Saga Sillentya: as Sete Tristezas escrita por Sunshine girl


Capítulo 28
XXVII - A Despedida


Notas iniciais do capítulo

último capítulo... Nãooooooooooo!!!

E ajeitem os seus lencinhos, eu quase chorei escrevendo esse cap. (dramática eu, não???)

A música perfeita é do Within Temptation, e até mesmo a tradução dela é "NOSSA DESPEDIDA".

*chora de novo* BUÁÁÁÁÁÁÁ... Eu não acredito que fiz isso!

Bom choro... Er, quero dizer, Boa leitura!



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Capítulo XXVII – A Despedida

“Querido, você se preocupa demais,

Minha criança, vejo tristeza nos seus olhos,

Você não está sozinho na vida,

Embora você pense que está.

Desculpe-me se seu mundo está desabando

Eu cuidarei de você durante essas noites

Descanse e vá dormir

Porque, minha criança, essa não é a nossa despedida,

Essa não é a nossa despedida”.

(Within Temptation – Our Farewell)

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Eu observava seus olhos em completo silêncio. Talvez porque as palavras continuassem entaladas em minha garganta, e eu engasgasse antes que pudesse proferi-la.

Lá fora, ainda era noite, ou pelo menos, não seria mais em breve. Nuvens cinzentas dançavam sobre o céu negro, sendo iluminadas pelos raios prateados da lua formosa. Uma brisa leve irrompia pelo meu quarto.

Aidan estava deitado ao meu lado, seus olhos não desgrudavam de meu rosto por nenhum momento. Seus dedos acariciavam minha face, brincavam com meus cabelos. Essa noite havia sido diferente, essa noite ele não insistira para que eu dormisse, essa noite ele não me disse nenhuma palavra.

Meu coração por algum motivo espremia-se contra meu peito, havia um peso esmagando-o impiedosamente. E a umidade acumulava-se em meus olhos, pronta para despencar a qualquer momento.

Eu não estava pronta.

Eu não tinha tido tempo suficiente ao lado dele. Eu não podia ser separada dele, não agora. Eu simplesmente não poderia enfrentar aquela despedida, não nesse momento. E só de pensar que cada segundo meu com ele poderia ser o último, meu coração acelerava, o ar faltava-me, e um buraco era aberto em minha carne. Um vazio tão imenso, tão assustador, e em nada se comparava com o que eu carregara durante toda a minha vida.

Não, era algo muito pior. Era a dor de perder a única coisa que já fizera sentido em minha vida medíocre. Era o meu desespero de imaginar-me sem ele.

Eu não poderia ter aqueles momentos preciosos arrancados de mim, não agora. Eu estava completamente desesperada. Eu não suportaria dizer adeus a ele, eu estava completamente convicta disso.

- Aidan... – eu o chamei, e embora ele não tenha dito uma única palavra, eu sabia que ele estava me ouvindo. – O que houve com Laura?

Ele hesitou por longos segundos antes que sua voz abafada ecoasse por todo o meu quarto.

- Ela não poderá mais machucar ninguém. Não se preocupe.

- E os outros... garotos?

- Eu não tive escolha, tive que destruir seus corpos. Mas tenho certeza de que suas almas encontraram o descanso eterno. Não fique remoendo isso.

- Você tem alguma idéia do que ela estava falando sobre o que seu mentor faria se descobrisse a meu respeito?

Ele semicerrou seus olhos, desaprovando minha pergunta. Então era como eu havia imaginado, tudo estava conectado a aquele grande segredo que me cercava.

- Você deve estar cansada. Precisa descansar. – sussurrou ele.

- Não quero dormir. – menti, e ele não acreditou em mim. Na verdade acho que ele sabia o real motivo que havia por trás de toda aquela minha teimosia. E ele não me contestou mais. Então ele também queria aproveitar cada segundo ao meu lado. Cada segundo que nos restava.

Então se era assim, por que eu ainda hesitava?

Sem aguardar por mais nenhum minuto, puxei seus lábios para os meus, não me importando com mais nada. Seus lábios estavam tão hesitantes, e eu podia sentir, ele estava longe dali. Seus pensamentos não estavam comigo. Puxei-o para mais perto de mim, enquanto meus dedos enroscavam nos fios de seu cabelo. Mas nada mudava, seus lábios permaneciam cautelosos, hesitantes. E então ele reagiu, mas não da forma como eu esperava, sua mão enroscou-se em minha cintura, girou em meus cabelos, e seus lábios tornaram-se desesperados de repente, quase dolorosos. Depois ele segurou meu rosto e delicadamente tentou me afastar de si. Rendi-me com um gemido e afastei-me dele para ver seu rosto. E arrependi-me...

Seus olhos estavam tão sombrios, tão melancólicos. Afaguei seu rosto e perdi-me na imensidão de seus orbes. Sua face estava da mesma forma que eu o vi pela primeira vez. Não havia qualquer vestígio de felicidade em seu rosto; absolutamente nada.

E o silêncio era o meu pior inimigo naquele momento. E o tempo corria, embora eu desejasse com todas as minhas forças eternizar aquele nosso momento.

- Aidan... – eu o chamei novamente, e como da outra vez, não houve qualquer resposta de sua parte, ignorei aquela sensação desagradável e prossegui – Quero que me prometa algo.

Seus olhos não demonstravam emoção alguma, não havia brilho algum neles, e aquilo só acabava por entristecer-me ainda mais.

- Diga. – respondeu-me ele, frio como gelo.

Mais uma vez eu tive de espantar aquela sensação horrível que ameaçava dominar-me e foquei-me somente naquilo que eu precisava, naquilo que eu queria. E tudo o que eu mais queria naquele momento era que ele não me deixasse de forma alguma.

- Prometa-me que estará aqui quando eu despertar. – mantive minha voz segura e decidida, eu não poderia mostrar sinais de fraqueza agora.

Ele encarou-me por longos segundos, antes que seus olhos castanhos estreitassem-se e de seus lábios saíssem algum som.

- Eu sempre estarei aqui quando precisar. – prometeu-me ele.

Ouvir sua resposta não acalmou meus nervos, pelo contrário, surtiu outro efeito; somente os atenuou.

Mas não havia modo de demovê-lo daquele mar de tristeza agora. Ele havia se isolado de mim novamente, estava cercado por todas aquelas muralhas. Eu sabia que seria impossível naquele momento ressuscitar o mesmo Aidan da noite do baile de primavera. Porque eu sabia, algo dentro de mim já me dizia, ele estava preparando-se para ir embora e me deixar.

Pensar nisso causou o meu completo desespero. Eu não queria perdê-lo, eu não podia perdê-lo de forma alguma. Porque se isso acontecesse agora eu não ia suportar. Eu não conseguiria resistir a aquele vale desértico e solitário. Porque quando ele fosse, era para lá que eu iria. Sem dúvida alguma, eu me perderia lá.

Ignorei aquele desespero e enrosquei-me em seu corpo, escondendo meu rosto em seu peitoral. Fechei meus olhos e esperei pelo fim daquele pesadelo. Embora o meu subconsciente já soubesse, aquele era apenas o inicio de minha tormenta. O inicio de meus dias atribulados e nebulosos, de meus dias sem ele...

Um vento frio adentrou pela janela semi-aberta de meu quarto. Remexi-me na cama, buscando o calor do corpo dele para que pudesse aquecer-me. Mas não encontrei.

Despertei, sobressaltada, sentando-me no colchão. Olhei em derredor, minha respiração estava aos arquejos. Tateei os lençóis buscando por qualquer pista dele, mas não havia nada. E isso me deixou desolada.

Não! Ele não podia deixar-me agora! Ele não podia fazer isso comigo!

Meus olhos ardiam pela claridade, mas eu não me importava. Nada mais importava.

Lancei minhas pernas para fora da cama e procurei por roupas limpas no guarda-roupa. Vesti-me com uma velocidade inacreditável. Pelo que vi no relógio-despertador, em cima do criado-mudo, eu havia passado da hora. Já eram mais de dez horas. Eu não tinha muito tempo.

Desci as escadas, praticamente quicando. Minha mãe surpreendeu-me com um simpático “bom dia”, mas eu não tinha tempo para mais nada. Apanhei a chave do carro e seus olhos negros arregalaram-se no mesmo instante.

- Aonde vai? – perguntou-me ela, a preocupação vincando seu rosto belo.

- Preciso sair. – respondi, sem ao menos olhá-la nos olhos.

Abri a porta e saí, ainda tive tempo de ouvi-la gritar meu nome mais uma vez, mas simplesmente ignorei. Abri a porta do carro e meti-me para dentro de qualquer forma. Travei uma verdadeira batalha para encaixar a chave na ignição, e quando obtive sucesso, meu pé afundou no acelerador, com a arrancada violenta, eu quase bati em um veículo que transitava pela rua naquele momento. Freei a tempo, e meu corpo chocou-se violentamente contra a estrutura do banco. Levei as mãos a minha testa, aturdida. E então dei a partida novamente.

Logo eu já seguia rumo a rodovia que ladeava South Hooksett. Eu tentava de todas as formas conter as lágrimas em meus olhos, empurrá-las de volta para meus dutos lacrimais, mas não conseguia e falhava miseravelmente enquanto a frustração dominava-me.

Trinquei meus dentes e tentei ver a estrada através de minhas lágrimas espessas. Meus dedos apertavam o volante, e nada mais me vinha à mente. Como ele pôde? Ele realmente ia deixar-me sem dizer adeus? Ele não queria uma despedida? Seria realmente mais fácil se não tivéssemos uma?

Por que ele estava fazendo aquilo comigo? Ele não sabia o quanto eu o amava? O quanto eu precisava dele? Então, meu Deus, por quê?

Minhas mãos tremiam ao volante, e eu sabia que estava correndo um grande risco ao dirigir daquela maneira, mas não me importava. Na verdade se a morte quisesse levar-me naquele instante, era um favor que me fazia. Eu não suportaria viver sem Aidan de qualquer forma.

Logo, eu já havia chegado à estreita estrada de terra, que daria no chalé dos Robert. Estacionei o carro de qualquer maneira e desci como um furacão. Atravessei toda a clareira, e quando cheguei até a porta, empurrei-a sem a menor cerimônia.

E então me espantei...

Tudo estava arrumado. As gavetas estavam vazias, a roupa de cama havia sido retirada. Tudo havia sido retirado de lá. Todas as coisas que pertenciam a Aidan.

E eu caí no chão. Prostrei-me, meus joelhos cederam, ao mesmo tempo em que minha mão permanecia presa à maçaneta da porta. E eu chorei.

Encolhi-me ali, cobrindo meu rosto com minhas mãos. Eu não me atrevia a enxugar minhas lágrimas, eu precisava vertê-las, eu precisava expressar toda aquela dor. E permaneci ali, até que algo me ocorreu: Aidan podia estar na floresta.

Ele gostava de isolar-se, de refletir um pouco. Eu agi por instinto, levantei-me do chão e corri.

Não sei ao certo por quanto tempo. Eu dava voltas e voltas, e tudo parecia igual a meus olhos. Talvez eu estivesse correndo em círculos. Tropecei tantas vezes, meu pé enroscou em tantas pedras e raízes, e eu torci meu tornozelo tantas vezes que até mesmo perdi a conta.

Até mesmo caí uma vez. Mas me levantei e continuei seguindo. Nada seria capaz de me deter naquele momento. Porque eu sabia que se não chegasse a tempo, eu perderia Aidan, eu jamais o veria outra vez e isso era pior do que a morte para mim.

Como eu poderia voltar para o vazio e para a tristeza? Como eu podia algum dia esquecer que Aidan salvou-me desse buraco que sempre foi a minha vida? A resposta era uma só: eu jamais o esqueceria, eu jamais deixaria de carregá-lo comigo, e nem mesmo o tempo poderia apagá-lo de minhas lembranças. Nem mesmo a morte poderia apagar o meu amor por ele.

Apoiei-me em um tronco de uma árvore, respirando. Eu estava exausta. Estava tonta, tudo girava ao meu redor. Fechei meus olhos e tentei amenizar aquela sensação. Minhas costas deslizaram pelo tronco, e eu sentei-me no chão de terra em meio às folhas secas. Um vento leve agitou-as e a sensação foi refrescante em minha pele.

As lágrimas cessaram por algum tempo, ainda que eu soubesse que seria algo temporário. Eu choraria para sempre a partir daquele dia. Eu verteria minhas lágrimas de dor, de tristeza e de solidão. E minha alma choraria junto a mim, sofreria a minha dor, e carregaria aquele jugo comigo, até o fim de meus dias, até que eu partisse...

Elevei meu rosto até o céu nublado, nuvens cinza-claras deslizavam por ele, e uma brisa suave sacudia as copas das árvores ao meu redor. Ainda sem forças, e completamente derrotada, eu levantei-me, apoiando-me no tronco. Encostei minha face na casca grossa e áspera dele, pressionando minha pele contra ele. O ar faltava-me naquele momento, de tal maneira que eu quase sufocava. Havia algo entalado em minha garganta, algo que não se dissolveria tão cedo.

Talvez fosse o adeus, que eu não pudera dizer.

Limpei os últimos resquícios que as lágrimas haviam deixado em meu rosto e preparei-me para sair dali. Contornei a árvore, e então me sobressaltei.

Aidan estava parado, bem a minha frente. Encarando-me com seus olhos coléricos e sombrios. Ele também estava vestido de uma forma diferente, usava jeans negros, uma camiseta preta e uma jaqueta de couro negra por cima. Eu não pude conter meus atos, simplesmente lancei-me na direção dele, abraçando seu corpo, enquanto eu escondia meu rosto em seu peitoral.

Ele não retribuiu meu gesto, permaneceu rígido até que eu me afastasse dele. E seus lábios apertavam-se naquela linha rígida novamente, vê-lo daquela forma foi como ser apunhalada.

- O que você veio fazer aqui? – perguntou ele, severo, os olhos intimidando-me.

Eu não encontrei palavras para respondê-lo naquele momento. Na verdade, eu não conseguia pensar em absolutamente nada. Não com tamanho desespero fluindo por minhas veias, congelando-me, petrificando-me.

- Agatha, por que está aqui? – tornou ele a me perguntar, sua voz estava tão fria naquele momento, era como uma adaga gelada rasgando minha carne, criando feridas e machucados que jamais poderiam cicatrizar.

- Eu... – comecei, mas o fôlego faltou-me – eu... eu precisava... precisava ver se...

- Se eu não tinha ido embora ainda. – concluiu ele, franzindo o cenho e depois aquela adaga rasgou-me ainda mais, enterrando-se em minha carne, tão fundo, que nem mesmo doía mais – Eu já estou de partida. Irei até Manchester, depois pegarei um avião para Nova York, para então pegar o vôo para voltar à Itália.

Parecia que o chão havia sumido debaixo de mim. Meus pés vacilaram, e eu cambaleei para trás, tentando restabelecer meu equilíbrio.

Meus olhos arderam novamente, então eu ainda tinha lágrimas suficientes para chorar? Eu cerrei meus punhos, enterrando minhas unhas nas palmas de minhas mãos. Trinquei meus dentes em um som audível. Meus olhos chorosos baixaram até meus pés.

- Por quê? – eu perguntei, forçando minha voz rouca, e mesmo assim tudo não passou de um fraco e débil sussurro.

- Você sempre soube que esse dia chegaria. – murmurou ele.

Aidan estava com os dentes trincados, os olhos severos, tornei a encará-los. E eu desmoronei. Parecia que nada mais podia segurar-me ali. Eu estava preste a desabar no chão a qualquer momento.

- Eu não estou pronta. – sussurrei, repetindo com minha voz fraca o que eu já havia constatado em meus pensamentos. – Não vou suportar...

Aidan cerrou seus olhos, privando-me dos seus por longos segundos. Mas nada havia mudado. Nada mudaria, e eu sempre soube disso.

- Você é forte, Agatha. Sei que conseguirá.

- Não! – minha voz subiu algumas oitavas, meu coração batia de uma forma tão estranha, lenta, como uma marcha fúnebre. Talvez realmente fosse, o meu enterro, a minha morte. – Não me deixe! Não agora! – eu supliquei, minha voz embargada pela tristeza e pela dor.

- Eu preciso ir, Agatha. Meu papel foi cumprido. Eu devo retornar. – repetiu ele, completamente convicto do que estava dizendo. E enquanto suas palavras machucavam-me, rasgavam-me em vários pedaços, retalhavam-me, eu sufocava. Não conseguia respirar, não conseguia pensar com clareza. Tudo não passava de um irritante zunido ao fundo de meus ouvidos. E somente a voz de Aidan era registrada por meu cérebro, nada mais.

- Por favor,... – roguei-lhe que não partisse ainda, minha vista já se encontrava completamente turva, eu mal enxergava sua face. – eu... Eu não vou conseguir... – e minha voz perdeu-se em um turbilhão de tristeza.

Depois, ele lançou-se em minha direção, abraçando-me. Seus braços envolveram minha cintura e seus lábios enxugavam as lágrimas que escorriam pelo meu rosto. E ele sussurrava em meu ouvido, sua voz deixando de ser fria.

- Por que você não entende? Teria sido tão mais fácil para você, para mim. Se não houvesse uma despedida como essa, se não houvesse um adeus definitivo.

E ele enterrou sua face em meio aos fios de meu cabelo.

- Também não sei como enfrentar essa situação, estou tão perdido quanto você, acredite em mim. – confessou-me ele. – Mas se eu ficar por mais algum tempo posso colocar sua vida em perigo, e eu não posso fazer isso. Jamais me perdoaria se você se ferisse por minha causa.

E ele suspirou, enquanto afastava-se de mim, segurava em meu rosto com suas mãos, e seus lábios buscavam os meus. Eu rendi-me no mesmo instante, então aquele seria o nosso último beijo.

Seus lábios moldavam-se aos meus com tanta delicadeza, tanta suavidade, embora eu pudesse detectar ao fundo aquele toque doloroso, quase desesperado de sua parte. Minhas mãos seguraram em seus braços fortes, e eu desejava fervorosamente que meus dedos pudessem ser soldados ali, para que nada pudesse separar-me dele, nada pudesse arrancar-me de seus braços. Mas não havia escapatória. O fim estava à porta, o fim havia chegado. E esse fato era inegável. Ele cessou o beijo, abrindo seus orbes tão amargos e coléricos novamente.

E então ele enfiou uma de suas mãos no bolso de sua calça, retirando de lá algo que eu conhecia muito bem, o colar de corrente fina e dourada, com o pingente oval em rubi escarlate pendendo dela. Sua outra mão deslizou até a minha, virando a palma de minha mão para cima, enquanto ele depositava o colar nela. E então a jóia começou a brilhar, o sol dentro da gema lançava feixes de luz em todas as direções.

- Fique com isso. – pediu-me ele – E use para se afastar de qualquer Mediador. Fique longe deles, eles são não confiáveis. Agatha proteja-se e mantenha-se segura, por mim. Eu não poderei mais protegê-la, mas não suportaria se algo acontecesse a você. Eu te amo, Agatha, você é absolutamente tudo para mim.

Aidan pressionou seus lábios contra os meus uma última vez e depois ele curvou-os, beijando minha testa, pouco antes de afastar-se de mim, andando de costas, enquanto seus olhos não se demoviam dos meus.

Um vento frio irrompeu por toda a floresta, arrepiou minha pele e vergastou meus cabelos, lançando-os em meu rosto. Permaneci estarrecida, completamente petrificada, enquanto meus lábios entreabriram-se, e minha respiração lenta fluía através deles.

E meus olhos testemunharam quando os lábios de Aidan moveram-se, e sua voz aveludada permeava meus ouvidos.

- Eu jamais a esquecerei, Agatha. Eu juro, sempre estarei pensando em você. A cada dia, a cada minuto, a cada segundo, será você a ocupar meus pensamentos. Obrigado por tudo, por me conceder essa segunda chance. Você me libertou do fardo de meu passado. Você me salvou de mim mesmo, Agatha, obrigado.

O vento tornou-se rude de repente, agitou as folhas caídas no chão ao meu redor, meus cabelos foram lançados em meus olhos, mas ainda assim eu pude ouvir claramente quando ele disse suas duas últimas palavras.

- Adeus, Agatha.

O desespero tomou posse de mim no mesmo, minhas mãos moeram o pingente. Eu sabia que no instante seguinte ele ia embora. Ele partiria, levando consigo tudo o que eu precisava, tudo o que eu queria, tudo o que eu amava. Minha felicidade despedia-se de mim naquele momento. O sol preparava-se para morrer no horizonte, e a morte aguardava por mim. Não exatamente a morte de meu corpo, mas a morte de meu espírito, de minha alma. Porque era exatamente isso que aguardava por mim, a minha volta, o meu retorno para meus dias vazios e solitários.

- Não! – gritei para o nada, minha voz sendo sufocada por meu choro, por minhas lágrimas. Lancei-me em sua direção sem pensar duas vezes, meus braços tentaram cercar seu corpo, minhas mãos tentaram segurá-lo ali. Mas ele não estava mais lá. Ele havia sumido. E eu agarrei o nada.

O choque deixou-me desolada, meio morta, como se eu tivesse desconectado-me de meu corpo. O torpor espalhava-se por meu corpo, preenchendo minhas veias, retirando todo o meu desespero. E eu não sentia mais nada, nem mesmo o chão abaixo de mim, a floresta ao meu redor. Todos os meus sentidos eram toldados naquele momento.

E então, uma mão quente segurou em meus cabelos, afastando-os de meu pescoço. Havia uma presença atrás de mim, bem próxima de meu corpo. E então lábios macios como veludo sussurraram em minha orelha, e aquela voz suave, linda como a de um arcanjo ecoou em meu ouvido.

- Durma, Agatha. – sussurrou ela.

Eu tentei encontrar alguma razão naquilo tudo. Eu lembrava-me vagamente de já ter sentido aquilo antes, mas nada fazia muito sentido para mim. Eu estava perdida em um oceano de confusão. Minha cabeça girava, meus sentidos falhavam e meus pés ameaçavam vacilar a qualquer momento. Meus joelhos tremiam e minhas mãos estavam tão frias quanto à de um cadáver. Pensar na gelidez de minhas mãos lembrou-me que eu continha algo dentro dela. Eu apertei o objeto em minhas mãos, e então me lembrei.

Tudo veio a minha mente no mesmo instante, os últimos sete meses de minha vida. Desde o dia em que eu conheci aquele quem amaria por toda a vida, até o dia de hoje... Tudo passava diante de meus olhos como um filme.

- Aidan... – sussurrei, lembrando-me do porquê de estar ali, de estar lutando desesperadamente, eu não queria que ele fosse embora. E a determinação encheu meus pulmões, eu ganhei novas forças e lutei contra aquele torpor, lutei contra aquele esquecimento repentino, e lutei contra aquela voz bela que ordenava a mim. – não... Eu não... posso.

- Apenas durma. – tornou a voz a repetir, ainda mais irresistível do que antes.

Um vento forte rasgou a floresta ao nosso redor novamente, as folhas levantaram-se bruscamente do chão e voaram por todos os lados.

- Durma. – insistiu a voz.

E aquele buraco vazio tragou-me ainda mais, puxando-me para ele. E por mais estranho que fosse parecer, eu não o temia, eu permiti que ele me arrastasse. E então meus joelhos cederam, eu já não tinha mais forças para lutar, estava esgotada.

Eu devia ter sentido o impacto de meu corpo caindo no chão de terra fofa, mas não senti. Ao invés disso, dois braços fortes e quentes impediram que eu caísse. E meu corpo repousou grácil e gentil no tapete natural de folhas secas daquela floresta. Meus olhos lutavam para permanecerem abertos, mas era uma luta inútil. Eu jamais conseguiria vencê-la.

Uma sensação estranha apoderou-se de mim naquele momento. Era como se eu estivesse afundando lentamente em areia movediça. Eu podia sentir cada centímetro do meu corpo sendo engolfado por aquele buraco, mas não havia como lutar.

Ao mesmo tempo, havia um vazio em meu peito. Uma sensação devastadora, desoladora, e uma vontade imensa de chorar consumiu-me. Parecia que faltava algo dentro de mim, como se eu estivesse sendo serrada ao meio, lenta e dolorosamente. Não era como perder um membro do corpo, ou então um órgão. Não, era como perder uma metade inteira. Era como tê-la arrancada de você. Como se uma mão gigante tivesse rasgado-me em duas, e minha outra metade estava longe de mim. Eu podia senti-la afastando-se gradativamente de mim.

E meus olhos teimaram em abrir-se uma última vez.

Havia o céu acima de mim, tão triste, tão morto. As copas das árvores eram sacudidas pelo vento, e folhas derramavam-se delas, como uma chuva, como se elas mesmas chorassem por mim, por minha dor.

Minhas mãos apertaram o estranho objeto uma última vez. E aquela sensação desesperadora reagiu mais uma vez, exalando suas últimas forças.

- Não se vá... – meus lábios sussurraram, mas eu sabia que não havia mais tempo. Era tarde demais. Ele já havia ido embora, ele já havia me deixado para trás e havia seguido em frente.

E aquele vazio envolveu-me por inteira, meus olhos fecharam-se por completo. E então eu vi a escuridão, eu senti o frio, meus olhos verteram suas lágrimas, e minha alma chorou. E a densa negridão fez-se presente em mim, dominou-me, consumiu-me e nada mais. Não havia mais nada lá e isso me desesperou.


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Notas finais do capítulo

Ahhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhh nãoo!


Como eu pude fazer isso? Tudo bem, podem me matar! Eu mereço! Eu separei os dois... Não! *enxuga o olho*


É isso gente, muito obrigada mesmo por todos que acompanharam a história, aqueles que mandaram reviews, e aqueles que não mandaram também... Meus sinceros agradecimentos a aqueles que recomendaram a fic e indicaram músicas! Beijos para todos!


Obrigada mesmo por perderem o tempo preciosíssimo de vocês lendo os frutos das viagens loucas da minha mente débil.


Lembrando que logo eu voltarei com a 2ª fase! Por favor não deixem de acompanhá-la, afinal é nela que se revelam todo os segredos da Agatha!


Mas na próxima fase, infelizmente (e para a nossa completa tristeza) nós não teremos Aidan! Pois é, nessa fase Agatha terá um novo aliado... Fora que a 2ª fase é a última que se passa nos EUA. Depois, todas serão no continente europeu.


Obrigada mesmo, vocês todos moram no meu coração! Adoro vocês!


Então até a próxima fase! See you!!!


Kisses