Quase uma semana se passou desde o encontro com o Justin. Ele não me ligou. Por quê? Milhares de respostas se formavam na minha cabeça. Era óbvio que ele não iria me ligar, o que eu estava pensando? Meu Deus, ele é o Justin Bieber! Milhares de garotas estavam em cima dele, eu era só mais uma. Eu não era a mais bonita, nem a mais especial. Ele tem quem ele quer... e eu com certeza não era o que ele queria. Quanta idiotice esperar por uma mentira. Como se o Justin Bieber fosse se apaixonar por mim e nós viveríamos felizes para sempre na casa da Branca de Neve... nunca. Eu soube que agora ele estava em Washington continuando a turnê. Ele foi embora sem me ligar.

Nos dias dessa semana eu aproveitei pra conhecer a cidade levando o Kevin e a Tia Sarah como os meus guias. Agora Kevin era um amigo. Sabe aqueles dois caminhos que tem no seu coração? Onde um caminho vai para os relacionamentos amorosos e o outro vai para as amizades e famílias? Eu estava puxando o Kevin para o caminho dois. Ele era quase um primo pra mim, meu novo melhor amigo.

7:00h am Monday, January 8th

Eu tomei um banho quente e vesti um vestido azul. Na cozinha, Tia Sarah alimentava o seu gato que eu havia apelidado de Miu. Miu era um nome relativamente bobo, mas era melhor do que Mr. Pom-Pom. Onde a minha tia estava com a cabeça quando colocou esse nome no pobre gato? Eu tomei um copo de leite, pois eu não conseguia digerir nada naquela situação. Eu estava muito nervosa e tinha um buraco no meu estômago por onde o vento podia passar.

- Esta nervosa? – perguntou Tia Sarah

- Um pouco. – menti.

A campainha tocou. Era o Kevin. Eu peguei minha mochila e nós dois caminhamos até o ônibus amarelo. Ao chegar, eu fui direto para a secretaria onde eu avistei uma mulher de meia idade, cabelos vermelhos e óculos. Ela digitava rápido no computador e não reparou quando eu entrei na sala.

- Bom dia, eu sou nova aqui... do intercâmbio. Eu preciso falar com o diretor.

Ela me encarou por alguns segundos e forçou um sorriso.

- É claro. Eu vou chamá-lo.

Ela discou três numero em um telefone preto e murmurou algo. Em pouco tempo um homem gordo, de paletó marrom e um pouco careca chegou e me cumprimentou.

- Seja bem vinda... – ele filou no papel meu nome. – senhorita Bernardes! Aqui, no colégio San Franciso Waldorf, temos o prazer de receber intercâmbistas e vamos fazer de tudo para o seu conforto em entender as aulas em inglês.

Apesar do discurso do direto parecer ensaiado, eu agradeci. Ele me levou até a sala de aula, pois o sinal já havia tocado. Por azar era de matemática. Ele me apresentou a turma e a professora como brasileira. Todos me olharam. Eu me sentei em uma cadeira vazia, perto da janela, ainda com os olhares curiosos dos meus novos colegas em mim. O diretor saiu da sala e a professora começou a aula.

- Bom, então acho que agora eu posso começar, não é? Alicia seja bem vinda ao nosso colégio e ao nosso país. Bom, estou vendo que existem mais calouros por aqui, não só a Alicia. Que tal todos nós nos apresentarmos para a classe? Vamos pessoal, primeiro dia de high school! – ela tentou animar.

Enquanto todos diziam seu nome, uma garota ruiva, sentada na minha frente, se virou e me disse:

- Oi! Eu sou Samantha, mas pode me chamar de Sam.

- Oi, Sam. – sorri.

- Que legal você ter vindo do Brasil! Nunca tive amigos de outros países, você é a primeira.

Éramos amigas? Bom, agora éramos. Sam jogava seus cabelos ruivos e cacheados para trás dos ombros constantemente. Ela tinha olhos verdes e sardas por todo rosto. Nós passamos a aula inteira conversando e logo nos tornamos melhores amigas. Quando o sinal tocou, Sam e eu fomos para a aula de biologia. Nós rimos da coincidência de estarmos juntas em mais outra aula. Kevin também estava nessa aula. Ele lançou um sorriso para mim quando eu entrei na sala e eu retribui.

- Alicia! Então vamos fazer biologia juntos?

- Parece que sim. Ah, deixa eu te apresentar: Essa aqui é a Sam, e Sam esse é o Kevin.

Sam sorriu tímida para ele. Kevin quase não ligou, ele continuou falando comigo. Nós três nos sentamos perto um do outro. Na cantina, Sam, Kevin e eu encaramos uma fila gigante para o almoço. Sam e eu conversavamos enquanto Kevin estava calado.

- ...Ah, mas então nós deveríamos sair todos juntos... Você não acha, Kevin? – Sam perguntou.

- Sim, vamos marcar. – disse Kevin pouco interessado.

- Então, ótimo! Cinema? – eu disse.

- Sim, sexta. Eu pago a pipoca. Alicia, você escolhe o filme, ok?

- Claro!

Eu não fazia a mínima idéia de que filmes estavam passando nos cinemas dos Estados Unidos, mas não me importei. Fiquei impressionada como era fácil fazer amigos aqui. Eu tinha acabado de conhecer Sam e já estávamos planejando um cinema. Isso era bom. Eu notei que Sam havia gostado do Kevin, mas também notei que Kevin não estava com essa bola toda pra ela. Coitadinha! Bom, já que eu havia decidido que nós só seriamos amigos, acho que eu daria uma boa cúpida.

Sam escolheu comer fritas e um copo de leite, eu decidi comer um hambúrguer e coca. Não era o almoço que eu estava acostumada a comer no Brasil, mas, ora, estamos na América! O país da obesidade e longe do arroz e feijão. Nós nos sentamos em uma mesa, junto com os amigos do Kevin.

- Então, você é a brasileira? – disse um garoto alto e forte ao lado do Kevin, vestido com uma jaqueta de time.

- Ahm... sim, sou eu.

- Isso é legal. Bem legal. – disse ele com um tom malicioso. – E então, bem que você podia dar uma reboladinha ai pra gente ver, não é?

Ele disse e seus amigos riram menos o Kevin. Ele estava ficando furioso.

- Como é?

- É, não é o que vocês fazem? Ficam... ér... sambando. – ele achou a palavra. – Não tenha vergonha, gata.

- É MELHOR VOCÊ PARAR! – disse Kevin irritado se levantando da mesa.

Todos os risos pararam e uma parte das pessoas do refeitório, os que estavam mais perto de nós, agora estavam nos olhando.

- Calma cara. Foi só uma brincadeira. Achei que não teria problema.

- É, mas tem sim! Ela merece respeito!

- Kevin, se acalma, eu to bem. Obrigada. – eu sussurrei pra ele e ele se sentou.

Sam olhava pra mim e para o Kevin ainda assustada com tudo. O garoto, um tal de Lucky, continuou a conversa como se nada tivesse acontecido. Nesse momento eu desejava que o sinal tocasse rápido, para que eu pudesse me levantar da cadeira e não ter que olhar mais para o Lucky.Não foi só o Lucky que me fez perguntas idiotas. Pessoas me perguntaram perguntas como, por exemplo, “Por que você não é preta?”.

No fim das aulas, eu fiquei feliz de tudo ter terminado. Kevin me esperava pra irmos para casa juntos, mas não hoje. Eu e a minha mais nova amiga íamos passear.