Towards The End escrita por sutekilullaby, izacoelho


Capítulo 4
Capítulo 4


Notas iniciais do capítulo

este capítulo está mais comprido porque juntei dois em um... Como o 4 era muito curto e não acontecia nada de mais, juntei ele com o 5 =B espero que gostem. ;*



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  Assim que me despedi de Quíron, Nico e Summer; Pollux, Percy e eu descemos correndo a Colina Meio-Sangue em direção ao pequeno fusca com a tinta vermelha gasta nos esperando na estrada próxima. Entramos correndo no carro — Percy no volante, eu ao lado dele e Pollux no banco de trás — e decidimos ir primeiro atrás de Damon Knight. Assim, nós poderíamos selecionar como destino o Mundo Inferior, que era em Los Angeles, e de lá nós sairíamos atrás da casa de Damon.

  Nossa viagem de ida foi tranquila, como era de se esperar. Percy e eu não dormimos, mas Pollux sim. A viagem me pareceu durar séculos, mas ela obviamente durou no máximo três horas. Assim que abrimos os olhos, acordamos Pollux, que dormia esparramado no banco de trás (não que tivesse muito espaço para ele, que era um cara bem grande, apesar de o pai ser um nanico), e saímos de carro pela cidade, atrás do endereço escrito na foto que Quíron havia nos entregado. Não demoramos muito a achar a grande casa de Damon, até porque era bem próxima, em um bairro daqueles onde só moram pessoas podres de ricas. A casa dele se destacava entre as outras: enquanto a maioria das casas eram brancas, amarelas ou cor de creme, a de Damon era cinza escura.

  — Certo. — Disse Pollux do banco de trás. — Como fazemos para entrar? Invadimos?

  — Claro que não. — Eu respondi sem querer. Tudo bem que o pai do garoto era um cretino, mas eu não precisava tratá-lo mal só por causa do pai.

  — O que você tem em mente? — Perguntou Percy.

  — Já ouviram falar em “bater na porta”? — Eu disse, saindo do carro e andando em direção à bela casa cinza à nossa frente.

  Passamos por um longo caminho de pedra ladeado por um jardim verde com florzinhas brancas que um homem alto de macacão regava até chegarmos à porta de madeira. Eu sentia algumas presenças ali perto, mas eram tão fracas que ignorei. Toquei a campainha, e uma mulher morena com um vestido preto e um avental nos atendeu com cara de tédio.

  — O que desejam? — Perguntou ela.

  — Esta é a casa de Damon Knight? — Perguntei.

  — Sim. — Respondeu a mulher, um pouco hesitante. — Mas o Sr. Knight não pode falar com vocês no moment...

  — Creio que o Sr. Knight pode falar conosco, sim. — Eu a interrompi, dando um passo para mais perto da porta. A presença ficou um pouquinho mais forte. — Somos amigos dele. Colegas da escola. Como as aulas acabaram há pouco tempo, nós estávamos pensando em dar uma festa para celebrar o fim do ano letivo e queríamos muito falar com ele para ver se ele gostaria de contribuir. Será que poderíamos falar com ele?

  A mulher nos olhou desconfiada, mas pediu que esperássemos um momento e foi falar com Damon. Ela retornou com o mesmo olhar entediado.

  — O Sr. Knight disse que não está interessado em contribuir com nada. Tenham um bom dia.

  Então ela bateu a porta na nossa cara.

  Certo, eu assumo que fiquei com raiva por causa daquilo. O que nós estávamos fazendo era para o bem do garoto. Quer dizer, é claro que a pobre empregada não sabia disso, mas mesmo assim. E quem esse Damon Knight pensa que é? Só porque ele é aparentemente um riquinho mimado que mora num casarão ele pensa que pode mandar os subordinados enviarem recadinhos aos visitantes? A presença dele é nobre demais para meio-sangues que vieram resgatá-lo (ou colegas festeiros que vieram pedir apoio, como ele acreditava)? Ah, não.

  Determinada, eu cerrei os punhos e senti minhas asas surgirem nas costas.

  — Mel... — Perguntou Percy. — O que você pretende?

  — O que você acha? — Respondi, mal-humorada. — Ir atrás desse verme mimado. Quem ele pensa que é?

  — Mas... E nós? — Perguntou Pollux.

  — Vocês podem esperar aqui. Ou você pode fazer crescer umas videiras pela lateral da casa para vocês escalarem e entrarem por uma janela. Como eu vou fazer agora.

  E, sem maiores frescuras, voei para a janela mais próxima do terceiro andar, dei um chute que fez o vidro se estilhaçar, e entrei, fazendo as asas se recolherem nas minhas costas.

  O lugar onde eu estava era um amplo quarto de casal. O quarto tinha várias janelas, uma cama de casal enorme posicionada contra a parede, uma mesa cheia de porta-retratos, tendo a maioria fotos de um casal bonito e elegante e algumas fotos de duas crianças. Nas fotos do casal, a mulher era alta e tinha cabelos castanhos claros com luzes, e em todas as fotos ela estava com quilos de maquiagem no rosto que havia claramente sofrido cirurgias plásticas, e o homem tinha cabelos de um tom parecido com o de Heidi, aquele castanho meio ruivo; algumas rugas no rosto e estava sempre de terno. Nas fotos das crianças, o garotinho era moreno e tinha cabelos pretos, e a garotinha tinha cabelos castanhos claros como os da mulher e olhos verdes iguais aos do homem. Havia uma foto da garota mais crescida, com um uniforme de líder de torcida e um pompom na mão.

  Havia três portas no quarto. Uma delas levava a um closet maior que meu quarto no apartamento do meu pai, outra a um banheiro igualmente grande, e outra a um corredor que era também uma espécie de sacada de onde se podia ver uma sala onde a mulher que havia atendido a porta passava o aspirador em um tapete gigante, dois andares abaixo.

  Apesar de ser uma casa escura vista do lado de fora, por dentro ela era iluminada até demais, de modo que eu não encontrei nenhuma sombra à qual me misturar, então tive de contar com o pensamento positivo e as preces aos deuses para fazer com que a faxineira não me notasse.

  Havia quatro portas naquele corredor. Não me incomodei em bater antes de entrar em nenhuma. A primeira era o quarto do qual eu havia acabado de sair. A segunda levava a um quarto igualmente amplo e também com duas portas que provavelmente davam para um closet e um banheiro enormes, mas neste havia uma cama de solteiro e era tudo tão... Rosa. A roupa de cama era rosa, o computador sobre uma mesa encostada contra a parede no canto do quarto era rosa, e a cadeira do computador também. Havia um tapete rosa no chão, uma luminária rosa sobre o criado-mudo, e um mural rosa coberto de fotos que não me interessei em observar. Uma das únicas coisas que não eram rosa no quarto eram o pequeno armário encostado em uma parede e a TV de 42 polegadas em uma espécie de buraco quadrado na parede. Na parede atrás da mesa do computador havia alguns pôsteres de artistas como Kesha e Lady GaGa, e um do Justin Bieber meio escondido atrás de um da Britney. Aquele era claramente o quarto da irmã de Damon.

  Saí dali e fui em direção à terceira porta. Entrei novamente sem bater, e dei de cara com um quarto bem diferente. Este era menor que os outros, e tinha apenas uma porta, que provavelmente levava a um banheiro. Ao contrário do resto da casa, era tudo muito escuro. As cortinas escuras estavam fechadas, o enorme armário de madeira era escuro, a TV de plasma de 21 polegadas era preta, havia uma pequena mesa da mesma madeira escura do armário com um notebook preto em cima, uma poltrona preta encostada em um canto do quarto, e uma cama de solteiro com roupa de cama azul-marinho. Assim como no quarto da irmã, o quarto de Damon também tinha alguns pôsteres, mas estes eram de artistas diferentes, que eu conhecia e gostava: Opera IX, Cradle of Filth, Slayer, Dimmu Borgir, etc.

  A única porta do quarto se abriu, revelando o meu procurado, o dono do quarto.

  — Quem é você? — Ele perguntou, parando na porta do banheiro.

  Mas eu não respondi. Estava chocada demais. Porque aquele não era qualquer garoto. Era o garoto do meu sonho.

  Eu tinha certeza absoluta daquilo. O mesmo garoto que, no meu sonho, ia me defender do monstro que me atacava na Colina Meio-Sangue. Os mesmos cabelos pretos cacheados, a mesma pele morena, a mesma estatura, até as mesmas roupas pretas. E a mesma semelhança com Nico. Mas o que me assustou mais que tudo não foi o fato de Damon Knight ser o garoto do meu sonho. Foi o fato de que eu percebi claramente a ligação entre nós e a breve aceleração do meu coração quando eu o vi.

  — Er... Então? — Perguntou ele, me vendo parada sem dizer nada. — Quem é você?

  Nesse exato momento, comecei a sentir uma presença se intensificando no primeiro andar. Eu precisava dar um jeito de digerir os últimos acontecimentos logo e agir.

  — Você é Damon Knight, certo? — Perguntei com a voz um pouco trêmula.

  — Sim. — Ele fez uma cara confusa. — Mas eu quero saber quem é você. O que você faz aqui.

  — Bem, Damon, não temos muito tempo, então vou falar tudo de uma vez e você vai ter que dar um jeito de digerir as informações em poucos segundos. — Eu disse, nervosa. — Você deve conhecer as lendas da mitologia grega. Certo? E deve saber que os deuses gregos às vezes vinham à terra e tinham filhos com mortais, os semideuses. Então, a coisa é que atualmente, os deuses estão aqui, nos Estados Unidos. E você é filho de um deus. Agora vamos sair logo daqui que eu sinto que tem um monstro no andar de baixo subindo atrás de n...

  Mas eu não pude concluir a frase, porque de repente alguém se jogou por cima de mim, gritando ‘CUIDADO!’, e um segundo depois, uma mesinha voou no lugar onde antes estava minha cabeça, indo se espatifar contra a parede de Damon.

  — Melanie, você podia ser mais rápida com isso, não? — Gritou Pollux enquanto saía de cima de mim.

  — Ok, desculpa se eu sou naturalmente programada para funcionar melhor à noite! — Gritei com ele.

  — Se abaixem! — Gritou Damon. Fizemos o que ele disse, e um abajur voou pela janela. Olhei na direção de onde vinham os arremessos, e dei de cara com um enorme lestrigão com um macacão de jardineiro. Ei, como eu não havia sentido a presença dele antes? Quer dizer, eu havia sentido, mas estava tão fraca...

  — Vocês não irão levá-lo! Não tão cedo! — Gritou o monstro, quebrando as paredes do quarto e quase pisando em cima de mim. Por sorte o quarto de Damon era escuro o suficiente para eu conseguir me transformar em uma sombra. Saí de perto do lestrigão enquanto Pollux fazia algumas raízes brotarem do chão e envolverem os pés do monstro, fazendo-o cair. O pobre Damon observava tudo atônito demais, encostado na parede do quarto.

  Materializei-me ao lado dele, fazendo-o levar um susto.

  — Olha aqui, Damon — eu disse, pegando-o pelo braço —, você se segura em mim, que eu vou tirar você daqui enquanto o Pollux dá um jeito nesse monstro, ok? Não precisa se preocupar ou se assustar. A gente vai dar um jeito nele.

  — Não, mas... — Disse o garoto, confuso. Ele olhou o lestrigão que se contorcia no chão, arrebentando qualquer raiz que Pollux fizesse surgir para segurá-lo.

  De repente, Percy entrou no quarto, brandindo Contracorrente, e indo diretamente para o rosto do gigante estendido no chão. Este, porém, estendeu a mão e, com um tapa, atirou-o longe.

  — PERCY! — Gritei, vendo-o tropeçar e cair na sala dois andares abaixo. Minhas asas surgiram nas costas e voei para tentar salvá-lo, me esquecendo completamente da invulnerabilidade dele.

  Percy caía de costas na sala enorme, onde, para minha surpresa, uma dracaena o esperava com a cauda pontuda erguida, como se fosse para fazer um espetinho de Percy, e a cauda fosse o espeto. Assim que ele viu o que o esperava lá em baixo, sua expressão mudou de tranqüilidade para terror.

  — MELANIE! — Gritou ele, me estendendo a mão. Ei, como assim? Por que ele estava com medo? Será que o ponto de Aquiles dele era nas costas ou algo assim? Por via das dúvidas, acelerei e consegui pegar a mão dele a tempo, impedindo que caísse e cravasse as costas na cauda de réptil do monstro que usava o mesmo vestido preto com avental branco da mulher que havia nos atendido.

  — Obrigado. — Ele sussurrou assim que eu o deixei em segurança em cima de uma mesa. — Muito obrigado.

  — Vocêssss não vão ssse ssssafar asssssim! Não vão levar o nosssso amo! — Disse ela, correndo para nós. Arranquei o pingente do meu colar, e duas lâminas compridas e escuras surgiram de cada lado ir do pequeno pingente de lua, transformando-o em uma espécie de lança de duas pontas. Voei rápido para cima da dracaena, que não brandia arma nenhuma além de sua cauda pontuda. Ela tentava me acertar com a cauda, mas eu desviava voando. O monstro era bem ágil e eu ainda estava meio lerda, então eu não conseguia fazer nada além de desviar.

  — Melanie! — Chamou Percy, entrando no meu campo de visão e destampando Contracorrente. — Vai ajudar o Pollux! Ele não pode sozinho com um lestrigão! Deixa que eu cuido dessa aqui!

  Naquele pequeno segundo de distração, a dracaena me acertou com a cauda. O lado bom é que o golpe dela foi mais para me atirar longe, como um tapa com as costas da mão. Não foi para me furar com a ponta da cauda nem nada assim. O lado ruim é que eu fui direto para uma mesa cheia de copos e pratos de cristal com um espelho na parede atrás dela. O outro lado bom é que eu ao menos consegui recolher minhas asas antes da batida, então eu garantia nenhuma asa quebrada ou machucada.

  Bati de costas em todo aquele vidro. Pude sentir alguns pedaços de vidro cravados no meu corpo e o sangue escorrendo da minha cabeça, minhas pernas, minhas costas. O impacto foi tanto que, como se não bastasse eu quebrar todos os cristais da Sra. Knight, eu ainda caí no chão e bati a cara em uma cadeira. Senti o sangue começando a escorrer do meu nariz, e pensei que fosse morrer de hemorragia antes de tomar fôlego para me levantar. Senti uma tontura e um leve gosto de sangue na boca, mas tentei me concentrar na minha missão. Damon, Pollux... Preciso ajudá-los! E, com esse pensamento, levantei e corri — ou pelo menos tentei — até o terceiro andar, em uma corrida que parecia não ter fim.

  E, veja bem, quando cheguei lá, descobri que meus esforços haviam sido INÚTEIS, pois a única coisa que vi foi um monte de pó e um macacão de jardineiro no meio do quarto destruído, enquanto Pollux suava e respirava pesadamente e Damon juntava algumas coisas em uma mochila.

  — MELANIE! — Gritou Pollux ao me ver. Eu desabei de joelhos no chão.

  — Eu... Percy... A dracaena... — Tentei explicar o que havia acontecido, mas meus pulmões doíam cada vez que eu tomava fôlego para falar, e minha voz estava trêmula demais.

  — Meus deuses! — Ouvi Damon falar. Pelo jeito ele havia levado numa boa o negócio de os-deuses-são-reais-e-você-é-filho-de-um. — Melanie, você está horrível.

  — Sério? Eu não sabia! — Falei, com ironia. Ou pelo menos foi o que tentei falar, porque deve ter saído um negócio mais ou menos como “Éio? Euão habia!”.

  — Venha. Eu ajudo você. — Damon se abaixou ao meu lado e me pegou no colo. Todo o meu corpo doeu com isso, mas tentei ignorar a dor. Enquanto ele me carregava até o banheiro, olhei para trás e vi o rastro que meu sangue havia deixado.

  O banheiro de Damon era bem grande, e até arrumado para o que eu esperava do banheiro de um garoto. Era tudo de mármore, e não havia nenhuma roupa atirada e nada fora do lugar. Havia uma grande banheira branca, aonde Damon me largou,  abrindo o chuveiro para levar embora aquele sangue e os pequenos cacos de vidro presos na minha pele ou na minha roupa. Se Pollux ou Percy tivessem feito aquilo, eu teria me sentido meio desconfortável, mas eu me sentia completamente à vontade com Damon. Eu gostava da companhia dele, gostava de tê-lo por perto...

  O que é isso, Melanie? Ok, isso é provavelmente só saudade do Nico. Mas Damon Knight não é Nico di Angelo. Foco, garota.

  — Sente-se melhor? — Perguntou Damon, se ajoelhando ao meu lado na banheira e me encarando com seus olhos que eram tão ou mais pretos que os meus. 

  — Um pouco. — Consegui dizer. Ainda estava horrivelmente cansada e dolorida, mas já estava melhor.

  — Então... Você também é uma semideusa?

  — Sim.

  — Filha de quem? — Perguntou ele, olhando minha testa. — Selene?

  — Não. — Respondi lentamente. — Alguns deuses estão, digamos... Inativos. Como Selene e Hélio, que foram substituídos por Ártemis e Apolo. Eu sou filha de Nyx.

  — A deusa da noite? — Perguntou ele, com genuíno interesse.

  — Sim. — Pisquei, sentindo minhas pálpebras começando a pesar. Ficar vegetando naquela água quente e todo aquele cansaço estavam me dando sono. — Percy e Pollux também são semideuses. Percy é de Poseidon e Pollux é de Dioniso.

  — Uau. — Damon me encarou com expectativa e entusiasmo. — Você sabe quem é o meu pai?

  Eu o encarei. Certo, havia todas aquelas semelhanças óbvias com Nico. A primeira coisa que pensei foi em Hades, apesar de que não acho que ele fosse descumprir a promessa dos deuses de reconhecer os filhos. Tentei pensar em outros deuses mais ou menos parecidos com Damon. Ares com certeza não era; Damon era calmo e dócil demais. Zeus também não, pelo mesmo motivo. Apolo, Dioniso, Hermes e Poseidon estavam descartados por causa da aparência. Tentei pensar em alguns deuses menores, mas minha mente estava cansada demais.

  — Não... — Respondi, afinal. — Mas nós vamos descobrir, assim que você estiver a salvo no Acampamento.

  Em um gesto de puro amparo, pus a mão em cima da dele, que estava apoiada na borda da banheira. O que eu não esperava era que uma corrente elétrica fosse passar pela minha pele assim que toquei a mão dele. Ok, a situação está fugindo do controle. Melanie White, controle-se. Você acabou de conhecer o garoto. E você tem um namorado. Que gosta muito de você, e você gosta muito dele.

  Por acaso, Percy escolheu justo aquele momento para invadir o banheiro.

  — Mel! — Disse ele, afobado. — Desculpe por aquilo. Se não fosse por mim, você não teria se distraído, e não teria acontecido o que aconteceu. Espero que me perdoe. Pollux pegou um pouco de néctar e amb...

  Percy deixou a frase no ar, fitando, atônito, nossas mãos unidas na borda da banheira. Eu afastei minha mão lentamente e respirei fundo, mesmo que isso doesse um pouco.

  — Damon, pode nos dar licença? — Falou Percy. — Preciso falar algo em particular com a Melanie.

  Ótimo. Lá vem bomba, pensei.

  Fechei os olhos. Ouvi Damon se levantando e fechando a porta. Em seguida, senti Percy se ajoelhando no lugar onde Damon havia estado.

  — Melanie, sem querer me meter na sua vida amorosa — disse ele numa voz baixa e em tom de censura —, mas... No que você está pensando? Quer dizer, não vejo problema nenhum em você gostar do cara, mas... E o Nico? Você não pode...

  — Percy. — Eu o interrompi, abrindo os olhos e o encarando com ceticismo. — Será que você podia parar de tirar conclusões precipitadas? Eu não gosto do Damon. Eu estava dando uma força pra ele, porque ele não sabe quem é o pai. E eu sei como é não saber quem é seu pai ou sua mãe, e não encontrar resposta alguma quando se espera. É do Nico que eu gosto, Percy.

  Percy relaxou os ombros e soltou a respiração, encostando as costas na parede.

  — Ufa. Isso é realmente um alívio. Mas então, vamos tratar desses machucados, que nós ainda temos um semideus para buscar no Novo México.

  — Que horas são? — Perguntei, enquanto Percy mexia em um pote de ambrosia. Tentei me sentar na banheira, mas tive uma tontura e acabei caindo deitada de novo.

  — Meio-dia. — Respondeu ele, abrindo uma garrafa térmica com néctar e servindo em um copo. — Ainda temos tempo, mas você não precisa estar 100% para partirmos. 50% já está bom. Aqui, beba.

  Peguei o copo de néctar com as mãos trêmulas e bebi, deixando virar um pouco na água, o que foi até bom, assim talvez a bebida se espalhasse pelos machucados do meu corpo. Em seguida, Percy começou a me dar ambrosia e um pouco mais de néctar, até ele dizer que eu já havia bebido e comido demais.

  — Certo — disse ele, guardando a ambrosia e o néctar restantes. — Vamos descansar aqui por uma hora, e dependendo do seu estado, partimos ou esperamos um pouco mais. Mas você se regenera rápido, sendo filha de uma deusa primordial. Mas não é filha de Pontos ou Tálassa, o que significa que a água não cura você. Acho melhor sair daí.

  Dito isso, a água na banheira começou a se agitar, meio que me levantando da banheira e me deixando nos braços de Percy. Fiquei um pouco desconfortável com aquilo, coisa que eu não teria ficado se fosse com Nico.

  Ou com Damon.

  Mas que droga, Melanie!, reclamei comigo mesma. Desde quando você é assim? Por que você pensa nesse garoto NAQUELE SENTIDO se você tem um namorado que faria qualquer coisa por você? E você por ele também, suponho...

  De repente não parecia mais a minha voz tagarelando na minha cabeça, e sim uma voz da qual eu me lembrava vagamente. Seria Hera dando um sermão de fidelidade ou algo assim? Sacudi a cabeça tentando afastar a voz da deusa, mas minha cabeça apenas doeu mais.

  — Tudo bem? — Perguntou Percy. Percebi que eu estava sentada na cama de Damon. De um lado meu Percy simplesmente afagava meu ombro, e do outro, Damon passava uma toalha no meu cabelo molhado. Sentado na poltrona preta do canto do quarto, Pollux guardava algumas coisas em uma mochila.

  — Tudo bem, sim. — Respondi. Damon parou de passar a toalha nos meus cabelos e largou-a no banheiro.

  — Você pode deitar aqui e dormir um pouco, se quiser. — Disse ele.

  — Ah, não, não precisa! — Falei, apesar de eu estar louca para aceitar a oferta. — Quer dizer, ahn, eu não preciso dormir, e não preciso ocupar a sua cama pra isso...

  — Melanie. — Damon me falou em tom de censura. — Isso não é uma gentileza, não é um pedido. É uma ordem. Você está ferida e cansada, e precisa descansar para seguirmos a missão.

  — Você já entrou mesmo no clima, hein? — Perguntei com um leve sorriso no rosto, me referindo à parte de ele aceitar essa nova realidade.

  — Claro. — Respondeu ele, sorrindo de volta e fazendo meu coração dar um pulinho que eu detestei. — Temos que aceitar a realidade, não?

  — Você é um dos poucos que aceita tudo numa boa. — Falou Percy, levantando da cama para que eu pudesse me deitar. — Acho que o único outro que aceitou tudo assim foi Nico... E olha que ele tinha dez anos na época.

  — E jogava Mitomagia. — completei. Eu ainda não conhecia Nico nessa época, mas imagino como ele deve ter sido. Uma criança curiosa e até alegre, que passava de um lado para o outro com cartas e bonecos nas mãos e comentando como Hades fazia mais pontos que Poseidon ou algo assim.

  — Quem é Nico? — Perguntou Damon.

  — Meu namorado. — Falei com um suspiro ao mesmo tempo que Pollux e Percy diziam “namorado da Mel”. Fiquei feliz em ver que, mesmo que Damon me causasse algumas reações físicas, a simples menção ao nome de Nico fazia eu me sentir tão bem.

  — Ah. — Damon falou. Eu já estava deitada de lado e tapada (apesar do calor, eu estava com um pouco de frio por causa da água), então não pude ver seu rosto, mas sua voz era inexpressiva.

  Eu bocejei.

  — Durma, Melanie. — Disse Pollux. Apesar de o pai dele ser um nojento, ele até que era legal. — Daqui a um tempo nós acordamos você.

  Wow. Nunca pensei que sair em uma missão onde você é a única garota fosse assim. Tirando a parte de que os garotos tratam você como uma boneca de porcelana, até que é legal...

  Fechei os olhos antes de completar o pensamento e, ao contrário das últimas noites, peguei no sono menos de cinco minutos depois.


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Notas finais do capítulo

Aí está, o mega-quarto-capítulo, rs. Ah, sim, a Melanie não sentia as presenças direito porque os poderes dela são cada vez mais dependentes da noite, e como acho que deve ter dado pra perceber, esse capítulo se passa de dia! =O -n

Então, o que acharam do cap e do 'momento-zoey-redbird' (essa só quem leu House of Night entende XD) da Melanie? Q

Comentem o/ Bjs =***