Capítulo 4 – Porque as estrelas brilham tanto?

A nave pousou sem nenhum problema nos terrenos de Disney Castle. O grupo desembarcou da nave. Riku foi à frente e sorriu para o pequeno grupo que veio recebê-los.

- Riku! Bom saber que está bem. – pronunciou um camundongo ao ver o rapaz.

- Obrigado, Rei Mickey! – disse Riku, fazendo uma breve reverência, seguido por Vaan.

Lilian e Zack ficaram sem entender nada. Porém, o rei veio em direção aos dois visitantes. Ele sorriu e fez uma breve reverência para os dois.

- Olá, visitantes. Sou Rei Mickey e espero que apreciem a estadia em Disney Castle. Posso saber como vocês se chamam? – perguntou o camundongo abrindo um sorriso amigável.

- Sou Lilian, senhor.

- E eu me chamo Zack, Vossa Majestade.

- Prazer em conhecer os dois. Mas por favor, não me chamem assim. Apenas Mickey.

- Eu sou Rainha Minnie. Eu acho que nossos visitantes estão um pouco cansados e famintos. Daisy, por favor, acompanhe os dois até os seus aposentos e depois leve-os para o salão. Iremos jantar todos juntos. – disse a pequena camundonga, que veio seguindo Mickey, e acompanhada por uma pata do mesmo tamanho que ela.

Daisy os chamou e os dois jovens olharam para o grupo, na qual Riku acenou positivo, como se dissesse para acreditar neles, que não haveria nenhum problema.

O grupo cruzou o jardim que havia, onde observou que era muito bem cuidado. Os corredores eram brancos em sua maioria. Nada daquele lugar parecia refletir o que acontecia no universo afora. Alguns corredores e o grupo parou. Havia duas portas, uma de frente para outra.

- Aqui está o quarto de vocês. A menina ficará com o quarto direito, e o rapaz com o esquerdo. Roupas e coisas que precisarem estarão em seus aposentos. Qualquer problema, não hesite em reportar. Deixarei vocês dois aqui para conhecer os seus aposentos. Virei buscá-los para a refeição. – e fazendo um breve aceno com a cabeça, ela se virou e fez o caminho de volta pelo corredor, deixando Lilian e Zack sozinhos ali.

Nenhum dos dois falava nada, apenas ficaram de frente para seus respectivos aposentos. Lilian foi a primeira a fazer algo. Ela se aproximou da porta de seu quarto e abriu. Era um lugar bem amplo e iluminado por enormes janelas. Havia uma pequena sacada onde havia uma bela vista para um bosque que havia além do castelo. Adentrou mais ainda e viu sua decoração. O criado-mudo ao lado da cama era feito de madeira, com entalhes delicados de duas espadas estranhas, com um formato que remetia a uma chave. Lilian teve a leve impressão de que já vira aquilo em algum lugar.

Antes que pudesse pensar onde vira aquilo, ela olhou para algo que a chamava mais atenção. Havia um espelho próximo a um grande armário branco, também de madeira com detalhes entalhados. Seu reflexo foi o que mais chamou sua atenção. A moça se via, mas sentira-se diferente. Aquele reflexo fez lembrá-la de como ela era em Twilight Town. Aquelas roupas largas de menino, o boné, a face um pouco suja para esconder seu rosto feminino.

O que a fez se distrair de tudo aquilo foi o barulho da porta rangendo e revelando Zack. Ele olhava para a moça, que estava de frente ao espelho.

- Posso entrar? – perguntou o rapaz.

Ela apenas acenou e deu as costas para o espelho. E foi para onde a sua cama estava. Sentou-se e ficou olhando para Zack, que parecia procurar algo pelo quarto. Quando se aproximou da garota, ele se sentou na cama também e ambos ficaram olhando para a sacada.

- O que faremos agora Lilian? – perguntou ele um pouco pensativo.

- Eu não sei. Tudo ainda parece um sonho.

- Porém, não é. Não iremos mais acordar em Twilight Town. – ele comentou. – Pelo menos estamos juntos ainda. Um dia tudo isso vai acabar, e quem sabe não voltamos para casa?

- Eu não sei mais o que pensar, ou o que esperar. Estamos aqui agora. – disse ela fazendo uma pequena pausa, e quando retomou, olhou para o amigo. – E eu irei lutar. Você também deve. Faremos parte de algo importante, Zack. Podemos salvar as pessoas! – ela falou com um pouco de animação.

Ele não falou nada. Ainda olhava para a sacada e o bosque no horizonte, num cenário crepuscular. A falta de diálogo por parte do amigo fez a animação de Lilian murchar um pouco. Desviou o olhar dele para o cenário além da sacada.

A noite já havia caído quando Daisy batera na porta para levar os dois jovens para jantar com o Rei e os outros. O caminho pelos corredores fora silencioso. A iluminação predominante era a luz do luar, que invadia o lugar pelas janelas.

O local onde haveria o jantar era um salão branco enorme, com uma mesa de tamanho mediano colocado no centro, e algumas cadeiras em volta dela. Riku, Vaan, Mickey e Minnie estavam sentados, esperando por Daisy e os visitantes. Os três se sentaram e a refeição foi silenciosa. Muitos já haviam terminado quando o silêncio foi quebrado.

- O que está acontecendo? – perguntou Lilian, fazendo Riku e Mickey se entreolharem. – Porque as trevas estão tomando conta de tudo? E porque sempre me disseram para tomar cuidado com os heartless? O que acontece com as garotas que eles capturam? – esta última pergunta fez uma ponta de súplica sair na sua voz.

Ninguém respondeu. Riku não parava de trocar olhares com o rei. Ele sabia que aquelas perguntas viriam. Antes que Mickey pudesse começar um relato, Riku se pronunciou.

- Já faz algum tempo. Após a queda da Organization XIII, um grupo formado por nobodies, que são pessoas que perderam os seus corações, tudo havia ficado em paz. Porém, houve um distúrbio em The World That Never Was, o mundo na qual eles viviam. As trevas que havia lá permaneceram e aos poucos foi consumindo aquele mundo. – Riku fez uma pausa, porém Mickey continuou.

- Um homem, na verdade um heartless de um homem chamado Xehanort, que no passado, fez parte de um grupo de pesquisadores liderados por Ansem, the Wise que procuravam desvendar o mistério dos corações das pessoas. Achávamos que ele havia sido destruído. Mas há alguns anos, ele se reergueu com a ajuda das trevas que The World That Never Was possuía.

- Ele conseguiu fugir e no comando dos heartless, ele foi dominando mundo após mundo. Começou em Dwarf Woodlands. Não conseguimos impedir que ele capturasse a princesa de lá, Branca de Neve...

- Mas porque iria capturá-la? – perguntou Zack, que interrompia Riku.

- Ela é uma das Sete Princesas do Coração. – retomou Riku, respondendo ao garoto curioso. – Quando estão juntas, elas são capazes de abrir a Door to Darkness. Assim que Branca de Neve foi capturada, tentamos proteger as outras seis, porém em vão. Cinderella, Aurora, Bela, Alice e Jasmine foram capturadas, e seus respectivos mundos foram engolidos pelas trevas. A última princesa, e minha amiga, Kairi conseguiu escapar de Destiny Islands, meu mundo de origem, antes que pudesse acontecer algo. Nós a levamos para vários mundos, na tentativa de despistar os heartless, mas foi em vão. Ela logo foi capturada e o mundo em que nos encontrávamos, Radiant Garden, começou a ser consumido pela escuridão.

- Um amigo, Sora, partiu em busca de Kairi, na esperança de que ela ainda esteja viva. – continuou Mickey. – Mas perdemos contato com ele há alguns anos. A probabilidade de ele estar vivo é perto de zero. Ele, Donald e Goofy foram considerados mortos.

- A nossa única esperança de fechar a Door to Darkness usando sua keyblade morreu com ele. – comentou Riku.

- Keyblade?! – diz Lilian, lembrando-se da espada estranha em formato de chave que vira nos seus sonhos e vira Riku empunhar uma em Twilight Town. – É aquela arma que você empunhava em Twilight Town, não era Riku?

Riku a olhou surpresa. Ele não esperava que ela tivesse o visto empunhar a Way to the Dawn. Sorriu quando voltou a falar.

- Era. Eu sou um dos portadores da keyblade. A keyblade que você me viu empunhar chama-se Way to the Dawn.

Lilian ficou pensativa. Ela não sabia o porquê de ver uma keyblade em seus sonhos. Os nomes ditos eram familiares para a moça. Sora... Kairi... Tudo isso parecia um enorme sonho, porém, era tudo real. Contudo, o rei e Riku não haviam respondido uma coisa, que a deixou intrigada.

- Porque essas criaturas vão capturas garotas? – perguntou ela ainda pensativa. – Lembro que Olette sempre me impedia de deixar a Torre do Relógio, pois eu poderia ser capturada por um heartless. O que acontece?

- Infelizmente nós não sabemos. – quem havia falado dessa vez era Rainha Minnie, que havia ficado em silêncio durante todo o relato. – Porém, o que mais incomoda é saber que eles já têm as Sete Princesas, então para que eles querem garotas? Isso é uma pergunta que ainda permanece sem resposta.

- E a resistência? – dessa vez foi Zack.

- Ela foi criada por aqueles que lutam contra a escuridão. – começou Riku mais uma vez. – Não só em Twilight Town, mas Radiant Garden, Traverse Town, Ivalice, Atlantica, Neverland, The Land of Dragons, Port Royal e alguns outros mundos mantém resistência contra as trevas. Entretanto, Radiant Garden caiu, assim como Twilight Town. Atlantica não deve demorar a cair. Segundo Mulan, eles ainda têm forças o suficiente para manter as trevas afastadas em The Land of Dragons. Neverland mostra sinais de escuridão, porém, nada que possa sair do controle. Metade de Ivalice foi tomada. Relatos que recebemos da Princesa Ashelia são que os heartless conseguiram derrotar o Império de Archadia, que não passa de um lugar onde os heartless vagueiam. Basch luta para que os heartless não invadam Nabradia. Não estamos em muita vantagem, pois muitos estão começando a perder a esperança.

Silêncio. Lilian ficou pensando em tudo o que ouvira. Zack parecia fazer o mesmo, porém, o rapaz estava indeciso sobre o caminho que teria que tomar ali. A moça já havia decidido.

- Acho que já está tarde. Aconselho que todos se retirem e vão aos seus aposentos descansar. – propôs Rainha Minnie.

Todos se levantaram e saíram do salão. Lilian não estava cansada. Ela queria apenas pensar um pouco, tomar um ar. Deixou todos saírem na frente, enquanto ela seguiu em direção aos jardins que havia no castelo.

O lugar era lindo e bem cuidado, com a única iluminação que a lua emitia. Ela andou para perto dos arbustos que ficavam ao centro e se sentou na grama fina e ficou fitando o céu.

- Não vai dormir? – perguntou uma voz masculina vinda atrás da garota, o que a fez arrepiar a sua espinha.

Quando ela se virou, viu que Riku estava em pé um pouco atrás dela. Ele parecia rir da situação assustada da moça, o que não a agradou muito. A moça se virou, e voltou a olhar para o céu novamente, bufando por aquilo ter acontecido.

- Não precisa ficar nervosa. – disse o rapaz sentando-se ao lado de Lilian. – E então, o que você procurava olhando para o céu?

- Nada, eu acho. – respondeu ela dando de ombros. – Apenas estou vendo como a noite é. Tão escura, e tão bonita. As estrelas tão brilhantes.

Riku ficou olhando para o céu também. Aquilo fez o rapaz lembrar as noites tranquilas em Destiny Islands, antes de tudo acontecer.

- Riku?! – chamou a garota. – Todas aquelas estrelas... O que tem lá? O que as fazem brilhar tanto? – perguntou a garota, com o seu olhar perdido naqueles pontos distantes.

- Não sei. Talvez sejam mundos. Milhares de mundos diferentes. Muitos sem conhecimento do que acontecem. E saiba que enquanto elas brilharem haverá esperança. Com isso, nós temos forças para lutar.

- Eu também quero lutar. – disse a garota desviando o olhar e passando a fitar o rapaz. – Por favor, deixe-me lutar. Não quero ser apenas uma inútil que não sabe fazer nada.

- É perigoso...

- Eu sei que é. Mas assumirei os riscos. Você poderia me ensinar a lutar, a ser forte. Por favor! – pediu Lilian suplicante.

Riku fitou a moça. Ficou pensativo por uns instantes, o que deixou a moça ainda mais nervosa sobre o que o rapaz poderia decidir.

- Amanhã eu irei para Traverse Town. Acho que não haveria problema em você vir comigo. – disse o rapaz por fim, fazendo o rosto da moça se iluminar, mas logo continuou. – Porém, não quero você fazendo besteira. Sairei ao amanhecer, então eu sugiro que você vá dormir.

- Certo. – acenou ela feliz.

Ela se levantou e saiu apressada para dentro do castelo, rumo aos corredores que levariam aos seus aposentos, deixando Riku sozinho, que agora olhava as estrelas. Não demorou muito e ele também se levantou deixando o jardim.

Quando Lilian havia chegado ao corredor que levava ao seu quarto, ela olhou para porta por alguns instantes e se virou para olhar a porta do quarto de Zack. Ela bateu em sua porta, mas não houve resposta.

- Zack, se você estiver acordado, eu só gostaria de dizer que amanhã eu irei para um lugar chamado Traverse Town. Gostaria que você fosse... – disse a moça, encostando a sua testa na porta.

Esperou uma resposta, mas se seguiu apenas o silêncio. Ela então se virou e adentrou o seu quarto.

Do outro lado da porta do quarto do rapaz, Zack estava encostado silenciosamente na porta, enquanto ouvia o que a amiga dizia. Ele não sabia o que decidir. Porém, procurou não pensar nisso e foi para a sua cama, onde se deitou e ficou olhando para a sacada.