O primeiro passo já havia sido dado. Agora, precisaria partir para o segundo.

Contar para os meus pais sobre Nick. Na verdade, não seria um desafio pois, ele sempre manteve uma reputação honrada diante da minha família.

Só que isso não tornava meu nervosismo menor.

Sentei-me no sofá, à espera de que o som da campainha soasse e todo aquele tormento terminasse o mais breve possível.

Meu pai aparentava estar mais nervoso do que eu, e minha mãe assistia uma reprise de Law&Order naturalmente, ignorando nós dois.

A campainha finalmente tocou.

Corri até a porta e a abri com um largo sorriso. Meu Deus, como ele conseguia ser sempre tão bonito?

- Nick! – Exclamei me jogando em um abraço quente e confortável.

- Olá, Miley. – Ele respondeu com a voz trêmula. Provavelmente também estava nervoso.

Entramos e meus pais já se encontravam de pé. Nick os cumprimentou timidamente, mas demonstrando bastante respeito.

- Nick, boa noite. Como vai a família? Espero que estejam todos com muita saúde. E na escola? As notas continuam boas? – Disparava minha mãe uma série de perguntas, e foi nesse momento que percebi que toda aquela tranquilidade era apenas superficial.

- Querida, será que nós podemos conversar enquanto comemos? – Questionou meu pai com o olhar dirigido para o banquete que preenchia a mesa.

- Claro! – Ela disse dando uns tapinhas no ombro de Nick.

O jantar foi adorável. Meus pais interrogavam Nick sobre tudo, e ele respondia sempre muito educadamente.

Até que a atenção foi direcionada para mim.

- Miley, conte-nos como foi seu dia hoje. Faz muito tempo que não conversamos, não é filha? – Disse minha mãe enquanto partia um pedaço de abóbora.

- Er, bem, foi normal sabe. Fui à escola, depois passei naquela loja de gatos que fica à uma quadra do colégio e comprei algumas coisas para Aphrodite. Meu Deus, foi tão difícil encontrar alguma coisa que minha gatinha gostasse ali. – Disse direcionado meu olhar para a gata, que no momento se encontrava dormindo próxima a minha cadeira.

E foi então que tudo aconteceu.

Nick abaixou a cabeça e fechou seus olhos, o que lhe deu uma expressão extremamente horrível. Depois começou a gritar. Foi quando ele finalmente abriu os olhos que eu percebi o que estava acontecendo. Claro, não era médica ou coisa do tipo, mas já havia estudado em Ciências sobre algumas doenças, entre elas a Diabetes. E uma das complicações mais comuns dessa doença é a cegueira.

- Mãe! Chama um médico, agora! – Gritei enquanto tentava apoiar o braço de Nick sob o meu ombro e levá-lo até o sofá.

O médico demorou meia hora para chegar, e até lá fiquei ao lado de Nick acariciando seus cabelos e sussurrando coisas como “Vai dar tudo certo” e “O médico já está quase chegando”. Lágrimas insistiam em cair dos meus olhos, e eu as limpava rapidamente. Não era um bom momento para demonstrar fraqueza.

Quando o médico finalmente apareceu, foi feita uma série de exames bem rápidos. Depois, Nick foi colocado em um ambulância e levado para um hospital particular próximo dali.

No interior da ambulância, estava eu segurando e apertando fortemente a mão direita de Nick. Ele estava desacordado e os enfermeiros que estavam conosco na ambulância bombeavam oxigénio a todo instante.

Ao chegarmos no hospital, Nick foi levado imediatamente para o centro cirúrgico, e foi nesse momento que não pude mais acompanhá-lo. O deixei ser empurrado por uma maca até uma ala, onde residiam poucos médicos, somente os cirurgiões.

A partir daquele momento, desisti de ser uma pessoa forte. Deixei uma fraqueza tomar conta de todo o meu ser, e caí em prantos, sentada em um sofá na recepção.

Minha mãe e meu pai acariciavam meus cabelos e, só percebi que estavam chorando também quando ouvi os soluços dos dois.

Após chorar toda a minha tristeza, um sono me invadiu e eu já não tive forças para lutar contra ele.

Adormeci pensando se quando acordasse tudo estaria bem de novo.