O dia seguinte foi estranho. Tudo parecia ter parado no tempo.

Mas depois comecei a ver que o problema era comigo.

Desde os últimos acontecimentos, nada em mim tem estado funcionando muito bem.

Não conseguia raciocinar direito, o que me rendeu um belíssimo 5,0 em quatro provas. Não conseguia comer e dormia parcialmente bem. Enfim, um verdadeiro pesadelo.

Meus colegas de classe me tratavam como uma estranha e eu ainda estava para descobrir o porquê. Como se eu já não tivesse uma ideia.

Claro, é ela, sempre. Leslie.

Quando o sinal para o intervalo soou, uma menina de cabelos dourados veio falar comigo. Achei estranho primeiramente, pois, sequer havia percebido que essa garota estava na mesma turma de História que a minha. Depois, percebi que era somente mais uma entre tantas que não perde a oportunidade de saber de uma boa fofoca.

- É verdade o que aconteceu com o Nick? – Disse ela, aparentemente, tentando esconder sua – enorme – curiosidade.

- Sim, é. – Respondi automaticamente sem a fitar nos olhos.

- Leslie contou para todo mundo que você pediu para ele não tomar o tal do remédio. – Pelo o visto era essa a pergunta que ela realmente queria me fazer.

Suspirei. Minha vida escolar, aparentemente, estava totalmente ferrada. Leslie iria me infernizar até enquanto podia.

- Se você prefere acreditar nas coisas que a Leslie diz, isso é uma escolha que você deve tomar e não eu. Mas, já que ela tem o direito de contar a versão dela da história, eu te digo a minha: Nick sofreu esse pequeno acidente porque ele mesmo descuidou no tratamento. Não tive nada a ver com isso. – Dito isso, saí da sala em direção ao pátio da escola.

Sentei-me no mesmo banco. O lugar aparentava nostalgia. Foi ali que aconteceram diversos momentos marcantes entre mim e Nick.

As músicas que eu cantei para ele, o início de nosso relacionamento… Mas agora, tudo o que restava eram apenas lembranças.

Suspirei, pensando se não estaria sendo dramática demais. Não havia nada que eu pudesse fazer para resolver meus problemas, o que me deixava completamente impotente. Sentar e esperar uma solução cair do céu não fazia muito o meu tipo, mas era o que eu vinha tentando fazer de uns tempos para cá.

E tudo isso estava afetando não só a mim, como a meus pais, e até mesmo as pessoas que não me conhecem, mas que convivem comigo na escola.

Senti que era hora de tomar uma atitude madura. Mas, o que deveria fazer diante disso tudo?

Abri minha mochila, peguei papel e caneta, e comecei a determinar minhas prioridades.

1 – Família.   Escrevi. Mas depois apaguei. Deveria ser honesta comigo mesma.

1 – Nick.        Ele seria minha principal prioridade a partir de hoje, até quando resolvesse ficar bom e retornar à sua vida normal.

2 – Família.     Claro que jamais iria excluir minha família das prioridades. Mas, no momento, eles não precisavam tanto de mim, quanto a prioridade número 1.

3- Leslie.         Minha última prioridade. Não fazia a mínima ideia de como ainda conseguia considerá-la uma prioridade, mas já que precisava ser sincera, a coloquei por ainda sentir que um dia voltaremos a ser melhores amigas.

Dobrei a folha de papel cuidadosamente e guardei no meu bolso. Carregaria aquela anotação sempre comigo, caso a situação piorasse, e eu não soubesse muito bem por onde começar a consertar as coisas.

Quando saí da escola, não fui diretamente para casa. Parei em uma sorveteria e fiquei lá, sentada em uma mesa, tentando me distrair com uma cliente que reclamava alguma coisa para a garçonete.

Quando meu telefone vibra. Chequei o identificador, e havia uma mensagem.

“Venha me ver. Precisamos conversar.”