaram a cabeça assentindo.

– Feito então – eu disse me levantando do chão, e estendendo a mão para o velho – Bem vindo ao grupo, velhote – então eu me lembrei de algo – Velho, você é filho de quem?

 Theodore sorriu e apertou minha mão.

– Sou filho de Atenas, e obrigado.

 

—----

 

– Então ele é seu meio irmão? – eu perguntei a Annabeth enquanto entravamos no táxi que Theodore havia chamado.

 Ela não me respondeu. E eu não a culpava. Havia sido um completo troglodita com ela e sabia disso. Mas na hora da raiva, na hora que as coisas esquentam você não mede suas palavras para tentar ser gentil ou não. Se você consegue, eu lhe admiro. Mas um meio sangue não conseguiria isso nunca, nem se fizesse anos de Yoga ou qualquer terapia relaxante.

 Theodore havia pedido especificadamente uma mini-vã, para que todos nós coubéssemos. De acordo com a quantidade de dinheiro e cartões que ele levava consigo na carteira, supus que ele tinha uma boa vida.

 Assim que trocou de roupa e tomou banho, ele pareceu ter rejuvenescido uns dez anos, e agora não era mais tão velhote assim. Quem o visse na rua, chutaria que ele tinha uns 40.

 Ele não nos contou para onde estávamos indo. Simplesmente deu as coordenadas ao motorista, que arregalou os olhos assim que o seu cartão passou pela a maquina.

 Tivemos umas boas horas de uma viajem silenciosa. Annabeth se prontificou a ficar mais afastada de mim quanto possível, então se sentou junto a Thalia nos bancos da frente. Nico estava ao meu lado, roncando desde que saímos de Los Angeles. Algo me dizia que ele tinha ficado a noite inteira acordado.

 Clarisse estava a minha frente, polindo sua lança, perdida em seus pensamentos. Desde que havíamos escapado da tribo das amazonas, ela estava visivelmente diferente. Parecia mais compreensiva, pensativa e mais sensível. E isso, vindo de uma filha de Ares, não era legal.

 Me levantei do banco, tomando cuidado para não acordar Nico e me arrastei para o lado de Theodore.

 Ele folheava um livro pequeno e fino, que eu presumi ser um daqueles livrinhos de bolso para viajem. Vestia uma calça jeans preta, com uma camisa social branca e seus cabelos cor de areia estava ainda despenteados, mas não dava mais aquele ar de semideus acoólotra que freqüentava bares holandeses, e sim o fazia parecer mais um ator de cinema um pouco acima do peso.

– Theodore, eu quero te fazer uma pergunta – sussurrei me sentando no banco vazio ao seu lado.

– Pergunte – ele falou sem tirar a atenção do seu livro.

 Remexi-me no banco que parecia ficar cada vez mais desconfortável.

– No meu sonho, havia um velhinho manco, que sempre acabava com todos aqueles que assim que ele lhe dizia algo, tentavam o atacar. Quem era ele?

 Dessa vez ele desviou os olhos do livro por um segundo para me olhar.

– O guardião do castelo. Isso é obvio.

– Mas... O que ele fala para as pessoas que vão lá?

 Ele tirou a atenção do livro e me olhou. Seus olhos tempestuosos pararam de brilhar por um momento, como se estivesse se lembrando de algo desagradável.

– Ele fala exatamente aquilo que você nunca iria querer ouvir.

 Franzi a sobrancelha.

– Por que ele faz isso?

– Por que ele quer que você o ataque. Ele simplesmente não pode ir para cima de ninguém se esse alguém não tiver feito nada – ele olhou para minha cara confusa – Foi meio que uma promessa que os deuses o obrigaram a fazer.

– Entendo...

 Ele me olhou do mesmo jeito que Annabeth me olhava sempre que queria se certificar se eu realmente tinha entendido. E isso me fez pensar o quão os dois eram realmente parecidos. Ambos tinham olhos tão acinzentados como um dia nublado em New York. E esses olhos, exalavam mais inteligência e experiência que qualquer matemático ou velho por ai.

 Assim que pareceu satisfeito, voltou a sua atenção ao seu livrinho, me deixando com milhares de perguntas rodando em meu cérebro. Como por exemplo: A garota que estava lá em cima, era uma deusa ou não? Conseguiríamos achar as respostas que tanto procurávamos? Nico era ou não era aliado do inimigo? E o principal: Quem era o maldito que estava por trás disso tudo?

 Eu não sabia, porém algo me dizia para temer muito a resposta.


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Notas finais do capítulo

Está ai, um capitulo mediano. Bem paradão, mas é só porque as coisas tão começando a seguir o contexto agora.
Espero que tenham gostado e pelo amor dos deuses, comentem em quem deve narrar a aventura das bebadas. Annabeth ou Thalia?
Não pode ser as duas. Até mais e bgsbgs:*