Capítulo 2 – O Fim do Crepúsculo

- Eu digo o mesmo, Olette. – falou Riku, suavizando a expressão séria no rosto. – Quando recebi o seu chamado, eu não pensei duas vezes. Porém, vejo que você está bem. – e abriu um sorriso.

- Ainda estamos bem. – sussurrou ela ao se aproximar do rapaz. – Precisamos conversar. – mas antes de deixar o salão, ela o olhou mais uma vez. – Não se preocupem. Voltem a dormir, voltem para os seus sonhos. – E sumiu dali.

Riku a seguia em silêncio pela escadaria da Torre. Ambos desceram até a antiga estação, que estava, em parte, destruída. Olette olhou todo o lugar, para certificar de que ninguém estaria ouvindo, nem de que houvesse algum heartless ali.

- A barreira que protege este lugar está para romper. – disse a moça encarando Riku. – Eles não chegavam nem ao pátio fora da estação. Agora eles andam livremente por ela.

Riku permaneceu em silêncio, olhando para o que já foi a porta de vidro da estação, que levava para um pátio no lado de fora, no passado.

- Então aqui está acontecendo de forma semelhante à Radiant Garden... – sussurrou ele consigo.

- As crianças têm sentimentos tão puros. Amor, felicidade. Não só puros os sentimentos que as fazem sorrir, mas também os sentimentos que as fazem chorarem, ter medo.

Ela esperava que ele dissesse algo, mas Riku ainda permanecia em silêncio, absorto em seus pensamentos. Por fim, quando voltou a si, olhou mais uma vez para Olette.

- Há uma garota. Lá em cima, que está vestida com um menino, assim como eu. Porém, ela é diferente. Eu lembro quando você a trouxe para mim. Ela não tem muitas lembranças sobre seu passado, mas ela se lembra de você. E sonha com você. – murmurou Olette, abrindo um pequeno sorriso. Mas seu sorriso logo murchou.

- Não sei o que posso fazer. – falou Riku, depois de um longo silêncio. – Eu vou aos lugares para salvar as pessoas, mas elas estão perdendo a esperança. Seus corações estão sendo tomados pelas trevas. Twilight Town é um dos poucos lugares que ainda luta para sobreviver. Traverse Town está caindo aos poucos. Radiant Garden já foi tomado. Precisamos ter fé. E é o que farei. Quando todos acordarem, nós iremos à luta por Twilight Town.

Ela procurou sorrir. Ele estava certo. Olette lutaria por Twilight Town, assim como os seus amigos fizeram antes, que morreram tentando.

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- Quem será aquele? – perguntou Zack à Lilian, que ainda estava boquiaberta, após Olette e o visitante deixarem o lugar em direção às escadarias.

- O rapaz de cabelos prateados dos meus sonhos. Aquele que me salvou há muito tempo atrás. – falou Lilian automaticamente. – É ele Zack. Eu tenho certeza!

Zack levantou uma das sobrancelhas, sem entender muito. Ela provavelmente estivera sonhando com ele, de novo. Ficou em silêncio, apenas olhando para ela, que ainda estava estupefata com o que vira. Então se afastou um pouco, e voltou a dormir onde estava.

Lilian também se deitou, mas não conseguira voltar a dormir. Pensava no que vira agora há pouco. Pensou que fosse um sonho. Porém, quando Olette o recebeu amigavelmente, percebeu que tudo era real. E sem perceber, acabara por adormecer.

Quando a garota acordara, todos ainda adormeciam. Supôs então que era cedo. Esfregou os olhos para poder adaptá-los a penumbra que se encontravam no salão. Quando parou de esfregá-los, Lilian pensou ter visto um vulto andando até a sacada da Torre. Levantou sorrateiramente e andou com o máximo de cuidado possível. Quando finalmente alcançou a abertura que levava a sacada, Lilian parou.

Seu olhar estupefato, dividido entre alegria e espanto, fez a garota ficar imóvel. Encarou o visitante, que estava de costas, olhando para a paisagem imutável e a destruição da cidade abaixo. Ele era alto, de pele clara. Seus cabelos prateados reluziam com a luz do sol.

- Por quanto tempo vai ficar ai me olhando? – perguntou o visitante após muito tempo.

Lilian arregalou os olhos, de susto e uma ponta de medo a invadia. Pensou em se virar e voltar para onde estava. Porém, para a surpresa da garota, ele parecia ler mentes.

- Não se preocupe. Eu não farei mal. Não precisa ficar com medo, nem sair daqui. – disse ele virando-se para encarar a jovem, com um sorriso amigável nos lábios. – Sou eu quem deve se retirar...

- Não! É... – exclamou a moça, que logo se calou, encolhendo-se um pouco.

O rapaz riu. Achava engraçada a situação em que a menina se encontrava. Lilian corou violentamente e olhou para os seus pés. Ele provavelmente estava achando que ela era uma ridícula, boboca que não conseguia dizer nada.

- Não precisa sair. Eu que fui insolente ao espiá-lo, senhor. – falou a garota, ainda olhando para os pés.

- Não me chame de senhor. – disse ele em tom repreendedor, mas logo rindo novamente. – Eu sou Riku. E você, quem seria garota?

- Como...

- Pode estar vestida com um menino, mas seu rosto delicado e a voz não enganam ninguém. – falou ele sorrindo para ela. – Lembra a alguém... – sussurrou e calou-se, olhando para o horizonte e depois para a menina.

- Eu sou Lilian. Além da Olette, eu sou a única garota aqui.

- Lilian? – chamou outra voz masculina vinda das costas da garota.

Zack ainda esfregava os olhos e andava tateando pelas paredes, a fim de não tropeçar em nada nem ninguém.

- Riku... – começou a garota, mas antes de continuar, puxara o rapaz para junto de si. – Esse é o meu melhor amigo e irmão de consideração Zack. – disse Lilian um pouco mais animada abraçando o braço do rapaz, que ainda estava sonolento.

Riku apenas sorriu. Zack ficou encarando-o. Não sabia o que pensar sobre ele. Não sabia nada sobre ele, apenas o que Lilian contava dos sonhos.

Antes que algum dos três pudesse falar qualquer coisa, um estrondo que fez tremer o piso da sacada atingiu os três. Lilian caiu levando Zack junto. Riku fez de tudo para se manter em pé, mas inutilmente, ele caiu de bruços no chão. Após alguns intermináveis segundos, tudo parou. Então veio o que Riku temia.

As crianças que dormiam acordaram assustadas e muitas já começavam a gritar e a chorar. O desespero e medo invadiam o lugar. Riku levantou-se e foi para o salão. Não bastou procurar, pois Olette já corria em sua direção.

- As barreiras caíram. Eles estão chegando.

Riku saiu correndo em direção s escadarias, materializando uma espécie de espada estranha em formato de chave.

Lilian se levantava sem entender nada. Ajudou Zack e correu para onde Olette se encontrava.

- O que aconteceu? – perguntou Zack, mas os gritos das crianças eram alto demais e aparentemente Olette não ouvira.

Tudo aconteceu muito rápido. Auras negras começaram a emanar das crianças chorando. As trevas começavam a invadir o salão e estava pronto para consumir todos os corações que ali pudessem encontrar. As crianças começavam a se comportar de forma estranha, e aos poucos, cada uma delas se transformava em heartless.

- Não fiquem assustados, não mostrem medo. Tenham fé. – gritou Olette correndo em direção a um dos cantos da parede e tirando de um compartimento alguns bastões. Deu a alguns jovens que estava por perto e por fim, entregou um ao Zack. – Cuide dela. – e correu para combater os heartless que apareciam.

Zack acenou com a cabeça ao pegar o bastão. Pegou a mão de Lilian e a arrastava para longe dali. Pensou bem e viu que não tinha para onde ir. A torre estava cercada lá embaixo e não havia nenhuma rota de fuga ali em cima. Só havia uma saída: Ir até a antiga estação e fugir pelos trilhos. Talvez houvesse algo além daquele caminho metálico. Pensou na mansão abandonada, onde descobriu que, por razão que nem ele sabia, heartless eram repelidos. Porém, o bosque que levava até lá era repleto de criaturas e podia ser perigoso.

- Para onde está me levando? – parou Lilian no meio da escadaria, puxando a braço.

- Temos que sair daqui. Não é hora para explicações, Lil. Por favor!

- O que vocês estão fazendo aqui? – perguntou uma voz vinda atrás de Zack. Era Riku.

- Os heartless dominaram tudo lá em cima. Temos que sair daqui! – gritou outra voz, desta vez vinha atrás de Lilian. Era Olette.

- Eu tenho a nave Gummi. Está escondida nos trilhos. Podemos sair daqui por ela. Mas terão que vir rápido. Não conseguirei dar conta de todos os heartless lá embaixo.

Lilian hesitou, mas acompanhou os três pela escadaria. O medo começava a dominá-la. Não tinha que estar com medo. Riku estava ali. Ele a salvou uma vez, como na sua mais remota lembrança. E ela queria ser forte. Respirou fundo, enquanto uma determinação batia dentro de seu coração, que afastava o medo.

Ao chegar à antiga estação, Riku mandou todos seguirem para os trilhos que levavam ao lado de fora do lugar. Os heartless invadiam a entrada. Riku gritou para eles continuarem, enquanto ele dava algum tempo. Lilian e Zack continuaram a seguir para os trilhos, mas Olette foi ajudar o rapaz a combater as criaturas.

- Vá! – gritou Olette para Riku.

- Eles são muitos, você sozinha não irá conseguir!

- Vá! Não se preocupe comigo. Salve os dois. – Olette continuou a bater nos heartless com o bastão, tentando afastá-los.

Olette tirou o boné que escondia seus cabelos castanhos, deixando-se mostrar como uma garota para as criaturas. Riku ficou imóvel vendo a cena. Os heartless se aproximavam dela, enquanto ela se defendia.

Riku entendeu o que ela queria. Não podia impedi-la, pois era o seu último pedido. O último desejo dela. Antes de se virar para correr, ele a encarou por alguns segundos e viu que ela tinha um sorriso determinado na face. Então ele a deixou sozinha e seguiu para os trilhos.

Lilian e Zack estavam alcançando os trilhos, quando a menina olhou para trás. Ela via que Riku corria em sua direção, mas Olette havia ficado. Quando o rapaz chegou junto dos dois jovens, ele mandou com que seguissem em frente. Lilian agora entendia tudo, e numa atitude quase inconsciente, ela gritou. Gritou por Olette, mas ela parecia não ouvir. Queria poder correr para ajudá-la, mas os dois rapazes a seguraram e a arrastaram para longe dali.

A lembrança de ver Olette sendo cercada pelos heartless e olhando para o grupo, com um sorriso alegre no rosto e uma lagrima rolando pelo rosto jamais sairia da mente de Lilian.

Sem se dar conta, os rapazes conseguiram alcançar a nave Gummi. Quando todos entraram, os motores da nave foram ligados. E se foram da Twilight Town, onde o pequeno grupo de sobreviventes, assim como a resistência que havia ali, caiu e agora, Twilight Town era tomada pelas trevas.