Até me doía saber o quanto estava errado. Achei que assim que acordasse, como num passe de mágica tudo isso iria ter acabado.

No fim, acabou ficando ainda pior.

Não bastasse eu ter sonhado com Naruto vestido de enfermeira, que veio com um papinho pervertido muito estranho pra cima de mim, eu ainda tinha que acordar e ver o maldito loiro dormindo.

Ta, tudo bem ele estar dormindo, ele tava sentado numa cadeira ao lado da cama e até aí sem problemas. O que me incomodava era a cabeça dele, que descansava no meu peito. Assim parecia que éramos íntimos, não gostei.

Ou talvez eu tenha gostado. O mundo nunca saberá.

Ouvi um passarinho cantando na janela e virei meu rosto pra admirar. Fiz isso até que meu querido Naruto se levantou do meu peito, pôs-se a olhar torto o pobre animal, e... – Caramba, cala a boca, passarinho! Vai acordar o Sasuke! - , gritou.

Pra minha surpresa, o loiro pegou um tamanco que jazia jogado no chão e atirou a coisa no pobre pássaro, que teve que parar de cantar forçado. – Ah, Naruto, eu já...

- AH! Sasuke, você acordou! Sabia que aquele passarinho baka ia acabar te acordando. Maldito seja. - , disse ele com a maior cara de espertão. Virei os olhos, sem deixar de observar o quanto ele ficava adorável quando fazia aquela cara.

Me sentei na cama, esfregando os olhos, e olhei o loiro que agora corria pra checar minha febre. – Ah, você ta melhor agora! Que bom.

Tentei ignorar o jeitinho preocupado do loiro e me levantei. Fui até o banheiro escovar os dentes, depois fui até a cozinha preparar o café.

Praguejei quando vi a geladeira quase vazia; Naruto apareceu logo atrás de mim e olhou curioso cada prateleira, quase como se não soubesse que eu sou humano e como comida como qualquer um.

– Naruto, melhor você já ir pra casa, eu ainda tenho que fazer compras. E além do mais você tem que descansar um pouco pra missão que a gente tem hoje à tarde.

- Não, não tudo bem, eu vou com você! Vai saber se você ainda ta doente ou não. – Virei os olhos; parecia minha mãe.

Irônico eu dizer isso.

Voltei até meu quarto pra me trocar e coloquei a primeira roupa que me veio na frente; pessoalmente não ligava muito pra isso desde que eu terminasse minhas compras vivo.

-

Depois que saímos de casa, fomos andando devagar, em silêncio; eu filosofando e Naruto observando os pássaros ou coisa assim, provavelmente procurando o pássaro que levou uma tamancada mais cedo.

Sobre o que eu filosofava? Nada demais... apenas contava os fatos que sugeriam que Naruto me amava, e não o contrário.

O Uzumaki sempre teve uma quedinha por mim, isso eu sei desde o início. Imagina, ficar parado bem na minha frente em cima de uma mesa, e ainda pagar um figurante pra empurrá-lo pra ele me beijar? (Menção ao beijo ‘acidental’ no episódio 3 do anime)

HÁ tá. E ainda por cima inventar essa história toda de rivalidade pra encobrir a paixão que sentia por mim. Isso é simplesmente ridículo.

Claro, isso sem contar o jeito que ele me olhava. Não que fosse muito diferente do jeito que olhava as outras pessoas, mas não importa, ele olhava pra mim!

Ah, Naruto... só não me levo pela sua sedução por que sou um ninja muito bem treinado, dotado de inteligência superior e neurônios que funcionam muito bem.

- Sasuke, tem alguma coisa nas minhas costas? Juro que senti alguma coisa ali. – Olhei pra conferir; não tinha nada. Desci um pouco mais a visão, meio que inconscientemente, e deixei meus olhos repousarem nas nádegas do loiro.

Ah, que visão... seria melhor se a calça dele não fosse esse laranja ‘brilhoso’ que doía a vista. – Então?

- Ah... tem sim, ta aqui. – Levantei minha mão cuidadosamente e coloquei de leve no bumbum do loiro; um sorriso de maníaco do parque indo parar rapidamente no meu rosto enquanto sentia as fibras da calça do loiro sob minha mão.

Ah, a vida é tão boa de vez em quando.

- Sasuke... dá pra tirar a mão da minha bunda? As pessoas tão olhando. - , disse Naruto, meio sem-graça, meio irritado.

Ignorei mas tirei a mão de lá, por enquanto.

Continuamos andando até chegar ao mercado. Fui escolhendo algumas frutas e verduras, quando Hinata apareceu. – Na-Naruto-kun... fazendo compras? – Ignorei; ‘inofensiva’ é apelido quando se trata dessa menina. – É... to ajudando o Sasuke com algumas coisas.

Abri um largo sorriso; isso aí, me ajudando. Morra de inveja, ‘Hichata’.

- Ah... será que... você poderia me ajudar a carregar essas coisas até em casa? Acabei comprando demais e não consigo levar tudo... – Virei o rosto pra olhar Naruto, que fazia uma cara de quem estava considerando. Apertei os olhos quando ele deu um sorriso que já dizia que ia responder que sim.

- Claro, sem problema!

Não disse?

Larguei as frutas que havia separado, todo irritado. – Eu ajudo também. – Claro que eu não queria ajudar; por mim eu pegava essa comida toda e jogava de cima de um penhasco. Junto com a Hinata.

Mas eu precisava ficar de olho no Naruto... por mais que essa menina fosse inofensiva, eu precisava ter certeza que meu Naru ficaria bem.

Eu disse, ‘meu Naru’?

Ta, então talvez eu gostasse um pouquinho assim do loiro. Pouca coisa. Quase nada.

Enfim, fomos andando devagar até a casa dos Hyuuga. Hinata nos convidou a entrar, mas recusei, fazendo assim Naruto recusar também, até por que ele era minha enfermeira de plantão e tinha que ficar comigo.

- Ah...  Naruto-kun... eu estive pensando, será que você não iria comigo ao festival de primavera na semana que vem...?

Apertei os olhos; Hinata percebeu e começou a me encarar. – Ah, claro que-

- Não. - , interrompi o loiro. – Ele prometeu que iria comigo.

- Prometi?

- Prometeu. Ontem, lembra, quando a gente tava no meu quarto? – Falava olhando Hinata. A garota estava indo longe demais. – Não me lembro disso, mas... se você diz. Desculpa, Hinata, não vai dar dessa vez.

- Não, tudo bem. Não tem problema. – A garota também falava me olhando. Parecia claramente irritada, e dava a impressão que ativaria seu Byakugan a qualquer segundo. – Ei! Olha, um carrinho de espetinho de frutas! Já volto!

Naruto saiu correndo igual louco indo até o carrinho; maldita seja essa fixação do loiro por objetos com formato suspeito.

- Que pena, não? Parece que vai ter que arranjar outra pessoa pra te agüentar. Digo, acompanhar. - , eu disse. Hinata apertou os olhos; um pouco de seu Byakugan se fazendo visível. – Naruto nunca será seu.

- E você acha que ele te dá muita bola né?

- Naruto não é gay! – Quase dei risada; nunca imaginei que ela poderia usar uma expressão tão ofensiva. Haha, como se eu ligasse. – Vadiazinha!

Ativamos nossos jutsus oculares ao mesmo tempo. Sharingan vs Byakugan, olho no olho. – Pode tirar a sua égua da chuva, Hinata. Ele. É. Meu.

- Nem pensar! Não posso deixar alguém como ele nas suas mãos!

- Como se você pudesse me impedir!

- Igualmente!

Naruto apareceu chupando seu sorvete, e instantaneamente eu e Hinata voltamos ao normal, como se aquilo nunca tivesse acontecido. Vi Neji se aproximando e vi que era hora de ir. – Naruto, vamos, eu ainda tenho muita coisa pra fazer.

- Hã? C-Calma! – Grudei no pulso do loiro e o puxei pra longe, não antes de dar um último olhar com Sharingan àquela coisinha chata e o primo gay.

Será possível que todo Hyuuga tem uma queda pelo Naruto?!

-

Conseguimos terminar as compras sem mais ocorrências. Voltamos até minha casa; se eu dissesse que estava varado de fome estaria mentindo; isso era pouco perto do que eu sentia.

Estava com tanta fome que meu estômago começou a se auto-digerir.

Drama à parte, comecei a preparar meu café da manhã. Naruto com certeza também estava com fome, então fiz uma comida bem reforçada.

Naruto deu a primeira mordida todo cauteloso, quase como se tivesse medo da minha comida. E provavelmente tinha. – Uau! Isso aqui ta muito bom!

- É... sabe, eu não me importaria de cozinhar pra você. – Quando aquilo escapou, já era tarde demais. Até eu fiquei assustado com a frase, imagine Naruto. – O quê?

- Ah, nada não. Nossa, que fome! – Ataquei a comida, ignorando o vermelho que ia aos poucos se apossando das minhas bochechas.

Após terminarmos de comer, fomos até o jardim respirar um pouco de ar puro; Naruto com uma pêra nas mãos, comendo-a devagar. Observei o loiro discretamente, pra variar, e era realmente uma cena agradável.

O sol fazia os fios loiros parecerem vivos; a pele dourada brilhava e destacava os olhos azuis que Naruto possuía. Seus lábios rosados se moviam graciosamente enquanto comia aquela pêra sortuda.

Ah, eu devo ter um poeta interior. Mas quem não teria, com uma visão como essa? Parecia um anjo comendo uma pêra no paraíso. (A/N: Além de depravado, tem surto psicótico.)

Me aproximei devagar; Naruto mal percebendo o ato. Vi minha chance quando um pequeno vestígio da fruta ficou bem ali do lado da boca do loiro.

Assim que Naruto notou minha aproximação, levantei minha mão ao seu rosto e me inclinei, roubando um beijo. O loiro ficou tão chocado que mal se moveu; aproveitei pra passar a língua por entre seus lábios.

Assim que vi que ele ia me empurrar, me afastei, lambendo os lábios como um cachorro que acabou de comer um delicioso bife. – Sa-Sasuke... que... que porcaria foi essa? - , perguntou corando escarlate. – Tinha um pedaço de pêra ali. Nada de mais.

O loiro me olhou indignado enquanto eu me sentava no chão, com um pequeno sorriso estampado no rosto. Naruto tinha um gosto bom, muito bom. Eu poderia me acostumar com isso.

- Sabe, Sasuke... não sei por que, mas to começando a achar que você ta se aproveitando da situação.

- Eu? Do que você ta falando, Naru... to? – Ah, essa foi por pouco... vai saber que tipo de reação ele teria se eu o chamasse de ‘Naru’. Eu não to pronto pra morrer ainda.

- ...você ia me chamar de Naru? – Olhei-o com cara de inocente; bom, olhei com a melhor cara de inocente que conseguia fingir. – Impressão sua, Naru... to.

- Aí! Você falou de novo!

- Quê isso, Naru- to! Ta ouvindo coisas.

- Sasuke! Pára de ser fingido!

- Não to sendo fingido, Naru- to.

- Baka, ta fazendo de novo!

- Escuta, Naru- to, eu to achando que você tem um caso sério de alucinação. – Já estávamos os dois rindo da nossa estupidez. Até que era divertido ‘brincar’ com ele. – Seu bobo! Não precisa ficar fingindo, eu não ligo.

Abri um sorrisinho suspeito. – Aaah, então agora é enfermeira Naru? Gostei da idéia. – O loiro se agachou e começou a bagunçar meu cabelo. Eu, em troca, puxei-o e acabamos caindo no chão, rolando igual a duas criancinhas.

Eu realmente, definitivamente, podia me acostumar com isso.

Quando percebi, o loiro estava em cima de mim. Ria todo contente, do jeito que só ele conseguia.

Só mesmo Naruto pra me fazer agir de um jeito completamente diferente do meu. Normalmente eu abominava essas ações idiotas; achava infantil e desnecessário, mas com o loiro isso parecia tão... tão encantador.

Claro que eu jamais faria uma coisa dessas em público; eu até poderia estar gostando um tiquinho de nada do loiro, mas não chegaria ao ponto de dar uma de retardado na frente de outras pessoas. Eu tenho meu orgulho, né.

Meu sorriso mudou de contente para admirado. Naruto ficava extremamente bonito quando ria; suas marquinhas na bochecha pareciam mais visíveis e as maçãs de seu rosto ficavam meio rosadas, era adorável.

Não consegui resistir; levantei minha mão e acariciei o rosto do loiro, deixando-o um pouco sem ação. - ...Sasuke? - , disse baixinho. Com certeza estava confuso; eu nunca fui de fazer essas coisas. – Hm? - , respondi.

Naruto estava corando de leve, não devia estar acostumado com esse tipo de atenção. – O que você ta fazendo? - , perguntou, hesitante. – Não sei.

E não sabia mesmo. Antes que percebesse, tinha meus lábios pressionados contra os do loiro, que ficou estático, não se movia de jeito nenhum. Troquei-nos de posição; fiquei por cima enquanto Naruto estava por baixo.

O loiro nunca pareceu tão envergonhado. Só me toquei o que havia feito depois que Naruto virou o rosto, com uma expressão toda assustada. – Ah... desculpa, não sei o que deu em mim.

Saí de cima do loiro e o ajudei a levantar; não olhava nos meus olhos e parecia um morango de tão vermelho. – Você não ta bravo comigo, ta? - , perguntei receoso. – Não... você mesmo disse que não sabe o que te deu, certo?

Mas ainda não olhava nos meus olhos, e Naruto não era do tipo de pessoa que fazia isso. Realmente não parecia bravo, mas tinha alguma outra coisa lá que eu não sabia identificar.

- Eu tenho algumas outras coisas pra fazer... você já ta melhor, né? - , perguntou me olhando de relance. – É... - , respondi. – Eu vou indo então.

- Espera, Naruto...! - , mas o loiro já havia ido embora, sumindo numa nuvem de fumaça.

Agora o confuso aqui era eu.

-

POV DE NARUTO

Cheguei em casa com o coração a mil. Assustado era pouco; eu estava abismado com o que Sasuke havia feito. E também estava assustado com minha própria reação; eu podia ter impedido mas não fiz nada.

O pior é que eu não sabia o porquê. Sempre achei que gostava da Sakura-chan, e ainda acho, mas hoje com o Sasuke... tinha alguma coisa diferente. Era alguma coisa que eu nunca havia percebido; eu não tinha idéia do que estava acontecendo.

Mas, uma coisa era certeza, Sasuke não fez aquilo sem querer. Ninguém faz essas coisas assim, do nada... devia ter algum motivo. Só podia ter sido uma aposta.

...aposta?

Maldito seja! Me usando assim por causa de uma aposta idiota! Não acredito que fiquei cuidando dele esse tempo todo, preocupado que só eu, pra ele me usar desse jeito!

Agora mesmo ele deve estar rindo junto com os amigos dele!

~Enquanto isso~

Sasuke pegou sua xícara de chá cuidadosamente, assoprando de leve antes de tomar um gole. Logo depois disso, espirrou, fazendo todo o chá voar pra fora da xícara. – Ah... alguém deve ta falando mal de mim.

~Voltando...~

Nunca vou perdoar aquele Uchiha cínico! Gastei preciosas horas de treino pra ficar tomando conta dele, e era tudo mentira! Ele que se vire sem mim na missão de hoje!

Declaro agora, oficialmente, que entrei em greve de Sasuke!