Shimmer escrita por scarlite


Capítulo 13
Capítulo 13




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"Estas são as mudanças da alma. Eu não acredito em envelhecimento. Eu acredito em alterar para sempre o aspecto de alguém para a luz. Eis meu otimismo.

(Virginia Woolf)


Dias de sol realmente eram raros na sua cidade natal. E quando aconteciam se convertiam nos melhores e mais divertidos dias, desde que ela era criança.

Até mesmo as cores mudavam; do verde das plantas ao azul do céu... Tudo ficava movimentado e vivo. Bella adorava mesmo o cheiro que o vento trazia pra qualquer lado que você se virasse: Terra molhada recém tocada pelo calor dos raios solares, as plantas, as flores. E o cheiro das patas de Maggie depois dela correr pela grama do quintal.

Respirou profundamente, tentando absorver todas as essências, e o calor reconfortante que se difundia através das poucas nuvens.

Olhando o céu deitada sobre a grama, foi surpreendida com um sorriso aberto e divertido de uma efusiva Rebeca.

- BÚuuu! – a menina gritou enquanto se largava em cima de Isabella, fazendo-a perder o fôlego.

- Te assustei?

- Mas, o que há com vocês hum? O Edward adora me assustar também. – Apesar de parecer neutra ao falar, podia-se perceber pelos seus olhos a diversão enquanto envolvia Rebeca com os braços, fazendo-a tombar ao seu lado sob o sol.

Os olhos da Rebeca se iluminavam na presença de sua mais nova companheira de aventuras. Ela era diferente das outras pessoas, mesmo sua irmã mais velha nunca parava para brincar ou conversar com ela.

Sempre andava com aquela cara de poucos amigos, como se estivesse enfadada pela própria vida. Não era assim com Bella, ela era divertida, atenciosa e totalmente fascinante para a menina.

Sempre lhe contava as melhores historias de piratas e reis. Por isso, praticamente se instalara na casa dos Cullen desde que se mudara com o pai e os irmãos há cerca de dois meses atrás.

Quando estava ali, quase esquecia do clima pesado que reinava em sua própria residência.

Depois da morte de sua mãe, nada voltou ao normal. Na noite do funeral, alguns mais velhos diziam que ‘’tudo ficaria bem’’, mas, não ficou.

Muitos dias haviam se passado e seu pai ainda bebia todas as noites antes de dormir, e Jacob ainda parecia uma pedra de gelo. De Leah não poderia dizer nada além de que ela parecia sempre a ponto de brigar, ou chorar. Era muito orgulhosa para fazer a última coisa. Os únicos que pareciam tentar eram justamente os mais jovens: Seth e ela.

Ele que a colocava na cama todas as noites quando seu pai estava muito bêbado, Leah trancada no quarto e Jake, sabe-se lá onde e com quem estava.

- Não se preocupe ma petit, as coisas vão melhorar. – Ele lhe dizia quando a falta da mãe fazia com que os olhinhos marrons enchessem de lágrimas.

Pensamentos muito perturbadores para uma menininha de oito anos. Bella tocou-lhe a ponta do nariz como seu primo mais velho costumava fazer com ela quando criança. O que sempre arrancava-lhe gostosas risadas. Ao pensar em Emmett sentia o peito dilatar-se de orgulho. Ele tornara-se médico no mesmo hospital em que ela tantas vezes dera entrada com algum machucado.

Agora ela nem precisava correr para o pronto socorro quando derrubava algo, ou quando sua inabilidade nata a fazia tropeçar mesmo sobre os próprios pés. Era-lhe impossível simplesmente manter-se equilibrada.

- Bells, você sente falta da sua mãe?

A pergunta de Rebeca cortara seus pensamentos bruscamente. Ela pareceu momentaneamente em choque, sem, porém ser percebida sua reação pela menina que continuava fitando as nuvens distraidamente.

Não sabia o que responder.

Ninguém falava muito sobre sua mãe naquela casa. Para todos os efeitos sua tia Esme desempenhava este papel desde tenra idade. E por mais que forçasse a memória em busca de imagens reais de sua mãe, nada conseguia.

Embora soubesse que não era filha biológica dos Cullen, sentia-se como tal. E era tratada com amor e carinho por todos naquela casa. Sabia que a mãe tinha problemas psicológicos, por isso Bella tinha ficado aos cuidados de Carlisle e Esme em Forks.

Nunca sentiu vontade de ver sua mãe biológica; isto por um evento traumático ocorrido numa das poucas visitas que fez ao Instituto Psiquiátrico de Baltimore, aquele não tinha sido propriamente um dos seus melhores momentos.

Tudo o que ficara na mente de todos os que estiveram presentes, foi a imagem de uma criança assustada.

Desde então, o assunto se erguera num totem, num verdadeiro tabu para a família.

Não seria hipócrita declarando que sentia falta de algo que de fato nunca teve; mesmo que sua mente funcionasse como as demais, ela ainda sentiria o amor filial apenas para com aqueles que estiveram ao seu lado no primeiro dia de aula, na primeira detenção, nos aniversários.

Por isso, como sempre fazia, só pôde responder com toda a verdade, independente de com quem estivesse falando:

- Não.

Rebeca olhara para o rosto sereno de Isabella imaginando como alguém poderia dizer que não sentia falta da própria mãe. Não entendia. Aquele fato na verdade muito a chocou, sendo uma criança não podia ver a extensão dos danos que o distanciamento provoca mesmo nos laços sanguíneos.

Logo, o sentimento de estranheza se transformou na mais pura curiosidade.

- Por quê?

Bella pensou por um momento, sua mente trabalhando no ritmo peculiar com que funcionava; recapitulou os anos de sua vida e concluiu que a única verdade era que nunca parara para questionar sua origem. Seu pai e mãe, sua historia para além dos Cullen.

Ela olhou para a garotinha simpática ao seu lado na grama e mais uma vez usou de sinceridade na resposta oferecida:

- Eu não os conheço.

***

Edward

Podia ver pela janela da cozinha as meninas deitadas na grama. Rebeca parecia muito confortável ali com Isabella sob o sol ameno da manha.

Elas pareciam muito quietas por algum tempo, para logo depois, Bella se erguer gesticulando com as mãos, enquanto Rebeca batia palma animada.

Surpreendia-me a forma como Bella se dava bem com crianças. Como era diferente com pessoas da nossa faixa etária, e como eu gostaria que ela se sentisse mais confortável com outros.

Seria muito mais fácil para ela lidar com o mundo se não sentisse medo das pessoas.

- Terra para Edward. – Emmett, abanava a mão enorme a minha frente. Um sorriso brincando no seu rosto.

Desde que começara a trabalhar como plantonista no Hospital de Forks, meu irmão muito melhorou no seu humor e mesmo no apetite.

Como que endossando meu pensamento, ele começou a vasculhar a geladeira em busca de algo para devorar.

- O que teremos para o almoço? – Questionou enquanto espalhava farelos de biscoito sobre a o balcão onde eu picava fatias de cebola.

- Hum... O que importa? Se tivéssemos lagarto tostado você devoraria numa só mordida não irmão? – Alice entrava no cômodo dando um beijo estalado em Emmett, que muito distraído com seu lanchinho mal ergueu os olhos para ela.

- Não conseguiu se livrar de David? – Questionei sarcástico. Minha irmã andava muito estranha desde que um novo professor de geometria principiara aulas no ginásio. Vindo do Texas, andava tornando o assunto juvenil um pouco mais diversificado.

Numa das ocasiões em que tive que dividir o carro com Alice, vi como o cara não parava de olhá-la no estacionamento.

- Alie, quando ia nos dizer que está enamorada? – Emmett colocou mais lenha na fogueira e eu mal contive meu riso diante de uma baixinha muito rubra.

- Obrigada irmãozinho! – ela crispou os lábios numa expressão irritada.

Voltei-me para a pia, enquanto ouvia o som da tapa que Alice deve ter dado na nuca de Emmett.

- Au! Pixel do mau!

Não agüentei ver a cara de indignação de meu irmão, enquanto a pequena figura se afastava cantarolando alguma canção qualquer.

- Como estamos no trabalho? – Sentia meus olhos arderem pela cebola que cortava. Mas, a tarefa já estava terminada. Misturei os ingredientes na panela quente e o cheiro dos temperos invadiu a casa.

- Hum... Eddie, já pensou em abrir seu próprio restaurante? – Podia ver que Emmett salivava, com os olhos teatralmente fechados.

- E está tudo bem no trabalho. Posso dizer que o pronto socorro de Forks se mantém apenas de pequenos acidentes domésticos. Estou praticamente de férias!

- Nossa Bella praticamente moveu aquele lugar ao longo dos anos. – Rimos juntos e por reflexo me voltei para a janela vendo-a correndo atrás de Rebeca. Não poderia julgar quem era a criança ali.

O som da campainha nos fez olhar pela porta da frente. De relance vi quando Alice passou se remexendo com fones de ouvido rumo ao hall.

Continuei uma conversa agradável com meu irmão enquanto esperava que fosse apenas alguma entrega, não estávamos esperando ninguém, era fim de semana. E estávamos todos em casa. E meu irmão comilão desenvolvera o habito de pedir sanduíches extras a noite.

Porém, uma pequena comoção principiou da porta da frente, chamando nossa atenção rapidamente.

Pude ouvir a voz de minha irmã misturada a de uma mulher aparentemente histérica, Mal reparei que Emmett se levantara da mesa como uma estátua rígida, e vislumbrei em seu rosto algo como puro terror.

- O que ela faz aqui? – sua voz baixa denunciou que aquele era um pensamento íntimo manifesto inconscientemente em voz alta.

O segui até a sala e dei de cara com uma mulher loira, alta e muito atraente cujos olhos azuis fitavam com ansiedade e temor o rosto de meu irmão mais velho.

Estava claro que ela viera até ali atrás dele.

- Rosie?! – Podia sentir a surpresa pura na voz de Emmett, e o reflexo automático na moça que parecia desolada, irrompendo num pranto desesperado. Precipitando-se para os braços do enorme urso.

- Emmie! Desculpe-me! Oh, meu deus! Como fui estúpida.

- ‘’Emmie’’ – Alice e eu ecoamos em uníssono, franzindo nossas sobrancelhas.

Ele parecia consternado e paralisado de surpresa com a mulher ainda agarrada ao seu pescoço. Mas, nossas exclamações pareceram acordá-lo da espécie de torpor que o dominava.

Com uma atitude que pareceu exigir um grande esforço, ele a afastou de si com o rosto duro.

- O que você faz aqui? – Sua voz costumeiramente divertida e leve, assumia um tom sombrio lembrando muito o homem que chegara em casa há semanas atrás.

A mulher se atrapalhou com as palavras gaguejando enquanto tentava se recompor do choro.

Com olhos súplices fitou o rosto de um Emmett bastante sério – e assustador -,

- Vim... vim, vê-lo é óbvio! – A expressão solícita deu lugar a uma pose altiva de rosto, como se fosse mais que natural chegar assim sem aviso.

- Não temos  nada para falar um com o outro Rosalie. – Meu irmão parecia duro e impassível, mas, por conhecê-lo muito bem, podia perceber que a presença da jovem mulher o abalava.

Alice encontrou meu olhar, e vi o reflexo da minha própria confusão escrito no seu rosto.

Deveríamos deixá-los a sós, porem, a curiosidade e a confusão eram maiores e se tornaram simplesmente extravagantes com a próxima frase da loira alta:

- Temos muito o que conversar agora que tem uma criança entra nós.

Pensei por um instante que meu irmão fosse cair no chão tamanha a surpresa e desassossego que se expressaram em seu rosto. A cor lhe sumiu e ele parecia como alguém que acaba de levar uma paulada na cabeça.

- O, o que você quer dizer com isso?

Alice veio em minha direção agarrando meu braço, mas, ela parecia mais empolgada do que preocupada com a curiosa situação que se desenrolava a nossa frente.

- Oh, meu Deus! – Ela murmurou ao meu lado. – Vamos ser titios Ed! – Sua voz era um sussurro que passou despercebido pelos envolvidos na discussão.

- Que vamos ter um bebê Em. – A moça veio em direção do meu irmão, que recuou com nada mais que confusão em toda a postura.

- Não.

Quem não estaria atordoado numa situação daquelas? Num minuto estávamos na cozinha despreocupadamente, no outro meu irmão se descobre com probabilidade de se tornar um pai.

- É impossível! Nós terminamos há meses atrás. – Ele parecia procurar alguma explicação que o excluísse daquela equação bizarra.

- Estou com cinco meses. – E como para tornar tudo mais real, ela afastou o casaco pesado que usava revelando a proeminente barriga. – No nosso último encontro... – sua voz se perdeu, e eu percebi que estávamos, Alice e eu, invadindo um espaço pessoal do nosso irmão mais velho.

- Vem – Sussurrei próximo ao ouvido do pequeno duende relutante. Puxei com força no seu braço e ela acabou cedendo. Mas, os olhos brilhavam de curiosidade.

Quando chegamos à cozinha, permiti que minha expressão surpresa acompanhasse a efusiva de minha Irma.

- Meu Deus!

- Ele não disse que estava envolvido num relacionamento tão serio.

- Eu sempre soube que havia uma mulher envolvida.

- Você sempre sabe de tudo não, oh “grande Alice!” – Ergui minhas mãos em brincadeira.

- Acho que vou ouvir escondido. – Ela ia levantando seu pequeno traseiro empolgado da cadeira quando a detive com uma mão.

- Deixe-os Alice, é uma coisa dele. Precisam de privacidade. – Olhei inquisidor para seu rosto decepcionado.

- Ed, você sabe ser estraga prazeres! – E Alice sabia agir como uma criança com birra quando contrariada. Até mesmo os  braços cruzados na frente do corpo compunham o cenário.

- Sabe o que me preocupa? – Perguntei retoricamente enquanto me encostava-me ao balcão.

- Que ele não esteja pronto pra isso... Alice, Um filho, - ergui as mãos como para frisar ainda mais a questão. – É muita coisa. Isto é grande demais. E não sabemos como ele vai reagir. Ainda posso me lembrar muito vividamente de como ele chegou abalado aqui.

Ela permaneceu em silêncio, pensativa. Ficamos realmente preocupados com Emmett. Quando chegou aqui, parecia uma sombra esquecida, totalmente o oposto do que conhecíamos desde que éramos fedelhos brigões.

E havia sido uma melhora gradativa e reconfortante, para ser posta abaixo por uma noticia repentina. Não nos tinha revelado nada sobre o que realmente afligia sua alma. Apenas atribuía aos estágios e residência toda a culpa pelo seu abatimento. Mas, eu sentia bem no fundo que existia muito mais.

Perceptiva como Alice sempre foi, era óbvio que saberia tanto quanto eu desse fato. Algo perturbara nosso irmão, e até onde eu sabia, poderia muito bem ser aquela mulher uma das causas.

Preocupava-me muito que ele não estivesse pronto para uma noticia tão drástica, e que os meses de ‘’recuperação’’ fossem todos para o lixo.

- Você tem toda razão, maninho. Mas, tem uma grande diferença: agora ele tem a nós. Vamos ficar do lado dele ajudando-o no que ele precisar.

Concordei com um aceno para minha irmã, que parecia muito mais sábia agora. Dei  um leve sorriso, deixando-a ver que apreciara suas palavras.

- Quase me esqueci! – Ela pulou em minha direção com olhos curiosos. – Conseguiu fechar a compra? – com um impulso, subiu ao meu lado no balcão.

Fingi tristeza e desapontamento. E vi como seus olhos assumiram uma expressão solidária.

- Sinto muito Edward... – Mas ela cortou sua fala dando-me uma tapa no ombro, quando não consegui mais conter o sorriso que brigava nos meus lábios.

Gargalhei com vontade a abraçando de lado em seguida, mesmo com ela empoleirada no balcão.

- Você comprou? – Ela praticamente gritou nos meus ouvidos.

- Quer me deixar surdo nain[1]?

- Ora seu! – Ela deu-me como recompensa uma pancada com a colher de pau bem na nuca.

- Au! Não sou como o velho irmão urso, sua baixinha. E sim, consegui comprar o prédio com os lucros acumulados. E foi um excelente negócio! A casa só precisa de alguns reparos, é espaçosa e tem uma boa localização.

- O papai vai ficar muito orgulhoso Edward! Ele estaria perdido com todos aqueles papéis se você não administrasse tudo.

- Sei... – Em silencio, voltei aos meus afazeres. E então a possibilidade de termos uma criança naquela casa me deixou muito empolgado. Nem sabia ao certo quem era a mulher, ou se realmente ela teria procurado Emmett com fim de obter apoio ou apenas para comunicar a gravidez. De fato ela poderia ser uma mulherzinha aproveitadora ou algo assim.

Mas, algo na forma como ela olhou para meu irmão mostrou que havia algum sentimento ali. Seria no mínimo estranho uma mulher grávida atravessar uma distancia tão grande quando podia usar outros meios de comunicação.

Mas, ter um sobrinho seria no mínimo divertido. Recordei rapidamente de quando Bella era bebê e de como era engraçado, divertido e emocionante ter uma miniatura de gente andando e tropeçando dentro de casa. Eu adorava crianças, e sabia que em parte era por causa dela. Eu havia sido muito protetor em relação à Isabella, e ajudar nos seus cuidados me enchia de orgulho quando era um moleque.

Eu e Alice nos sentíamos mais adultos quando nossa mãe nos fazia participar das trocas de fraudas e todas as outras atividades que cercavam o cuidado do bebê. E enquanto para Alice nossa prima era uma espécie de boneca em tamanho real, para mim a pele delicada e os pequenos dedinhos rechonchudos me faziam querer protegê-la.

Minha mãe dizia enigmaticamente que o instinto de proteção nos homens era quase tão instintivo quanto o materno nas mulheres. Ela e Carlisle faziam de meu ciúme da pequena Isabella um motivo de riso da parte deles. De longe, Emmett era o brincalhão incontrolável entre nós. Fazia tudo o que a pequena pedia e mamãe sempre reclamava que ele a estragaria e faria o mesmo com os filhos que tivesse.

- Edward, será que ela vai ficar conosco ou vai querer que Emmett vá com ela? – Alice suspirou apreensiva.

- Calma Alie, nem sabemos direito de nada. Nem mesmo se esse filho é mesmo de Emmett.

- É dele sim. – Ela parecia tentar conjurar a realização da confirmação. Mas, ainda era tudo muito confuso.

- Imagina Eddie, uma criança correndo por aqui e nos chamando de titios? – Os olhos de minha Irma pareciam luzes de natal brilhando com a possibilidade.

Sorri para ela divertido, enquanto balançava a cabeça em confirmação.

- Seria divertido mesmo.

- Lembra de Bella? Espero que seja um bebê menos atrapalhado. – Alice fez uma careta engraçada e eu ri sonoramente.

- Vem Bells, toca aquela música pra mim?! – Rebeca entrava pela cozinha arrastando uma Bella corada e risonha. E um sorriso automaticamente se instalou no meu rosto. Vi um olhar desconfiado de Alice. Ao que revirei meus olhos.

- Falando no diabo... – Ela cantarolou descendo do balcão. – Com ou sem sobrinho vou tomar meu banho. Ande logo com o almoço querido! – Ela saiu dando uma tapa no meu traseiro de brincadeira.

Olhei incisivo para minha irmã maluca que ria a caminho da escada dando um beijo na bochecha de Bella enquanto passava por ela. Como de costume recebendo outro automático.

Ainda carrancudo, voltei para o preparativo do almoço. Senti a pequena mão de Rebeca na minha camisa.

- Eddie, queríamos biscoitos. – Abaixei-me no mesmo nível que a menina, sorrindo maroto.

- E o que eu ganho em troca? – Me deliciei com o tilintar da risada infantil quando comecei a lhe fazer cócegas na barriga.

- Bells, socorro! – Rebeca se remexia no circulo de meus braços. E podia ouvir Bella rindo junto com ela, o som magnífico do seu riso encheu meu peito de uma sensação inominável, agora não tão estranha: um sentimento de liberdade e euforia.

Mesmo de costas pude senti-la se aproximando de mim. Pensei que ela me faria uma revanche para acudir a pequena companheira. Mas, me surpreendi quando senti seus braços envolvendo meu tronco num abraço carinhoso pelas costas. Sabia vagamente que na posição em que estávamos deveria ser engraçado a um observador externo. Bella agarrada a mim enquanto eu segurava Rebeca.

Subitamente me senti quente e ofegante.

Mas, maravilhado com o ato tão espontâneo vindo dela. Bella nunca fazia algo que envolvesse emoções e expressão delas se não fosse cem por cento real. Só assim ela saía do seu isolamento emocional para demonstrar sem restrições os sentimentos.

Conosco isso acontecia com intervalo até razoável, ela respondia as nossas expressões de afeto automaticamente. Como se fizesse parte de um aprendizado tácito. Ela vivia meio perdida entre o mundo próprio e o real, o que a tornava meio distante em alguns momentos.

Senti-la tão perto despertou um sentimento de satisfação que antes não sentia, pelo menos não conscientemente. Antes era o irmão abraçando a irmã mais nova. Mas, agora quando olhava para uma Bella crescida e inegavelmente atraente, sentia algo próximo do sentimento de posse que um homem tem por uma mulher... E isso me assustava demais.

Algo nela despertava ainda mais seu instinto protetor. Não sabia dizer se por sua inaptidão em lidar com as outras pessoas ou a freqüência com que precisava de cuidados, mas, sabia que me sentia ligado a ela de uma forma diversa das outras pessoas. Mesmo com Alice não era tão cuidadoso e tão protetor. Não que a amasse menos, longe disto, justificava para mim mesmo que era por minha irmã saber se cuidar e ser tão independente.

Ao lembrar-me das vezes em que Bella voltava da escola chorando, e de como se negava a ir em alguns dias; me fez confirmar que sim, era por causa da fragilidade e Isabella que me sentia assim.

Era inevitável depois de anos sendo estimulado pelos meus pais a proteger a família e cuidar de quem amamos. Mas, então porque Alice não desenvolvera o mesmo instinto com a mesma intensidade? Ou Emmett?

Cessei as cócegas em Rebeca e me virei para Bella, sem soltar a pequena, envolvendo-a com meu braço livre. Olhei para aqueles olhos brilhantes e inocentes de minha prima; sentindo uma comoção na boca do estômago.

Inclinei a cabeça, vacilando por um pequeno instante fitando a boca vermelha e cheia, sendo dominado por um pensamento imprudente: ‘’Minha nossa, como queria beijá-la’’...

Fiquei alguns instantes meio em transe apenas olhando os lábios bem feitos, apenas meio consciente de Rebeca ali conosco.

Saindo da prisão inconsciente que Isabella me mantinha, toquei com meus próprios lábios a sua bochecha rosada. E quando senti as pontas do seu cabelo em meu pescoço foi inevitável o arrepio que percorreu toda a minha nuca.

Que loucura! Pensei. E, visando aliviar um pouco aquela atmosfera esquisita, comecei a brincar com Bella fingindo mordidas no seu pescoço e no rosto.

E novamente pude desfrutar das suas risadas e das de Rebeca.

Fomos interrompidos por um par de olhos azuis encantados, e um sorriso de lábios desenhados por um batom vermelho.

- Desculpem! Não quis interrompê-los. – Ela parecia um pouco embaraçada mesmo. Deixei-me cair no chão ainda cercando as meninas com os braços. Sorri para a mulher que se dizia mãe do futuro bebê de Emmett. Ela parecia ser uma  boa pessoa. E quase nunca me engano quando o assunto é reconhecer isto nas pessoas.

- Não tem problema.

- Ela é filha de vocês? Mas, vocês parecem tão jovens –  Ela olhou para Isabella e depois para mim com ar reprovador. Arregalei os olhos para Rosalie. E vi que Bella me olhava como a questionar silenciosamente se a pergunta fora feita para nós mesmo.

Tossi pela surpresa me engasgando com minha própria saliva.

Rebeca disparou num riso divertido pela minha vexação.

- Na, Não... Essa é Bella, - apontei-a com o queixo – minha prima, quase uma irmã para nós. – A palavra ‘’irmã’’ pareceu espinhosa saindo da minha garganta. E preferi não refletir o por que.

- Oh, Emmie me falou dela. É um prazer conhecê-la Bella. – Minha prima baixou os olhos com timidez, apenas acenando com a cabeça. Mas, me surpreendeu quando dirigiu um pequeno sorriso para a desconhecida.

- E quem é a pequena?

- Esta é Rebeca, filha de um amigo da  família. – Ao ser apresentada, a pequena figura se ergueu parecendo uma daquelas menininhas dos filmes de época toda empertigada.

- Prazer, sou Rebeca! – Pegou na mão de Rosalie como uma verdadeira adulta.

- Oh, o prazer é todo meu, pequena Rebeca. Você parece uma menina muito especial e educada! – O rosto da menina pareceu cem vezes mais iluminado ao elogio da bela mulher.

Sorri com sua simpatia e atitude receptiva, e me senti mais confortável por saber que Emmett não se envolvera com uma mulher maluca e insensível. Ela olhava para nós com satisfação e simpatia sinceras.

Mas, uma pergunta continuava insolúvel: O que teria causado a separação dos dois? O que fez Emmett agir tão duramente a mulher?

- Onde está o Emmett? – Questionei tentando pôr fim ao silencio desconfortável que se instalara no recinto.

- Oh, ele foi preparar-me um quarto. – Ela pareceu embaraçada. – Desculpe por toda essa confusão... E... Eu não tinha mais a quem recorrer, e não teria incomodado se não fosse muito necessário. – Dizia ela de cabeça baixa. Podia sentir que era uma mulher orgulhosa.

Bella me olhou e eu lhe sorri, voltando-me em seguida para Rosalie com o a expressão mais amena que consegui.

- Esta tudo bem.

- Obrigada... – Ela parecia aliviada e agradecida. – Que confusão que causei... O que pensarão seus pais.

- Vou tomar banho – Bella sussurrou no meu ouvido enquanto se erguia levando Rebeca consigo. – Vamos Rebeca. – A muito custo a menina atendeu a Bella seguindo-a para o andar superior.

- Espero não tê-la ofendido de alguma forma. – Pareceu mais uma pergunta pela entonação dada por Rosalie à frase.

- Não. Bella, você deve saber, é um pouco diferente das outras pessoas. Demora mais tempo para se acostumar com pessoas novas.

- Emmett me falou sobre isso em certa ocasião.

Levantei-me sacudindo as calcas e oferecendo uma cadeira para nossa visitante inusitada.

- Que cheiro maravilhoso... – Ela parecia inebriada pelo cheiro que vinha do fogão.

- Logo teremos enchilada de frango para comer. – Anunciei rindo pela forma como ela pareceu ansiosa.

- Rose, o quarto está preparado caso queira se trocar e descansar.

- Tem certeza que seus pais não vão se importar mesmo?

- Eles vão ficar surpresos, mas, são pessoas preciosas, você verá.

Olhando para mim, Rosalie me cumprimentou com um leve aceno de cabeça.

- Alice te mostra o caminho. De qualquer forma ela está ansiosa para te conhecer... – Ao que parecia, a notícia de uma criança havia deixado meu irmão em choque para depois amolecer qualquer pedra no caminho do casal. Eles ainda pareciam desconfortáveis, um com o outro, porem, muito pouco daquela tensão inicial estava presente.

Quando Rosalie desapareceu rumo às escadas, onde uma Alice eufórica podia ser ouvida com sua tagarelice habitual com a nova conhecida, pude tirar algumas das duvidas que povoavam minha mente, não querendo ser muito invasivo comecei pelas mais fáceis.

- Quem é ela Em?

Ele sentou-se na mesma cadeira de mais cedo com as mãos no queixo proeminente.

- Uma antiga conhecida da Faculdade.

Olhei descrente para ele pela sua resposta vaga.

Limpei a garganta, e tomei minha posição de irmão.

- Emmett, ninguém faz crianças com ‘’conhecidas de faculdade’’. Bom, pelo menos não comumente, eu acho – Usei o termo “conhecida” com sarcasmo.

Sentei-me à mesa ao seu lado. E procurei me pôr no lugar dele. Devia estar muito confuso e perdido no meio daquela notícia. Não deveria ser fácil saber que seria pai.

Coloquei uma mão no seu ombro.

- Estaremos do seu lado para qualquer coisa Em, sei que deve ser assustador saber de algo assim, mas, você não está só.

Procurei dar mais ênfase possível ao fato de estarmos com ele, e para ele.

Ele levantou o olhar com expressão comovida. E vi a gratidão estampada ali.

- Obrigada Eddie. Vou precisar de toda a ajuda possível.

- Mamãe vai ficar mais que feliz em vir em seu socorro...

- Isso me preocupa. Como eles vão reagir.

- Emm, você é um homem adulto, quase um velho – brinquei e ele riu aliviando a tensão nos ombros – Já está na idade de ter uma família só sua, tem um emprego estável também agora.

Além do mais, vai ser maravilhoso ter um pequeno Cullen por aqui.

Seus olhos assumiram um brilho de orgulho então. Mostrando que por trás do medo inicial, a alegria era maior.

- Isso é verdade! Ter alguém para ensinar futebol, que tenha talento ao contrário de você, meu caro irmão!

- E quem garante que será um menino? – Pisquei para ele. – E se for uma bela garota que lhe dê o retorno pelos seus anos de aventuras românticas?

Diverti-me bastante com a cara chocada que ele fez. Inclinando-me para trás numa gargalhada.

- Edward, Edward... Vou gostar muito de me vingar quando chegar a sua vez.

- Isso vai demorar um pouco mais, grande irmão.

- Mas, Rosalie vai ficar aqui? O que aconteceu para ela parecer tão aflita e porque vocês terminaram afinal? Você a ama?

- Calma, maninho, respire... – Ele riu e eu o acompanhei, mais pareci naquele momento com Alice.

- Desculpe. Mas, me responda às questões.

- Sim para a primeira. Pelo menos por enquanto. Ela brigou com os tios – com quem vivia   - por causa da gravidez, e você não vai acreditar, eles a expulsaram de casa. – Uma expressão sombria cruzou o rosto de Emmett. – eu até os entendo. – Seu olhar parecia perdido em algum lugar não muito agradável.  O que instigou ainda mais minha curiosidade.

Mas ele foi rápido em mudar de postura.

- E nós terminamos por minha culpa. Eu fiz uma besteira. – Me surpreendi com a afirmação. Logo ele tão correto?

- que tipo de besteira?

Emmett se levantou parecendo agitado demais para ficar sentado. Eu sabia que ele estava sendo evasivo fugindo do embate ou procurando uma desculpa razoável.

- Tive uma crise.

Continuei esperando pelo restante da explicação pacientemente. Demorou mais uns cinco bons minutos para que ele voltasse a se sentar-se à mesa com as mãos cruzadas.

- Agredi o primo dela pensando que ela estava colocando-me enfeites na cabeça.

- O que?

Parecia totalmente implausível essa reação vinda dele, sempre bem humorado, sempre alegre. Se bem que podia vislumbrar o outro Emmett, o taciturno, fazendo coisas deslocadas.

- Sim, o primo dela apareceu num dia. Eu não o conhecia não de vista pelo menos. E quando fui ate o nosso restaurante preferido uma tarde qualquer, perdi o controle quando a vi no colo dele. Avancei em cima do pobre coitado, e quase o matei.

- Nossa. – Foi a única coisa que consegui emitir diante daquela estória tão maluca.

- Estava tão... – Ele virou o rosto para o outro lado com aquela mesma aparência sombria de quando voltou para casa. – descontrolado, que nem ouvi os gritos de Rosalie me dizendo que era Jasper, o primo de que tanto me falava.

- Algumas pessoas no restaurante quiseram chamar a polícia, mas, Rose os impediu. Depois que vários caras, clientes do restaurante, me agarraram, me colocando pra fora, eu sumi. Envergonhado e enraivecido.

- E Rose, como foi que ela reagiu?

- Bem, alguns dias depois... De esfriar a cabeça e de finalmente a lógica me tocar eu a procurei querendo explicações, ainda sem saber quem era o cara. Era como se eu estivesse surdo no dia da confusão e de fato estava. – Não perdi o brilho de arrependimento nos olhos do meu irmão.

- Ela mal me recebeu, e disse que nunca mais queria me olhar na cara. Que eu não era o homem que ela pensava. E que Jasper estava muito mau pela surra que lhe dera. – Imaginei o pobre rapaz apanhando do meu enorme irmão sentindo pena.

- Ela me enxotou da sua vida. No inicio insisti em minhas desculpas, mas, depois uma fúria sem precedentes me tomou. E simplesmente desisti. O tempo passou e cá estou eu tão surpreso quanto você por ela aparecer e ainda mais dizendo esperar um filho meu.

- Você parece duvidar disso?

- oh, não. Realmente pode ser meu filho sim. Estou quase certo. Tivemos uma pequena recaída pouco antes de me mudar de volta pra casa. – ele me sorriu cúmplice. O divertimento retornando à suas feições.

- Mamãe vai ter uma síncope... – Estiquei as costas que estiveram levemente curvadas para que pudesse ouvir Emmett.

- E sobre amá-la... – Ele assumiu o mesmo ar distante de antes. – Eu não sei se sou bom o bastante para a mulher extraordinária que Rosalie é, mas – fez uma pausa, levantando-se da mesa. – Pretendo descobrir.

E minha mãe realmente quase teve uma síncope. Quando chegaram para o almoço, meu pai e minha mãe deram e cara com a visitante repentina. Ao que parecia a conversa com Emmett surtira o efeito de, se não fazê-los voltarem às “boas”, pelo menos desenvolver certa amenidade entre os dois. Pois foi ao lado dele que Rosalie foi apresentada a Esme e Carlisle.

Nossa mãe chorou abraçada a Emmett e Rosalie, que também se emocionou. Ela olhava encantada a forma como interagíamos. Emmett me contara ainda na cozinha naquele dia, que os pais de Rosalie haviam falecido quando ela era muito jovem.

Depois do jantar, tivemos champagne para todos exceto Bella, Rebeca e Rosalie que tomaram suco de maçã especial de Alice.

Pude ver como meu irmão gostava da mulher pelo modo como a olhava com adoração quando pensava não haver ninguém o vendo. E um sentimento estranho invadiu meu peito como erva daninha. Por um período diminuto de tempo não pude nomeá-lo. Fiquei apenas em silêncio observando Emmett gravitando em torno de Rosalie, e ela lhe devolvendo o mesmo olhar... Com amor.

Eles teriam um filho. Não demoraria muito para que voltassem a formar um casal, era mais que claro isso.

Senti-me incomodado, pelo de fato estar sentindo inveja do meu irmão. Pela forma como crescemos vendo a felicidade de nossos pais, desejar uma família era uma conseqüência compreensível.

Automaticamente, meu olhar se voltou para Bella, encostada a mim no sofá, sonolenta. E ao som das risadas da nossa família, me perdi por um momento no seu rosto suave e ao mesmo tempo com um ar meio selvagem e arisco. Era como estar assistindo em câmera lenta o piscar dos seus olhos de grandes cílios escuros em contraste com a pele de marfim; ou o modo como sorria para algum comentário sem mostrar os dentes; como a pele parecia tão suave ao toque...

Sem me conter e com um sorriso de puro prazer, acariciei sua bochecha sentindo a textura aveludada da pele. Ela se voltou para mim com uma expressão doce, os olhos brilhantes a cabeça ainda aninhada no meu peito.

Boa ventura.

Essas palavras traduzem bem o sentimento de ter Bella sorrindo para mim daquela forma. E eu mal podia ouvir as conversas ao nosso redor. Só via ela, só sentia ela... Eu estava perdido naquele mar castanho dos seus olhos. E sinceramente, naquele instante não me preocupava nem um pouco em ter resgate.

Com carinho, depositei um beijo suave em sua testa, demorando-me um pouco mais que o normal com meus lábios ali, saboreando o calor de sua pele sob a minha. Ela se apertou mais a mim, e eu passei a distribuir afagos em sua cabeça, descansando o queixo onde antes havia beijado. E me senti estranhamente feliz e completo.

Mas, a sensação não durou muito, sendo que encontrei os olhares de Alice e Rosalie maliciosamente depositados em mim. E uma onda de culpa preencheu o que antes estivera cheio de satisfação e bem estar. Senti meu corpo ficando rígido, e meu rosto esquentando. Praguejei internamente por provavelmente estar corado.

E dei graças a Deus quando a campainha tocou anunciando a chegada de algum dos Black para levar Rebeca para casa.

Soltei o ar que nem sabia estar prendendo enquanto deslizava minha mão para o braço de Isabella. Felizmente, minha irmã e nossa possível cunhada, desviaram suas atenções para a porta. E eu me permiti relaxar novamente. Olhei para uma Bella adormecida e sorri comigo mesmo esquecendo até do constrangimento. Depois de passar dia inteiro distraindo o pequeno furacão que era Rebeca, deveria estar mesmo cansada. A própria menina estava dormindo no quarto de Alice nesse momento.

Estranhei quando o rosto carrancudo de Leah apareceu pela sala; era mais comum Seth vir buscar a menina. Leah parecia meio constrangida por interromper uma reunião familiar, um arremedo de sorriso foi oferecido a todos na sala. Ela olhou diretamente para mim depois para Bella em meu colo e então para minha mão que agarrava a de minha prima. E se possível, a cara de cão raivoso da garota ficou ainda pior. Ela realmente não tinha ido com a minha cara. Logo eu que fui tão agradável com ela desde o inicio. Mas, também poderia ser pela discussão que tive com o irmão dela dias atrás.

Eu também reagiria assim caso alguém agredisse ou desafiasse um dos meus parentes. Então forcei um sorriso enquanto a fitava. Ela apenas desviou os olhos parecendo meio perdida.

Garota doida. Pensei.

Com a movimentação na sala Bella saiu do seu estupor sonolento um pouco. Esfregando os  olhos.

- Acho que é hora de dormir. – Ela disse indiferente a todos que estavam ali na sala. E foi tão natural e despreocupado o comentário, além de altamente deslocado que todos riram dela alto.

- Também acho querida. – Falei enquanto a ajudava a se erguer.

- Leah pode subir com Edward e Bella, Rebeca está no quarto ao lado, o de Alice. – Minha mãe sempre muito amável indicou com um sorriso. Como era impossível se manter impassível diante das expressões simpáticas de Esme Cullen, Leah suavizou mais a expressão carrancuda. O que mudou drasticamente quando estávamos subindo as escadas para o andar dos dormitórios.

O silencio estava incomodo. Podia sentir um raio de ódio emanando direto pra mim vindo pelos olhos duros e negros de Leah. Limpei a garganta. Bella parecia meio adormecida amparada em mim.

- então, como está seu pai Leah. – Era para soar simpático porem, saiu mais rouco e duro, como se eu estivesse com medo da reação dela, o que não era de todo errado.

- Bem. – Foi tudo o que ela respondeu secamente. Nossa Senhora! Que humor negro o dela.

Depois dessa, apenas lhe mostrei o quarto de Alice enquanto entrava com Isabella no dela.

Lá dentro, Bella caminhou para a cama, e parecia realmente exausta. Estranhei aquilo, pois apesar de toda a atividade do dia (que incluíra inclusive, um banho no rio junto com Rebeca, ao final do qual chegaram ambas ensopadas), dificilmente estaria daquele jeito meio alheio a realidade, meio cambaleante.

Cheguei rapidamente a ela reparando então como estava com as faces afogueadas e com suor escorrendo-lhe da testa. Fazendo com que os cabelos começassem a grudar na testa. Apenas com essa subida na escada ela estava meio ofegante.

Largou-se na cama de bruços sem se deter mais em tirar o jeans que usava, nem colocar o pijama que eu tirava do armário naquele instante.

Aproximei-me da cama com as peças nas mãos e preocupação na mente. Quando a peguei virando-a de costas para a cama, notei como estava quente, muito quente mesmo. Não havia reparado com o fogo da lareira na sala, que Bella esta febril. Mas, agora ela queimava em minha mão.

- Eddie, os planetas estão tão bonitos na noite de hoje. – Ela olhava como se estivesse embriagada para os desenhos que fizemos no teto do seu quarto. Ela estava delirando, e me senti ainda mais preocupado.

- Bells, temos que tirar sua roupa antes que o suor faça você ficar pior. – Dito isto comecei a tirar-lhe os sapatos enquanto resmungava como ela havia sido imprudente e cabeça de vento por ter ficado no vento do entardecer com aquelas roupas molhadas.

- Maggie. – Ela chamou a cadela quando a dita cuja estava latindo no jardim. – ela comeu uma lagarta, que nojo! – Continuaram os comentários desconexos, e eu continuei tentando me manter tranqüilo. No momento em que a levantava da cama para tirar-lhe o moletom Leah apareceu na porta com Rebeca no colo. Ela parou com expressão surpresa.

- O que estão fazendo? – Sua voz soou indignada e estarrecida. Por alguns segundos permaneci ali parado tentando entender o porquê da surpresa. Então vi através do espelho do closet a cena que eu fazia com Bella tirando-lhe a roupa na pouca luz do abajur. Revirei os olhos, me perguntando por que o mundo não via com naturalidade a forma como eu cuidava de Bella.

- Não é isso que esta pensando.

- Você não me deve explicações Cullen. – Franzi meu cenho contra a raiva injustificada que provocava naquela garota.

- O que foi que eu te fiz hein? – Nesse momento esqueci todo o cavalheirismo que aprendi com minha mãe, sendo propositalmente rude com Leah. – Eu nem a conheço direito e você chega sempre espalhando veneno comigo!

A raiva e preocupação misturadas em mim: raiva pelos modos rudes da Black, e preocupação pelo estado de saúde de Isabella.

- Quer saber, não importa.

Ela sussurrou algo que não entendi antes de sair corredor afora.

- Tchau! – Falei sarcasticamente sabendo que ela não me ouviria.

Depositei com cuidado Bella no colchão, tirando-lhe os cabelos da testa molhada de suor. Como estava quente!

Desci as escadas de dois em dois degraus, encontrando todos ainda conversando na sala.

- O que houve maninho? Algum incêndio? – Alice brincou enquanto eu recuperava o fôlego.

- Bella, está precisando de você Emmett.

- O que ela tem?

Ele já se levantava passando por mim rapidamente. Fomos seguidos por minha irmã e minha mãe.

***

- Sem dúvida é um belo resfriado, mas, mesmo assim, não explica a febre tão alta. Talvez ela tenha pegado alguma virose. – Emmett usava seu tom profissional para falar do estado de Bella.

- Alguns dias de bom descanso e cuidados vão restaurar a saúde dela. – ele sorriu para minha mãe, enquanto guardava o estetoscópio na sua maleta, e automaticamente eu relaxei.

Bella dormia tranqüila já dentro do seu pijama xadrez preferido trocado por Alice. Mas, para mim ela parecia muito pálida.

Minha mãe estava sentada de um lado da cama acariciando os longos cabelos de Bella enquanto eu apertava a pequena e bem feita mão do outro lado. Rosalie estava encostada no arco da porta olhando com ternura para o amontoado de Cullen’s que se aglomerava ao redor da pequena cama de solteiro de Bella.

Eu poderia respirar aliviado por ter Emmett e todo o seu conhecimento médico ali; mas, nada nesse mundo me tiraria do lado de Isabella enquanto ela não ficasse recuperada.


[1] Nain – Anã em francês língua que Edward estudara e aprecia.


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