Prólogo – Esperança

Posso não saber quem são vocês, mas vocês sabem quem eu sou. Sou aquele que ainda mantém a esperança, a luz no coração das pessoas. Anos se passaram desde a queda do Rei Mickey e as trevas assumirem tudo. Venho pedir-lhes, ou melhor, venho implorar que mantenham a luz de seus corações acesos. Dor e medo só fortalecem as trevas. Tenham esperanças, pois vocês são a minha única. Longa vida ao Rei Mickey e ao caminho da luz!

Capítulo 1 – Twilight Town

Já estava ficando tarde, apesar de o cenário nunca mudar em Twilight Town. Lilian estava preocupada. Não era comum que Zack demorasse. Saíra de seu esconderijo e espiava por entre alguns escombros do que antes eram prédios. Ao espiar, ela teve aquela visão das criaturas negras de olhos amarelos, que se estremeciam ao andar. Já vira vários deles antes, porém aquela visão era ainda assustadora.

Antes que o heartless mais próximo pudesse detectar a sua presença, Lilian foi empurrada para fora do campo de visão da criatura. Ao ver quem fizera isso, ela empurrou com uma tapa no ombro.

- Zack, seu idiota!

- O que faz aqui? Eu disse a você para me esperar na Torre. – protestou Zack, saindo de cima da garota e sentando-se ao seu lado.

- Ficamos preocupados. Você demorou e a Olette está quase chorando por sua causa. Deve estar temendo o pior. – disse Lilian.

- Mas se o heartless a visse? Sabe o que “ele” mandou fazer com as garotas que encontrar? Você sabe bem, mas preciso lembrar? – esbravejava o garoto.

Não precisava, pois ela sabia perfeitamente as consequências. Ao contrário de Zack, que tinha uma pele pouco bronzeada, magro, porém atlético e tinha olhos castanhos intensos, de cabelos loiros escuros, Lilian era magra e baixinha, com cabelos castanhos cor de mel, que estavam escondidos sob um boné, suas bochechas rosadas e seus olhos verdes brilhantes eram escondidos sob a sua face suja.

Após a ascensão das trevas, por motivos que ambos desconheciam, todas as garotas deveriam ser capturadas. Ninguém sabia o destino delas após a captura, mas sabia-se que elas nunca mais eram vistas.

No grupo de sobreviventes em Twlight Town, que residia no que restou da Torra do Relógio, na antiga estação de trem, havia apenas duas garotas: Uma delas era a própria Lilian e a outra era Olette, a líder dos sobreviventes desde a morte de Pence, Seifer e os outros habitantes do lugar. Seu outro amigo, Hayner, havia sumido há anos e não se tinha mais esperança de que ele estava vivo. Ambas as garotas se vestiam e eram chamadas por nomes de homem.

Zack puxou a garota pelo braço para dentro da antiga estação de trem, que tinha uma escadaria que levava ao topo da Torre.

- Zack! – gritou uma voz surpresa. Era Olette. – Onde esteve? Porque demorou? Achei que tinha sido capturado. O que conseguiu?

O garoto sorriu e retirou um embrulho dos bolsos internos da jaqueta surrada que usava. Nele continha suprimentos para uns dois dias, que iriam alimentar o grupo, formado por crianças e jovens. Zack era o mais velho, com 16 anos.

Olette repartia e entregava a comida para as crianças com um semblante triste, porém sorridente. Parecia que sabia algo que estava prestes a acontecer.

Lilian pegou a sua parte e sentou-se perto da sacada, onde podia ver a cidade, ou melhor, o que restara dela. Um dia, segundo Olette, aquela vista era de tirar o fôlego. Sea Salt Ice Cream era delicioso, conforme ela, mas Lilian nunca havia tomado. Ela nunca presenciara nada que ouvia nas histórias.

A garota era órfã, assim como a maioria, mas ela era diferente. Não sabia de onde vinha ou sobre os seus pais. A única coisa que lembrava era de ter sido salva por um rapaz forte de longos cabelos prateados. Depois disso, só lembrava quando foi trazida para esse grupo. Isso foi aos 12 anos. Agora ela tinha 15.

- Porque está tão isolada, Lil? – perguntou Zack aparecendo de repente.

A garota conhecera Zack no mesmo dia em que ela chegara. Eram melhores amigos desde então. Ele sempre cuidava bem dela quando ela precisava. Lilian o considerava como um irmão mais velho.

- Só pensando. – respondeu a garota por fim.

Continuavam a refeição em silêncio. Lilian não parava de fitar o horizonte, enquanto Zack a fitava, com um pouco de tristeza aparente no rosto.

- Que cara é essa, Zack? Sorria! Lembre-se do que a Olette disse. – falou a garota dando uma tapa amigável no ombro do amigo.

- Ora, sua baixinha... – começou ele, mas logo riu junto com a garota.

De repente, Zack puxou amiga junto para si, envolvendo-a num abraço caloroso. Ela retribuiu o gesto, agradecendo de todo o coração por ter um amigo como ele.

- Que você esteja sempre aqui para me fazer sorrir. – falou o rapaz após um tempo.

- E que você nunca me deixe sozinha. – disse ela, rindo um pouco.

- Ora, baixinha, você sabe que jamais estará sozinho. Eu sempre estarei em seu coração. – murmurou ele, afastando-se um pouco para fitar a face da garota, abrindo um sorriso, o que a fez sorrir também, acenando positivamente com a cabeça.

Quando eles de fato se afastaram, ambos olhavam para o cenário imutável do pôr do sol. Mais uma vez, o silêncio.

- Você ainda sonha com o rapaz de cabelos prateados, não é Lil? – perguntou Zack, depois de um tempo contemplando a paisagem e passando a olhar para a garota

- Às vezes... Ele salvava as pessoas. E lutava com esses heartless. Queria ser forte para salvar as pessoas como ele. – respondia Lilian, com um sorriso brotando nos lábios.

- Sabe que não podemos sair daqui. Nosso destino é ficar aqui cuidando dos outros. É o nosso dever...

- Destino? Não Zack! – interrompeu a garota, deixando cair uma lágrima. – Esse é o SEU destino. Eu quero fazer algo grandioso para ajudar as pessoas. Você jamais entederia! – gritou Lilian, levantando-se e indo embora.

Zack continuava a olhar para onde ela estava anteriormente.

Olette observava tudo de longe. Não ouvia direito o que eles falavam, mas captava algumas coisas. Viu quando Lilian deixava a sacada às pressas. Pegou um cobertor e se deitou no chão frio. Olette estava preocupada, mas virou-se e se foi.

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Um sonho? Ou seria tudo real? O que era essa chave estranha? E esses tabuleiros redondos? Sete deles... Mas não conseguia enxergar o que estava desenhando. Um vulto. Um rapaz. Tudo ficava mais nítido, menos a sua face.

Um estrondo e tudo estilhaçavam em pedaços. Outro estrondo e o tudo estava escuro novamente.

Porém, o segundo estrondo fora bem real. Real o suficiente para acordar Lilian e os outros.

A garota olhava para os lados, à procura de Zack. Contudo, antes que pudesse chamar nome do amigo, uma luz apareceu no salão.

Quando seus olhos começaram a se acostumar com a luz, ela viu um vulto alto de aparência masculina. Nesse momento, Zack encontrou a moça, que nem ao menos deu conta da presença do amigo, pois seus olhos se arregalaram ao ver o visitante.

- Há quanto tempo. Achei que não viria mais, – disse Olette receptiva – Riku.